Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
domingo, 17 de novembro de 2024
José Correia: um empresário filantropo da comunidade portuguesa no Canadá
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador José Correia, dono da maior companhia de limpeza e manutenção do Canadá.
Natural de Albufeira, na zona costeira da região do Algarve, José Correia emigrou para o Canadá em 1967, com 15 anos de idade, ao encontro da figura paterna, que tinha encetado um ano antes uma trajetória migratória transatlântica em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde, na esteira de milhares de compatriotas que procuravam também que os seus descendentes não passassem pelo tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial.
A chegada ao Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, empenho e resiliência, valores coligidos no seio familiar, impeliram desde cedo o jovem albufeirense a trabalhar em “part-time” no ramo da limpeza e manutenção, área que absorvia muita mão-de-obra portuguesa e que estava a ter procura em Manitoba, província localizada no centro longitudinal do Canadá.
Concomitantemente, José Correia almejou melhorar o inglês, estudando à noite, e assim desenvolver melhores conhecimentos e práticas em soldagem, eletricidade e desenho, mundividência que o incitou a fundar com um sócio canadiano, em 1967, a Bee-Clean, uma empresa que rapidamente se transformou num grupo de referência nos setores de limpeza e manutenção no território canadiano.
Assente desde a sua génese na mão-de-obra portuguesa, a Bee-Clean expandiu-se no decurso das décadas seguintes para o oeste do Canadá, mormente Saskatchewan e Alberta. Sendo que atualmente, o grupo Bee-Clean que tem cerca de 15 mil funcionários, emprega ainda mais de 4 mil portugueses, numa época em que a emigração lusa para a América do Norte tem vindo a diminuir, e possui representações nas várias províncias canadianas, além de marcar ainda presença em Portugal, nos Açores, na China, em Xangai, e nos Estados Unidos, no Iowa.
Contexto, que converteu a Bee-Clean Building Maintenance na maior companhia de limpeza e manutenção do Canadá, operando, por exemplo, em edifícios privados e governamentais, aeroportos, hospitais, bases militares e esquadras da polícia. E que concorreu diretamente, para que o emigrante algarvio tenha sido reconhecido em 1998 com o Prémio Empreendedor do Ano pela consultora Ernst & Young; em 2015 distinguido pelo Portuguese Canadian Walk of Fame; e no ano transato considerado Empreendedor do Ano pela Building Owners and Managers Association (BOMA) of Canada, na região das Pradarias.
Anda no início deste ano, o empresário luso-canadiano recebeu das mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a Comenda da Ordem de Camões, pela sua atividade empresarial e filantrópica para com a comunidade portuguesa no Canadá, nação onde reside e trabalha há meio século. Uma ordem honorifica portuguesa justamente merecida, destinada distinguir quem tiver prestado serviços relevantes à língua portuguesa, á sua projeção no mundo e á intensificação das relações culturais entre os povos, e as comunidades que se exprimem em português e serviços relevantes para a conservação dos laços das comunidades lusas com Portugal.
Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa no Canadá, onde vivem e trabalham hodiernamente mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes, o empresário filantropo tem ajudado centenas de famílias portuguesas no processo de legalização, e apoiado generosamente, o ensino da Língua e da Cultura Portuguesa, patrocinando o Programa de Estudos Portugueses da Universidade de Winnipeg.
Foi neste sentido, que no passado dia 15 de novembro, a Association of Fundraising Professionals Manitoba, uma organização de referência no campo da filantropia na província localizada no centro longitudinal do Canadá, distinguiu no âmbito dos Prémios de Filantropia de Manitoba 2024, que se realizaram no Centro de Convenções RBC, o casal José e Maria Graciete Correia com o prémio “Filantropos notáveis”.
Nos fundamentos da atribuição da distinção, a AFP Manitoba salientou: “Há mais de 50 anos que o casal José e Maria Graciete Correia se dedicam à filantropia, apoiando causas como o acesso à saúde, à educação, à segurança alimentar e à saúde mental. Líder orgulhoso da comunidade portuguesa, os esforços dos Correia têm prestado um apoio crucial à comunidade, às populações vulneráveis e aos indivíduos submetidos a cuidados oncológicos e tratamentos médicos”.
domingo, 10 de novembro de 2024
As primeiras jornadas multidisciplinares da comunidade portuguesa na Austrália
A comunidade portuguesa na Austrália, cujas raízes remontam à segunda metade do séc. XX com a chegada de um grupo de emigrantes da Ilha da Madeira à cidade portuária de Fremantle, destaca-se atualmente pela sua perfeita integração no continente-ilha, situado no hemisfério sul, na Oceânia.
Conquanto, os dados oficiais apontem para que vivam hoje pouco mais de 55 mil portugueses na Austrália, a comunidade lusa encontra-se disseminada por metrópoles como Perth, Melbourne ou Sydney, onde é possível encontrar centros culturais e recreativos, restaurantes e bairros onde se pode falar exclusivamente a língua de Camões.
Neste esforço de preservação e dinamização da herança cultural portuguesa no território australiano, tem-se destacado nos últimos anos a madeirense Sara Fernandes, natural de São Roque, freguesia do Funchal, atualmente conselheira das comunidades portuguesas em Melbourne e Perth.
Estabelecida há mais de uma década anos na capital ocidental, em Perth, a emigrante madeirense, eleita no ocaso do ano transato para o Conselho das Comunidades Portuguesas, acabou de cumprir no passado dia 9 de novembro (sábado), uma das suas promessas eleitorais estruturantes. Nomeadamente, as primeiras jornadas multidisciplinares da história da comunidade portuguesa na Austrália.
A iniciativa promovida pela conselheira madeirense, que contou com o apoio de várias entidades, organismos e especialistas, decorreu presencialmente no Club Português de Fremantle, em Perth. Tendo ainda sido transmitida online, cobrindo assim a vastidão territorial da Austrália, o sexto maior país do mundo em área terrestre, com aproximadamente 7,7 milhões de quilómetros quadrados.
As primeiras jornadas multidisciplinares luso-australianas dividiram-se em três eixos que deram origem a painéis temáticos dedicados à língua portuguesa, à educação e associativismo, aos serviços sociais e emigração, e o mundo dos negócios e empreendedorismo. Muito participadas pela comunidade luso-australiana, o evento contou, entre outros, com a participação do embaixador de Portugal na Austrália, António Moniz, que encerrou os trabalhos. E do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, que abriu os trabalhos com uma mensagem em vídeo, e não deixou de destacar o papel comprometido e dedicado da conselheira madeirense em prol da comunidade portuguesa na Austrália.
Nesse sentido, um bem-haja à conselheira das comunidades portuguesas em Melbourne e Perth. E nela a todos os conselheiros espalhados pelos quatro cantos do mundo, que muitas das vezes sacrificando a sua vida pessoal, profissional e familiar, assumem um olhar de compromisso com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores do país.
Hoje, mais do que nunca, faz sentido a afamada expressão pessoana “a minha pátria é a língua portuguesa”. Uma pátria que não se confina às fronteiras tradicionais do mais antigo Estado-nação da Europa, ou se cinge à sua população que vive no pequeno retângulo à beira-mar plantado. Uma pátria, que pelo contrário, espraia-se em várias comunidades e descendentes espalhadas pelos quatro cantos do mundo, indubitáveis portugais onde remanesce a cultura e língua portuguesa, elos comuns da identidade lusófona.
sábado, 9 de novembro de 2024
Daniel Bastos homenageou Gérald Bloncourt no Porto
No passado sábado (9 de novembro), o historiador da diáspora Daniel Bastos, proferiu na livraria Unicepe, um espaço cultural de referência na cidade do Porto, uma conferência dedicada a "Gérald Bloncourt: o fotógrafo da emigração portuguesa", em homenagem ao “franco-atirador" dos bidonvilles e da emigração portuguesa “a salto” nos anos 60 e 70.
A conferência de homenagem, assinalou os seis anos do falecimento de uma personalidade ímpar que durante mais de duas décadas escreveu com luz a vida dos portugueses em França e em Portugal. Centrada na abordagem do trabalho e percurso de vida do fotógrafo que imortalizou a epopeia da emigração e a génese da democracia portuguesa, a sessão intimista e acolhedora, inclui ainda a reapresentação do livro “O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores”.
Uma obra concebida e realizada por Daniel Bastos em 2015, que contou com prefácio de Eduardo Lourenço e tradução de Paulo Teixeira, onde é retratado através do espólio de Gérald Bloncourt, a vida dos emigrantes portugueses nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, que já integraram várias exposições em Portugal e França, e que fazem parte do arquivo da Cité nationale de l’histoire de l’immigration em Paris, e do Museu das Migrações e das Comunidades, em Fafe. Assim como, a primeira viagem a Portugal na década de 1960, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves; a viagem a “salto” que fez com emigrantes portugueses além Pirenéus; e as comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, que permanecem como a maior manifestação popular da história portuguesa.
No decurso da conferência de homenagem, o historiador da diáspora afirmou que “o trabalho fotográfico de Bloncourt constitui um valioso repositório do último meio século nacional, que resgata das penumbras do esquecimento os protagonistas anónimos da história nacional que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à liberdade”.
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas: a alma centenária da comunidade luso-americana em São José
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos nacionais, destaca-se atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados em Massachusetts, Rhode Island, Nova Jérsia e Califórnia. É neste último estado, que vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país, constituída por mais de 300 mil pessoas, e cuja presença histórica no oeste dos EUA remonta à centúria oitocentista, aquando da corrida ao ouro, da dinamização da pesca da baleia e do atum, e mais tarde das atividades ligadas à agropecuária.
A secular presença portuguesa na Califórnia, que se manifesta hoje na existência de diversas associações, clubes e fundações luso-americanas, encontra-se espargida na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, em São José, que constituiu um genuíno pilar de fé, de assistência espiritual e pastoral na maior concentração urbana portuguesa na Califórnia.
A génese da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas remonta à década de 1910, mais concretamente ao ocaso do ano de 1913, época em que foi adquirido o terreno para contruir o templo e foi apresentada uma petição ao arcebispo Patrick William Riordan, de São Francisco, visando instituir a Paróquia Nacional Portuguesa de Five Wounds.
A construção iniciada em 1914 contou com o apoio fundamental e fervoroso de monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, um insigne açoriano nascido na segunda metade do séc. XIX, em Cedros, Ilha do Faial. Ordenado no término da centúria oitocentista, tornou-se vigário na freguesia de São Mateus, Ilha Terceira, tornando-se mais tarde vigário paroquial da Matriz de Santa Cruz, na Ilha das Flores.
Em 1912 emigrou para os Estados Unidos da América onde recebeu o título de Monsenhor, um título honorífico concedido pelo papa a certos eclesiásticos por serviços prestados à Igreja. Designado primeiramente para a região agrícola do Vale de São Joaquim, um dos centros da emigração portuguesa na Califórnia, monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, chegou a São José em 1914, tornando-se o grande obreiro e impulsionador da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas.
O seu papel basilar, escorado na generosidade constante da comunidade portuguesa, entre 1910-20 calcula-se que tenham entrado no território americano cerca de 150 mil açorianos, ficou plasmado na negociação que encetou em 1916 com o governo português para a compra da madeira do então desmantelado Pavilhão de Portugal da Exposição Panamá – Pacífico, em São Francisco, erigido no ano anterior no âmbito da Exposição Universal que decorreu nos EUA.
Inaugurada solenemente, a 13 de julho de 1919, pelo arcebispo Edward Joseph Hanna, de São Francisco, a centenária Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, encerra historicamente a particularidade de ter sido inspirada na traça arquitetónica da Igreja de Santa Cruz, uma das mais expressivas manifestações do período barroco na cidade de Braga, no norte de Portugal.
Adornada nas décadas de 1930-40, fase marcada pelo falecimento do monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, com mais de três de dezenas de sublimes vitrais, e em constante dinâmica espiritual e pastoral enriquecida pela Irmandade do Espírito Santo. Assim como pela Escola Primária Five Wounds construída e inaugurada em 1960, época em que a emigração portuguesa para a América voltou a aumentar no decurso da erupção do Vulcão dos Capelinhos.
Assumindo-se desde o passado à atualidade como a alma da comunidade luso-americana em São José, a Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, na esteira da magnífica obra monográfica assinada por Miguel Valle Ávila no âmbito das celebrações do centenário do templo, “Um Vestíbulo para o Céu”, tem almejado alcançar ao longo das décadas padres de língua portuguesa na liderança da paróquia. Como é o caso hodierno do padre António Silveira, e apoios beneméritos de figuras gradas da comunidade, vivificando-se como casa e escola de comunhão dos fiéis luso-americanos.
Numa época de grandes desafios para as comunidades portuguesas nos Estados Unidos, motivada pela conjugação do envelhecimento com a entrada de cada vez menos emigrantes lusos no território. A centenária Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, que assinalou no passado dia 2 de novembro o 110.º aniversário da fundação da paróquia, exprime simultaneamente, a ação pioneira da Igreja Católica no apoio aos emigrantes, e o pilar que a fé e a prática religiosa representam para uma parte significativa dos luso-americanos.
Como aclarava, em 2022, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da visita às comunidades luso-americanas da Califórnia, que computou a ida à missa na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, no âmbito do programa privado do mais alto magistrado da Nação, embora Portugal esteja fisicamente distante de São José, na Califórnia, “tem um território espiritual que cobre todo o mundo. Onde esteja um português, está Portugal, e por isso o nosso território espiritual é muitíssimo maior, é muitíssimo mais vasto do que o território físico, formado pelas ilhas dos Açores, pelas ilhas da Madeira e pelo continente português”.
Nesse sentido, o recente 110.º aniversário da fundação da paróquia da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, orgulhosamente celebrado pelos luso-americanos em São José, através da dinâmica da celebração religiosa, mas também de um jantar-convívio na Irmandade do Espírito Santo (I.E.S.) Portuguese Hall of San Jose, que congregou as forças vivas da comunidade e contou com a presença do Presidente da Câmara de São José, Matt Mahan, e do Cônsul-Geral de Portugal em São Francisco, Filipe Ramalheira. Revivifica a máxima do filósofo Kierkegaard, considerado o fundador do existencialismo: “A vida somente pode ser compreendida olhando-se para trás, mas somente pode ser vivida olhando-se para frente”.
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Gérald Bloncourt: o fotógrafo da emigração portuguesa homenageado no Porto
No próximo dia 9 de novembro (sábado), terá lugar na cidade do Porto a conferência "Gérald Bloncourt: o fotógrafo da emigração portuguesa", em homenagem ao “franco-atirador" dos bidonvilles e da emigração portuguesa “a salto” nos anos 60 e 70.
A conferência de homenagem, seis anos após a morte de uma personalidade ímpar que durante mais de duas décadas escreveu com luz a vida dos portugueses em França e em Portugal, realiza-se às 15h30, na livraria Unicepe, um espaço cultural de referência na cidade invicta. E será proferida pelo historiador da diáspora Daniel Bastos, autor de obras de referência sobre o trabalho fotográfico de Bloncourt ligados à emigração e à génese da democracia portuguesa.
O fotógrafo Gérald Bloncourt (1926-2018), acompanhado do historiador da diáspora Daniel Bastos, em 2015, no âmbito do lançamento em Paris do livro “O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores”
Centrada na abordagem do trabalho e percurso de vida do fotógrafo que imortalizou a epopeia da emigração portuguesa, a sessão de homenagem, aberta à comunidade, inclui ainda a reapresentação do livro “O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores”.
Uma obra concebida e realizada por Daniel Bastos em 2015, que contou com prefácio de Eduardo Lourenço e tradução de Paulo Teixeira, onde é retratado através do espólio de Gérald Bloncourt, a vida dos emigrantes portugueses nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, que já integraram várias exposições em Portugal e França, e que fazem parte do arquivo da Cité nationale de l’histoire de l’immigration em Paris, e do Museu das Migrações e das Comunidades, em Fafe. Assim como, a primeira viagem a Portugal na década de 1960, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves; a viagem a “salto” que fez com emigrantes portugueses além Pirenéus; e as comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, que permanecem como a maior manifestação popular da história portuguesa.
domingo, 27 de outubro de 2024
Comendador Manuel Eduardo Vieira: uma visão empreendedora e humanista luso-americana
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”).
Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho e mérito e resiliência, destaca-se o percurso inspirador do comendador Manuel Eduardo Vieira. Natural da Silveira, povoado da ilha do Pico, arquipélago dos Açores, Manuel Eduardo Vieira antes de se fixar na América, emigrou em 1962, no início do deflagrar da Guerra do Ultramar, para o Rio de Janeiro. A estadia no Brasil, que durou cerca de uma década, serviu de trampolim para um percurso de self-made man que encetou no começo dos anos 70 no estado norte-americano da Califórnia.
Com uma trajetória de notável mérito e trabalho hercúleo, tornou-se, a partir do Vale de São Joaquim, através da sua empresa A.V. Thomas Produce no maior produtor de batata-doce biológica do mundo. Contexto que, levou inclusive, na década de 90 a cadeia de supermercados Safeway a oferecer a Manuel Eduardo Vieira uma placa de matrícula personalizada com as palavras King Yam “Rei da Batata-Doce”.
O empreendedor luso-americano, que tem mantido um constate apego ao seu torrão natal através de um extraordinário sentimento filantropo, plasmado na decisão, em 2017, da Câmara Municipal das Lajes do Pico em homenageá-lo com uma estátua na praceta do Centro Social da Silveira, tem sido uma figura muito requisitada pelos órgãos de informação nacionais para abordar as cada vez mais próximas eleições americanas de 5 de novembro.
Uma das figuras mais gradas da imensa comunidade portuguesa na Califórnia, latitude da diáspora onde se encontra radicado há meio século, quer na entrevista concedida à CNN Portugal, no início de setembro, como na mais recente facultada à Agência Lusa, o conhecido emigrante açoriano tem sido um genuíno arauto do papel relevante no passado, presente e futuro da comunidade lusa nos EUA.
Comendador Manuel Eduardo Vieira
Num período desafiante e complexo, em que é notória a polarização do eleitorado norte-americano, revelador da profunda divisão que perpassa a sociedade da principal potência mundial. E cujos resultados terão enormes reflexos políticos, económicos e sociais na América, e no mundo globalizado, a voz civilizada, serena e portadora de esperança do comendador Manuel Eduardo Vieira tem sido um lenitivo perante as incertezas no horizonte.
Um dos aspetos mais relevantes das suas intervenções públicas, são indubitavelmente as melhores condições que defende para os imigrantes, assim como a ideia de legalização dos ilegais que já estão na América, trabalham, pagam impostos e têm famílias. Com cerca de 1.500 pessoas a trabalharem na sua fábrica, maioritariamente imigrantes, a visão pragmática e humanista do emigrante picoense, testemunha o papel crucial dos imigrantes na força laboral nos EUA.
Ao contrário dos crescentes discursos anti-imigração que campeiam em várias nações, como é o caso dos Estados Unidos, cujos pilares, ironicamente construídos ao longo da sua história pela dinâmica da imigração são agora arremetidos por tentações cada vez maiores de construção de barreiras fronteiriças e ideológicas. O entendimento do empresário benemérito sobre o impacto positivo do fluxo migratório na demografia e na economia norte-americana, assente em bases de integração, responsabilidade e solidariedade, realenta a expressão queirosiana “força civilizadora”.
Um dos mais destacados empresários da diáspora, as recentes intervenções públicas do comendador Manuel Eduardo Vieira em órgãos de informação de referência no panorama nacional, não deixam de ser igualmente um sinal de reconhecimento e valorização das várias gerações de compatriotas que, por razões muito diversas, saíram de Portugal, e têm dado um contributo fundamental no desenvolvimento das pátrias de acolhimento e de origem.
Um sinal de reconhecimento e valorização dos emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da nação, que partiram e se instalaram pelo mundo, merecedores de toda a consideração e respeito. Como é o caso paradigmático do comendador Manuel Eduardo Vieira, um paladino da portugalidade na Costa Oeste dos Estados Unidos da América.
domingo, 20 de outubro de 2024
O apego às raízes e a solidariedade dos emigrantes em prol dos Bombeiros: o exemplo dos “Amigos do Vale USA”
Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações.
Ainda em meados do mês passado, numa fase crítica em que Portugal enfrentou dezenas de incêndios, em particular no Norte e Centro do país, ficou patente a coragem e a importância dos Bombeiros. Sendo que inclusive quatro “soldados da paz” tombaram em serviço da defesa e proteção das populações, o saudoso herói João Manuel dos Santos Silva, de 60 anos, durante o combate às chamas na freguesia de Pinheiro da Bemposta, no concelho de Oliveira de Azeméis, vítima de um problema cardíaco. E os saudosos e valentes Paulo Jorge Santos, Susana Cristina Carvalho e Sónia Cláudia Melo, quando o carro em que seguiam estes bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, foi apanhado pelas chamas no combate ao incêndio que lavrou no concelho de Tábua.
Exemplos de genuíno serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações.
Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações.
Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado na dinâmica solidária da Associação Amigos do Vale USA, um grupo de emigrantes oriundos da freguesia do Vale, em Arcos de Valdevez, um concelho do Alto Minho fortemente marcado pelo fenómeno migratório como revelam as suas numerosas comunidades estabelecidas na França, Andorra, Venezuela, Canadá e Estados Unidos da América (EUA).
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, a Associação Amigos do Vale USA, assente no reiterado orgulho que os seus associados nutrem pelas suas raízes, tem ao longo dos últimos anos vindo a assumir-se como uma genuína “família” da diáspora arcuense nos Estados Unidos.
Com uma profunda dimensão de solidariedade e humanitarismo, os membros da associação luso-americana, naturais da vila raiana encravada no Vale do Vez, organizaram no início deste ano uma recolha de fundos a favor da Associação Humanitária dos Bombeiros da sua terra-mãe. Uma centenária corporação, fundada no ocaso do séc. XIX, que se constitui como uma peça estruturante no serviço prestado à população do concelho de Arcos de Valdevez, um dos quatro municípios que integram o Vale do Lima.
A angariação solidária decorreu em Newark, a cidade mais populosa do estado de Nova Jérsia, nos Estados Unidos, onde reside uma das maiores e mais conhecidas comunidades portuguesas nos EUA. Mais de quatro centenas de emigrantes e luso-americanos, muitos deles com raízes arcuenses, marcaram presença num almoço solidário, no salão nobre do centenário Sport Club Português (SCP), uma vitrina da portugalidade na América, que contou com a presença de uma delegação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez.
Além do almoço solidário que angariou 70 mil dólares, verba que permitiu à corporação humanitária arcuense adquirir uma ambulância de socorro pré-hospitalar, completamente nova, os representantes dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez estiveram através do vereador lusodescendente Michael Silva, numa cerimónia de homenagem na Câmara Municipal de Newark.
Nesta cerimónia de homenagem, que incluiu ainda uma visita às instalações dos Bombeiros de Newark nº 14, estiveram igualmente presentes Fernando Grilo e Joe Barros, presidente e vice-presidente da União de Clubes Luso-Americanos de New Jersey, Jack Costa, presidente da Assembleia Geral do Sport Club Português e dos Amigos do Vale USA, António Cardoso, diretor do Rancho Folclórico ‘Sonhos de Portugal’, de Kearny, e Emanuel Barros, presidente da Casa dos Arcos.
A ambulância de socorro pré-hospitalar ofertada pela comunidade emigrante dos EUA à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, foi oficialmente entregue e benzida no passado mês de agosto, o mês eleito por muitos emigrantes para regressarem às suas terras, e contou com a presença de membros da Associação Amigos do Vale USA, que tinham já no passado recente auxiliado nas obras da igreja local.
Como enalteceu no decurso da cerimónia oficial de entrega e bênção da viatura, no quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, o representante da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Cruz, são as comunidades “que acabam por minimizar os danos de subfinanciamento das corporações de bombeiros, quer ao nível autárquico, quer a nível nacional. São os cidadãos, uns mais perto, outros mais longe, que se lançam na ajuda dos bombeiros”.
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