Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Gérald Bloncourt: o fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa

No ocaso do mês de outubro, assinalaram-se três anos do falecimento do saudoso fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt (1926-2018), um dos grandes nomes da fotografia humanista, cujas amplamente conhecidas imagens que imortalizam a história da emigração portuguesa para França, representam um contributo fundamental para uma melhor compreensão e representação do nosso passado coletivo.

Colaborador de jornais de referência no campo social e sindical, o antigo fotojornalista que esteve radicado em Paris mais de meio século, teve o condão de retratar a chegada das primeiras levas massivas de emigrantes portugueses a França nos anos 60. A lente humanista do fotógrafo com dotes poéticos captou com particular singularidade as duras condições de vida dos nossos compatriotas nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, como os de Saint-Denis ou Champigny, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de construção civil.

Igualmente relevantes são as imagens que Bloncourt captou durante a sua primeira viagem a Portugal nos anos 60, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves. Assim como as da viagem a “salto” que fez com emigrantes além Pirenéus, e as dos primeiros dias de liberdade em Portugal, como as das comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, acontecimento que permanece ainda hoje como a maior manifestação popular da história portuguesa.

O trabalho fotográfico de Bloncourt sobre a emigração e a génese da democracia portuguesa constitui um valioso repositório do último meio século nacional, que resgata das penumbras do esquecimento os protagonistas anónimos da história nacional que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à liberdade.

 

Gérald Bloncourt, em 2016, durante uma visita ao Museu das Migrações e das Comunidades

 

 

O trabalho e percurso do fotógrafo francês de origem haitiana, que durante mais de vinte anos escreveu com luz a vida dos portugueses em França e Portugal, e cujo espólio faz parte do arquivo do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, foram em 2016 distinguidos pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. No âmbito das Comemorações do 10 de Junho em Paris, Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, cujas comemorações oficiais nesse ano aconteceram pela primeira vez numa cidade fora do país, o reputado fotógrafo foi condecorado na cidade simbólica de Champigny, com a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Numa mensagem na página oficial da Presidência da República, aquando do falecimento de Gérald Bloncourt, o mais alto magistrado da nação portuguesa asseverou que "há um dever de memória" em evocar o trabalho com a emigração lusa do fotógrafo francês, “uma das testemunhas do duro quotidiano dos compatriotas que viveram os primeiros anos da maior vaga de emigração para França, sendo simultaneamente amigo e companheiro de tantos portugueses que ali construíram o seu futuro”.

domingo, 24 de outubro de 2021

Manuel Carvalho: um olhar atento sobre a comunidade portuguesa em Montreal

 

O Canadá, uma nação que abrange grande parte da América do Norte e se estende desde o oceano Atlântico, a leste, até o oceano Pacífico, a oeste, alberga uma das mais dinâmicas comunidades portuguesas, que se destaca hodiernamente pela sua diversa atividade associativa, económica e sociopolítica.

Estima-se que atualmente vivam no Canadá mais de meio milhão de luso-canadianos, sobretudo concentrados em Ontário, Quebeque e Colúmbia Britânica, representando cerca de 2% do total da população canadiana que constitui um hino ao multiculturalismo. 

Em Montreal, a segunda maior cidade do Canadá e a primeira da região de Quebeque, onde o número total de portugueses e lusodescendentes deverá ser superior a 60.000 pessoas, ao longo das últimas décadas, o escritor Manuel Carvalho tem mantido um olhar atento sobre a realidade da comunidade luso-canadiana nesta região marcada historicamente pela tradição e cultura francesa.

Manuel Carvalho nasceu em 1946, em Cicouro, um povoado situado no extremo norte do concelho de Miranda do Douro, confinante com território espanhol. Depois de viver grande parte da juventude nos Outeiros da Gândara dos Olivais, nos arredores de Leiria, período em que se iniciou nas letras através da imprensa local, participou na Guerra do Ultramar em Angola, tendo emigrado para Montreal no alvorecer dos anos 80, onde exerceu a função de designer industrial. 


Manuel Carvalho, profícuo escritor luso-canadiano

 

Desde então, promoveu entre 1983 e 1985, os Jogos Florais Luso-Canadianos, e foi responsável em Montreal pela organização de bibliotecas, concursos, coletâneas literárias e festas culturais direcionadas para a comunidade portuguesa. Com uma vasta colaboração literária espalhada por diversos jornais e revistas no seio das comunidades portuguesas este genuíno cultor das artes e letras é coordenador da revista online “Satúrnia – Letras e Estudos Luso-Canadianos” onde tem divulgado dezenas de autores.

No decurso deste ano, Manuel Carvalho lançou o seu mais recente trabalho, o livro Horizontes, com chancela da Escritório Editora e capa da pintora Maria João Sousa (Majão), também ela emigrante no Canadá. O livro, que é dedicado aos portugueses de Montreal, reúne várias crónicas que o escritor mirandês tem ao longo dos últimos anos escrito nas páginas da imprensa luso-canadiana, e que espelham singularmente a mundividência da comunidade lusa em Montreal.

Na esteira de Onésimo Teotónio Almeida, professor catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University, nos Estados Unidos, que assina o prefácio da obra: “Há décadas que venho lendo com prazer a escrita de Manuel Carvalho. Narrativas curtas, incisivas, feita de traços fortes e certeiros que, numa penada, economicamente desenham personagens e situações, esboçam cenas vivas, prenhes de humanidade, colocando o leitor por dentro de momentos fortes da experiência emigrante portuguesa no Canadá francês – mais precisamente Montreal - mas que poderiam se de qualquer canto da diáspora portuguesa – Newark, Paris, Dusseldorf, Londres, Johannesburg ou Sydney. Tudo narrado num português tão puro como o melhor tinto do Douro”.