Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 29 de agosto de 2020

Monumentos aos Combatentes da Guerra Colonial nas Comunidades Portuguesas


A Guerra Colonial (1961-1974), época de confrontos bélicos entre as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, representa um dos acontecimentos mais marcantes da história nacional e africana de expressão portuguesa do séc. XX.
 
O historiador Daniel Bastos (dir), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, em visita, em 2019, ao monumento de homenagem aos antigos combatentes da Guerra do Ultramar na cidade de Oakville, junto a Toronto, na companhia do ex-combatente da Guerra Colonial e Presidente da Assembleia Geral da Associação Cultural 25 de Abril em Toronto, Artur Jesus (esq.)
Conflito bélico dramático, trágico e traumatizante para mais de um milhão de portugueses, que prestaram serviço militar nas três frentes de combate, onde tombaram cerca de 8.300 soldados, assim como para as populações angolanas, guineenses e moçambicanas, cujo número total de vítimas, entre guerrilheiros e civis, terá sido superior a 100 mil mortos. 

A densidade vivencial e o impacto da também conhecida como Guerra do Ultramar na sociedade portuguesa têm sustentado ao longo das últimas décadas a inauguração no território nacional de inúmeros monumentos de homenagem aos militares mortos, e que rondam já cerca de três centenas.
No cômputo da lista de monumentos alusivos aos combatentes da Guerra Colonial, que se encontram assinalados pela Liga dos Combatentes (LC) no livro “Monumentos Aos Combatentes da Grande Guerra e do Ultramar”, grande parte deles construídos no séc. XXI, e que segundo tenente-general Chito Rodrigues, Presidente da LC, são “a expressão de um sentimento profundo nacional acerca do que foi a guerra colonial e dos sacrifícios que o povo português fez nesse conflito", destaca-se ainda a existência de três monumentos construídos no seio das comunidades portugueses no Canadá e nos Estados Unidos.

No Canadá, onde se estima que na atualidade vivam mais de meio milhão de luso-canadianos, o primeiro monumento a ser erigido em memória dos combatentes que tombaram na guerra do Ultramar foi inaugurado em 2009, na cidade de Winnipeg, capital da província de Manitoba.
Projetado pelo arquiteto português Varandas dos Santos, o memorial impulsionando pela Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra de Manitoba e Núcleo da Liga dos Combatentes de Portugal em Winnipeg, e concretizado com o apoio da Província de Manitoba, da Liga dos Combatentes, da Comunidade Luso-Canadiana, da Associação Portuguesa de Manitoba e da Chapel Lawn Memorial Gardens, invoca os militares do passado, presente e futuro.

Em 2012, a cidade de Oakville, junto a Toronto, capital da província de Ontário onde se estima que vivam mais de 20 mil antigos combatentes da Guerra do Ultramar, assistiu à inauguração, no cemitério Glen Oak Memorial Garden, de uma estátua em homenagem aos militares portugueses e canadianos mortos em situações de guerra.

O monumento, concebido em conjunto pelo arquiteto Varandas dos Santos e pelo comendador José Mário Coelho, e impelido pela Associação dos Ex-combatentes do Ultramar Português no Ontário, foi instalado no talhão denominado “Nossa Senhora de Fátima”. O monumento, que contou com apoios financeiros da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e da Liga de Combatentes de Portugal, sobressai pela existência de vários elementos, dos quais se destacam uma Cruz de Cristo e um capacete de um soldado, tendo ainda a inscrição: “Sacrificados em vida, respeitados na morte”.

Ainda na América do Norte, mas já nos Estados Unidos, mais concretamente em Lowell, cidade do condado de Middlesex em Massachusetts, estado que alberga uma grande comunidade luso-americana de origem açoriana, foi inaugurado em 2000 um monumento em memória dos falecidos e ex-combatentes do ultramar português e dos participantes da Revolução de 25 de Abril de 1974. Impulsionado pela numerosa comunidade luso-americana, com especial destaque para Dimas Espínola, uma referência no mundo comunitário luso de Lowell, o monumento teve o apoio resoluto, entre outros, do Portuguese American Center, do Portuguese American Civic League e da Associação de Veteranos de Lowell.


sábado, 22 de agosto de 2020

Monumentos ao Emigrante em Portugal


A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de reconhecer e homenagear o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem.

Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira no artigo Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante “marca na atualidade a paisagem portuguesa”, sendo em grande medida o reflexo da “alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras”.

São muitos e variados os exemplos de monumentos aos emigrantes que povoam a paisagem portuguesa, como facilmente se comprova através de uma simples pesquisa na Internet. No Minho, por exemplo, alfobre tradicional da emigração portuguesa, há dois anos foi inaugurada na freguesia de Belinho, concelho de Esposende, uma estátua que celebra os emigrantes da povoação, e cuja simbologia alarga-se ao município numa homenagem a todos aqueles que “deram novos mundos ao mundo”.

No concelho de Ourém, um município localizado na região do Centro que se construiu com a emigração, ergueu-se em 2011, na freguesia de Espite, num território que é conhecido como o “berço” dos franceses, um monumento ao emigrante. No Funchal, capital do arquipélago da Madeira, região indelevelmente marcada pelo fenómeno da emigração, desde a década de 1980 que subsiste um monumento ao emigrante madeirense, e que homenageia os emigrantes naturais da “Pérola do Atlântico” instalados por todo o mundo. Na mesma esteira, em Ponta Delgada, no Arquipélago dos Açores, existe desde o fim do séc. XX, um monumento aos emigrantes e que laureia o povo açoriano disperso pelo mundo.

Nesta última região autónoma, foi inaugurado no mês passado na Ribeira Grande, também na ilha de S. Miguel, a Praça do Emigrante, um espaço público urbano que homenageia os emigrantes açorianos que partiram em busca de melhores condições de vida, e cuja animação cultural passa a estar a cargo da AEA – Associação dos Emigrantes Açorianos, um organismo independente, com sede nas instalações do Museu da Emigração Açoriana.

Uma praça, cujo centro é ocupado por um imponente globo revestido a pedra de calçada portuguesa, com quatro metros de diâmetro, concebido por Luís Silva, e intitulado “Saudades da Terra”, expressão que Gaspar Frutuoso, personagem insigne do passado micaelense, utilizou no século XVI para resumir um sentimento maior, comum não só aos emigrantes açorianos, mas a todos os emigrantes portugueses.

Além do globo, a Praça do Emigrante é engrandecida por um desenho na calçada em redor, denominado “Shore To Shore”, da autoria do escultor canadiano Luke Marston, trineto do picoense Joe Silvey, um pioneiro da sociedade multicultural no Canadá. Assim como por uma “Calçada dos Mundos”, concebida por Liliana Lopes, e dois murais, um deles com bandeiras dos principais destinos da emigração açoriana (Bermudas, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, Havai e Uruguai).

 

sábado, 15 de agosto de 2020

Experiências e expectativas de regresso dos novos emigrantes portugueses: reintegração e mobilidades


No conjunto dos vários projetos que têm sido dinamizados no campo da emigração portuguesa destaca-se atualmente o projeto “Experiências e expectativas de regresso dos novos emigrantes portugueses: reintegração e mobilidades” (EERNEP), cujo principal objetivo passa por estudar o regresso de emigrantes portugueses, com enfoque em países de destino dos maiores fluxos de entrada nos últimos anos, como o Reino Unido, França e Luxemburgo, de forma a poder atender às diferenças contextuais no processo de tomada de decisão e de efetiva experiência de regresso.

Coordenado pelo Instituto Politécnico de Leiria, e impulsionado pelos investigadores Filipa Pinho, José Carlos Marques e Pedro Góis, o projeto EERNEP, cuja duração prolonga-se até 30 de setembro de 2021, assenta numa estratégia extensiva e intensiva, com recurso a análise documental, entrevistas a informadores privilegiados, inquérito (online e presencial) e entrevistas a emigrantes e regressados recentes. Segundo os investigadores, a recuperação da crise económica em Portugal, iniciada após 2015, combinada com o lançamento do “Programa Regressar”, e as novas crises na Europa, como o Brexit, abriram uma expetativa de aumento dos movimentos de regresso ao país.

É tendo por base este pressuposto estruturante que a investigação procurará responder às seguintes questões: 1) Que fatores influenciam as intenções e as decisões de regresso dos migrantes?; 2) De que forma as crescentes formas de circulação permitem ir concretizando e/ou adiando os projetos de regresso e contribuem para sustentar o desenvolvimento de práticas transnacionais entre o país de destino e de origem?; e 3) Qual o potencial de mobilização das competências, experiências e recursos destes migrantes para a capacitação regional e para a elaboração de estratégias de inovação e desenvolvimento regional?

Ainda que na atualidade, os efeitos da pandemia de coronavírus que gerou num curto espaço de tempo uma crise socioeconómica mundial sem precedentes, possa entravar a expetativa de aumento dos movimentos de regresso ao país. O busílis do projeto deslinda que o futuro de Portugal passa, em grande medida, pela capacidade de atração de capital humano da Diáspora, uma componente fundamental para a atenuação do decréscimo populacional nacional, para a prossecução de um saldo migratório positivo, e para robustecer as potencialidades e recursos que contribuem para o desenvolvimento sustentado do território nacional. 

Como sustenta Maria Ortelinda Barros Gonçalves, no trabalho publicado no início da década de 2010, “Emigração, regresso e desenvolvimento no Barroso (Portugal)”, acerca do impacto do regresso sobre a dinâmica económica concelhia na região periférica do interior norte, embora sendo mais agentes de consumo do que de investimento, regista-se, entretanto, uma introdução clara de novos hábitos, por parte dos emigrantes regressados, proporcionando uma certa urbanidade local. Os ex-emigrantes de faixas etárias mais jovens revelam espírito empreendedor, tendo, inclusive, feito renascer alguns mercados locais, gerando emprego e o aparecimento de outras actividades”.

sábado, 8 de agosto de 2020

A Galeria dos Pioneiros Portugueses em Toronto

Fundada em 2003 pelos luso-canadianos José Mário Coelho, Bernardette Gouveia e Manuel da Costa, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, é um espaço museológico singular em Toronto que se dedica à perpetuação da memória e das histórias dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá.
 O historiador Daniel Bastos (esq.), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, acompanhado em 2016 do comendador Manuel da Costa (dir.) na Galeria dos Pioneiros Portugueses, no âmbito de uma conferência sobre a Emigração Portuguesa


Conquanto a presença regular de portugueses neste território do norte da América remonte ao início do séc. XVI, a emigração portuguesa para o Canadá começou a ter expressão a partir de 1953. Ano em que ao abrigo de um acordo Luso-Canadiano, que visava suprir a necessidade de trabalhadores para o sector agrícola e para a construção de caminhos-de-ferro, desembarcaram a 13 de maio em Halifax, província de Nova Escócia, um grupo pioneiro de oitenta e cinco emigrantes lusitanos.
Se entre 1953 e 1973, terão entrado no Canadá mais de 90.000 portugueses, na sua maioria originários dos Açores, estima-se que atualmente vivam no segundo maior país do mundo em área total, mais de meio milhão de luso-canadianos, sobretudo concentrados em Ontário, Quebeque e Colúmbia Britânica, representando cerca de 2% do total da população canadiana que constitui um hino ao multiculturalismo.  

É a partir da dinamização deste legado histórico da comunidade portuguesa, uma comunidade que se destaca hoje no Canadá pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico, que a Galeria dos Pioneiros Portugueses, impulsionada no presente pelo comendador Manuel da Costa, a quem se deve desde 2013 as novas instalações museológicas na St. Clair Avenue West, se tem dado a conhecer à comunidade canadiana em geral e a outras culturas.

Mais do que um espaço de memória e de homenagem dos pioneiros da emigração lusa para o Canadá, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, alavancada na ação benemérita do comendador Manuel da Costa, fautor entre outros, do Portuguese Canadian Walk of Fame, que anualmente laureia portugueses que se têm destacado no território canadiano, é um exemplo inspirador para as comunidades portuguesas disseminadas pelo mundo, principalmente naquilo que deve ser o respeito pelo seu passado, a construção do seu presente e a projeção do seu futuro entre as pátrias de acolhimento e de origem.   

Como apontam Miguel Monteiro e Maria Beatriz da Rocha-Trindade no artigo “Emigração e Retorno”, o processo de musealização da memória histórica e social da emigração nacional, além de fomentar o conhecimento e a investigação, promove igualmente “a pesquisa do papel dos emigrantes nos territórios de emigração e de retorno na arquitetura, indústria, comércio, filantropia, jornalismo, associativismo, artes, no trânsito das ideias em Portugal e nos territórios de destino”.