Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 17 de outubro de 2020

Manuel DaCosta – empresário e filantropo da comunidade portuguesa em Toronto

 Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.

Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto.


 

Destacado empresário da diáspora, o comendador Manuel da Costa (dir), é também proprietário da Peach Gallery, uma galeria de arte em Toronto que tem divulgado obras de artistas lusófonos, como em 2018, aquando da exposição “Con-Textos de Criatividade” do mestre-pintor português Orlando Pompeu, cuja curadoria esteve a cargo do historiador Daniel Bastos (esq.)

 

Natural de Castelo do Neiva, concelho de Viana do Castelo, Manuel DaCosta emigrou para o Canadá em 1970, com 14 anos de idade, na companhia da mãe e dos irmãos, ao encontro da figura paterna que emigrara três anos antes em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde e numerosa de pescadores-lavradores, marcada pelo espectro de grandes carências, na esteira da larga maioria da população que durante a ditadura portuguesa vivia na pobreza, quando não na miséria.

A chegada a Toronto, a maior cidade do Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no exemplo diário da mãe, transformaram o jovem castelense, que começou a trabalhar na colheita do tomate em Wallaceburg e anos mais tarde frequentou a Ryerson Polytechnical Institute, universidade onde se formou em arquitetura e aprendeu muitos dos alicerces que lhe permitiram progredir profissionalmente, num dos mais proeminentes empresários portugueses na área da engenharia de construção na província do Ontário.

Empresário multifacetado, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, premissas que estão na base das insígnias do grau de comendador que lhe foram atribuídas pelas autoridades portuguesas, Manuel DaCosta dirige presentemente uma das mais importantes empresas de comunicação social luso-canadianas. Designadamente, a MDC Media Group, que incorpora órgãos de informação como a Camões Radio & TV, o jornal Milénio Stadium, as revistas Amar e Luso Life, e que desde a sua génese se tem posicionado como uma plataforma de inovação e informação ao serviço da comunidade lusófona no Canadá.

O sucesso que alcançou ao longo das últimas décadas no mundo dos negócios, tem sido constantemente acompanhado de um generoso apoio a projetos emblemáticos da comunidade portuguesa em Toronto, a quem devota uma forte preocupação com o conhecimento do seu passado, os desafios do seu presente e a sua futura matriz cultural e identitária.

Nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o comendador Manuel DaCosta, é entre outras iniciativas, fautor do Portuguese Canadian Walk of Fame, que anualmente laureia portugueses que se têm destacado no território canadiano. Assim como, dGaleria dos Pioneiros Portugueses, um espaço museológico singular em Toronto que se dedica à perpetuação da memória e das histórias dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá.

Dinamizador e patrocinador de várias atividades, e projetos de cariz sociocultural e solidário, como o que promete vir a ser um dos mais relevantes da comunidade luso-canadiana, mormente a Magellen Community Charities, uma organização sem fins lucrativos que pretende inaugurar daqui a dois anos um centro para 320 idosos em Toronto, o empresário e filantropo não esquece também as suas raízes.

Ainda no ano transato, no âmbito das comemorações do 171.º aniversário de elevação de Viana do Castelo a cidade, o município alto-minhoto distinguiu Manuel DaCosta com o título de “Cidadão de Honra de Viana do Castelo” pelos notáveis serviços de cidadania e relevantes serviços na diáspora enquanto empresário e promotor da cultura portuguesa. Na base desta distinção esteve, igualmente, a sua estreita ligação ao torrão natal, Castelo do Neiva, que se mantém até aos dias de hoje através da presidência da Associação dos Amigos de Castelo do Neiva em Toronto, uma coletividade que contribuiu decisivamente para a construção da praça Gentes do Mar e da casa mortuária.

Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o exemplo de vida do empresário e filantropo Manuel DaCosta, inspira-nos a máxima do poeta Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos”.

domingo, 11 de outubro de 2020

Emigrar para a Suíça

 

Dentro do espaço europeu, a Suíça, oficialmente Confederação Suíça, uma república federal composta por vinte e seis estados, chamados de cantões, perdura como um dos principais destinos da emigração portuguesa, como comprovam os mais de 200 mil lusos que vivem e trabalham no território helvético, essencialmente na hotelaria, restauração, construção civil, indústria manufaturada, serviços de limpeza e agricultura.

A dinâmica da emigração portuguesa na nação helvética, que se desenvolveu sobretudo a partir da década de 1980, esteve na génese da criação, há pouco mais de um ano, do portal online “Emigrar para a Suíça”. Um projeto criado pelo jovem emigrante português Samuel Soares, que tem como principal objetivo apoiar e informar a comunidade lusa residente no território e todos quantos queiram emigrar para a Confederação Suíça.

Natural de Portimão, Samuel Soares contou recentemente à imprensa de língua portuguesa no mundo que conseguiu reunir cerca de 9 mil seguidores ao longo deste último ano. Segundo o mesmo, a grandeza desses números devem-se essencialmente a artigos publicados durante a quarentena, fase em que tem traduzido para português as informações que têm sido publicadas na página da Confederação Suíça para que os portugueses possam estar informados sobre o avançar da situação.

Ainda segundo o engenheiro civil de profissão, o número de pedidos de portugueses que pretendem viver na Suíça são cada vez maiores, contexto que tem concorrido para que surjam amiúde na plataforma questões relacionadas com a procura de casa, a busca de emprego, as autorizações de estadia prolongada e tudo o que esteja ligado à vida na Suíça.

O recente portal online “Emigrar para a Suíça”, na esteira de outras plataforma que estão a surgir e a ser dinamizadas no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, robustece a ideia-chave da investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (UCP) e no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (ISCTE), Cátia Ferreira. Nomeadamente, que a “forma como os emigrantes portugueses comunicam está a mudar”, porquanto o “recurso à internet parece estar cada vez mais generalizado”, ou não fosse esta “uma tecnologia que atenua as barreiras culturais, que facilita o conhecimento de novas culturas e de contactos interculturais”.

sábado, 3 de outubro de 2020

In memoriam Gérald Bloncourt

No decurso deste mês assinalam-se dois anos do falecimento do saudoso fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt (1926-2018), um dos grandes nomes da fotografia humanista, cujas amplamente conhecidas imagens que imortalizam a história da emigração portuguesa para França, representam um contributo fundamental para uma melhor compreensão e representação do nosso passado recente.



Entre 2015 e 2019, o historiador Daniel Bastos (esq.) concebeu e realizou os livros “O Olhar de Compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores” e “Dias de Liberdade em Portugal”, que eternizam, respetivamente, o valioso espólio fotográfico de Gérald Bloncourt (dir.) sobre a emigração e o nascimento da democracia portuguesa

 

Colaborador de jornais de referência no campo social e sindical, o antigo fotojornalista que esteve radicado em Paris mais de meio século, teve o condão de retratar a chegada das primeiras levas massivas de emigrantes portugueses a França nos anos 60. A lente humanista do fotógrafo com dotes poéticos captou com particular singularidade as duras condições de vida dos nossos compatriotas nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, como os de Saint-Denis ou Champigny, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de construção civil.

Igualmente relevantes são as imagens que Bloncourt captou durante a sua primeira viagem a Portugal nos anos 60, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves. Assim como as da viagem a “salto” que fez com emigrantes além Pirenéus, e as dos primeiros dias de liberdade em Portugal, como as das comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, acontecimento que permanece ainda hoje como a maior manifestação popular da história portuguesa.

O trabalho fotográfico de Bloncourt sobre a emigração e a génese da democracia portuguesa constitui um valioso repositório do último meio século nacional, que resgata das penumbras do esquecimento os protagonistas anónimos da história nacional que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à liberdade.

O trabalho e percurso de vida do fotógrafo francês de origem haitiana, que durante mais de vinte anos escreveu com luz a vida dos portugueses em França e Portugal, foram em 2016 distinguidos pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. No âmbito das Comemorações do 10 de Junho em Paris, Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, cujas comemorações oficiais nesse ano aconteceram pela primeira vez numa cidade fora do país, o aclamado fotógrafo foi condecorado na cidade simbólica de Champigny, com a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Unidos pelo presente e futuro da cultura portuguesa em Toronto

 Surgida há mais de meio ano no maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, a pandemia de coronavírus disseminou-se a um ritmo vertiginoso à escala global, provocando nas sociedades efeitos devastadores no campo socioeconómico, espelhados em milhares de vítimas e de casos de infeção no mundo, assim como generalizadas medidas de isolamento social que paralisam a economia e empurram as nações para uma recessão sem precedentes.

Espalhadas pelos quatro cantos do mundo, as comunidades portuguesas, centelhas incessantes de amor pátrio, não estão imunes a estes efeitos que têm alterado radicalmente o nosso quotidiano. Para além da perda de rendimentos e ameaça de insegurança económica, são conhecidos infelizmente vários casos de infeção e de mortes entre emigrantes lusos, e é também conhecido o cancelamento ou adiamento de inúmeros eventos e iniciativas que integram os planos anuais de muitas associações.

Nestes tempos difíceis que atravessamos, o meio associativo das comunidades portuguesas, um dos mais importantes, se não mesmo o mais importante vínculo de pertença e dinamização cultural dos emigrantes lusos nos países de acolhimento, encontra-se submerso em dificuldades e incertezas.

Dificuldades e incertezas resultantes do cenário pandémico, que entrava a realização de eventos e iniciativas, como foi o caso paradigmático do Dia de Portugal, qual barómetro anual da dinâmica e vitalidade do meio associativo na diáspora, que este ano se cingiu a comemorações simbólicas. Celebrações minimalistas que substituíram a realização de tradicionais iniciativas, que em muitos casos garantem a obtenção de receitas que permitem custear o normal funcionamento das associações, como seja o pagamento da água, luz, rendas dos espaços ou a sua manutenção.

Nesse sentido, o risco de fecho definitivo de diversas associações no seio das comunidades portuguesas, nunca foi tão real, e é ainda agravado pela problemática do envelhecimento dos seus quadros dirigentes, da maioria dos seus associados e da escassa participação dos lusodescendentes.

Este perigo acrescido de encerramento, deve portanto impelir as forças vivas do movimento associativo da diáspora a colocar definitivamente em cima da mesa, não só, quando a vida voltar a normalizar, a diversificação de atividades capazes de conciliarem a cultura tradicional enraizada nas coletividades com novas dimensões socioculturais, como o cinema, a literatura ou a moda, de modo a atrair as jovens gerações de lusodescendentes. Como também a adoção de um novo modelo de atuação e organização das associações, que necessariamente terá que passar por um paradigma de partilha de uma “casa comum”, capaz de reunir num só espaço com dignidade e dimensão a valiosa argamassa identitária das comunidades portuguesas.

Creio ser este o caminho que terá que ser trilhado pelo dinâmico e relevante meio associativo da comunidade portuguesa em Toronto, capital da província do Ontário e maior cidade do Canadá, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes nesta nação da América do Norte.

Uma comunidade que se destaca hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico, que para salvaguardar o passado, e projetar o presente e futuro das suas associações, ou seja, da sua identidade cultural portuguesa, deve a médio prazo procurar adotar um modelo de “Casa de Portugal”, de portas sempre abertas às várias nacionalidades, através de parcerias com agremiações, escolas e universidades onde se ensina a língua portuguesa.

 Uma “Casa de Portugal”, com uma agenda capaz de congregar as diversas sinergias do movimento associativo, de diluir as diferenças e egos, e potenciar o coletivo, a união, os parcos recursos humanos e financeiros, em prol da cultura portuguesa.

Uma “Casa de Portugal“, como por exemplo a Maison du Portugal – André de Gouveia, em Paris, capital francesa onde se encontra a maior comunidade portuguesa no estrangeiro, onde se organizem vários eventos culturais do movimento associativo. Desde as festas e festivais de folclore, à programação de artes plásticas, cinema, dança, literatura, teatro, ciclos de conferências ou divulgação de trabalhos dos investigadores que cada vez mais proliferam na lusodescendência.

Uma união pelo presente e futuro da cultura portuguesa em Toronto, capaz de inspirar muitas outras comunidades lusas, e simultaneamente capaz de despertar junto das autoridades nacionais a necessidade de reforço dos apoios para a área cultural e movimento associativo das comunidades portuguesas, as mais genuínas embaixadoras da pátria de Camões. Uma pátria que se espraia em várias comunidades e descendentes espalhados pelos quatro cantos do mundo, indubitáveis portugais onde remanesce a cultura e língua portuguesa, elos comuns da identidade lusófona.