Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
domingo, 23 de fevereiro de 2025
A importância da História e Musealização da Emigração Madeirense
A emigração é uma realidade intrínseca à identidade madeirense, marcando desde o povoamento do arquipélago até à atualidade, as suas dimensões sociais, culturais, económicas e políticas. A imensa diáspora da “pérola do Atlântico”, estimada em cerca de 1,5 milhões de madeirenses e descendentes, que transportam consigo tradições e memórias por todos os continentes, encontra-se “presente em todas as latitudes”, como realça o Monumento ao Emigrante Madeirense na Avenida do Mar, no Funchal.
Nesse sentido, o recente lançamento das bases da “História Global da Diáspora Madeirense” e do futuro Museu da Emigração Madeirense, que pretende homenagear o legado e a memória dos que da Madeira partiram, ao longo dos séculos, para destinos como a África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Curaçau, Estados Unidos da América, França, Havai, Inglaterra ou Venezuela. É, concomitantemente, um projeto marcante na celebração da portugalidade e da madeirensidade, e a concretização de uma antiga aspiração do território arquipelágico e das comunidades da “pérola do Atlântico” pelo mundo fora.
Um projeto do estudo global da diáspora madeirense, distintivo da cultura e história do território arquipelágico, que tem no presidente e fundador do Centro de Estudos e Desenvolvimento, Educação, Cultura e Social (CEDECS), o calhetense Eugénio Perregil, um dos seus rostos mais visíveis. Assim como, o professor catedrático machiquense José Eduardo Franco, diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta, e responsável pela comissão científica que conduzirá a investigação tendente à publicação de mais de uma dezena de volumes sobre os diferentes ciclos migratórios madeirenses.
Uma “História Global da Diáspora Madeirense”, que contará com o contributo de várias entidades e investigadores especializados nas múltiplas latitudes da diáspora madeirense, como é o caso, do Professor Auxiliar na Universidade da Madeira e antigo Coordenador do Centro Cultural John Dos Passos, Bernardo de Vasconcelos, reputado investigador da emigração madeirense na Austrália.
Este desígnio e imperativo de valorização do conhecimento da história da emigração madeirense, computa ainda a breve trecho, no âmbito das comemorações dos 600 anos do povoamento da Madeira, e dos 50 anos da autonomia regional, a criação do Museu da Emigração Madeirense.
Numa primeira fase, um Museu digital capaz de conservar e disponibilizar ao grande público as memórias e os testemunhos dos emigrantes madeirenses. Posteriormente materializado num espaço museológico, quiçá no edifício da Quinta Vila Passos, dado seu simbolismo e papel na história das comunidades madeirenses, cuja missão deve assentar no estudo, preservação e comunicação das expressões materiais e simbólicas da diáspora da “pérola do Atlântico”.
Um Museu da Emigração Madeirense, que não pode deixar de criar sinergias com outros espaços museológicos que no território nacional contam a história da emigração portuguesa. Como, por exemplo, o Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe; o Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço; o Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande; ou o Museu da Família Teixeira, situado na Fajã da Murta, freguesia do Faial, concebido pelo empreendedor e benemérito luso-venezuelano Aneclet Teixeira de Freitas, que ao homenagear os seus progenitores, enaltece os milhares de conterrâneos que encetaram uma trajetória migratória para a pátria de Simón Bolívar.
Um Museu da Emigração Madeirense, que se deve interligar com os espaços museológicos que têm sido construídos ao longo das últimas décadas por portugueses no estrangeiro, vários deles com raízes na “pérola do Atlântico”. Como, por exemplo, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, em Toronto, que se dedica à dinamização do legado dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá; o Museu Etnográfico Português em Sydney, na Austrália, que tem procurado manter viva a identidade cultural da comunidade luso-australiana; o Museu Histórico Português em São José, na Califórnia, dedicado às tradições lusas, em especial religiosas, neste estado norte-americano; ou o Museu de Herança Madeirense, situado na cidade de New Bedford, e que preserva e valoriza o legado histórico da emigração madeirense nos Estados Unidos da América.
Um Museu da Emigração Madeirense, que tem de se entrecruzar com os museus nacionais espalhados pela dispersa geografia da diáspora portuguesa, e cujos espólios acentuam o contributo marcante da imigração lusa, não raras vezes de matriz madeirense, no desenvolvimento dessas pátrias de acolhimento. Como, por exemplo, o Museu Nacional da Imigração Canadiano, localizado em Halifax, na província da Nova Escócia, que conserva nas suas variadas coleções inúmeros testemunhos da presença portuguesa no país; o Museu Nacional da História da Imigração em Paris, cujos documentos de arquivo, imagens, obras de arte, objetos da vida diária e testemunhos visuais e sonoros destacam o papel e importância da comunidade portuguesa em França; ou o Museu da Baleação de New Bedford, que é geminado com o Museu da Baleia da Madeira.
Um Museu da Emigração Madeirense, que pode e deve contar com o apoio do poder político local, regional e nacional, de modo a desempenhar um papel de grande relevância na promoção de uma economia local, regional e nacional de base cultural, criativa e turística. E desse modo caminhar ao encontro da definição de museu aprovada em 2022 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM): “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, e proporcionam experiências diversas de educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”.
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