Um dos mais importantes filósofos do séc. XX, Emmanuel Levinas nasceu no seio de uma família lituana de origem burguesa e judaica no alvorecer do séc. XX, e faleceu em Paris em 1995. Indelevelmente marcado pela barbárie nazi, que ceifou parte da sua família, o postulado filosófico levinasiano, paradigmaticamente consubstanciado na obra Totalidade e Infinito, assume uma vertente fracturante em relação à tradição filosófica ocidental.
Emmanuel Levinas (1906-1995) |
Rejeitando o paradigma ontológico, dominante na História da Filosofia Ocidental, que demanda uma “tentativa de síntese universal, uma redução de toda a experiência, de tudo aquilo que é significativo, a uma totalidade em que a consciência abrange o mundo, não deixa nada fora dela, tornando-se assim pensamento absoluto”, Lévinas promoveu a Metafísica na análise do sentido humano – “el metafísco y lo Outro no constituyen alguma correlación reversible” –, para assim, como destaca Batista de Sousa, remover o discurso filosófico “do mesmo da imanência, da totalidade e abrir-se à dimensão da exterioridade, do Infinito. Enfim, sair do círculo do anonimato e impessoalidade do ser; lançar-se para o outro, para a verdadeira Metafísica”.
Em detrimento da visão filosófica globalizante e totalizante, em que “em ordem à totalidade abstrai-se do que individualiza cada um dos termos de modo a atingir o que é comum, obtendo-se assim uma mesmidade”, Levinas aduz uma relação de “face – a – face” na comunicação humana, uma relação de Infinito “entre el Outro y yo, que brilla en su éxpresión”, uma relação que não se esvai no conhecimento, a sua essência é ética.
Salvador Dali - 1934 |
A inquietação levinasiana perante o discurso ontológico dilui-se a partir da Ética no Rosto: “a filosofia primeira é uma Ética”. O rosto em Levinas é “significação sem contexto”. O rosto levinasiano é simultaneamente próximo e distante, não se manifesta – “ele é o que não se pode transformar num conteúdo, que o nosso pensamento abraçaria; é o incontível, leva-nos além” –, exprime-se na sua nudez, na sua pobreza, impelindo-nos a responder à sua primeira palavra “Tu não matarás”.
A relação Eu – Outro é essencialmente ética, se “o rosto é o que não se pode matar ou, pelo menos, aquilo cujo sentido consiste em dizer: tu não matarás”, o Eu não é neutral, é constantemente responsável pelo Outro.
Assim na Ética levinasiana consuma-se a transcendência, o incomensurável, isto é, “a metafísica na sua radicalidade, como desinteresse que não pode ser apreendido numa intenção teórica nem fenomenológica”.
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