Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 28 de novembro de 2021

A emigração portuguesa retratada na banda desenhada

 

A banda desenhada, um género literário em franco crescimento que assenta numa sequência de imagens (desenhadas e/ou pintadas) que narram uma história, podendo incluir ou não texto (legendas, diálogos ou pensamentos), começa a direcionar através dos seus autores e protagonistas a sua atenção para a temática da emigração portuguesa.

Um desses exemplos paradigmáticos é a banda desenhada Maria e Salazar, que retrata a história da emigração portuguesa para França. O livro foi lançado, no território gaulês em 2017, pelo autor francês Robin Walter, que desenvolveu a banda desenhada Maria et Salazar a partir do contacto com Maria, uma emigrante lusa que chegou a Paris em 1972, e que trabalhou como empregada doméstica na casa dos seus pais durante 30 anos.

O livro biográfico e autobiográfico foi editado no ano seguinte em português, tendo Robin Walter, que nesse ano participou no Amadora BD, um dos maiores eventos nacionais dedicados à banda desenhada, afirmado publicamente que a obra foi muito bem recebida “pela comunidade portuguesa em França. Muitas pessoas ficaram emocionadas e disseram-me que era a história dos seus pais e avós. Agora, quero continuar a transmitir esta história franco-portuguesa sobre estes portugueses um pouco nómadas que estão entre dois países”.

Esta história franco-portuguesa tinha sido já no início da década de 2010 abordada pelo desenhador francês lusodescendente, Cyril Pedrosa, no livro de banda desenhada Portugal. Misturando a ficção com alguns elementos autobiográficos, o autor nascido em 1972, em Poitiers, oriundo de uma família da Figueira da Foz que emigrou nos anos 30 para França, retrata em Portugal a história de um lusodescendente francês sem contacto com o país dos seus antepassados e que resolve tentar saber mais sobre as suas origens.

Nessa época, e no âmbito da sua participação no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, Cyril Pedrosa precisou que aborda no livro “um Portugal imaginário, quer dizer, aquele que eu conheço e que não é o verdadeiro Portugal. É um Portugal “emocional”, o das sensações e da afeição que tenho por esse país, por esse povo, por essa língua. Sei perfeitamente que não conheço a realidade do país, para isso teria que viver nele. Mas conheço a beleza da sua língua, a generosidade dos portugueses e também conheço bastante bem a região de onde são originários os meus avós, uma pequena aldeia perto da Figueira da Foz (chamada Marinha da Costa, onde decorre a última parte do livro)”.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Fundação Nova Era Jean Pina doou quatro toneladas de bens a instituições de Fafe

 

A Fundação Nova Era Jean Pina, uma instituição presidida pelo empresário benemérito luso-francês, João Pina, administrador do Grupo Pina Jean, sediado nos arredores de Paris, que no mês passado durante uma visita ao concelho de Fafe firmou várias parcerias com associações locais, doou no início desta semana quatro toneladas de bens à Cruz Vermelha de Fafe e à Associação de Defesa dos Direitos dos Animais e Floresta (ADDAF).

A Delegação de Fafe da Cruz Vermelha, instituição local que presta assistência humanitária e social, em especial aos mais vulneráveis, e que atualmente, conta com a colaboração de uma equipa de mais de duas dezenas de elementos nas mais variadas áreas de intervenção, recebeu três toneladas de alimentos e roupa. Com a particularidade, de uma tonelada de alimentos ter sido adquirida diretamente no comércio local de Fafe, mormente o Mercado Antunes, através de um apoio benemérito do empresário fafense de restauração em Paris, Jorge Costa, membro associado da Fundação Nova Era Jean Pina.


O historiador fafense Daniel Bastos, embaixador da Fundação Nova Era Jean Pina junto das Comunidades Portuguesas, no armazém da Cruz Vermelha de Fafe, acompanhado do presidente da instituição local, Capitão António Fernandes, e de Sílvia Freitas, coordenadora do projeto Família+Feliz

 

 

A Associação de Defesa dos Direitos dos Animais e Floresta (ADDAF), uma associação local sem fins lucrativos dedicada à proteção animal, e à promoção da adoção de cães e gatos abandonados e negligenciados, e que presentemente é a entidade responsável pelo trabalho de voluntariado no canil municipal, recebeu uma tonelada de ração para cães e lixívia.

Refira-se que a instituição luso-francesa ao longo dos últimos anos tem apoiado quer na Diáspora, como em Portugal, o desenvolvimento de projetos de solidariedade em prol de diversas associações de cariz social, e que os custos de transporte dos bens que chegaram ao concelho provenientes de França, via a associação portuguesa Lusibanda, sediada em Le Havre, foram suportados pelos Transportes Mesquita, uma empresa de transportes internacionais em camião TIR, com sede na região norte, ambos membros associado da Fundação Nova Era Jean Pina.






 



A arte pública e a representação identitária da comunidade portuguesa em Toronto

 

Nos últimos anos, temos assistido ao nível do espaço urbano nacional a uma cada vez maior interação entre arte e cidade, contexto que no âmbito da promoção de uma cidadania ativa e de uma gestão socialmente consciente do espaço público, tem impulsionado vários artistas a desenvolver uma série de obras, como por exemplo murais, em parceria com as comunidades locais.  

A arte pública, liberta dos códigos mais formais e específicos dos museus e galerias, tem feito também o seu caminho no seio da geografia da diáspora lusa. Assumindo mesmo, na linha preconizada pela socióloga Ágata Dourado Sequeira, um “papel de destaque na construção de um espaço público consciente da sua história, presente e futuro, e sobretudo dos cidadãos que o constroem simbolicamente”.

É o caso da comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, que nas últimas décadas tem dinamizado uma série de intervenções artísticas no espaço público, visando através da sua representação identitária aproximar-se ainda mais da cidade e dar-se a conhecer melhor à comunidade canadiana em geral.

Ainda no mês passado, foi inaugurado no “Little Portugal” de Toronto, um mural do artista português Alexandre Farto, conhecido por Vhils, cuja inspiração centra-se na história do movimento feminino Cleaners Action, da década de 1970, liderado por trabalhadoras portuguesas. Como foi o caso de Idalina Azevedo, uma das líderes da greve conhecida por ‘Wildcat’, nas Torres TD, em Toronto, em 1974, que viabilizou alguns direitos para as empregadas de limpeza.

Além deste projeto da iniciativa da vice-presidente da Câmara Municipal de Toronto, a luso-canadiana Ana Bailão, da Associação Comercial do Little Portugal na Dundas, presidida por Anabela Taborda, e da Embaixada de Portugal no Canadá, o bairro português alberga desde o início de outubro, um galo de Barcelos gigante, um dos mais conhecidos símbolos da cultura popular lusa. Com quase três metros, e inserido no ano da arte pública promovido pela autarquia de Toronto, o mais icónico símbolo de Portugal é simultaneamente uma homenagem à comunidade luso-canadiana, e uma forma de revitalizar a Business Improvement Area (BIA), procurando assim atrair os consumidores ao pequeno comércio.

A zona entre as ruas Bathurst e Dufferin, conhecida desde os anos 70 como “Little Portugal”, tem sido pela sua ligação umbilical à comunidade luso-canadiana, alvo de várias manifestações culturais no campo de ação da arte urbana. Há sensivelmente um ano, o coração urbano da comunidade portuguesa em Toronto, foi palco da inauguração de um mural com mais de seis metros de altura, dedicado à fadista Amália Rodrigues, figura maior da cultura portuguesa do século XX, e referência e símbolo da portugalidade.

Criado no âmbito do projeto do empresário de Montreal, Herman Alves, que tem como objetivo criar uma aldeia global virtual colocando 25 murais em pontos centrais da diáspora portuguesa no mundo, este imponente mural junta-se a um outro instalado em Mississauga. Na mesma esteira, a Camões Square em Toronto, que tem desempenhado nas últimas décadas um papel notável na exaltação da portugalidade no centro da cidade, acolhe um enorme mural que retrata o ensino da língua portuguesa e o primeiro barco que levou emigrantes portugueses para o Canadá, o Saturnia.

É neste espaço simbólico, que se encontra o Portuguese Canadian Walk of Fame, que anualmente, por ação do empresário e filantropo Manuel DaCosta, laureia portugueses que se têm destacado no território canadiano, assim como, a fonte dos pioneiros portugueses, um mural de azulejos e um pequeno jardim. Ainda neste entrecho, refira-se que desde 2003, foi instalado na estação de metro Queen’s Park em Toronto, um painel de azulejos, fabricado em Lisboa, da autoria de Ana Vilela, que aborda a exploração portuguesa no Novo Mundo.

Estes exemplos de intervenções artísticas no espaço urbano de Toronto, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados, assumem-se claramente como uma importante mais-valia cultural e identitária da comunidade luso-canadiana, uma das mais dinâmicas comunidades portuguesas na América do Norte.