Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Erosão, um projeto de valorização da identidade cultural da emigração

 

Na freguesia de Cepães, uma freguesia do concelho de Fafe, situada no distrito de Braga, com intensa atividade industrial e aptidão agrícola, ao longo dos últimos três anos tem sido dinamizado um original projecto comunitário em rede que e envolve toda a comunidade local em torno da história e memória da emigração. 

Partindo dos percursos migratórios do final do século XIX e do século XX para o Brasil e França, assim como das expressões materiais e simbólicas do ciclo de retorno dos emigrantes que marcam indelevelmente a região do Vale do Ave. E em particular o concelho de Fafe, contexto que impeliu o município minhoto a instituir no alvorecer do séc. XXI o Museu das Migrações e Comunidades, o grupo local EnfimTeatro, núcleo dramático da Sociedade de Recreio Cepanense, está a desenvolver desde o primeiro trimestre de 2017 o projeto comunitário Erosão, tendo em vista a dinamização de atividades culturais nas áreas do teatro e cinema.


O historiador Daniel Bastos (esq.), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, acompanhado em 2018 dos responsáveis do projeto comunitário Erosão, José Rui Rocha e Nuno Pacheco, na Sociedade de Recreio Cepanense, no âmbito de uma conferência sobre a Emigração Portuguesa

 

Tendo como objetivos capitais o desenvolvimento, formação, divulgação, produção e ação artística, cultural e educativa, através de um amplo, exigente e democrático acesso à cultura. O EnfimTeatro tinha projetado para o final deste ano em que se assinalam os 25 anos da morte de Miguel Torga, um dos mais influentes escritores portugueses do século XX, cujo percurso de vida e literário foi marcado pela sua experiência nos anos 20 como emigrante no Brasil, o lançamento do filme Erosão.

Esta dinâmica de trabalho, que não é imune aos efeitos da pandemia de coronavírus que um pouco por todo o lado tem contribuído para o cancelamento ou adiamento de eventos e iniciativas que integram os planos anuais de muitas associações, assenta no pressuposto basilar que a comunidade é protagonista. Pelo que, os termos viagem, emigração, esperança, utopia, tradições, memória, identidade e património são os pilares fundamentais da estrutura do argumento do filme que funciona simultaneamente como catalisador de uma rede cultural, tanto que a iniciativa conta com a colaboração de diversas instituições, associações e grupos comunitários.

Como sustentam os seus responsáveis, o projeto Erosão embrenha-se na comunidade, nas suas metamorfoses, linguagens, hábitos e tradições, comprometendo-se com as suas virtudes e dificuldades, ou seja, está vinculado com a paisagem, o património material e imaterial, as pessoas, enfim, o território.

Foi nessa esteira, que em meados de setembro a comunidade local assistiu à realização do evento ambulante “A Arte do Jogo do Pau”, composto por teatro de rua e representações de jogo do pau, uma das artes marciais portuguesas mais antigas com tradição no Norte de Portugal, principalmente no Minho, e que era praticado com varapau ou cajado, um instrumento de trabalho e simultaneamente uma arma do dia-a-dia das pessoas.

Mais que uma abordagem singular ao fenómeno migratório, o projeto Erosão dinamizado pelo grupo comunitário EnfimTeatro, constitui uma relevante valorização das tradições, usos, costumes e da emigração, partes integrantes da história e da identidade portuguesa.

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