Paradigma da arquitectura europeia do início do séc. XX, o palacete da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe foi edificado em 1913 como residência dos administradores desta empresa popularmente conhecida por “Fábrica do Ferro”, uma das mais importantes unidades industriais ibéricas no decurso do século passado e cuja fundação dimana do investimento de emigrantes “brasileiros de torna-viagem”.
Projectado pelo mestre-tecelão germânico Teodor Fisher, antigo director técnico da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, o edifício é rodeado por um aprazível jardim interno delimitado por um gradeamento em ferro, que envolve matizados volumes arquitectónicos do qual sobressai uma estrutura altaneira em forma de torre que é composta por telhados e terraços com beirais de madeira. Delineado num contexto de incremento industrial, a influência arquitectónica racionalista de tendência germânica, berço de origem do projectista, está patente nos materiais de construção, como a madeira, o ferro e o vidro.
FOTO- Pedro Miranda |
As reminiscências da casa cruzam-se singularmente com o trajecto de vida do técnico alemão que se fixou na região na década de 90 do séc. XIX, e que aquando da entrada de Portugal no palco europeu da Grande Guerra, em 1916, alcançaria evadir-se para Vigo, depois ter sido preso em Montalegre e conduzido sob prisão para a vila de Fafe.
Com o desfecho do conflito bélico, no qual participaram vários soldados locais, Teodor Fisher, retornaria ao concelho na companhia da sua esposa, a helvética Elisabeth Fisher e o filho de ambos, nascido em Fafe, João Fisher, vindo em Fevereiro de 1935 a falecer no palacete que projectara para a Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe. A morte do técnico metodista alemão aos 65 anos de idade, envolta na inquietude do suicídio, profundo tabu moral e social na época, ocorreu duas semanas depois da chegada do casal Fisher de uma estadia prolongada na Alemanha nazi, permanecendo este acto trágico na memória popular sob a forma de uma lenda urbana de casa assombrada.
Adquirido no último quartel do séc. XX pelo Município, seriam instalados no antigo palacete da Fiação de Fafe em 1982 um conjunto de serviços culturais, designadamente, as Bibliotecas Municipal e fixa n.º 34 da Fundação Calouste Gulbenkian, um Núcleo de Arqueologia, um Núcleo de Artesanato, um Gabinete de Apoio à Alfabetização e o Instituto Britânico, sendo que, no final desse ano, foi ainda provisoriamente cedida a sala do 3.º piso da casa para instalação da sede da Associação de Dadores de Sangue Benévolos de Fafe.
No seguimento de uma proposta da edilidade datada de 22 de Outubro desse ano, o antigo Palacete da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe foi classificado como imóvel de interesse municipal em Setembro de 1983 pelo Ministério da Cultura, reconhecimento do seu relevante papel sociocultural no contexto contemporâneo local.
Na década de 90, o edifício passaria a albergar o Museu da Imprensa de Fafe, cujo espaço museológico foi inaugurado em 25 de Abril de 1996, tendo como núcleo fundamental o espólio do vetusto semanário republicano O Desforço. Além de uma área oficinal, constituída pelo equipamento necessário à composição e impressão do jornal, o Museu incluía ainda a colecção de outros periódicos locais e diversas gravuras.
Já no inicio do séc. XXI, o metamorfoseado palacete do Museu da Imprensa, viria a ser adquirido no ano de 2008 por um particular à Câmara Municipal de Fafe, readquirindo na actualidade, após uma ampla remodelação, as suas funções originárias de residência.
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