Uma
das mais relevantes comunidades lusas na América do Norte, que se destaca pela dinâmica
da sua atividade associativa, económica e sociopolítica, as raízes da
comunidade portuguesa no Canadá remontam ao início da década de 1950.
Embora a presença regular de
portugueses neste território da América do Norte
fosse uma realidade desde o alvorecer do séc. XVI, foi somente nos primórdios
dos anos 50 que se consubstanciaram as relações diplomáticas entre as duas
nações. Como relembra Lisa Rice Madan, Embaixadora do Canadá em Portugal, num
artigo de opinião publicado no princípio deste ano no jornal Público, intitulado Canadá-Portugal:
70 anos de relações diplomáticas e muita mais de amizade, em 8 de dezembro de 1951, o Rei George VII, “na
qualidade de chefe de Estado do Canadá, escreveu ao Presidente da República de
Portugal anunciando a decisão de acreditar para Portugal, o nosso fiel e bem-amado William Ferdinand Alphonse Turgeon, como
enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Canadá em Portugal. Um
mês mais tarde, o Canadá concedeu o agrément
à nomeação do dr. Luís Esteves Fernandez, embaixador e Portugal nos Estados
Unidos, para ministro de Portugal para o Canadá. As legações, como então eram
chamadas, foram abertas oficialmente a 18 de Janeiro de 1952”.
Ainda
nesse ano, em 12 de abril, Gonçalo Caldeira Coelho tomaria posse como
Encarregado de Negócios e assumiu a gerência da legação, ou seja da embaixada.
Dois anos depois, Portugal e o Canadá, procurando estreitar as relações
económicas, assinaram um Acordo Comercial que revogou e substituiu o Acordo com
o mesmo objeto que vigorava entre os dois países desde 1 de outubro de 1928.
É
no contexto das relações estabelecidas entre os dois países, que em 1953, ao abrigo de
um Acordo Luso-Canadiano, que visava suprir a necessidade de trabalhadores para
o sector agrícola e para a construção de caminhos-de-ferro, que transportados
pelo Saturnia, desembarcaram a 13 de
maio em Halifax, província de Nova Escócia, os primeiros emigrantes portugueses.
Se entre 1953 e 1973, terão
entrado no Canadá mais de 90.000 portugueses, na sua maioria originários dos
Açores, estima-se que atualmente vivam no segundo maior país do mundo em área
total, mais de meio milhão de luso-canadianos, sobretudo concentrados em
Ontário, Quebeque e Colúmbia Britânica, representando cerca de 2% do total da
população canadiana que constitui um hino ao multiculturalismo.
É a partir deste legado
histórico que a Galeria dos Pioneiros Portugueses, impulsionada no
presente pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos
beneméritos na preservação da cultura portuguesa, na linha da máxima lapidar
de Marcus Garvey: “um povo sem o conhecimento da sua história, origem e cultura
é como uma árvore sem raízes”-, perpétua em Toronto a memória dos
primeiros emigrantes portugueses no Canadá.
Foi a partir deste
legado histórico, que um pouco por todas as comunidades portuguesas
disseminadas pelo imenso território canadiano, foi celebrado em 2003, com
profundo simbolismo e sentimento de pertença, exposto em inúmeras atividades e
eventos, o 50.º aniversário da emigração portuguesa para o Canadá.
Será seguramente a partir deste
legado histórico, que sensivelmente dentro de um ano, num contexto
pós-pandémico, e não obstante assinalarem-se hodiernamente 70 anos de relações diplomáticas
luso-canadianas, que será celebrado com reiterado simbolismo e sentimento de
pertença, manifesto em vindouras atividades e eventos, o septuagésimo aniversário da chegada da primeira vaga de
emigrantes portugueses ao Canadá
Um aniversário que fortalecerá, concomitantemente, os laços dos
emigrantes luso-canadianos à língua e cultura materna, mas também à pátria de
acolhimento, até porque como reiteradamente tem destacado Justin
Trudeau, primeiro-ministro
do Canadá, as sucessivas vagas de emigrantes portugueses têm
contribuído desde a década de 1950 para “a construção do Canadá moderno”. Nas
palavras do mesmo, em 2018, durante a visita oficial do primeiro-ministro
António Costa ao Canadá: “A cultura portuguesa está presente nas nossas vilas e
cidades de diversas formas, com valores tradicionais de família, trabalho árduo
e paixão pelo futebol. Os luso-canadianos são a chave da explicação do Canadá
de hoje”.