Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

A emigração portuguesa para a Holanda


Os dados mais recentes sobre a emigração lusa revelam que a Holanda, um dos países mais desenvolvidos do mundo, situado no litoral da planície do Norte da Europa, tem-se tornado ao longo das últimas décadas, um dos principais destinos dos emigrantes portugueses. 

Segundo o Observatório da Emigração, a Holanda encerra o pódio das dez nações para onde mais portugueses emigram na atualidade. Ainda que os mesmos representem apenas cerca de 1% da população estrangeira que reside no território, desde o início do séc. XXI que o número de portugueses emigrados no país conhecido pela sua liberdade e tolerância, tem aumentado gradualmente, passando de 9.509, em 2000, para 16.456, em 2015.

No ano passado, este fluxo migratório atingiu um novo recorde, com a entrada de 2.800 portugueses, que escolheram esta região dos Países Baixos para iniciar um novo projeto de vida no estrangeiro.
As razões dessa escolha, não são certamente alheias, ao facto da Holanda possuir um dos salários mínimos mais altos da Europa, atualmente 1.600 euros, duas vezes superior ao que se encontra estabelecido em Portugal. Assim como, um sistema de educação, saúde e mobilidade que a tornam uma das nações com melhor qualidade de vida, como sustenta a sua constante presença nos rankings do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas

Outro dos principais motivos, que podem ajudar a explicar que este território no noroeste da Europa se tenha tornado num dos principais destinos da emigração lusa, encontram-se na sua moderna indústria tecnológica, cujas condições de trabalho, formação, progressão e remuneração exercem grande capacidade de atração sobre a mão-de-obra qualificada portuguesa.


Como no passado, com as devidas salvaguardas, quando milhares de judeus portugueses no século XVI emigraram para a Holanda, na sequência da expulsão ordenada por D. Manuel I, vicissitude histórica que contribuiu para que a mesma se tornasse a principal potência marítima e comercial no séc. XVII, em detrimento dos reinos ibéricos, os portugueses na sua demanda hodierna por melhores condições de vida remanescem como um fator relevante no desenvolvimento socioeconómico da pátria holandesa.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

O entrecruzamento da Guerra Colonial com a Emigração Portuguesa


A Guerra Colonial (1961-1974), época de confrontos bélicos entre as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, representa um dos acontecimentos mais marcantes da história nacional e africana de expressão portuguesa do séc. XX.

Conflito bélico dramático, trágico e traumatizante para mais de um milhão de portugueses, que prestaram serviço militar nas três frentes de combate, onde tombaram cerca de 8.300 soldados, assim como para as populações angolanas, guineenses e moçambicanas, cujo número total de vítimas, entre guerrilheiros e civis, terá sido superior a 100 mil mortos, a Guerra do Ultramar ou Guerra da Libertação desencadeou profundas alterações demográficas, económicas, sociais, culturais e politicas. 

Em Portugal, o desgaste provocado pela Guerra Colonial, que esteve na base do derrube do regime ditatorial salazarista que imperou entre 1933 e 1974, entrecruzou-se com o fenómeno da emigração. Nas décadas de 1960-70, a miséria, a pobreza e a fuga ao serviço militar de milhares de jovens como forma de escapar à incorporação na Guerra do Ultramar, impeliram a saída legal ou clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao centro da Europa, em particular para França.   

O fim da Guerra Colonial e a descolonização recrudesceriam o fenómeno migratório, não só por via da chegada ao território nacional de mais de meio milhão de portugueses de África, conhecidos como “retornados”. Mas também, pelo facto da independência das antigas colónias portuguesas de Angola e Moçambique, terem tornado no final dos anos 70, a África do Sul como o principal destino dos portugueses em África.

No entanto, no campo historiográfico do entrecruzamento da Guerra Colonial com a emigração portuguesa, existe ainda uma dimensão de conhecimento pouco ou nada estudada, designadamente a emigração nos anos 70 e 80 de milhares de antigos combatentes da Guerra do Ultramar. O impacto da emigração, ainda pouco conhecido, de milhares de homens que estiveram na Guerra Colonial, pode ser aferido pelo papel de assistência e preservação de memória dinamizado pela Liga dos Combatentes do Núcleo de Ontário, a segunda maior província do Canadá onde vivem cerca de meio milhão de portugueses, entre eles, mais de 20 mil antigos combatentes da Guerra do Ultramar, segundo dados veiculados pelo Núcleo de Ontário.

domingo, 11 de agosto de 2019

O aumento da emigração de enfermeiros portugueses


No decorrer das últimas décadas tem sido impactante a tendência da emigração de jovens qualificados portugueses que perante a precariedade laboral, baixos salários e obstáculos à progressão de carreira, têm optado pela construção no estrangeiro dos seus projetos de vida.

Neste campo, tem-se destacado o fenómeno da emigração de profissionais de saúde, em particular os enfermeiros, tanto que desde 2010, números oficiais apontam para que mais de 14 mil destes profissionais de nível superior com competências técnicas, científicas e humanas tenham optado por sair de Portugal.

A grave crise económica e financeira que o país viveu a partir de 2011, e que obrigou à intervenção da troika em Portugal, atingiu duramente este grupo socioprofissional, assistindo-se nesse período à saída de 1.175 profissionais, valor que só seria ultrapassado em 2015, com a saída de 2.715 enfermeiros para o estrangeiro. 

A trajetória de recuperação da economia portuguesa, e o incremento da contratação de profissionais de saúde no Serviço Nacional de Saúde (SNS), ainda que aquém das necessidades do SNS, parecia estar nos últimos anos a contribuir para o decréscimo da emigração de enfermeiros portugueses. 

No entanto, dados apresentados no início deste mês pela Ordem dos Enfermeiros, instituição que emite as declarações de habilitação que estes profissionais precisam para exercer lá fora, há cada vez mais enfermeiros portugueses a procurar melhores condições de trabalho e de progressão na carreira em países como os Estados Unidos, Arábia Saudita, Inglaterra, Irlanda, França, Bélgica, Suíça ou Alemanha. Segundo a mesma, em 2018 a instituição recebeu um total de 2.736 pedidos de profissionais para exercer no estrangeiro, e o ano de 2019 pode mesmo ver este número ser superado, dado que nos primeiros seis meses do ano, a Ordem já recebeu 2.321 pedidos para obter a declaração de habilitação que permite trabalhar noutro país. 

Numa época em que Portugal assiste a iniciativas que procuram apoiar o regresso de emigrantes ou lusodescendentes ao país, estas só terão verdadeiro impacto no nosso futuro coletivo, quando os responsáveis políticos e os agentes económicos concertarem uma agenda e estratégia que desde logo, não permita a constante emigração de jovens qualificados, como é o caso dos profissionais de enfermagem.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O Futebol e a Emigração Portuguesa


Uma das modalidades, senão a mais importante modalidade desportiva do país, o futebol ocupa um papel fulcral na sociedade portuguesa que muitas das vezes parece viver ao ritmo do futebol e da sua omnipresença mediática, e não tanto da sua valorização enquanto festa e prática desportiva universal, capaz de aproximar povos e culturas. 

A genuína dimensão cultural do futebol, expressa numa força geradora de laços e vínculos identitários, encontra-se plasmada nas comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, onde o futebol nacional, os clubes e a seleção, constituem um incontornável elemento de identidade popular portuguesa.

Esta realidade da identificação futebolística como um vínculo capital da diáspora portuguesa ao país foi modelarmente analisada há poucos anos pela investigadora alemã Nina Clara Tiesler, através do projeto de investigação internacional “Diasbola”, dedicado ao papel do futebol entre emigrantes portugueses e lusodescendentes na Alemanha, França, Inglaterra, Suíça, Estados Unidos, Canadá, Brasil e Moçambique.

Tendo como principal objetivo caracterizar o futebol em comparação com outros elementos culturais utilizados pelos emigrantes como meios de ligação ao país de origem, a coordenadora, do trabalho “Diasbola: futebol e emigração portuguesa”, sustenta que “a identificação futebolística e a gastronomia são os dois elementos da cultura popular mais visíveis na diáspora portuguesa”. E com “maior capacidade de reunir pessoas de classes sociais diferentes, de gerações diferentes e de sexo diferente”.
A terminante conclusão do meio académico, de que o futebol é o principal elemento de identidade entre gerações de emigrantes, atingiu o seu apogeu quando a seleção portuguesa de futebol ganhou o Campeonato da Europa 2016 em França, onde vive a maior comunidade lusa no estrangeiro. E manifesta-se nos dias de hoje, no empenho que os principais clubes portugueses têm tido na inauguração de casas, ou na assunção de protocolos e parcerias para a abertura de escolas, nas comunidades portuguesas.

Empenho esse que tem levado a estágios e a participações em torneios futebolísticos cada vez mais frequentes em territórios onde a emigração portuguesa está fortemente implantada, e que por força da distância e saudade dilui as diferentes cores dos clubes portugueses no verde-rubro que compõem a bandeira e a seleção nacional.