Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Jack Prazeres: um percurso de compromisso cívico na comunidade portuguesa em Toronto

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, económico, político e social. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e singular do comendador Jack Prazeres, um dos mais reconhecidos líderes comunitários e dirigentes voluntários da comunidade portuguesa em Toronto. Natural da Pinhôa, uma pequena aldeia do concelho da Lourinhã, no litoral da região Oeste, enquadrada por um ambiente rural e pitorescos moinhos de vento, Jack Prazeres emigrou para o Canadá em 1974, com 12 anos idade, ao encontro dos pais que dois anos antes, na esteira de milhares de compatriotas, se tinham estabelecido em Toronto na demanda de melhores condições de vida para uma família humilde. A chegada à maior cidade do Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a abnegação, valores coligidos no seio familiar, forjaram uma consciência cívica e uma têmpera de trabalho que impeliram ainda na adolescência o jovem lourinhanense a trabalhar na construção depois de concluir o ensino secundário. A experiência profissional acumulada, em particular na área da alvenaria, impeliu nos anos 80, em conjunto com um sócio, o emigrante lourinhanense a fundar a Astrol Masonry. Na década seguinte, quando se mudou para Mississauga, na região metropolitana de Toronto, abriu ainda a TriCan Masonry, sendo que já no decurso dos primeiros anos do séc. XXI, criou a Senso Group, uma estrutura empresarial que se destaca atualmente como fornecedora de materiais e equipamentos de construção em Toronto. Paralelamente ao sucesso que foi acumulando ao longo dos anos no mundo dos negócios, Jack Prazeres sustentado nos ideais da solidariedade, entreajuda e cidadania, estabeleceu um profundo compromisso cívico e de voluntariado com a comunidade luso-canadiana. Esse compromisso inquebrantável passou, por exemplo, pela liderança do festival Carassauga em Mississauga, conhecido como o maior festival multicultural do Canadá; ou do Centro Cultural Português de Mississauga, uma das mais representativas agremiações lusas na província do Ontário. Fortemente envolvido com várias iniciativas e organizações comunitárias luso-canadianas, desde o alvorecer do séc. XXI que o empresário de sucesso, que conjuntamente com John Peter Ferreira e Manuel DaCosta, está no núcleo fundador da Magellan Community Foundation, é o grande impulsionador e presidente da Luso-Canadian Charitable Society, um centro de apoio social sem fins lucrativos que presta assistência a portugueses e lusodescendentes portadores de deficiência. O dinamismo empresarial, o relevante trabalho sociocultural, o voluntariado e a liderança comunitária eclética de Jack Prazeres concorreram decisivamente para que em 2010 tenha sido agraciado com a Ordem do Mérito, uma ordem honorífica portuguesa, justamente merecida, que visa distinguir actos ou serviços meritórios que revelem abnegação em favor da coletividade, praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas. Entre as várias distinções luso-canadianas que o empresário e líder comunitário tem alcançado ao longo do seu percurso singular, destacam-se ainda o prémio Jubileu da Rainha, a Medalha de Boa Cidadania de Ontário, a distinção pelo Portuguese Canadian Walk of Fame, o prémio de mérito atribuído pela ACAPO, e mais recentemente, no ocaso do ano transato, o facto de ter sido o primeiro português a ser incluído no passeio da fama de Mississauga (Legends Row), ao lado de personalidades proeminentes da sociedade canadiana. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o percurso singular do empresário e líder comunitário Jack Prazeres, que nunca esquece a família e as suas raízes, tanto que em 2018 foi galardoado pela ADL - Associação de Desenvolvimento Local da Lourinhã, na categoria “Lourinhanenses no Mundo”, recorda-nos a máxima introspetiva do filósofo grego Aristóteles, um dos pensadores com maior influência na cultura ocidental: “Qual é a essência da vida? Servir os outros e fazer o bem.”

domingo, 21 de janeiro de 2024

A solidariedade dos emigrantes além-fronteiras: o exemplo inspirador do comendador Manuel Bettencourt

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão solidária, uma genuína marca genética da diáspora lusa, constantemente expressa em gestos, campanhas e iniciativas fautoras de valores humanistas e altruístas. Dentro da centelha solidária que brilha incessantemente no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas, destaca-se ao longo das últimas décadas, o exemplo inspirador do comendador Manuel Bettencourt, uma das figuras mais gradas da comunidade luso-americana. Natural de Ribeirinha, uma aldeia do concelho de Santa Cruz da Graciosa, ilha Graciosa, arquipélago dos Açores, Manuel Bettencourt emigrou para a América no final dos anos 60, na casa dos vinte anos de idade, ao encontro dos pais que tinham partido um ano antes em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde e numerosa. A chegada à Califórnia, o estado com maior número de emigrantes portugueses e lusodescendentes nos Estados Unidos, marcou o início de uma trajetória de um verdadeiro “self-made man”, cujo trabalho, esforço e resiliência, valores coligidos no seio familiar, sustentaram uma graduação em Educação Geral no San Jose City College, uma licenciatura em Biologia na San Jose State University, e uma especialidade de Estomatologia no ensino superior em Guadalajara, no México. Profissional de medicina dentária renomado, o emigrante graciosense, presentemente conselheiro da comunidade portuguesa na Califórnia e dedicado dirigente associativo luso-americano, ao longo dos trinta anos que exerceu cirurgia dentária no seu consultório em Santa Clara, atual centro de Silicon Valley, nunca recusou um paciente por falta de dinheiro. Estando já aposentado, mostra-se ainda hoje disponível para prestar cuidados dentários a inúmeras crianças de agregados carenciados, por exemplo, de imigrantes mexicanos. Sendo que, através da Santa Clara County Dental Society (SCCDS), continua a ensinar em escolas primárias, higiene oral às crianças. Desde 2008, exerce também voluntariado na clínica odontológica do CityTeam, no norte de San José, uma estrutura que fornece ajuda e apoio a homens, mulheres e crianças que lutam contra a insegurança alimentar, violência doméstica, toxicodependência ou situação de sem-abrigo. Ao longo da última década, uma vez por semana, o distinto emigrante açoriano tem prestado graciosamente na clínica odontológica CityTeam de San José, apetrechada com material e equipamentos vindos generosamente do seu antigo consultório, serviço dentário a diversos sem-abrigo e jovens toxicodependentes. Este trabalho de voluntariado, incalculável na riqueza e na coesão social, no bem fazer, na promoção da qualidade de vida dos mais desvalidos de San José, a terceira cidade mais populosa da Califórnia, acarreta inclusive que o dentista luso-americano aposentado, tenha de pagar para renovar a sua licença. Assim como custear e realizar cursos de educação continuada, cinquenta horas a cada dois anos para atualizar os novos materiais e técnicas, além de comprar e pagar um seguro de negligência todos os anos para trabalhar a título gracioso. O notável trabalho e contributo de Manuel Bettencourt - agraciado com o distintivo da Ordem do Mérito em 2002, a Ordem do Infante D. Henrique em 2011 e a Insígnia Autonómica de Reconhecimento em 2015 -, para aumentar a participação de todos na construção de uma sociedade melhor, concorreu para que no passado dia 13 de janeiro tenha sido distinguido, durante a Gala da Santa Clara County Dental Society (SCCDS), com um dos Prémios Anuais de Excelência Odontológica. Num mundo repleto de desafios e desigualdades sociais, o comendador Manuel Bettencourt, que ainda recentemente doou meio milhão de dólares para a prossecução do programa de estudos portugueses na San Jose State University, ao assumir a solidariedade como missão de vida, inspira-nos a máxima de Franz Kafka, um dos escritores mais influentes do século XX: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Comendador António Frias: um self-made man luso-americano

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador António Frias, um dos mais proeminentes empresários portugueses na América. Natural da Calheta, lugar pertencente à freguesia de Santo Espírito, concelho da Vila do Porto, na ilha açoriana de Santa Maria, António Frias emigrou em 1955, aos 16 anos de idade, com a família para Hudson, estado do Massachusetts, na região da Nova Inglaterra, onde reside uma das mais numerosas e antigas comunidades portuguesas nos Estados Unidos da América (EUA). Como acentuam as estatísticas da época, a trajetória migratória de António Frias e da família para a América, durante a década de 1950, na esteira de milhares de açorianos, constituiu a derradeira esperança na demanda de melhores condições de vida, e assim escapar a um quotidiano arquipelágico marcado pelo espectro da pobreza e da miséria. A chegada à cidade de Hudson, numa fase de incremento da emigração açoriana para os Estados Unidos, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, transformaram o jovem mariense que começou a trabalhar numa fábrica de calçado e numa padaria, num dos mais proeminentes empresários portugueses no ramo da construção civil na América. O percurso de sucesso foi alavancado dez anos depois da chegada ao território norte-americano, período em que se juntou ao irmão José Frias e ao amigo Jack Santo, e inaugurou com apenas três funcionários a S&F Concrete Contractors, que começou por construir passeios, sobrados de casas e valetas de cimento. Mais tarde, António Frias comprou a parte do amigo, tornando-se sócio maioritário da empresa, que é atualmente a maior empresa de construção civil da Nova Inglaterra e uma das maiores dos EUA, com um volume de negócios superior a 200 milhões de dólares anuais. Com mais de meio século de experiência acumulada, e uma equipa de mais de 700 funcionários, o império empresarial da S&F Concrete Contractors tem um conjunto de obras emblemáticas disseminadas pelo vasto território norte-americano. Entre elas, contam-se, por exemplo, a construção do Gillette Stadium, o estádio da equipa de futebol americano New England Patriots (NFL); o pavilhão dos Boston Celtics, uma das equipas mais populares da National Basketball Association (NBA); a Millennium Tower em Boston; o MIT Simmons Residence Hall, em Cambridge; e o Encore Boston Harbor, um resort de luxo que inclui um casino com mesas de poker e máquinas de jogos. Empresário multifacetado, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, premissas que estão na base da Ordem de Mérito Industrial de Portugal que recebeu em 1989 do antigo Presidente da República, Mário Soares. E em 2011, o Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa, iniciativa promovida pela COTEC Portugal, das mãos do Presidente da República, Cavaco Silva. No rol das condecorações de António Frias, avultam várias distinções atribuídas pela comunidade luso-americana, e autoridades estaduais e federais norte-americanas. Como seja um doutoramento honorífico da Massachusetts Maritime Academy; o Portuguese American Leadership Council of the United States (PALCUS); ou o Leadership Appreciation Award, atribuído pelo antigo governador de Massachusetts, Charlie Baker. Concomitantemente, são públicas as amizades que o emigrante português de sucesso, ao longo dos anos, tem cultivado junto de figuras influentes do cenário político norte-americano, mormente, dos antigos presidentes dos Estados Unidos, Jimmy Carter, George Bush pai e filho, e Donald Trump. O sucesso que alcançou ao longo de mais de meio século a cimentar os EUA, tem sido constantemente acompanhado de generosos apoios a iniciativas e projetos da comunidade luso-americana, assim como de um profundo sentido altruísta em prol dos trabalhadores da S&F Concrete Contractors, vários deles naturais da ilha açoriana de Santa Maria. Nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o comendador António Frias mantém uma ligação umbilical ao seu torrão arquipelágico, onde particamente todos os anos passa férias na sua casa de veraneio na Maia, na costa sudeste da Ilha de Santa Maria. Uma ligação pátria que se tem manifestado, por exemplo, ao longo dos anos, como dedicado sócio benfiquista, e amigo próximo do saudoso Eusébio, estrela maior do futebol do Velho Continente, de quem financiou uma estátua no Gillette Stadium, em Boston. Numa fase da vida em que tem procurado passar mais tempo com a família e dedicar-se a apoiar os filhos e netos na gestão dos negócios familiares, o espírito empreendedor do emigrante açoriano mantém-se ainda interligado ao universo empresarial que construiu ao longo de mais de meio século na principal potência mundial. Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o exemplo de vida do empresário e filantropo António Frias tem sido incessantemente orientado pela máxima do célebre filósofo romano Séneca: “Escolha como um guia quem você vai admirar mais ao vê-lo agir do que ao ouvi-lo falar”.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Monumentos ao Emigrante: uma homenagem à história da emigração portuguesa

A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de homenagear os portugueses que partiram em demanda de melhores condições vida pelos quatro cantos do mundo, assim como o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem. Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, em Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante “marca na atualidade a paisagem portuguesa”, sendo em grande medida o reflexo da “alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras”. De facto, são muitos e variados os exemplos de monumentos aos emigrantes que enobrecem vários espaços do território nacional, desvendando e homenageando os percursos emigratórios de inúmeros compatriotas. Assim como, o empreendedorismo e a solidariedade que os mesmos dinamizam nas pátrias de acolhimento e de origem. No Norte de Portugal, por exemplo, na cidade da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, no ocaso da década de 1990, foi inaugurado o Monumento ao Emigrante localizado no Monte de São Félix em Laúndos, dedicado aos portugueses que partiram para o Brasil em busca de uma vida melhor. O marco é simbolizado pela família Giesteira, que saiu de Laúndos nos anos 50 rumo a terras brasileiras, na esteira de milhares de compatriotas, foi financiado por Manuel Giesteira, primogénito da família Giesteira, cujo empreendedorismo e benemerência alavancou em Guarulhos, São Paulo, um instituto filantrópico. Na região do Centro, São Pedro do Sul, uma década antes, recebeu uma obra escultórica de homenagem aos emigrantes que partiram desta cidade pertencente ao distrito de Viseu em direção à África do Sul. O monumento, localizado no Jardim do Emigrante, foi inclusivamente oferecido pela comunidade portuguesa na República da África do Sul. Já no Norte Alentejano, designadamente na vila raiana de Nisa, em 2017, foi inaugurado um monumento que homenageia todos os nisenses que emigraram sobretudo para França, simbolizando a viagem “a salto”, além Pirenéus, que nos anos 60 foi trilhada por milhares de portugueses. Nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, territórios indelevelmente marcados pela emigração, são vários os monumentos que assinalam o fenómeno. Entre os mais recentes, encontram-se duas estátuas que homenageiam duas das mais proeminentes figuras da comunidade portuguesa na Califórnia, onde se encontra a maior comunidade de portugueses e descendentes luso-americanos nos Estados Unidos. Em 2017, na ilha do Pico, foi inaugurada na praceta do Centro Social da Silveira, Lajes do Pico, uma estátua em homenagem ao comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica. Natural da Silveira, onde foi o principal benemérito da obra do Salão do Centro Social, Cultural e Recreativo, o emigrante açoriano conhecido como o "rei da batata-doce", com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, tem ao longo dos anos apoiado, concomitantemente, associações luso-americanas e coletividades da ilha do Pico Em 2021, no povoado dos Rosais, freguesia do Município de Velas, na Ilha de São Jorge, foi descerrado um busto em homenagem ao comendador Batista Sequeira Vieira. Um dos mais destacados empreendedores da comunidade luso-americana, que ao longo dos anos tem devotado a várias instituições da sua terra natal, como por exemplo, a Casa de Repouso João Inácio de Sousa, um pródigo altruísmo. Comungando da análise das sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, estes monumentos atuais, constituem uma genuína homenagem à história da emigração portuguesa, porquanto “não são tributários de uma identidade pessoal, nem de uma só época, são sim, a afirmação da saudade, da dor, do esforço quase sobre-humano e também do triunfo de uma viragem do país”.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril nas comunidades portuguesas

No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, momento cimeiro da memória coletiva e identidade nacional entreaberto pela Revolução de 25 de Abril de 1974, a efeméride contribui para que 2024 seja inevitavelmente marcado pelas comemorações nacionais dos 50 anos da Revolução dos Cravos. As celebrações oficiais deste marco fundamental da história contemporânea portuguesa, impulsionaram a criação da Comissão Nacional das Comemorações 50.º aniversário do 25 de Abril, chefiada pelo Presidente da República, e que inclui titulares dos órgãos de soberania Governo, Assembleia da República e tribunais superiores. Nesse entrecho, as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que tiveram início em 2022 e se prolongarão até 2026, desenvolvem-se em torno de dois eixos estruturantes – Memória e Futuro – e constituem uma experiência comemorativa de âmbito nacional assente nos valores subjacentes ao Programa do MFA, que pôs fim à ditadura: paz, liberdade, democracia e progresso. Na linha de pensamento e ação da historiadora Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva da Estrutura de Missão do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974, a expectativa é que o ano de 2024, “seja um ano de festa, de celebração de 50 anos de democracia, e o ponto de partida para uma reflexão sobre os próximos 50 anos. Acredito que isso acontecerá, quer através das iniciativas pensadas e desenvolvidas pela Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, quer através das levadas a cabo por todas as outras entidades que, de norte a sul do país, estão entusiasticamente envolvidas na preparação das celebrações”. Nesse sentido, e dado que as comemorações do 25 de Abril são transversais e abertas a todos os contributos da sociedade civil e constará de atividades culturais variadas, as mesmas não podem deixar de incluir a geografia da diáspora portuguesa. As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril no seio das comunidades lusas são um momento propício para estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e lusodescendentes, e assim refletir e afirmar os valores universais da cultura e da democracia. Nesse sentido, e tendo em linha de conta o profícuo movimento associativo das comunidades portuguesas, é espectável e relevante a dinamização ao longo dos próximos tempos de diversas atividades culturais na diáspora alusivas aos valores da Revolução de Abril. Estas iniciativas culturais, por exemplo, mostras/ciclos de cinema e audiovisual, documentários, exposições fotográficas, organização de seminários, conferências ou apresentação de livros, envolverão assim os portugueses que vivem no estrangeiro nas celebrações do passado, mas também na necessária reflexão do presente e projeção do nosso futuro. Em plena celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril nas comunidades lusas, é acima de tudo, uma luta contra o esquecimento e o silêncio. Um compromisso inquebrantável com os valores da liberdade e da democracia, que não olvida que a democracia não é um dado adquirido. Cabe-nos afinal, lutar por mantê-la, persistindo na utopia da construção de uma sociedade mais justa, livre e fraterna.