Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Daniel Bastos apresentou livro sobre as comunidades portuguesas no Festival das Migrações no Luxemburgo

 

No passado sábado (25 de fevereiro), o escritor e historiador Daniel Bastos apresentou no Festival das Migrações no Luxemburgo, a segunda edição do seu último livro “Crónicas - Comunidades, Emigração e Lusofonia”.

A segunda edição da obra, agora revista e aumentada, que reúne as crónicas que o historiador fafense tem escrito nos últimos anos na imprensa de língua portuguesa no mundo, foi apresentada no âmbito do Festival das Migrações, um certame que reúne milhares de visitantes e se assume como o encontro de todas as culturas no Luxemburgo.

A apresentação do livro, que é prefaciado pelo advogado e comentador, natural de Fafe, Luís Marques Mendes, integrou o programa da conferência-debate sobre a emigração lusófona promovida pelo Centro de Documentação sobre Migrações Humanas (CDMH). Uma iniciativa que além da presença de emigrantes, lusodescendentes, dirigentes associativos, órgãos de informação da diáspora, e dos deputados eleitos pelo círculo europeu da emigração, Paulo Pisco e Nathalie de Oliveira, contou com a intervenção de Maria Beatriz Rocha-Trindade, uma das maiores especialistas nacionais do fenómeno das migrações, e que foi moderada pela socióloga Heidi Martins, investigadora do CDMH.

O historiador Daniel Bastos, acompanhado da socióloga Maria Beatriz Rocha-Trindade (ao centro), e da investigadora Heidi Martins, no decurso da sessão de apresentação no Luxemburgo

Ao longo da sua apresentação, o escritor através da sua última obra revelou “o empreendedorismo, as contrariedades, a resiliência e a solidariedade das comunidades portuguesas, a riqueza do seu movimento associativo, e as enormes potencialidades culturais, económicas e políticas que as mesmas representam nas pátrias de acolhimento e de origem. Como é o caso da comunidade lusa no Luxemburgo, a maior comunidade no Grão-Ducado, representando cerca de 20% da população total do país”.

Refira-se que ao longo deste ano, estão previstas várias sessões de apresentação do livro, cuja capa é assinada pelo mestre-pintor fafense Orlando Pompeu, um dos mais consagrados artistas plásticos nacionais da atualidade, junto das comunidades portuguesas.

Professor e autor de vários livros que retratam a história da emigração portuguesaDaniel Bastos é atualmente consultor do Museu das Migrações e das Comunidades, e da rede museológica virtual das comunidades portuguesas, instituída pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.

 


 


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

A homenagem da comunidade franco-portuguesa a Maria Beatriz Rocha-Trindade

 

No passado dia 17 de fevereiro, a reputada socióloga das migrações, Maria Beatriz Rocha-Trindade, foi distinguida nos salões nobres da Câmara Municipal de Paris, com a Medalha Grand Vermeil, atribuída pela presidente da câmara da capital francesa, Anne Hidalgo, e a Medalha de Honra do Comité Aristides de Sousa Mendes, atribuída pela associação que ao longo dos últimos anos tem dinamizado a memória do Justo entre as Nações”, através da promoção de conferências, encontros, edição de livros e publicações interligadas com a emigração portuguesa.

A iniciativa, impulsionada por um “Coletivo dos amigos de Maria Beatriz Rocha Trindade”, onde se destacam Manuel Dias e Isabel Barradas do Comité Aristides de Sousa Mendes, Marie-Hélène Euvrard da Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF), Ilda Nunes da Associação Memória Viva, Emmanuelle Afonso do Observatório dos Lusodescendentes, Carlos Pereira do LusoJornal, Parcídio Peixoto da Associação Memórias das Migrações e Hermano Sanches da Câmara Municipal de Paris, teve como objetivo principal distinguir o percurso de vida e trabalho de uma das cientistas sociais que mais tem contribuído para o conhecimento da emigração portuguesa.

Autora de uma vasta bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, onde se destacam, entre outros, os livros Sociologia das Migrações (1995), Migrações - Permanência e Diversidade (2009), A Serra e a Cidade - O Triângulo Dourado do Regionalismo (2009) ou Das Migrações às Interculturalidades (2014). E colaboradora habitual de revistas científicas internacionais neste domínio, Maria Beatriz Rocha-Trindade, nascida em Faro, e Doutorada pela Universidade de Paris V (Sorbonne) e Agregada pela Universidade Nova de Lisboa (FCSH), é uma precursora no estudo do fenómeno migratório em Portugal.

Professora Catedrática Aposentada na Universidade Aberta, foi responsável pela fundação nos inícios dos anos 90, nesta instituição de ensino superior público, do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI). Um centro pioneiro na área das Migrações e Relações Interculturais, que conta atualmente com mais de meia centena de investigadores, e que tem diligenciado ao longo dos últimos anos uma intensa pesquisa interdisciplinar e formação avançada na área das migrações e das relações interculturais em contexto nacional e internacional.

Membro de diversas organizações científicas portuguesas e estrangeiras, designadamente da Comissão Científica da Cátedra UNESCO sobre Migrações, da Universidade de Santiago de Compostela, do Museu das Migrações e das Comunidades, e da Comissão Científica do Centro de Estudos de História do Atlântico/CEHA, a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade, coordena presentemente a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Constituída por membros oriundos de vários quadrantes da sociedade que têm estudado e refletido sobre o fenómeno migratório, emigração/imigração, a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa, uma das mais relevantes instituições culturais do país, tem sido responsável pela dinamização de relevantes iniciativas no campo do fenómeno migratório. Como por exemplo, em 2019, quando realizou o colóquio “CPLP - que presente e que futuro?”, ou no ano anterior, o “Fórum Luso-Estudos/ Edição 2018”, o seminário “Enologia, Mobilidade e Turismo” e a conferência “Jornalismo para a Paz em contexto de mobilidade”.

O percurso de vida singular e o trabalho académico laborioso da Professora Catedrática Maria Beatriz Rocha-Trindade, Titular da Ordre National du Mérite de França, com o grau de Chevalier, da Medalha de Mérito do Município de Fafe, Medalha de Ouro do Município do Fundão e da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública de Portugal, foi agora justa e merecidamente distinguido com a mais alta condecoração da capital francesa.

No decurso da cerimónia, que contou com a presença de forças vivas da comunidade luso-francesa, entre elas, os deputados eleitos pelo círculo europeu da emigração, Nathalie de Oliveira e Paulo Pisco, assim como do Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Carlos Oliveira, em representação do Embaixador José Augusto Duarte. O Adjunto da Presidente da Câmara Municipal de Paris, Arnaud Ngatcha, autarca com o pelouro da Europa, das Relações internacionais e da Francofonia, enalteceu Maria Beatriz Rocha-Trindade “como uma eminente socióloga que desenvolveu uma carreira brilhante e fortaleceu os vínculos que unem a França e Portugal”.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

In memoriam Felícia de Assunção Pailleux

No ocaso da semana passada, fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento de Felícia de Assunção Pailleux (1927-2023), que ao longo das últimas quatro décadas foi a porta-estandarte de Portugal nas comemorações anuais da Batalha de La Lys. Uma batalha travada na Flandres, a 9 de abril de 1918, que marcou tragicamente a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e que constitui o maior desastre militar português a seguir à Batalha de Alcácer Quibir no séc. XVI.

Conquanto a presença da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, rondando um milhão de pessoas, esteja historicamente ligada ao processo de reconstrução gaulesa após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a emigração portuguesa para França está originariamente ligada à participação do Corpo Expedicionário Português (CEP) na frente europeia da Grande Guerra. Acontecimento bélico que levou para França em 1917 cerca de 55 mil portugueses para lutar nas trincheiras dos aliados britânicos contra o inimigo alemão, e do qual milhares de soldados não regressaram, optando por se tornarem emigrantes em terras gaulesas.

Ainda hoje, existem descendentes destes soldados e emigrantes lusos que preservam a sua memória e zelam o cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, um cemitério militar exclusivamente português, que reúne um total de 1831 militares mortos na frente europeia. Era o caso paradigmático da nonagenária Felícia de Assunção Pailleux, filha do soldado e depois emigrante João Assunção, um minhoto de Ponte da Barca, que fez parte da 2ª Divisão do CEP, e que como outros compatriotas que optaram no final do conflito bélico por não regressar a Portugal, onde grassava uma profunda crise política, económica e social, fixou-se na zona onde combateu, no Norte-Pas de Calais, uma zona de minas de carvão que absorveu muita mão-de-obra.

Ao longo das últimas quatro décadas, Felícia de Assunção Pailleux foi a porta-estandarte da bandeira de Portugal nas cerimónias evocativas da Grande Guerra no cemitério de Richebourg e no monumento aos soldados lusos em La Couture, no Norte-Pas de Calais, honrando a memória do seu pai, soldado e emigrante português falecido em 1975, que muito antes da emigração massiva dos anos 60 escolheu como muitos outros antigos companheiros de armas a França para viver, trabalhar e constituir família.

O incansável papel de dinamização e perpetuação da memória dos saldados portugueses tombados em combate no decurso da Grande Guerra concorreu para em 2018, no decurso das comemorações do centenário da Batalha de La Lys, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, distingue-se numa cerimónia ocorrida no cemitério de Richebourg, Felícia de Assunção Pailleux com a Medalha da Defesa Nacional.

Uma medalha militar portuguesa, justamente atribuída à filha do antigo soldado e depois emigrante João Assunção, criada no alvorecer do séc. XXI, em 4 classes, destinada a galardoar os militares e civis, nacionais ou estrangeiros, que, no âmbito técnico-profissional, revelem elevada competência, extraordinário desempenho e relevantes qualidades pessoais, contribuindo significativamente para a eficiência, prestígio e cumprimento da missão do Ministério da Defesa Nacional.