Na
freguesia de Cepães, uma freguesia do concelho de Fafe, situada no distrito de
Braga, com intensa atividade industrial e aptidão agrícola, ao longo dos
últimos três anos tem sido dinamizado um original projecto comunitário em rede que e envolve toda a comunidade local em torno da
história e memória da emigração.
Partindo
dos percursos migratórios do final do século XIX e do século XX para o Brasil e
França, assim como das expressões materiais e simbólicas do ciclo de retorno
dos emigrantes que marcam indelevelmente a região do Vale do Ave. E em
particular o concelho de Fafe, contexto que impeliu o município minhoto a
instituir no alvorecer do séc. XXI o Museu das Migrações e Comunidades, o grupo
local EnfimTeatro, núcleo dramático da Sociedade de Recreio Cepanense, está a
desenvolver desde o primeiro trimestre de 2017 o projeto comunitário Erosão,
tendo em vista a dinamização de atividades culturais nas áreas do teatro e
cinema.
O
historiador Daniel Bastos (esq.), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das
Comunidades Portuguesas, acompanhado em 2018 dos responsáveis do projeto
comunitário Erosão, José Rui Rocha e Nuno Pacheco, na Sociedade de Recreio Cepanense,
no âmbito de uma conferência sobre a Emigração Portuguesa
Tendo
como objetivos
capitais o desenvolvimento, formação, divulgação, produção e ação artística,
cultural e educativa, através de um amplo, exigente e
democrático acesso à cultura. O EnfimTeatro tinha projetado para o final deste
ano em que se assinalam os 25 anos da morte de Miguel Torga, um
dos mais influentes escritores portugueses do século XX, cujo percurso de vida e literário foi
marcado pela sua experiência nos anos 20 como emigrante no Brasil, o lançamento do filme Erosão.
Esta dinâmica de trabalho, que não é imune aos efeitos da pandemia
de coronavírus que um pouco por todo o lado tem contribuído para o cancelamento ou adiamento
de eventos e iniciativas que integram os planos anuais de muitas
associações, assenta no pressuposto basilar que a comunidade é protagonista. Pelo que, os
termos viagem,
emigração, esperança, utopia, tradições, memória, identidade e património são os pilares fundamentais da
estrutura do argumento do filme que funciona simultaneamente como catalisador
de uma rede cultural, tanto que a
iniciativa conta com a colaboração de diversas instituições, associações e
grupos comunitários.
Como sustentam os seus responsáveis, o projeto Erosão embrenha-se na comunidade,
nas suas metamorfoses, linguagens, hábitos e tradições, comprometendo-se com as
suas virtudes e dificuldades, ou seja, está vinculado com a paisagem, o património material
e imaterial, as pessoas, enfim, o território.
Foi nessa esteira, que em meados de setembro a comunidade local assistiu
à realização do evento ambulante “A Arte do Jogo do Pau”, composto por teatro
de rua e representações de jogo do pau, uma das
artes marciais portuguesas mais antigas com tradição no Norte de Portugal,
principalmente no Minho, e que era praticado com varapau ou cajado, um
instrumento de trabalho e simultaneamente uma arma do dia-a-dia das pessoas.
Mais
que uma abordagem singular ao fenómeno migratório, o projeto Erosão dinamizado
pelo grupo comunitário EnfimTeatro, constitui uma relevante valorização das
tradições, usos, costumes e da emigração, partes integrantes da
história e da identidade portuguesa.