Perante
as circunstâncias atuais da pandemia Covid-19, cujos efeitos de isolamento
social se fazem sentir à escala global, as comemorações que anualmente se realizam do Dia de Portugal no seio das Comunidades
Portuguesas, e que constituem as mais genuínas manifestações de amor à pátria
de Camões, estão a ser consequentemente canceladas.
Como no território nacional, onde o 10 de junho será assinalado com uma
cerimónia simbólica, através de uma singela sessão no Mosteiro dos Jerónimos,
que substitui assim os três dia de celebrações oficiais que este ano estavam
previstas ocorrer no Funchal e junto das comunidades
portuguesas na África do Sul, também nos núcleos da Diáspora as comemorações prosseguirão seguramente este modelo mais minimalista.
Este é portanto, o momento das comemorações simbólicas do Dia de
Portugal, um momento de incontornável recurso às plataformas digitais como meio
de mitigar o isolamento social. Mas é também um momento oportuno para uma ampla
reflexão aquém e além-fronteiras sobre o futuro das
Comunidades Portuguesas, tanto que são notórios vários casos de dificuldades no
seu movimento associativo, um dos mais importantes, senão o mais importante
pilar da Diáspora.
Dificuldades
resultantes das medidas de contenção da pandemia, que entravam a realização de
eventos e iniciativas, como é o exemplo cimeiro do Dia de Portugal, e que são
essenciais para a obtenção de receitas que permitem custear o normal funcionamento
das associações, como seja o pagamento da água, luz, rendas dos espaços ou a
sua manutenção.
O
risco de fecho definitivo de diversas associações no seio das Comunidades
Portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, nunca foi tão real, e é
ainda agravado pela problemática do envelhecimento dos seus quadros dirigentes,
da maioria dos seus associados e da escassa participação dos lusodescendentes.
Este
perigo acrescido de encerramento, deve impelir as forças vivas do movimento associativo das
Comunidades Portuguesas a colocar definitivamente em cima da mesa, não só,
quando a vida voltar a normalizar, a diversificação de atividades capazes de conciliarem a cultura tradicional enraizada nas coletividades com novas dimensões
socioculturais, como o cinema, a literatura ou a moda, de modo a atrair as
jovens gerações de lusodescendentes. Como também a adoção de um novo modelo de
atuação e organização das associações, que necessariamente terá que passar por
um paradigma de partilha de uma “casa comum”, capaz de reunir num só espaço com
dignidade e dimensão a valiosa argamassa identitária da Diáspora.
Um modelo de “Casa de Portugal”, de portas sempre abertas às várias
nacionalidades, e em particular, naturalmente, à comunidade portuguesa, através
de parcerias com agremiações, escolas e universidades onde se ensina a língua portuguesa.
Uma “Casa de Portugal”, com uma agenda capaz de congregar as diversas sinergias
do movimento associativo, de diluir as diferenças e egos, e potenciar o coletivo,
a união, os parcos recursos humanos e financeiros, em prol da cultura
portuguesa.
Uma
“Casa de Portugal“, na esteira da Maison
du Portugal – André de Gouveia, em
Paris, capital francesa onde se encontra a maior comunidade portuguesa fora de Portugal,
onde
se organizem vários eventos culturais do movimento associativo. Desde as festas e festivais de folclore, à programação de artes
plásticas, cinema, dança, literatura, teatro, ciclos de conferências ou
divulgação de trabalhos dos investigadores que cada vez mais proliferam na
lusodescendência.
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