Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Natal em tempos de pandemia nas comunidades portuguesas

 

Natal é a festa por excelência da família, da paz, do amor, da alegria, da solidariedade e da esperança num futuro melhor, que este ano a humanidade aguarda ansiosa que marque o fim da malfadada pandemia de coronavírus.

Uma pandemia que tem acarretado nas sociedades efeitos devastadores no campo socioeconómico, espelhados em milhares de vítimas e de casos de infeção, assim como generalizadas medidas de confinamento que paralisam a economia e colocam os países às portas de uma recessão sem precedentes.

Disseminadas pelos quatro cantos do mundo, as comunidades portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras, não estão imunes a estes efeitos que alteram transversalmente o nosso quotidiano e rotinas.

Efeitos que ao longo dos últimos meses foram responsáveis pelo cancelamento ou adiamento de eventos e iniciativas que integram os planos anuais de atividades do movimento associativo das comunidades portuguesas, e que são em vários casos essenciais para obter receitas que permitam financiarem o seu normal funcionamento. Mas também pelo crescente aumento de relatos de situações de precariedade, perda de rendimentos, desemprego e ameaça de insegurança económica no seio de diversos agregados de emigrantes portugueses.

Em França, onde vive a maior comunidade portuguesa de emigrantes, mais de um milhão, o Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Económicos gaulês divulgou recentemente que há mais 500 mil desempregados no país, fruto da atual crise económica provocada pela pandemia e que está a afetar muitos compatriotas. Ainda há poucos dias, Ilda Nunes, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Paris (SCMP), uma relevante instituição cuja missão e valores visam a assistência à comunidade portuguesa em França, veiculou publicamente que os pedidos de ajuda aumentaram consideravelmente entre a comunidade portuguesa, mormente entre 25 a 30%.

 Nesta fase de grandes dificuldades, a comunidade portuguesa em França, à imagem e semelhança de outras comunidades lusas, tem demonstrado um enorme espírito de solidariedade, um dos, senão mesmo, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido ao Natal. E que ao longo dos anos, as comunidades lusas perseveram em manter como umas suas principais matrizes socioculturais, apoiando quer os nossos concidadãos no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional.

Foi nesta esteira, que no sábado passado o coletivo “Todos Juntos”, após ter recolhido 15 toneladas de alimentos em junho para a Santa Casa da Misericórdia de Paris, voltou a fazer uma recolha de alimentos na região parisiense para ajudar as famílias apoiadas pela SCMP, e planeia inclusive dinamizar novas iniciativas no próximo ano.

É nesta linha de exemplos solidários, que em Toronto, no Canadá, território onde vive e trabalha uma das mais dinâmicas comunidades lusas da América do Norte, ao longo dos últimos tempos a equipa de voluntários liderada por José Dias, Luís Miguel de Castro e Carlos Lopes têm dinamizado a “Food for Thought”. Através da generosidade de vários estabelecimentos e figuras gradas da comunidade luso-canadiana, o grupo de voluntários têm conseguido distribuir “alimento para a alma” de vários agregados de concidadãos que por estes dias vivem com mais dificuldades.

Estes exemplos inspiradores de solidariedade, e muitos outros que estão atualmente a serem dinamizados no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, reforçam que o Natal, mesmo em tempos de pandemia, é uma época de esperança, de ainda mais união e de solidariedade.

Que esta esperança, união e solidariedade que emana das comunidades portugueses, nos irmane a todos a tornar o mundo um lugar melhor, em que nas noites frias de Inverno o calor da esperança, da união e da solidariedade aqueça os nossos corações, e nos guie nestes tempos conturbados e desafiantes no rumo da alegria, da saúde, de uma feliz quadra natalícia e um próspero ano novo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Neste Natal ofereça livros

 

Neste Natal ofereça livros, ótimos presentes e símbolos intemporais de cultura. 
 
Votos de uma Feliz Quadra Natalícia.
 







 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Erosão, um projeto de valorização da identidade cultural da emigração

 

Na freguesia de Cepães, uma freguesia do concelho de Fafe, situada no distrito de Braga, com intensa atividade industrial e aptidão agrícola, ao longo dos últimos três anos tem sido dinamizado um original projecto comunitário em rede que e envolve toda a comunidade local em torno da história e memória da emigração. 

Partindo dos percursos migratórios do final do século XIX e do século XX para o Brasil e França, assim como das expressões materiais e simbólicas do ciclo de retorno dos emigrantes que marcam indelevelmente a região do Vale do Ave. E em particular o concelho de Fafe, contexto que impeliu o município minhoto a instituir no alvorecer do séc. XXI o Museu das Migrações e Comunidades, o grupo local EnfimTeatro, núcleo dramático da Sociedade de Recreio Cepanense, está a desenvolver desde o primeiro trimestre de 2017 o projeto comunitário Erosão, tendo em vista a dinamização de atividades culturais nas áreas do teatro e cinema.


O historiador Daniel Bastos (esq.), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, acompanhado em 2018 dos responsáveis do projeto comunitário Erosão, José Rui Rocha e Nuno Pacheco, na Sociedade de Recreio Cepanense, no âmbito de uma conferência sobre a Emigração Portuguesa

 

Tendo como objetivos capitais o desenvolvimento, formação, divulgação, produção e ação artística, cultural e educativa, através de um amplo, exigente e democrático acesso à cultura. O EnfimTeatro tinha projetado para o final deste ano em que se assinalam os 25 anos da morte de Miguel Torga, um dos mais influentes escritores portugueses do século XX, cujo percurso de vida e literário foi marcado pela sua experiência nos anos 20 como emigrante no Brasil, o lançamento do filme Erosão.

Esta dinâmica de trabalho, que não é imune aos efeitos da pandemia de coronavírus que um pouco por todo o lado tem contribuído para o cancelamento ou adiamento de eventos e iniciativas que integram os planos anuais de muitas associações, assenta no pressuposto basilar que a comunidade é protagonista. Pelo que, os termos viagem, emigração, esperança, utopia, tradições, memória, identidade e património são os pilares fundamentais da estrutura do argumento do filme que funciona simultaneamente como catalisador de uma rede cultural, tanto que a iniciativa conta com a colaboração de diversas instituições, associações e grupos comunitários.

Como sustentam os seus responsáveis, o projeto Erosão embrenha-se na comunidade, nas suas metamorfoses, linguagens, hábitos e tradições, comprometendo-se com as suas virtudes e dificuldades, ou seja, está vinculado com a paisagem, o património material e imaterial, as pessoas, enfim, o território.

Foi nessa esteira, que em meados de setembro a comunidade local assistiu à realização do evento ambulante “A Arte do Jogo do Pau”, composto por teatro de rua e representações de jogo do pau, uma das artes marciais portuguesas mais antigas com tradição no Norte de Portugal, principalmente no Minho, e que era praticado com varapau ou cajado, um instrumento de trabalho e simultaneamente uma arma do dia-a-dia das pessoas.

Mais que uma abordagem singular ao fenómeno migratório, o projeto Erosão dinamizado pelo grupo comunitário EnfimTeatro, constitui uma relevante valorização das tradições, usos, costumes e da emigração, partes integrantes da história e da identidade portuguesa.

domingo, 29 de novembro de 2020

A memória da emigração nos espaços museológicos das comunidades portuguesas

 

A dimensão e impacto da emigração no país, nas palavras abalizadas de Vitorino Magalhães Godinho, uma “constante estrutural da demografia portuguesa, têm impelido a construção nas últimas décadas, no seio dos territórios municipais, de vários núcleos museológicos dedicados à salvaguarda da memória do processo histórico do fenómeno migratório nacional.

É o caso, por exemplo, do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, o Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço, e do Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande, que têm prestado um serviço público de grande relevância na dinamização da memória da emigração portuguesa.

A grande relevância do fenómeno migratório nacional e a importante função destes núcleos museológicos locais concorrem diretamente para que o projeto do futuro Museu Nacional da Emigração, cuja criação foi aprovada, como recomendação, pela Assembleia da República, a 27 de outubro de 2017, e cuja construção que teima em não sair do papel está prevista desde 2018 em Matosinhos, pressuponha uma estratégia cultural em rede.

Uma vindoura estratégia cultural em rede que não pode olvidar a existência de outros relevantes espaços museológicos que têm sido construídos ao longo dos últimos anos por portugueses no estrangeiro, comummente figuras gradas das comunidades lusas, e que tal como no território nacional desempenham um papel valioso na perpetuação da memória da emigração portuguesa.

É o caso, por exemplo, da Galeria dos Pioneiros Portugueses, um espaço museológico em Toronto, impulsionado no presente pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários luso-canadianos, que se dedica à dinamização do legado dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá. Nação da América do Norte onde vive e trabalha uma das maiores comunidades de emigrantes portugueses, e que se destaca atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico.



O historiador Daniel Bastos (esq.), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, acompanhado em 2016 do comendador Manuel DaCosta (dir.) na Galeria dos Pioneiros Portugueses, no âmbito de uma conferência sobre a Emigração Portuguesa

 

Ainda na esteira museológica sobre o fenómeno migratório no seio das comunidades lusas destaca-se o Museu da Imigração, em Lausanne, na Suíça, um dos principais destinos da emigração portuguesa, como comprovam os mais de 200 mil lusos que vivem e trabalham no território helvético. Fundado em 2005 pelo português Ernesto Ricou, artista plástico e professor de História de Arte reformado, o Museu da Imigração, considerado o mais pequeno da Suíça, procura desde então salvaguardar as memórias ligadas à migração.

Na mesma linha, sobressai desde o final do séc. XX o Museu Etnográfico Português em Sydney, na Austrália, inaugurado por um grupo de voluntários que têm procurado manter viva a identidade cultural da comunidade luso-australiana, cujas raízes remontam à segunda metade do séc. XX, e que é constituída atualmente por cerca de 55 mil portugueses disseminados por metrópoles como Perth, Melbourne ou Sydney.

Estes exemplos museológicos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados no seio das comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, enquanto valiosos espaços de perpetuação da memória e das histórias da emigração portuguesa, merecem a admiração e reconhecimento do país, e não podem deixar de integrar o trabalho em rede do futuro Museu Nacional da Emigração.