Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Daniel Bastos marca presença nas celebrações dos 70 anos da emigração portuguesa no Canadá

 No próximo dia 13 de maio (sábado), o escritor e historiador Daniel Bastos apresenta em Toronto, metrópole onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, a segunda edição do seu último livro Comunidades, Emigração e Lusofonia”.



A segunda edição da obra, agora revista e aumentada, que reúne as crónicas que o historiador tem escrito nos últimos anos na imprensa de língua portuguesa no mundo, é apresentada às 10h00 na Galeria dos Pioneiros Portugueses em Toronto, no âmbito das celebrações oficiais dos 70 anos da emigração portuguesa para o Canadá.

A apresentação do livro, prefaciado pelo advogado e comentador Luís Marques Mendes, estará a cargo de Maria Beatriz Rocha-Trindade, Presidente da Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa, e do Comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto.

Nesta última obra, o escritor revela o empreendedorismo, as contrariedades, a resiliência e a solidariedade das comunidades portuguesas, a riqueza do seu movimento associativo, e as enormes potencialidades culturais, económicas e políticas que as mesmas representam. Como é caso da comunidade luso-canadiana, que se destaca atualmente na América do Norte pela sua dinâmica associativa, económica e sociopolítica, e cujas raízes remontam a um grupo pioneiro de emigrantes portugueses que desembarcaram a 13 de maio de 1953, em Halifax, na Nova Escócia.

 

Refira-se que a totalidade das receitas da venda dos livros na sessão aberta à comunidade, reverte a favor da Magellan Community Foundation, uma instituição responsável pela construção em Toronto, do primeiro lar de cuidados a longo termo para idosos de expressão portuguesa, com 350 camas. E que o programa oficial das celebrações, com particular destaque para o fim de semana de 13 e 14 de maio, inclui além do lançamento de livros, receções oficiais aos representantes do governo português, e a atuação de vários grupos e artistas, entre eles, Mariza, Pedro Abrunhosa e Bárbara Bandeira.

Professor e autor de vários livros que retratam a história da emigração portuguesaDaniel Bastos, que ainda no mês passado apresentou na Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos o seu último livro, é atualmente consultor do Museu das Migrações e das Comunidades, e da rede museológica virtual das comunidades portuguesas, instituída pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.


domingo, 23 de abril de 2023

Manuela Marujo: o universo da emigração no feminino

 

No decurso das últimas décadas o estudo sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto diversificado de atividades e trabalhos que têm dado um importante contributo para o conhecimento da emigração portuguesa.

Neste entrecho, destaca-se indubitavelmente o percurso ativo e dedicado da professora Manuela Marujo, cuja experiência de vida como emigrante, docente na Universidade de Toronto no Departamento de Espanhol e Português entre 1985-2017, e atualmente Professora Associada Emérita dessa universidade. Assim como de colaboradora da imprensa da diáspora e autora de bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, a catapultam para uma das cientistas sociais hodiernas que mais tem contribuído para o conhecimento da emigração portuguesa, em particular, do papel das mulheres no seio da emigração.

Um dos lados, como refere Irene Vaquinhas, professora catedrática do Departamento de História, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e uma das mais conceituadas investigadoras no domínio da História das mulheres e do género, “menos conhecido e estudado do fenómeno migratório”.

Licenciada em Filologia Germânica pela Universidade Clássica de Lisboa e com um mestrado e um doutoramento em educação pela Universidade de Toronto, Manuela Marujo, que lecionou e fez formação de professores de Língua e Cultura Portuguesa em vários países e deu inúmeras palestras pelo mundo, nasceu em 1949, em Santa Vitória, no concelho de Beja.

No âmbito do seu percurso humanista e de “alma de viajante”, a académica com raízes alentejanas, que ainda recentemente lançou na Galeria dos Pioneiros em Toronto, o livro de crónicas de viagem Canadá, Olhares e Percursos de uma Portuguesa Curiosa, tem empreendido uma notável dinâmica na organização de iniciativas ligadas à temática da emigração.

Particularmente no universo da emigração no feminino, como assevera, por exemplo, o seu papel decisivo na criação das redes “A Vez e a Voz da Mulher Imigrante Portuguesa” e “A Vez e a Voz dos Avós”, cujas conferências internacionais têm dado voz às mulheres, de ontem e de hoje, das suas experiências no seio da emigração e da sociedade portuguesa, em diversas instituições de ensino superior nacionais e estrangeiras.

Colaboradora da imprensa de língua portuguesa no mundo, como é o caso do Milénio Stadium, um jornal de referência da comunidade luso-canadiana, onde regularmente versa temáticas da sua “alma de viajante”, da lusofonia e do fenómeno migratório, Manuela Marujo é igualmente autora e coautora de relevantes artigos e obras ligadas à emigração portuguesa. Como, por exemplo, Passos de Nossos Avós, onde é enfatizado o papel importante dos mesmos no seio familiar, principalmente na formação e educação dos seus membros mais jovens; ou o livro bilingue A Primeira vez que eu vi Neve, uma obra no campo da literatura infantil que apela à motivação para o despertar científico.

O percurso ativo e dedicado da professora Manuela Marujo, membro integrante do comité organizador das celebrações dos 70 anos da emigração portuguesa no Canadá, que se assinalam este ano e cujas raízes remontam a um grupo pioneiro de emigrantes portugueses que desembarcaram a 13 de maio de 1953, em Halifax, na Nova Escócia, concorreu para que em 2004 fosse agraciada com grau de comendadora da Ordem do Infante DHenrique, uma ordem honorífica nacional que visa distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro. E em 2017, tenha sido distinguido na cerimónia do Portuguese Canadian Walk of Fame, uma iniciativa que se realiza anualmente em Toronto, e que tem como principal objetivo realçar os percursos de sucesso de luso-canadianos para que sirvam de inspiração às gerações vindouras.

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Hospital de São José: uma obra benemérita dos “brasileiros de torna-viagem”

 

Na senda das vagas contemporâneas de emigrantes portugueses para vários países do mundo, evidencia-se o ciclo transatlântico que se prolongou de meados do século XIX até ao primeiro quartel do século XX, e que teve como principal destino o Brasil.

Pressionados pela carestia de vida e baixos salários agrícolas, mais de um milhão de portugueses entre 1855 e 1914 atravessaram o oceano Atlântico, essencialmente seduzidos pelo crescimento económico da antiga colónia portuguesa. Procedente do mundo rural e eminentemente masculino, o fluxo migratório foi particularmente incisivo no Minho, um dos principais torrões de origem da emigração portuguesa para o Brasil.

Enobrecidos pelo trabalho, maioritariamente centrado na atividade comercial, e após uma vintena de anos geradores de um processo de interação social que os colocou em contacto com novas realidades, hábitos, costumes e posses, o regresso de “brasileiros de torna-viagem” a Portugal, trouxe consigo um espírito burguês empreendedor e filantrópico marcado pela fortuna, pelo gosto de viajar, e pelo fascínio cosmopolita da cultura e língua francesa.

Ainda que sintomática das debilidades estruturais do país, a emigração para o Brasil entre o séc. XIX e XX, facultou através do retorno dos “brasileiros de torna-viagem”, os meios e recursos necessários para a transformação contemporânea do território nacional, com particular incidência no Norte de Portugal.

Como é o caso paradigmático de Fafe, uma cidade situada no distrito de Braga, no coração do Minho, cujo desenvolvimento contemporâneo teve um forte cunho de emigrantes locais enriquecidos no Brasil nesse período. O retorno dos “brasileiros de torna-viagem” a Fafe alavancou, desde logo, nas décadas de 1870-80, a criação da Fábrica têxtil do Bugio, e da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe (Fábrica do Ferro), símbolos incontornáveis da indústria têxtil no Vale do Ave.

Paralelamente à dinâmica empreendedora, as iniciativas de natureza filantrópica dos emigrantes “brasileiros” de Fafe, abarcaram ainda no último quartel do séc. XIX, o lançamento da Igreja Nova de São José, a edificação do Asilo da Infância Desvalida, a construção do Jardim Público, símbolo do romantismo, o surgimento da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, a instituição da Santa Casa da Misericórdia de Fafe, e já no alvorecer do séc. XX, o Asilo de Inválidos de Santo António.

As marcas da benemerência brasileira local estão ainda paradigmaticamente consubstanciadas na construção do Hospital de São José, administrado pela Santa Casa da Misericórdia de Fafe, e que foi alavancado por um conjunto de influentes fafenses no Rio de Janeiro, que angariaram os fundos necessários para a edificação da unidade de saúde, com a incumbência do mesmo seguir a planta arquitetónica do Hospital da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro.

 Inaugurado em 19 de março de 1863, o estabelecimento esteve durante mais de um século sob a gestão da Misericórdia, desempenhando um papel relevante no atendimento e tratamento de doentes locais e das Terras de Basto. Em particular, aos oriundos dos estratos sociais mais desfavorecidos, até à sua nacionalização em 1975, com a criação do Serviço Nacional de Saúde.

No decurso da década de 2010, o Hospital de São José, integrado no Serviço Nacional de Saúde, no âmbito de um acordo de cooperação assinado entre a ARS Norte e a Misericórdia de Fafe, passou novamente para a gestão da centenária instituição, dinamizando, como desde a sua génese e dentro das vicissitudes da prestação de cuidados de saúde em Portugal, um relevante serviço à comunidade.



Hospital de São José (Fafe)

Enraizado na memória coletiva da comunidade, a história e papel do Hospital de São José, que assinalou no ocaso do mês passado160 anos, impeliram a edilidade minhota a conceber uma exposição sobre a efeméride, enaltecendo o facto do imóvel oitocentista constituir o paradigma da filantropia dos “brasileiros de torna-viagem” em Fafe. 

Como asseverava apaixonadamente, o saudoso mestre Miguel Monteiro, um dos mais reputados investigadores no campo do estudo dos “brasileiros de torna-viagem” e “alma mater” do Museu das Migrações e das Comunidades, recuando localmente ao alvorecer do séc. XX, encontramos nos “brasileiros” de Fafe aqueles que alcançando fortuna no Brasil: “construíram residências, compraram quintas, criaram as primeiras indústrias, contribuíram para a construção de obras filantrópicas e participaram na vida pública e municipal, dinamizando a vida económica, social e cultural”.