A
comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no
território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel
do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão
de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores,
destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e
relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos
americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e
luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que
alcançaram o sonho americano ("the American dream”).
Entre
as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a
capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o
percurso inspirador e
de sucesso do comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior
produtor mundial de batata-doce biológica.
Natural de São João, freguesia do
concelho de
Lajes do Pico, arquipélago dos Açores, Manuel
Eduardo Vieira antes de se fixar no território norte-americano, emigrou com 17
anos em 1962, no início do deflagrar da Guerra do Ultramar, para o Rio de Janeiro.
Ao encontro de um tio, que o acolheu a pedido da mãe, e lhe permitiu estudar para
além da 4.ª classe concluída no torrão natal, no seio de uma família humilde,
com carências e enleada nas lides agrícolas.
A
estadia no Brasil, que durou cerca de uma década, proporcionou ao picoense a
formação na área de Contabilidade e Gestão, a experiência de trabalho de escritório
em diversas empresas, o encontro com a futura esposa Laurinda, também emigrante,
natural de Chaves, e foi ainda berço de nascimento dos seus três filhos.
A
ida de Manuel Eduardo Vieira para os EUA ocorreria no começo dos anos 70, período
em que os pais e o irmão Artur, já tinham emigrado para a Califórnia e onde
trabalhavam no Vale de São Joaquim, numa empresa agrícola do tio António Vieira
Tomás, que serviu de palco à sua primeira experiência profissional na área.
O esforço e o nunca desistir perante as
dificuldades, patentes no facto de ter começado a estudar inglês à noite e a trabalhar
no campo, durante o dia, forjaram um homem que conquistou a pulso o sonho
americano. E que teve o impulso decisivo quando em 1977 o tio lhe fez a
proposta de vender-lhe a A.V. Thomas Produce que produzia então batata-doce em
cerca de 20 hectares de terreno, e tinha uma única linha de tratamento e de embalagem
instalada num barracão na cidade de Livingston.
O
duplo emigrante açoriano teve o engenho e arte de relançar a empresa, adquirida
por 145 mil dólares, introduzindo técnicas pioneiras e inovadoras à produção da
batata-doce, como a certificação de produção biológica em 1988, ou recentemente
a batata-doce em embalagem individual e pronta a ir ao micro-ondas, e expandindo
a propriedade que presentemente tem mais de 1200 hectares. Contexto que a
transforma, segundo o departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na maior
produtora mundial de batata-doce biológica, com um volume de negócios que ultrapassa
os 50 milhões de euros, e onde nas épocas da apanha, trabalham cerca de 900
trabalhadores, e que levou inclusive na década de 90 a cadeia de supermercados
Safeway a oferecer a Manuel Eduardo Vieira uma placa de matrícula personalizada
com as palavras King Yam “Rei da Batata-Doce”.
Empresário
e empreendedor com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, premissas
que levaram a que em 2013 vencesse a primeira edição do “Best Leader
Awards (BLA) EUA” na categoria de “Lifetime Achievement”, e que dois anos
antes, impeliu o então Presidente da República, Cavaco Silva, a atribuir-lhe a
comenda da Ordem de Mérito, Manuel Eduardo Vieira mantém uma ligação umbilical
à sua terra natal.
Ainda
em 2017, foi inaugurada na praceta do Centro Social da Silveira, Lajes do Pico, onde foi
o principal benemérito da obra do Salão do Centro Social, Cultural e Recreativo, uma estátua
em sua homenagem e que eterniza igualmente a generosidade que tem repartido por
diversas associações da ilha do Pico.
Radicado
há cerca de cinquenta anos nos Estados Unidos da América, o sucesso que o
emigrante picoense alcançou ao longo dos últimos anos no mundo dos negócios,
tem sido acompanhado igualmente de um apoio constante à comunidade luso-americana,
onde foi fundador
e primeiro presidente da Sociedade Filarmónica Lira Açoriana de Livingston, da Casa
dos Açores de Hilmar e da Igreja da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção em Turlock.
Uma
das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o exemplo
inspirador e de sucesso do comendador Manuel Eduardo Vieira, encontra-se
vertido numa das suas principais máximas de vida: “As coisas boas não aparecem
facilmente, é preciso trabalhar duro para consegui-las. Se temos uma meta a
atingir, não podemos desistir, porque com trabalho, organização e muita
disciplina, tudo é possível”.