Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
domingo, 14 de dezembro de 2025
Manuel Viegas: um fautor da portugalidade na Flórida
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo.
Nos vários exemplos de dirigentes associativos e fautores da cultura lusa na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo das últimas décadas, o percurso altruísta de Manuel Viegas em prol da portugalidade na Flórida, um estado situado no extremo sudeste dos Estados Unidos da América.
Natural da povoação de Parada de Gonta, município de Tondela, no distrito de Viseu, onde nasceu em 1944, Manuel Viegas emigrou para os Estados Unidos, no alvorecer dos anos 60, ao encontro da figura materna. A chegada do jovem tondelense ao estado de Nova Jérsia, marcou o início de um percurso de vida pautado pelo esforço hercúleo e dedicação incansável, “life marks” que Manny Viegas, como é conhecido na América, continua a cultivar em conjunto com os valores da amizade e da família.
Com uma carreira profissional sólida e feita de consistência, que iniciou ainda na adolescência na construção civil, Manuel Viegas tem como principais referências socioprofissionais as funções desempenhadas entre 1961 e 1976 na “Garden City”, durante mais de 25 anos na “Jomar Displays Inc.”, e até 2003 na “Boxer Displays”, empresas onde progrediu constantemente até chegar a encarregado geral.
Concomitantemente, o emigrante tondelense estabeleceu um forte comprometimento com a comunidade portuguesa em Nova Jérsia, onde se concentra uma das mais conhecidas e numerosas comunidades luso-americanas. Como revela o notável trabalho associativo em relevantes instituições luso-americanas a favor da dinamização e preservação da cultura portuguesa. Assim testemunha o seu envolvimento comunitário, no Portuguese Heritage Group of Perth Amboy, no Portuguese Sporting Club of Perth Amboy, no Heritage Festival Ball Inc., na Federação das Associações de New Jersey, no Sport Club Português ou na Casa de Tondela em Newark, à frente da qual, foi o grande mentor da construção no concelho beirão da construção de um “Monumento ao Emigrante”.
Nesse sentido, e com o intuito de perpetuar o valor dos emigrantes de Tondela, a edilidade beirã criou, em 1994, o largo do Monumento ao Emigrante, composto por uma estátua de Joaquim Machado e três espirais helicoidais de Luz Correia. A iniciativa teve o contributo da comunidade tondelense em Nova Jérsia, que esteve representada na inauguração pelo então Presidente da Casa de Tondela em Newark, Manuel Viegas. Na memória descritiva do monumento refere-se: “O emigrante vai nu, ou seja, despido de tudo quanto é material, de artificialismos e preconceitos”.
Quando atingiu a idade da reforma, o emigrante e dirigente associativo mudou-se, em 2005, para a Flórida, estado norte-americano onde vivem atualmente mais de 75 mil emigrantes portugueses e lusodescendentes. Também aqui, ao longo das últimas décadas, Manny Viegas tem realizado um importante trabalho em defesa da portugalidade, como evidencia o facto, por exemplo, de ter sido eleito em 2015, e reeleito em 2024, Conselheiro das Comunidades Portuguesas. Assim como, as suas conhecidas ligações ao Portuguese American Cultural Center of Palm Coast, à associação Os Beirões de Palm Coast e aos Sportinguistas de Palm Coast.
Não por acaso, o laborioso dirigente associativo da diáspora e hodierno Conselheiro das Comunidades Portuguesas pela Flórida, tem recebido diversas homenagens e distinções, e diplomas mérito e beneficência, entre as quais se incluem, as Chaves da Cidade de Perth Amboy. A Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, Grau Ouro, uma distinção atribuída pelo Governo Português, através do Secretário de Estado das Comunidades, a individualidades que se destacam no apoio e representação da diáspora portuguesa no estrangeiro, reconhecendo o seu trabalho e dedicação. E, a Comenda Oficial da Ordem de Mérito, uma das Ordens Honoríficas Portuguesas, que distingue atos ou serviços meritórios de abnegação em prol da coletividade, seja em funções públicas ou privadas.
Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade portuguesa na Flórida, o esforço e dedicação desprendida de Manuel Viegas, genuíno fautor da portugalidade que não olvida as suas raízes, presentemente o confrade da Confraria de Saberes e Sabores da Beira ‘Grão Vasco”, está empenhado na criação de uma confraria irmã neste estado norte-americano, inspira-nos a máxima do filósofo romano Séneca: “O esforço chama sempre pelos melhores”.
domingo, 7 de dezembro de 2025
A inspiração solidária e universalista da Fundação Família Carvalho
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é seguramente a sua dimensão solidária, uma genuína marca genética da diáspora lusa, constantemente expressa em gestos, campanhas e iniciativas fautoras de valores humanistas.
Dentro da inspiração solidária que resplandece no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas, destaca-se ao longo das últimas décadas, a criação e dinamização de fundações assentes nos princípios da filantropia, instituídas por iniciativa de emigrantes de sucesso com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de justiça, e de solidariedade nas pátrias de acolhimento e de origem.
Uma das latitudes paradigmáticas da diáspora onde avultam os exemplos de fundações, instituídas por emigrantes portugueses, que desempenham um papel fundamental no cenário filantrópico, é indubitavelmente os Estados Unidos da América (EUA).
A cultura altruísta, profundamente enraizada na nação mais influente do mundo, onde o impacto social do investimento benemérito feito por empresas e entidades é reconhecido na sociedade, tem ao longo das últimas décadas inspirado vários emigrantes luso-americanos a instituir fundações sem fins lucrativos, dedicadas à beneficência, à cultura, ao ensino e a outros fins de interesse público.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, tem-se destacado nos últimos o papel notável da Fundação Família Carvalho, em Mineola, uma vila nova-iorquina que alberga uma população de 20 mil habitantes, entre eles, cerca de 20% portugueses e lusodescendentes.
Instituída em 2017, pelo emigrante anadiense Manuel Carvalho, conhecido empresário na área da restauração em Mineola, em conjunto com a sua esposa Jackie Carvalho, natural do Panamá, a instituição filantrópica tem dinamizado um conjunto significativo de atividades e apoios nas áreas sociais, culturais e educativas. Desde logo, o espírito bairrista e benemérito do empresário luso-americano tem possibilitado, através da Fundação Família Carvalho, apetrechar ao longo dos anos, os Bombeiros Voluntários de Anadia.
Têm sido inúmeros os eventos, que o empresário luso-americano tem organizado no seu icónico restaurante Bairrada, unanimemente considerado um dos melhores restaurantes portugueses na ilha situada no sudeste do estado de Nova Iorque, em prol dos Bombeiros Voluntários de Anadia. Assim como, os contributos que a Fundação Família Carvalho, têm dado em prol da promoção e preservação da língua, costumes e tradições portuguesas em Long Island.
Ainda no decurso deste ano, a Fundação Família Carvalho, no âmbito da sua 15.ª edição do Torneio de Golfe, uma iniciativa, cuja dimensão eminentemente solidária aglutinou uma vez mais a comunidade luso-americana, distribuiu 30 mil dólares pelo “Mineola Junior Fire Department”, o “Mineola Volunteer Ambulance Corps” e o Centro de Bem Estar Social da Freguesia de Tamengos, estabelecido na localidade de onde é natural o benemérito empresário luso-americano, e que tem como missão promover o bem-estar de crianças e idosos do território anadiense.
Esta centelha solidária da Fundação Família Carvalho, tem-se alargado igualmente ao longo dos últimos anos ao Panamá, país no istmo que liga a América Central e a América do Sul, e de onde é natural Jackie Carvalho. O grande suporte e companheira de vida do benemérito empresário luso-americano, tem carrilado para a sua pátria de origem um conjunto significativo de apoios, entre muitos outros, aos Bombeiros da República do Panamá; às vítimas de inundações neste território localizado na América Central, e inclusive às vítimas dos terramotos recentes do Equador, nação situada na costa oeste da América do Sul.
Não por acaso, o benemérito empresário luso-americano e a esposa desfilaram no passado dia 27 de novembro, na 99.º parada anual do Dia de Graças da Macy’s, em Nova Iorque, naquela que é conhecida como a maior loja do mundo. E cujo tradicional desfile, é um dos eventos mais esperados do ano nos Estados Unidos, atraindo uma multidão de moradores e turistas para assistir nas ruas à parada dos balões gigantes com personagens de desenhos animados, carros alegóricos, apresentações de celebridades e muita música, que este ano foi também abrilhantada pela “Banda de Música La Primavera”, do Panamá. A primeira banda escolar da América Central, a participar, graças ao espírito filantrópico da Fundação Família Carvalho, no maior desfile do Dia de Ação de Graças dos Estados Unidos, e que representaram o seu país com grande entusiasmo e talento, num evento que proporcionou orgulho nacional e destaque para a cultura panamiana na icónica metrópole de Nova Iorque.
O notável exemplo benemérito do casal Manuel e Jackie Carvalho, rostos visíveis da missão, visão e valores da Fundação Família Carvalho, inspira-nos a máxima de Madre Teresa de Calcutá: “Nem todos nós podemos fazer coisas grandiosas. Mas todos podemos fazer pequenas coisas com muito amor”.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Orlando Pompeu inaugurou “Cânticos de Natalidade” em Braga
No início do presente mês de dezembro, o mestre-pintor Orlando Pompeu, um dos mais consagrados artistas plásticos portugueses da atualidade, inaugurou na capital do Minho, uma nova exposição intitulada “Cânticos de Natalidade”.
A inauguração da exposição, na Loja Urban Project, em pleno coração da cidade de Braga, no alvorecer da quadra natalícia, contou com a presença de vários amigos, admiradores e colecionadores do pintor de referência nacional e internacional.
Nesta nova exposição, patente ao público durante a quadra natalícia, Orlando Pompeu exibe uma mostra artística de pinturas em acrílico e aguarela inspiradas na força relacional, criadora e transformadora da maternidade. Com pinceladas de criatividade e originalidade, e cores vibrantes e gestos pictóricos soltos, o artista plástico explora um território artístico fértil, onde a experiência íntima e a reinvenção estética compõem narrativas visuais plurais e emocionalmente densas, e afirmam a maternidade como eixo a partir do qual o mundo pode ser visualizado.
Detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, Orlando Pompeu nasceu no concelho minhoto de Fafe. Estudou desenho, pintura e escultura em Barcelona, Porto e Paris, e nos anos 90 progrediu no seu percurso artístico ao ir trabalhar para os Estados Unidos da América, onde expôs na Galeria Eight Four, em Nova Iorque, e depois, Japão, tendo exposto na TIAS – Tokio International Art Show e na Galeria Garou Monogatari em Tóquio. Em 2022 foi distinguido em Paris com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras.
terça-feira, 25 de novembro de 2025
Fundação Nova Era Jean Pina difunde Cruz Vermelha Portuguesa na Diáspora
Ao longo dos anos, as comunidades portuguesas têm demonstrado um enorme espírito de solidariedade, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido à vida, apoiando quer os nossos compatriotas no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional.
Um desses exemplos de solidariedade dinamizada no seio da diáspora, é o que tem sido prosseguido desde a segunda década do séc. XXI, pela Fundação Nova Era Jean Pina, constituída nessa época pelo empresário português João Pina, radicado na região de Paris, um dos mais dinâmicos e beneméritos empresários portugueses em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa.
Natural do concelho da Guarda, o empresário de sucesso na área da construção civil, administrador do Grupo Pina Jean, sediado nos arredores de Paris, tem incrementado uma notável dinâmica solidária em prol dos mais desvalidos. Alicerçando a missão da Fundação Nova Era Jean Pina, no lema da instituição “Solidariedade em Movimento”, o emigrante guardense tem dinamizado inúmeros projetos de solidariedade para com as pessoas mais desfavorecidas e vulneráveis, como seniores, crianças institucionalizadas e desempregados na pátria de origem e de acolhimento.
Ainda no passado dia 24 de novembro, a instituição luso-francesa estabeleceu um protocolo com a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), uma das mais relevantes instituições humanitárias de Portugal, reconhecida pelo seu papel crucial no apoio aos mais vulneráveis e na promoção da dignidade humana, através de uma vasta gama de serviços como emergência, saúde, apoio a idosos, vítimas de violência doméstica e programas sociais.
Fundada em 1865, a organização não governamental, voluntária e de interesse público, que atua em conformidade com os princípios fundamentais do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, passa assim a auferir de uma parceria estratégica no seio da Diáspora, porquanto o protocolo assinado com a Fundação Nova Era Jean Pina prevê que a instituição luso-francesa difunda esta cooperação “junto dos seus associados e parceiros da Diáspora”, assim como disponibilize “espaço próprio para eventuais campanhas de divulgação e/ou promocionais da CVP”. Refira-se que, a Fundação Nova Era Jean Pina, compromete-se ainda “a divulgar o Cartão de Saúde da CVP e as suas respetivas regalias junto da Diáspora em diversas regiões do mundo, utilizando para tal os seus meios de comunicação e redes internacionais”.
Nesse sentido, a Cruz Vermelha Portuguesa passa a ter na Fundação Nova Era Jean Pina, um parceiro estratégico junto das numerosas comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, por exemplo, na promoção do seu novo Cartão de Saúde, criado com o duplo propósito de facilitar o acesso a cuidados de saúde de qualidade a preços acessíveis e reforçar a missão humanitária da instituição.
Este novo cartão, que se assume como um compromisso social, uma forma de promover a prevenção, incentivar hábitos de vida saudáveis e reforçar a proximidade humana que sempre caracterizou a atuação da Cruz Vermelha Portuguesa, foi apresentado no passado dia 24 de novembro, numa cerimónia que decorreu no Palácio do Conde D’Óbidos, em Lisboa.
O evento contou com a presença do Presidente Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa, António Saraiva, e da Comissão de Honra do Cartão Saúde, que inclui personalidades como Maria de Belém Roseira, Rosa Mota, Armindo Monteiro, José Bento, Miguel Ribeiro Ferreira, João Silveira, Nazim Ahmad, José Germano de Sousa, Isabel Miguéns e Leonor Chastre. Assim como, do empresário luso-francês João Pina, presidente da Fundação Nova Era Jean Pina, que no decurso da cerimónia assinou o singular protocolo de promoção da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), uma das mais importantes organizações humanitárias em Portugal, na dispersa geografia da Diáspora.
A recente parceria estratégica firmada entre a Cruz Vermelha Portuguesa e a Fundação Nova Era Jean Pina, robustecem as palavras do Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, no ocaso do ano transato, aquando do encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa: “A Diáspora Portuguesa é inseparável da nossa história e do nosso soft power. Nós somos portugueses, somos universais e por isso a Diáspora é um fator estratégico essencial para o país pelo impacto artístico, cultural, científico e tecnológico que promove”.
domingo, 23 de novembro de 2025
O lançamento da primeira pedra da nova Casa dos Açores de Hilmar, na Califórnia
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel socioeconómico-cultural na principal potência mundial.
Hodiernamente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão luso-americanos, sendo que só no estado mais populoso do país, a Califórnia, residem mais de 300 mil, na sua maioria oriundos dos Açores, que trabalham por conta de outrem, na indústria. Embora, sejam muitos, os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades políticas.
No seio das numerosas comunidades luso-americanas da Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos EUA, proliferam dezenas de associações recreativas e culturais, meios de comunicação social, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais, sociedades de beneficência e religiosas. E inclusive, um espaço museológico que homenageia e perpetua a herança cultural portuguesa na Califórnia, mormente, o Museu Histórico de São José.
Ao longo das últimas décadas, umas das associações recreativas e culturais que mais tem contribuído para a dinamização da açorianidade e portugalidade no estado mais populoso dos Estados Unidos, é indubitavelmente a Casa dos Açores de Hilmar, no Vale de San Joaquin, um dos mais tradicionais e relevantes centros da emigração portuguesa na Califórnia.
Fundada em 1977, a instituição tem desde a sua génese como objetivos principais, o fortalecimento da identidade e a memória cultural açoriana, em particular, e portuguesa, em geral, através da música, do desporto, da literatura e da recriação de tradições religiosas, como seja o caso, das celebrações do Espírito Santo.
No passado dia 20 de novembro, a Casa dos Açores de Hilmar, membro do Conselho Mundial das Casas dos Açores, deu um passo marcante para honrar o passado, celebrar o presente e construir o futuro, através do lançamento da primeira pedra da sua nova sede. Um novo espaço, orçado em vários milhões de dólares, cuja conclusão se encontra prevista para o final do próximo ano, e que funcionará como um moderno centro cultural multifuncional, capaz de acolher festas e uma variedade de atividades culturais, como exposições, concertos, eventos literários, colóquios, programas intergeracionais, encontros sociais ou celebrações comunitárias.
Um passo marcante, e concomitantemente, um sinal de esperança no presente e futuro do associativismo luso-californiano, que enfrenta atualmente um desafio complexo, que advém essencialmente do envelhecimento dos seus quadros dirigentes, porquanto nas últimas décadas a América do Norte tornou-se um destino secundário da emigração portuguesa. Um presente e futuro do associativismo luso-californiano, que como na restante América do Norte, deve passar pela diversificação de atividades de animação sociocomunitária, que possam conciliar a cultura tradicional enraizada no movimento associativo, com novas dimensões socioculturais, como o cinema, a literatura, o design, a dança, o teatro, a arte ou a moda, entre outros, de modo a atrair as jovens gerações de lusodescendentes, genuínos impulsionadores da presença portuguesa.
Nesse sentido, o lançamento da primeira pedra da nova Casa dos Açores de Hilmar, é uma “pedrada no charco”, um passo seguro no caminho que honra o passado, constrói o presente e assegura o futuro. Paradigmaticamente espelhada, em dois dos rostos mais visíveis da atual instituição, designadamente, o jovem e dinâmico lusodescendente, George Costa Jr., presidente da Casa dos Açores de Hilmar, e o seu vice-presidente, o comendador Manuel Eduardo Vieira, um dos mais proeminentes emigrantes e beneméritos da comunidade portuguesa na Califórnia.
Este novo capítulo da profícua história da Casa dos Açores de Hilmar, na Califórnia, sinal de esperança no presente e futuro das comunidades portuguesas na América do Norte, robustece a máxima de Fernando Pessoa, um dos maiores génios poéticos da nossa literatura: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
terça-feira, 18 de novembro de 2025
O potencial empreendedor da diáspora: o exemplo dos irmãos Calçada
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Entre as várias trajetórias de portugueses que se distinguem pelo seu papel empreendedor e inovador, e constituem um relevante fator de desenvolvimento do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso dos irmãos Calçada, laboriosos artesãos da relojoaria suíça.
Naturais do concelho de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, a odisseia migratória dos irmãos Calçada foi encetada por Paulo, três anos mais velho do que Pedro, que no início da adolescência, em 1985, emigrou para a Suíça, onde já estavam radicados os pais.
Um dos principais destinos da emigração portuguesa intraeuropeia, como comprovam os mais de 200 mil lusos que vivem e trabalham no território helvético, essencialmente na hotelaria, restauração, construção civil, indústria manufaturada, serviços de limpeza e agricultura, o emigrante feirense, foi trabalhar para Neuchâtel, capital do cantão suíço homónimo, nas vindimas e pouco tempo depois na construção civil. As condições árduas, e a ambição de melhores condições de vida e oportunidades profissionais, impulsionaram o jovem emigrante no final da década de 1980 a ingressar numa empresa de polimento de peças para relógios, onde em 1992, era já chefe de fábrica.
No mesmo período, Pedro Calçada acabaria por seguir as mesmas pisadas do irmão mais velho, rumando na adolescência para a Confederação Suíça, primeiramente para trabalhar nas limpezas, e pouco tempo depois na empresa da área da relojoaria em que o irmão já laborava.
As capacidades de trabalho infatigáveis, coligidas no berço familiar, impulsionaram os irmãos Calçada, no alvorecer do séc. XXI, a fundar a sua própria fábrica em Le Locle, uma comuna industrial, situada no cantão de Neuchâtel, perto da fronteira francesa, que alberga afamadas marcas de relógios, como a Mont Blanc, Tissot ou Tag Heuer. E que entre outras marcas helvéticas de renome, contribuem amplamente para que a Suíça seja mundialmente conhecida pela relojoaria de precisão e luxo.
Desde então, a fábrica Calçada, em Le Locle, assente num compromisso de máxima qualidade, precisão e dedicação, é um caso de sucesso e geradora de emprego. Na unidade fabril, onde trabalham vários emigrantes portugueses, são polidos diversos componentes metálicos dos relógios, como fechos, braceletes ou caixas dos relógios, assim como acabamentos específicos, como relevos e gravações, para marcas essencialmente helvéticas e do segmento de luxo.
Da fábrica Calçada, em Le Locle, saem diariamente à volta de mil caixas polidas, sendo que desde a década de 2010, foi aberta uma filial portuguesa no torrão natal. Nomeadamente em Louredo, povoação de Santa Maria da Feira, onde o investimento em máquinas automatizadas permitiu alavancar um maior volume de produção.
Entre a Suíça e Portugal, Pedro e Paulo Calçada, que em 2010 recebeu o Prémio Empreendedorismo Inovador da Diáspora Portuguesa, gerem atualmente duas unidades empresarias com mais de duas centenas de trabalhadores, contribuindo simultaneamente, para o progresso da confederação helvética, uma nação de riqueza e liderança na relojoaria, com o setor a representar um papel crucial na sua economia. Assim como, para o desenvolvimento do território nacional, mormente o concelho de Santa Maria da Feira, detentor de um tecido empresarial diversificado, dinâmico, e com uma importante capacidade de inovação e vocação exportadora.
Numa época em que os empreendedores portugueses da diáspora, são reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção e desenvolvimento do país, as trajetórias marcadas pelo arrojo, inovação, mérito e apego às raízes dos irmãos Calçada, corroboram a máxima de Luc de Clapiers, marquês de Vauvenargues: “Uma viva inteligência de nada serve se não estiver ao serviço de um carácter justo; um relógio não é perfeito quando trabalha rápido, mas sim quando trabalha certo”.
terça-feira, 11 de novembro de 2025
Chef José Meirelles: um embaixador da gastronomia portuguesa em Nova Iorque
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do chef José Meirelles, um genuíno embaixador da gastronomia portuguesa em Nova Iorque, uma das cidades mais icónicas dos Estados Unidos da América e do mundo.
Com raízes familiares no Norte de Portugal, entre Amarante e Celorico de Basto, José Meirelles desde pequeno mostrou paixão pela cozinha e pelos alimentos. De tal modo, que na década de 1980, após especializar-se em administração e exercido funções no sector bancário em Portugal, emigrou para os Estados Unidos, com a mulher, onde frequentou, em 1987, o French Culinary Institute, em Nova Iorque. Presentemente, designado The International Culinary Center, assume-se como uma das principais escolas de culinária dos Estados Unidos, e a nível mundial, dada a sua combinação de técnicas tradicionais francesas, inventividade americana e corpo docente de excelência.
É no decurso dessa formação intensiva, e após enriquecedoras experiências profissionais nos conceituados restaurantes noviorquinos La Réserve e Maxim's, que José Meirelles, em conjunto com os chefs Philippe Lajaunie e Jean-Michel Diot, abriu em 1990 o Les Halles, em Park Avenue, uma via norte-sul nos distritos de Manhattan e Bronx, na cidade de Nova Iorque. Um típico restaurante parisiense que servia pratos frescos e simples da culinária francesa, famoso pelas suas batatas fritas, e pelo facto, de lá ter trabalhado, no final dos anos 90, o chef de cozinha, autor, apresentador de televisão e contador de histórias, Anthony Bourdain (1956-2018).
Foi o empresário e chef José Meireles, antigo patrão de Anthony Bourdain, que o contratou nessa altura como chef executivo do Les Halles, e que serviu de catalisador e base, em 2001, para o seu livro de enorme sucesso “Cozinha Confidencial - Aventuras no Submundo”. Foi com o empresário e amigo chef José Meireles, que o saudoso chefe norte-americano Anthony Bourdain, conhecido pelo estilo irreverente, aprendeu a saborear a comida portuguesa, e no início do ano de 2017, regressou a Celorico de Basto, terra natal do emigrante português, onde esteve no restaurante Sabores da Quinta, de um primo de José Meirelles, para assistir à tradicional “Matança do porco” e degustar algumas das iguarias locais.
Com um currículo invejável, o empresário e chef José Meirelles, um dos rostos mais visíveis da gastronomia luso-americana, portador de um estilo culinário assente na qualidade, ousadia e honestidade, conhecido por incorporar frequentemente toques portugueses nos seus pratos, já abriu vários restaurantes em diferentes cidades norte-americanas.
Hodiernamente, detém unicamente o Le Marais, um restaurante kosher, ou seja, que respeita os preceitos do judaísmo, muito perto de Times Square e da Broadway, na “Big Apple”. Um restaurante, que desde 1995, se destaca pela cozinha francesa, nunca olvidando as raízes do empresário e chef luso-americano, e onde se comem alguns dos melhores bifes e hambúrgueres de Nova Ioque. Um espaço gastronómico de eleição, por onde ao longos dos últimos anos, têm passado figuras conhecidas do mundo dos negócios, cinema e moda, como Roman Abramovich, Aaron Eckhart, Cindy Crawford, Luci Liu ou Mark Wahlberg.
O sucesso e qualidade superior do restaurante kosher Le Marais, de José Meirelles, pode ser aferido pelo artigo “The Portuguese Catholic who serves French cuisine to New York’s Jews”, que o jornal “The Times of Israel”, escreveu em 2006. Neste, a publicação israelita multilíngue assevera, “Há mais de 20 anos que José Meirelles é proprietário e gere a steakhouse Le Marais — que recebeu o nome do bairro judeu de Paris — e a procura nunca foi tão elevada”, atualmente “o Le Marais é o restaurante kosher mais rentável da cidade de Nova Iorque”.
Uma das figurais mais conhecidas da comunidade luso-americana em Nova Iorque, o exemplo inspirador e de sucesso do empresário e chef português José Meirelles, encontra-se vertido numa das principais máximas de Confúcio: “Todos os homens se nutrem, mas poucos sabem distinguir os sabores”.
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