Uma
das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos
quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como
corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de
sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empresários lusos
da diáspora, cada
vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento
internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do
comendador Armando Lopes.
Originário
da freguesia de Urqueira, no concelho de Ourém, Armando Lopes, o mais velho de
três irmãos, nasceu a 25 de Março de 1943 no seio de uma família modesta de
agricultores. A morte precoce do pai, quando tinha 11 anos, desde cedo
concorreu para que tivesse que lutar para manter o sustento do lar, forjando
assim uma personalidade abnegada e profundamente comprometida com o trabalho.
Próximo
da maioridade, e em pleno início da Guerra do Ultramar (1961-1974), o jovem oureense,
na esteira de milhares de compatriotas, impelido pela miséria rural, a ausência
de liberdade e a procura de melhores condições de vida, partiu em direção à França.
Principal destino da emigração portuguesa nos anos 60 e 70, e onde chegou no
dia 3 de novembro de 1961, designadamente a Saint-Maur-des-Fossés, uma
comuna a sudeste de Paris, começando desde logo a trabalhar na construção
civil.
Casado
com Odete Lopes em 1964, grande suporte e companheira de vida, as capacidades extraordinárias de trabalho,
mérito e perseverança, permitiram que uma década após a chegada ao território gaulês,
Armando Lopes encetasse um percurso de empresário e empreendedor fulgurante,
com investimentos em áreas ligadas aos transportes, à restauração, à extração
de areias e movimentação de terras, e à construção.
A notável capacidade empreendedora
do empresário de Ourém, radicado em França há mais de
50 anos, contribuíram para que Armando Lopes detenha 15 sociedades em França e
três em Portugal (no ramo da construção civil) que dão emprego a 500 pessoas direta
e indiretamente, e ostente no currículo o fornecimento de obras emblemáticas
como a Eurodisney, as pirâmides do Louvre e o TGV.
O sucesso que o
emigrante oureense alcançou ao longo do último meio século no mundo dos negócios,
tem sido acompanhado de um apoio constante à comunidade luso-francesa. Destacando-se,
a sua ligação umbilical a dois importantes símbolos da comunidade
portuguesa em França, mormente, a Rádio Alfa, a emissora mais popular dos
portugueses em Paris. E o clube de futebol Créteil-Lusitanos, uma base da diáspora lusa em França
desde a década de 1970, que foi presidida por Armando Lopes entre 2002 e 2022.
Numa fase da
vida em que tem procurado passar mais tempo com a família e dedicar-se a apoiar
os filhos na gestão dos negócios familiares, o espirito empreendedor, a responsabilidade
social e o referencial de envolvimento com a comunidade luso-francesa, foram
distinguidos em maio de 1992, pelo então presidente da República Mário Soares,
que lhe atribuiu uma Comenda. Três anos depois, em Lisboa, o comendador Armando
Lopes alcançou da Associação Empresarial Portuguesa a medalha de reconhecimento
de melhor empresário luso na Europa. E no alvorecer do séc. XXI, o antigo
Presidente da República Francesa, Jacques Chirac, outorgou-lhe o grau de
Cavaleiro da Legião de Honra.
Em 11 de junho
de 2016, no âmbito das Comemorações do 10 de Junho junto da comunidade portuguesa
em França, o comendador Armando Lopes, tornou-se o primeiro português
vivo a dar nome a uma rua em França. Nesse dia foi inaugurada, em Cretéil, base
dos seus escritórios nos arredores de Paris, a Rotunda Armando Lopes pelo primeiro-ministro,
António Costa, pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelos
então, Ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e Secretário de Estado das
Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
Entre os aspetos
mais proeminentes do comendador Armando Lopes sobressai ainda o profundo apego às
suas raízes. Em 1982, dinamizou a geminação das cidades de Leiria e de Saint-
Maur-des-Fossés. No ano seguinte, para a rotunda que fica em frente do
Edifício 2000, Armando Lopes encomendou ao escultor Fernando Marques, um
conjunto escultórico de homenagem ao Emigrante, que ofereceu à cidade.
No decurso da década
de 1990, o Município de Ourém atribuiu-lhe a medalha de mérito da cidade.
E em 2018, no âmbito do projeto de recuperação do edifício da antiga Companhia
Leiriense de Moagem, uma obra a cargo do grupo do empresário luso-francês, foi
inaugurada na cidade de Leiria a Praça Comendador
Armando Lopes pelo
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e
pelo então Presidente
da Câmara Municipal de Leiria, Raúl Castro, a que se associou o Presidente da
Câmara de Créteil, Laurent Cathala.
Como salienta, José Manuel Dias Poças das Neves, em Comendador
Armando Lopes, um ouriense cidadão europeu, o insigne empresário luso-francês que em 2017 dinamizou
uma relevante campanha de recolha de fundos em favor das vítimas
do incêndio de Pedrógão Grande, e que ainda no ano transato inaugurou
em Leiria, um Parque de estacionamento para 155 carros, é “um dos
portugueses mais influentes de França, ao longo da sua vida não se
limitou a ser um empresário de sucesso mas, fiel às suas origens,
dedicou-se a criar pontes entre Portugal, o seu país de origem e França,
o seu país de acolhimento. Não há povos sem memória e, por isso,
projectou a região de Ourém e de Leiria além fronteiras, criando laços
de afectividade, de solidariedade e de empreendedorismo”.
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