Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Portuguese Times: 50 anos ao serviço da comunidade luso-americana

 

Ao longo dos anos a comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cujos dados dos últimos censos americanos apontam que é atualmente constituída por mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia, tem sido palco de uma notável multiplicidade de meios de comunicação social, em particular, ligados à imprensa escrita.

Como destaca o jornalista Vamberto Freitas em Algumas considerações sobre a imprensa portuguesa nos EUA, entre “quase todos aqueles que nestes últimos anos se têm interessado pelos centros lusos radicados nos Estados Unidos da América, uma das facetas da vida comunitária que geralmente mais os impressiona parece ser a exis­tência, sempre precária mas persistente, da Imprensa falada e escrita em língua portuguesa”.

As raízes da imprensa de língua portuguesa no território norte-americano remontam mesmo à segunda metade do séc. XIX, isto é, ao período inicial da emigração lusa para os EUA, quando muitos portugueses participaram na corrida ao ouro e na fundação de colónias agrícolas na Califórnia, ou se começaram a ligar aos negócios ligados à pesca da baleia.

Este contexto socio-histórico singular mereceu, inclusivamente, em 29 de novembro de 2013 amplo destaque no jornal The Herald News (Fall River), através de uma reportagem assinada por Kevin Andrade sobre a imprensa luso-americana. Segundo o jornalista de investigação luso-americano, existiram cerca de mil jornais nos Estados Unidos publicados em língua portuguesa, que constituem indubitavelmente um enorme e importante manancial para o conhecimento e estudo da história da comunidade portuguesa na América.

No profícuo campo dos jornais luso-americanos, um dos órgãos de informação que mais se tem destacado pelo seu dinamismo e longevidade tem sido o Portuguese Times. Um semanário de língua portuguesa fundado em Newark, New Jersey, em 1971 por Augusto Saraiva, que veio a ser adquirido em 1973 por António Alberto Costa, e que no início de 1974 assentou praça em New Bedford.

Com circulação nacional e assinantes em quase todos os estados americanos, o Portuguese Times, que tem presentemente como administrador Eduardo Sousa Lima e diretor Francisco Resendes, assinalou no decurso do mês de fevereiro o seu cinquentenário de publicação ininterrupta.

Ao longo do último meio século, o semanário luso-americano tem-se assumido como um jornal de referência da comunidade portuguesa nos EUA, em particular na Nova Inglaterra, uma região no nordeste dos Estados Unidos que abrange os estados de Maine, Vermont, Nova Hampshire, Massachusetts, Connecticut e Rhode Island.

Capaz de ultrapassar os contratempos e as adversidades, e na maior parte dos casos sobrevivendo graças ao espírito de carolice dos seus proprietários, diretores, colaboradores, leitores e empresários mecenas, com mais ou menos dificuldades expostas pelas crises económicas, o Portuguese Times ao longo dos últimos cinquenta anos tem conseguido resistir e renovar-se. Dando um exemplo genuíno de altruísmo e serviço em prol da comunidade portuguesa no território norte-americano, ajudando a promover a cidadania, a valorizar a cultura, as tradições e o dinâmico movimento associativo luso.

Descendente de uma provecta estirpe de jornais publicados em língua portuguesa no território norte-americano, o jornal Portuguese Times, orgulhoso do seu passado, projeta-se no presente e no futuro como um órgão de informação comunitário que constrói pontes entre Portugal e os Estados Unidos da América, dilui a saudade e a distância, fortalece a identidade cultural lusa e difunde Portugal na maior potência mundial.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Daniel Bastos novamente distinguido “Português de Valor” em França

 No âmbito da 11.ª edição do prémio "Portugueses de Valor", uma iniciativa organizada pela revista da diáspora Lusopress, um relevante meio de comunicação social da comunidade lusa em França, o escritor e historiador Daniel Bastos, que tem vários livros publicados no domínio da História e Emigração, e cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as Comunidades Portuguesas, foi nomeado pelo terceiro ano consecutivo como um dos “Portugueses de Valor 2021”.


 

A iniciativa, que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República, demanda valorizar anualmente 100 portugueses que se encontram espalhados pelo mundo, e cujo percurso profissional, pessoal ou associativo se tem destacado em prol das Comunidades Portuguesas.

Refira-se ainda, que de 5 a 7 de agosto, será realizada na cidade de Bragança uma gala que vai premiar seis portugueses de França, dois do resto do mundo e dois de Portugal, a partir da seleção de cem pessoas, que levam o nome de Portugal mais longe, no campo cultural, empresarial, associativo e solidário, e cujas histórias vão ser reunidas no livro "Portugueses de Valor 2021".

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Monumentos aos Combatentes da Guerra do Ultramar nas Comunidades Portuguesas

No decurso do mês de fevereiro assinalam-se os 60 anos do início da Guerra do Ultramar (1961-1974), um período de confrontos bélicos entre as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, que constitui um dos acontecimentos mais marcantes da história nacional e africana de expressão portuguesa do séc. XX.

Um conflito bélico dramático, trágico e traumatizante para mais de um milhão de portugueses, que prestaram serviço militar nas três frentes de combate, onde tombaram cerca de 8.300 soldados, assim como para as populações angolanas, guineenses e moçambicanas, cujo número total de vítimas, entre guerrilheiros e civis, terá sido superior a 100 mil mortos.

A densidade vivencial e o impacto da também conhecida como Guerra Colonial na sociedade portuguesa têm sustentado ao longo das últimas décadas a inauguração no território nacional de inúmeros monumentos de homenagem aos militares mortos, e que rondam já cerca de três centenas.

No cômputo da lista de monumentos alusivos aos Combatentes da Guerra do Ultramar, que se encontram assinalados pela Liga dos Combatentes (LC) no livro “Monumentos Aos Combatentes da Grande Guerra e do Ultramar”, grande parte deles construídos no séc. XXI, e que segundo o tenente-general Chito Rodrigues, Presidente da LC, são “a expressão de um sentimento profundo nacional acerca do que foi a guerra colonial e dos sacrifícios que o povo português fez nesse conflito", destaca-se ainda a existência de quatro monumentos construídos no seio das comunidades portugueses no Canadá e nos Estados Unidos.

No Canadá, onde se estima que na atualidade vivam mais de meio milhão de luso-canadianos, o primeiro monumento a ser erigido em memória dos combatentes que tombaram na guerra do Ultramar foi inaugurado em 2009, na cidade de Winnipeg, capital da província de Manitoba.

Projetado pelo arquiteto português Varandas dos Santos, o memorial impulsionando pela Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra de Manitoba e Núcleo da Liga dos Combatentes de Portugal em Winnipeg, e concretizado com o apoio da Província de Manitoba, da Liga dos Combatentes, da Comunidade Luso-Canadiana, da Associação Portuguesa de Manitoba e da Chapel Lawn Memorial Gardens, invoca os militares do passado, presente e futuro.

Em 2012, a cidade de Oakville, junto a Toronto, capital da província de Ontário onde se estima que vivam mais de 20 mil antigos combatentes da Guerra do Ultramar, assistiu à inauguração, no cemitério Glen Oak Memorial Garden, de uma estátua em homenagem aos militares portugueses e canadianos mortos em situações de guerra.

O monumento, concebido em conjunto pelo arquiteto Varandas dos Santos e pelo comendador José Mário Coelho, e impelido pela Associação dos Ex-combatentes do Ultramar Português no Ontário, foi instalado no talhão denominado “Nossa Senhora de Fátima”. O monumento, que contou com apoios financeiros da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e da Liga de Combatentes de Portugal, sobressai pela existência de vários elementos, dos quais se destacam uma Cruz de Cristo e um capacete de um soldado, tendo ainda a inscrição: “Sacrificados em vida, respeitados na morte”.


O historiador Daniel Bastos (dir), com um percurso alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, visitou em 2019 o monumento de homenagem aos antigos combatentes da Guerra do Ultramar na cidade de Oakville, junto a Toronto, na companhia do ex-combatente e Presidente da Assembleia Geral da Associação Cultural 25 de Abril em Toronto, Artur Jesus (esq.)

 

Também no território canadiano, designadamente em Laval, cidade da província do Quebeque, região onde o número total de portugueses e lusodescendentes deverá ser superior a 60.000 pessoas, foi inaugurado, no dia 1 de Novembro de 2014, o Monumento aos Combatentes Portugueses. Erigido num espaço fornecido pela Associação Portuguesa de Laval, e impulsionado pelo Núcleo do Quebeque da Liga dos Combatentes, antiga Associação Ex-Combatentes do Ultramar (Angola, Guiné e Moçambique) do Quebeque, o monumento invoca singelamente a memória dos militares caídos no cumprimento do dever.

Ainda na América do Norte, mas já nos Estados Unidos, mais concretamente em Lowell, cidade do condado de Middlesex em Massachusetts, estado que alberga uma grande comunidade luso-americana de origem açoriana, foi inaugurado em 2000 um monumento em memória dos falecidos e ex-combatentes do ultramar português e dos participantes da Revolução de 25 de Abril de 1974. Impulsionado pela numerosa comunidade luso-americana, com especial destaque para Dimas Espínola, uma referência no mundo comunitário luso de Lowell, o monumento teve o apoio resoluto, entre outros, do Portuguese American Center, do Portuguese American Civic League e da Associação de Veteranos de Lowell.

Disseminados pelo território nacional e pelas comunidades portuguesas no mundo, mormente na América do Norte, os Monumentos aos Combatentes da Guerra do Ultramar, observam um dever de memória, pois como relembra o ensaísta francês Joseph Joubert “A memória é o espelho onde observamos os ausentes”.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Maria Beatriz Rocha-Trindade: uma vida de trabalho académico sobre migrações

 No decurso das últimas décadas o estudo sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto diversificado de atividades e trabalhos que têm dado um importante contributo para o conhecimento da emigração portuguesa.

Neste conjunto diversificado de atividades e trabalhos, onde se cruzam os olhares interdisciplinares das ciências sociais, encontram-se, entre outros, livros, artigos em revistas científicas, congressos, conferências, relatórios, dissertações de licenciatura, mestrado e doutoramento.  



Autora, prefaciadora, coordenadora e colaboradora de várias obras relacionadas com a emigração portuguesa, Maria Beatriz Rocha-Trindade (esq.) apresentou em 2017 o livro “Terras de Monte Longo” do historiador Daniel Bastos (dir.)

 

Autora de uma vasta bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, onde se destacam, entre outros, os livros Sociologia das Migrações (1995), Migrações - Permanência e Diversidade (2009), A Serra e a Cidade - O Triângulo Dourado do Regionalismo (2009) ou Das Migrações às Interculturalidades (2014). E colaboradora habitual de revistas científicas internacionais neste domínio, Maria Beatriz Rocha-Trindade, nascida em Faro, é Doutorada pela Universidade de Paris V (Sorbonne) e Agregada pela Universidade Nova de Lisboa (FCSH).

Professora Catedrática Aposentada na Universidade Aberta, foi responsável pela fundação nos inícios dos anos 90, nesta instituição de ensino superior público, do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI). Um centro pioneiro na área das Migrações e Relações Interculturais, que conta atualmente com mais de meia centena de investigadores, e que tem dinamizado ao longo dos últimos anos uma intensa pesquisa interdisciplinar e formação avançada na área das migrações e das relações interculturais em contexto nacional e internacional.

O pioneirismo da insigne académica e investigadora está igualmente expresso na introdução em Portugal do ensino da sociologia das migrações, primeiro na Universidade Católica, no curso de Teologia, em 1994, e dois anos depois, na Universidade Aberta, a nível de licenciatura e de mestrado.

Membro de diversas organizações científicas portuguesas e estrangeiras, designadamente da Comissão Científica da Cátedra UNESCO sobre Migrações, da Universidade de Santiago de Compostela, do Museu das Migrações e das Comunidades, criado em 2001 por deliberação do Município de Fafe, e da Comissão Científica do Centro de Estudos de História do Atlântico/CEHA, a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade, coordena presentemente a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Constituída por membros oriundos de vários quadrantes da sociedade que têm estudado e refletido sobre o fenómeno migratório, emigração/imigração, a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa, uma das mais relevantes instituições culturais do país, tem sido responsável pela dinamização de relevantes iniciativas no campo do fenómeno migratório. Como por exemplo, em 2019, quando realizou o colóquio “CPLP - que presente e que futuro?”, ou no ano anterior, o “Fórum Luso-Estudos/ Edição 2018”, o seminário “Enologia, Mobilidade e Turismo” e a conferência “Jornalismo para a Paz em contexto de mobilidade”.

O percurso de vida singular e o trabalho académico laborioso da Professora Catedrática Maria Beatriz Rocha-Trindade, Titular da Ordre National du Mérite, de França, com o grau de Chevalier, da Medalha de Mérito do Município de Fafe e da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, de Portugal, estão sublimemente sintetizados nas palavras do docente e investigador Jorge Malheiros, no prefácio da obra Das Migrações às Interculturalidades: “a investigação em migrações em Portugal não seria a mesma coisa sem a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade”.