Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Memórias e recordações da emigração portuguesa na Alemanha


Ao longo dos últimos anos a Alemanha tem-se tornado um dos principais destinos da emigração portuguesa, contexto para que muito concorre o facto de ser um dos principais motores da economia europeia, e um dos países mais desenvolvidos do mundo.

Em 2015, segundo dados do Observatório da Emigração, residiam no território alemão mais de 130 mil cidadãos portugueses, maioritariamente em idade ativa, com uma proporção de homens ligeiramente superior à de mulheres, sobretudo concentrados no estado da Renânia do Norte-Vestefália e em Bade-Vurtemberga.

 A emigração portuguesa para a Alemanha remonta à década de 1960, durante o período dos acordos de recrutamento de trabalhadores do Governo alemão, que visavam suprir o défice de trabalhadores de que a República Federal Alemã não dispunha para a sua reconstrução. É nesta época, que se enquadra a conhecida história do português Armando Rodrigues de Sá, natural de Vale de Madeiros, distrito de Viseu, que a 10 de setembro de 1964, ao desembarcar na estação de Colónia-Deutz recebeu o título de milionésimo imigrante na Alemanha, numa receção que incluiu banda de música e até a oferta de uma motorizada que hoje se encontra na Casa da História de Bona.

A génese da emigração portuguesa para a Alemanha encontra-se vertida no livro "A Vida Numa Mala - Armando Rodrigues de Sá e Outras Histórias" da jornalista portuguesa Cristina Dangerfield-Vogt e da historiadora alemã Svenja Länder, que abordam as histórias dos emigrantes lusos nos anos 60 em território alemão, e em particular do português que ainda figura nos manuais escolares alemães como o milionésimo imigrante a entrar na Alemanha.

No ocaso do ano passado, as memórias e recordações da primeira vaga da emigração portuguesa para a Alemanha foram revisitadas na exposição "Heimat|Fremde", do  Museu Humpis-Quartier, na cidade de Ravensburg. Através de fotografias antigas e testemunhos gravados em vídeos das primeiras gerações lusas que se deslocaram para esta região no sul da Alemanha, próxima da Suíça, Áustria e França, revalorizou-se o contributo relevante que os emigrantes portugueses ao longo de mais de meio século têm dado para o progresso da sociedade alemã.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Alexandre Franco, um dos grandes rostos do jornalismo luso-canadiano


No decurso desta semana, fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento, aos 73 anos, de Alexandre Franco, um dos grandes rostos do jornalismo na comunidade portuguesa no Canadá. Uma comunidade que se destaca na América do Norte pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico, e que já no ano transato assistiu ao desaparecimento de uma outra figura incontornável do jornalismo luso-canadiano, mormente Fernando Cruz Gomes, decano dos jornalistas da comunidade portuguesa em Toronto. 

Natural da cidade moçambicana da Beira, num período em que o território localizado no sudeste do continente africano permanecia uma província ultramarina portuguesa, Alexandre Franco, iniciou no final dos anos 60 a sua profícua carreira jornalística em Lourenço Marques, hoje Maputo, na Rádio Clube de Moçambique.

O conturbado processo de descolonização trá-lo-ia numa primeira fase à pátria lusitana onde começou a trabalhar na Antena 1 e a treinar o Basquetebol Queluz, uma outra área em que se destacou como atleta e treinador, e que marcou a sua predileção pelo jornalismo desportivo. Pouco tempo depois emigraria para a América do Norte, primeiro para Montreal a maior cidade da província do Quebeque e a segunda cidade mais populosa do Canadá, onde foi colaborador da Rádio Portugal de Montreal.

E posteriormente para Toronto, a maior cidade canadiana, onde foi gerente da Rádio Clube Português de Toronto em 1983 e pouco mais tarde após licença para uma rádio FM na CIRV. Trabalhou ainda a partir dos finais dos anos 90 na OMNI-TV, onde esteve como apresentador das notícias desportivas, década em que começou a publicar um jornal luso-canadiano, na altura designado Stadium, apenas desportivo.

 Presentemente o generalista Milénio Stadium, assume-se como um jornal de referência da comunidade luso-canadiana, integrado na MDC Group do comendador Manuel da Costa, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto. Rosto público e estimado no seio da comunidade luso-canadiana, Alexandre Franco, que foi distinguido em 2010 pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal como o melhor jornalista da diáspora lusa, sublimou ao longo da sua vida a epígrafe de Victor Hugo: “A imprensa é a imensa e sagrada locomotiva do progresso”.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Daniel Bastos participa em obra coletiva sobre Hospitais e Saúde entre Brasil e Portugal


No final do ano passado, a editora Fiocruz, que concentra a maior parte dos lançamentos da Fundação Oswaldo Cruz, a mais importante instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, e uma das principais instituições mundiais de pesquisa em saúde pública, localizada no Rio de Janeiro, lançou o livro “Hospitais e Saúde no Oitocentos: diálogos entre Brasil e Portugal”. 
 
Daniel Bastos
A obra coletiva de referência na área da História e Saúde é o resultado de um conjunto de trabalhos elaborados por investigadores luso-brasileiros sobre arquitetura, urbanismo, património cultural e saúde no séc. XIX. Ao longo dos sete capítulos do livro, os cientistas sociais luso-brasileiros revisitam a benemérita rede de dezenas de associações de beneficência, que emigrantes portugueses na transição do séc. XIX para o séc. XX construíram em várias cidades brasileiras, principal destino da emigração lusa na época, que originalmente se destinavam à ajuda mútua entre os sócios, membros da comunidade portuguesa, e que ainda hoje são instituições de referência no Brasil e na América do Sul.

Um desses capítulos, designadamente “O Hospital da Misericórdia de Fafe e a Contribuição da Benemerência Brasileira em Portugal no Século XIX” , é assinado, pelo historiador fafense Daniel Bastos, cujo percurso tem sido alicerçado junto das comunidades portuguesas. 

No decurso do seu contributo historiográfico, Daniel Bastos destaca o concelho de Fafe como uma construção contemporânea dos “brasileiros de torna-viagem”, enquadrando o Hospital da Misericórdia de Fafe, que desempenha e ocupa um papel estruturante no campo social local, como uma obra paradigmática da benemerência brasileira na segunda metade do século XIX, gizada a partir do modelo arquitetónico da “Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro”. 
 
Capa do livro
Refira-se que Daniel Bastos é autor do livro “Santa Casa da Misericórdia de Fafe – 150 anos ao Serviço da Comunidade”, e que a obra  “Hospitais e Saúde no Oitocentos: diálogos entre Brasil e Portugal” tem previsto ao longo do ano sessões de apresentação no território brasileiro e português.

Hospitais e Saúde no Oitocentos: diálogos entre Brasil e Portugal


No ocaso do ano passado, a editora Fiocruz, que concentra a maior parte dos lançamentos da Fundação Oswaldo Cruz, a mais importante instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, e uma das principais instituições mundiais de pesquisa em saúde pública, localizada no Rio de Janeiro, lançou o livro “Hospitais e Saúde no Oitocentos: diálogos entre Brasil e Portugal”. 

Organizado pelo arquiteto Renato Gama-Rosa, investigador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), e Cybelle Miranda, investigadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), o livro é constituído por sete capítulos. Designadamente, “Edifícios da Saúde no Rio de Janeiro Oitocentista” de Inês El-Jaick Andrade, Renato da Gama-Rosa Costa e Éric Alves Gallo; “Hospitais na Belém Oitocentista: classicismo e diálogo entre matrizes luso-brasileiras” de Cybelle Salvador Miranda; “Da Instituição Asilar ao Movimento Antimanicomial: a reconstituição da memória do Hospital Juliano Moreira do Pará” de Emanuella da Silva Piani Godinho e Cybelle Salvador Miranda; “Arquitetura da Saúde como Patrimônio: Hospital D. Luiz I da Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Pará” de Cibelly Alessandra Rodrigues Figueiredo; “A Casa da Misericórdia no Contexto da Arquitetura Portuguesa da Saúde na Centúria do Oitocentos em Portugal”  de Joana Balsa de Pinho e Fernando Grilo; “O Hospital da Misericórdia de Fafe e a Contribuição da Benemerência Brasileira em Portugal no Século XIX” de Daniel Bastos; e “A Arquitetura Assistencial em Portugal no Início do Século XX: o Sanatório de Sant’Ana” de Maria João Bonina e Fernando Grilo.

Ao longo dos sete capítulos do livro, os cientistas sociais luso-brasileiros revisitam a benemérita rede de dezenas de hospitais e associações de beneficência, que emigrantes portugueses na transição do séc.XIX para o séc. XX construíram em várias cidades brasileiras, principal destino da emigração lusa na época, que originalmente se destinavam à ajuda mútua entre os sócios, membros da comunidade portuguesa, e que ainda hoje são instituições de referência no Brasil e na América do Sul. Assim como o contributo da filantropia dos “brasileiros de torna-viagem”, emigrantes portugueses enriquecidos no Brasil, que no alvorecer do séc. XX estiveram, entre outras obras beneméritas, na base da construção de hospitais nas suas terras de origem.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O novo ciclo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa


O início de 2019 assinalou oficialmente a entrada em funções do novo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o diplomata Francisco Ribeiro Telles, cargo que pela primeira vez nos mais de vinte anos da organização, é assumido por um português.

Fundada em 1996, a CPLP é atualmente uma organização formada por nove países espalhados pelos cinco continentes, cuja língua oficial ou uma delas, é a língua portuguesa. Nomeadamente Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que se encontram irmanados no desígnio da língua portuguesa, a quinta mais falada do mundo, enquanto vínculo histórico e património comum dos Estados-membros, assim como da amizade e cooperação.

Num mundo profundamente globalizado e interligado, onde surgem constantes desafios e oportunidades, a CPLP assume assim um papel relevante na dimensão e concertação que confere aos países que a compõem, como é o caso de Portugal. A enorme vitória diplomática que constituiu a eleição do português António Guterres para secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2016, não pode ser dissociado do dinamismo e magistratura de influência da CPLP.  

O papel da CPLP no mundo atual foi modelarmente expresso por António Guterres, no ano passado, no âmbito do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP (5 de maio). No discurso que então proferiu nos jardins da ONU, o secretário-geral sustentou: “É necessário dizer que nós na CPLP nos orgulhamos da nossa diversidade, reconhecemos que as nossas próprias sociedades são multiétnicas, multiculturais, multirreligiosas, e que isso é um bem, não é uma ameaça, e que isso deve ser valorizado, e afirmado, e que isso deve ser uma lição para outras partes do mundo, outros povos, outras culturas. E penso que a CPLP tem aqui um papel essencial a desempenhar".

Neste sentido, o novo ciclo que agora se inicia na CPLP é da maior importância para a prossecução da missão da organização. As prioridades do mandato assumidas por Francisco Ribeiro Telles, como a livre circulação de pessoas, a projeção da língua portuguesa e o diálogo sobre os oceanos, parecem ir ao encontro deste papel essencial que a CPLP deve continuar a desempenhar no mundo.