Uma
das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos
quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como
corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de
sucesso e desempenham funções de relevo a
nível cultural, social, económico, político e associativo.
Nestes
vários exemplos, por exemplo, de dirigentes associativos da diáspora, cada
vez mais percecionados como um ativo estratégico na
promoção e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos,
o percurso altruísta e dinâmico de Parcídio Peixoto.
Originário
de Fafe, concelho localizado na região do Baixo Minho, Parcídio Peixoto, nasceu
em 1948 no seio de uma família modesta de agricultores. Contexto que concorreu
para que em 1965, tenha partida a “salto”, expressão muito utilizada na época
para descrever a emigração clandestina, em direção à França, na esteira de
milhares de compatriotas, que nos anos 60, impelidos pela miséria rural, e a
fuga ao serviço militar e à Guerra Colonial, demandaram melhores condições de
vida na pátria gaulesa.
Na região parisiense,
onde constituiu família e desenvolveu a atividade profissional em diversas
áreas, embrenhou-se ativamente no movimento associativo da comunidade lusa,
onde se tornou uma figura grada, assim como das autoridades locais e
portuguesas.
Antigo tesoureiro da Federação das
Associação Portuguesas em França, e do Conselho das Comunidades Portuguesas,
a Parcídio Peixoto se deve um contributo importante na aproximação do
saudoso fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt (1926-2018), fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa para
França, à comunidade portuguesa. Que desse modo, redescobriu no alvorecer do
séc. XXI o seu valioso trabalho e espólio, fundamentais
para uma melhor compreensão e representação do nosso passado recente.
Foi na sequência do seu ativismo
sociocultural dinamizado na Amicale Culturelle Franco-Portugaise
Intercommunale de Viroflay, nos arredores de Paris, que foi
desencadeada a doação, em 2009, de mais de uma centena de fotografias originais
de Gérald Bloncourt, com quem mantinha uma relação de amizade bastante
estreita, ao Museu das Migrações e das Comunidades, sediado na sua terra natal,
e que se assume como um centro de encontro e preservação de memória da
emigração portuguesa.
O seu trabalho persistente
de resgate da memória da emigração portuguesa para França, levou-o a fundar há uma
década a Associação
Memória das Migrações, estabelecida no território gaulês, e que tem desde então realizado
um trabalho articulado, com o Museu das Migrações e das Comunidades, na recolha
de documentos e testemunhos dos portugueses que saíram de Portugal nos anos de
1960-70 e ainda continuam a deixar Portugal. Em Maio de 2013, foram assinados
protocolos com o Consulado Geral de Portugal em Paris, o Museu das Migrações e
das Comunidades e a Associação Memória das Migrações, no sentido da recolha de
documentos, objetos e histórias de vida ligados às migrações dos portugueses
para França.
Esta profunda ligação à preservação da memória da emigração
portuguesa para França, mas também às suas raízes, concorreu para que em 2018
tenha estado patente, no verão de 2018, na Sala de Visitas do Minho, uma exposição
fotográfica e documental “Racines – Les Amours suspendus”, enquadrada nas comemorações do Centenário da Batalha
de La Lys (9 de abril de 1918) e do termo da I Guerra Mundial (1914-1918).
A sua estreita ligação a Gérald Bloncourt, concorreu para
que no ocaso de 2019, tenha sido um dos principais dinamizadores da homenagem
póstuma, promovida pela comunidade portuguesa, ao fotógrafo franco-haitiano no Museu Nacional da História da Imigração de paris.
Figura grada da comunidade portuguesa
em França, a dedicação laboriosa do emigrante e dirigente associativo Parcídio
Peixoto,
inspira-nos a máxima de José Saramago, o único Nobel da Literatura em língua portuguesa:
“Somos
a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem
memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos
existir”.
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