Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
A memória viva dos 40 anos do acidente ferroviário de Alcafache
No passado dia 11 de setembro, assinalaram-se os 40 anos do maior acidente ferroviário em Portugal, resultante da colisão na Linha da Beira Alta, de um comboio Sud-Express com destino a Paris, repleto de emigrantes, com um comboio regional que seguia para Coimbra, que causou um número indeterminado de vítimas mortais.
Ainda hoje, não se conhece o número exato de vítimas mortais, estimando-se que tenham perecido nesta tragédia nacional, mais de uma centena de passageiros. No lugar do acidente, na povoação de Moimenta de Maceira Dão, perto do apeadeiro de Moimenta-Alcafache, foi aberta pouco tempo depois do desastre, uma vala comum, onde se reuniram todos os pedaços soltos de corpos e cinzas calcinadas.
Ao longo dos anos, no local fatídico, têm sido erigidas estruturas em homenagem às vítimas, maioritariamente emigrantes, como o mural em azulejo, que desde 2005, narra o desastre, e que se deve à Associação dos Emigrantes de Santa Maria de Válega, e à COMAFA – Comissão Organizadora Movimento Acidente Ferroviário de Alcafache.
Um espaço simbólico de homenagem às vítimas e às suas famílias, de respeito pela memória do que partiram há quatro décadas, mas também de coragem e solidariedade dos que ficaram, e que mantém viva a memória de um infausto acontecimento que marcou a história recente de Portugal.
Foi neste espaço simbólico de homenagem às vítimas e às suas famílias, que no passado dia 14 de setembro, no âmbito dos 40 anos do mais grave acidente ferroviário nacional, decorreu uma cerimónia evocativa das vítimas de Alcafache. Uma cerimónia, onde sobreviventes e familiares compartilharam testemunhos emotivos que continuam a marcar a memória coletiva do maior acidente ferroviário em Portugal.
Testemunhos como o de José Augusto Sá, presidente da COMAFA, que perdeu o pai e a irmã no trágico acidente. Ou o do comendador Carlos Maria Ramos, antigo conselheiro da comunidade portuguesa na Suíça, a quem tem devotado ao longo das últimas décadas uma intensa dinâmica associativa, e um dos sobreviventes e heróis de Alcafache.
Na cerimónia, entre várias outras personalidades e forças vivas locais, marcaram presença, o general Ramalho Eanes, que era Presidente da República em 1985; o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Emídio Sousa; a Secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias; o Presidente do Município de Mangualde, Marco Almeida; e o Bispo de Viseu, D. António Luciano, que presidiu a uma eucaristia e inaugurou a Capela aos Emigrantes, um espaço dedicado a todos os que partiram e que simboliza a ligação umbilical com as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
Neste sentido, 40 anos após o trágico acidente ferroviário de Alcafache, indelevelmente ligado à história da emigração portuguesa, a homenagem à memória das vítimas e o reconhecimento às suas famílias, relembra-nos a clarividência de José Saramago, um dos maiores escritores de língua portuguesa: “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir”. Ou, nas palavras abalizadas do general Ramalho Eanes, no decurso da cerimónia de homenagem às vítimas: “Um povo é, sobretudo, uma história. E este acidente, como quase todos, poderia ter sido evitado se juntássemos à nossa generosidade a capacidade de planear e de prever.”
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