Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Natal é época de solidariedade nas comunidades portuguesas

O Natal é a festa por excelência da família, da paz, do amor, da alegria, da solidariedade e da esperança num futuro melhor, que todos desejamos que a breve trecho passe pelo desfecho da Guerra na Ucrânia, pelo fim do conflito Israel-Hamas, assim como pelo incremento do crescimento da economia mundial e a sequente diminuição da inflação global. É neste contexto socioeconómico desafiante, que o espírito solidário cintilante no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo ganha especial relevância. Nos tempos intrincados que vivemos, a diáspora lusa tem demonstrado um enorme espírito de solidariedade, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido ao Natal, apoiando quer os nossos compatriotas no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional. Um dos exemplos mais paradigmáticos de solidariedade dinamizada no seio das comunidades portuguesas é o que está a ocorrer na América do Norte, mais concretamente em Toronto, onde vive a maioria dos mais de meio milhão de compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Mormente, a construção do Magellan Community Centre, isto é, a edificação a breve prazo da “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana. Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, presidida pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, que através da colaboração do poder político e da solidariedade luso-canadiana, está a edificar um lar culturalmente específico e inclusivo para a comunidade. Nesta esteira altruísta, mas na comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, rondando um milhão de pessoas, a Santa Casa da Misericórdia de Paris, instituição de referência na dinamização da solidariedade no seio da diáspora na capital francesa, lançou no decurso do mês de dezembro uma Campanha de Natal para recolher produtos alimentares e de higiene. Assente no lema “Fraternidade: Combater a indiferença”, a iniciativa solidária na linha dos anos anteriores, permitirá apoiar famílias portugueses carenciadas, na região parisiense, com cabazes de Natal. Outro exemplo paradigmático de espírito solidário da diáspora na quadra natalícia, acontece há vários anos na comunidade portuguesa do Reino Unido, a segunda maior da Europa, formada por cerca de 400 mil pessoas. Desde 2013, ano em que foi criada em Londres, a associação Abraço Solidário, que a coletividade benemérita liderada pela madeirense Zita da Silva, se tem empenhado no apoio a causas sociais, quer junto da comunidade portuguesa no Reino Unido, como também em Portugal. No início deste mês, no âmbito do tradicional jantar de Natal solidário, no centro de Londres, a emigrante madeirense e dirigente associativa do Abraço Solidário, destacou que as verbas solidárias arrecadas pela coletividade serão encaminhadas para oito instituições e também uma família madeirense que foi severamente afetada pelos incêndios que ocorreram em outubro passado na pérola do Atlântico. Estes exemplos inspiradores de solidariedade, e muitos outros que estão atualmente a serem dinamizados no seio da diáspora, robustecem que mesmo em tempos desafiantes e intrincados, o Natal é época de solidariedade nas comunidades portuguesas. Que a solidariedade que emana das comunidades portugueses nos irmane a todos a tornar o mundo um lugar melhor, e nos inspire uma Feliz Quadra Natalícia e um Próspero Ano Novo. Como encorajava Madre Teresa de Calcutá, exemplo cimeiro de esperança e perseverança: “É Natal sempre que deixes Deus amar os outros através de ti…sim, é Natal sempre que sorrires ao teu irmão e lhe ofereceres a mão”.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Jack Oliveira: empreendedor e benemérito da comunidade portuguesa em Toronto

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador Jack Oliveira, o mais conhecido e emblemático dirigente sindical da comunidade portuguesa em Toronto. Natural da Murtosa, vila do distrito de Aveiro, Jack Oliveira emigrou para o Canadá em 1972, com 12 anos de idade, ao encontro dos pais e do irmão, que tinham encetado no ocaso dos anos 60 uma trajetória migratória transatlântica em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde, na esteira de milhares de compatriotas que procuravam também que os seus descendentes não passassem pelo tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. A chegada a Toronto, a maior cidade do Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, forjaram uma ética de carácter e de trabalho que impeliram ainda na adolescência o jovem murtosense a trabalhar numa fábrica de ferro, e pouco tempo depois a abrir uma empresa de transportes por conta própria. A experiência profissional acumulada durante a adolescência que não permitiu a prossecução dos estudos, funcionou como antecâmara para o dealbar de uma carreira profissional fulgurante na área da construção. Primeiro como trabalhador da Armbro Construction onde consolidou as suas competências e conhecimentos, contexto que o levou na década de 80 a registar-se como membro da Liuna Local 183, e no termo dos anos 90 a ser contratado como Organizador da Local 183, e ainda nessa época, a ser designado Representante de Negócios para o Setor de Construção Pesada. O relevante trabalho e ação desenvolvido por Jack Oliveira na Liuna Local 183, o mais forte sindicato da construção civil da América do Norte, impulsionaram a sua eleição em 2007 como Membro do Executivo da Local 183, e desde 2011, até aos dias de hoje, a liderança da estrutura no cargo de Business Manager. Uma liderança carismática, sucessivamente renovada através de uma dedicação inexcedível e do apoio dos cerca de 70 mil membros da estrutura sindical, milhares deles de origem portuguesa, a quem é reconhecido publicamente que a Liuna Local 183 tem proporcionado melhores condições de trabalho, em segurança e com boas condições remuneratórias. O cunho diligente de Jack Oliveira ao longo dos últimos anos no movimento sindical e no mundo do trabalho, na defesa dos direitos dos trabalhadores portugueses no Canadá, concorreram decisivamente para que em 2017 o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com o cunho da UGT, agraciasse o emigrante murtosense com a Comenda da Ordem de Mérito Empresarial. Uma ordem honorifica portuguesa justamente merecida, destinada a distinguir quem haja prestado, como empresário ou trabalhador, serviços relevantes no fomento ou na valorização de um setor económico. Têm sido várias as distinções que o empreendedor luso-canadiano tem alcançado ao longo do seu profícuo percurso socioprofissional e sindical. Entre elas, destacam-se também, por exemplo, em 2016 a homenagem pública na Gala Community Spirit Award promovida pelo Centro Cultural Português de Mississauga (PCCM), uma representativa agremiação lusa na província do Ontário. E a mais recente, no dia 13 de maio de 2023, no âmbito das celebrações oficiais dos 70 anos de emigração portuguesa para o Canadá, através do reconhecimento público do Portuguese Canadian Walk of Fame. Nas diversas distinções obtidas, destacam-se nos seus fundamentos os predicados da liderança de Jack Oliveira à frente dos destinos da Liuna Local 183, mormente o importante trabalho que a estrutura sindical tem realizado no apoio a organizações de cariz social ou de promoção da diversidade multicultural. Como é o caso, da ajuda essencial que a Liuna Local 183 tem dedicado à construção do Magellan Community Centre, ou seja, à construção a breve prazo da “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana. Um projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses em Toronto, dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães), presidida pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto. No hercúleo esforço que a Magellen Community Charities tem desenvolvido em prol da angariação de fundos no seio da comunidade luso-canadiana, o apoio e altruísmo da Liuna Local 183 têm sido fundamentais. Ainda no limiar do presente mês, a Magellan Community Foundation recebeu mais uma doação da Liuna Local 183, no valor de 250 mil dólares. Uma entrega que cumpre o plano estabelecido pela estrutura sindical liderada por Jack Oliveira, e que representa o segundo cheque de quatro do mesmo valor, atingindo um total de 1 milhão de dólares em quatro anos. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o exemplo de vida do empreendedor, sindicalista e comendador benemérito Jack Oliveira, incita-nos o repto humanista e marcante de Nelson Mandela: “Um dos desafios do nosso tempo, sem ser beato ou moralista, é reinstalar na consciência do nosso povo esse sentido de solidariedade humana, de estarmos no mundo uns para os outros, e por causa e por meio dos outros”.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Maria Manuela Aguiar: uma vida dedicada à emigração

No conjunto de personalidades que ao longo dos últimos anos têm contribuído decisivamente para a valorização e dignificação da emigração portuguesa, destaca-se, sobremaneira, o papel ativo de Maria Manuela Aguiar, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e deputada pela Emigração. Natural de Gondomar, onde nasceu em 1942, Maria Manuela Aguiar é licenciada em Direito, área em que deu os primeiros passos da sua vida profissional através do desempenho da docência na faculdade da Universidade Católica de Lisboa, na Universidade de Coimbra, e inclusive, como Secretária de Estado do Trabalho no governo de Mota Pinto. Entre 1980 e 1987, tornou-se a primeira mulher a assumir o cargo de Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, sendo que o seu percurso sociopolítico computou ainda a eleição como deputada pelos círculos da Europa (1985), Porto (1987), Aveiro (1991) e pelo círculo Fora da Europa, em 1995, 1999 e 2002. Enquanto decisora política, ou desde o início dos anos 90, como fundadora da Associação Mulher Migrante (AMM), instituição onde tem desempenhado um relevante ativismo cultural em prol do combate às desigualdades e à discriminação contra as mulheres, especialmente as migrantes, Maria Manuela Aguiar é unanimemente reconhecida como uma incansável defensora dos direitos dos portugueses no mundo. Autora de uma profícua bibliografia sobre matérias relacionadas com a emigração lusa, recentemente publicou o livro O Conselho das Comunidades Portuguesas - Espaço de Utopia e Experimentação. Uma obra dedicada à génese do órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro, no qual a pioneira dos direitos dos emigrantes portugueses, teve um papel estruturante. Uma obra reflexiva, assente na noção do dever de memória, porquanto contribui amplamente para um conhecimento mais aprofundado sobre a criação, as etapas, os momentos e os contributos de um órgão que nas palavras abalizadas da autora tem como «vocação originária: ser uma "assembleia" verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas». Um livro que é igualmente um testemunho de compromisso incondicional com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da pátria de Camões, e concomitantemente de respeito pelo passado, de crença no presente e de esperança no futuro das comunidades portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras. Quando ainda há poucos dias cerca de 1,5 milhões de compatriotas residentes no estrangeiro escolheram os 90 membros do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). O livro recentemente publicado por Maria Manuela Aguiar, na esteira do seu percurso de vida, assume-se, não só como um instrumento incontornável para a compreensão do CCP, mas também como um valioso contributo para o estudo e entendimento da emigração portuguesa. Comungando do pensamento do escritor argentino Jorge Luís Borges, “o livro é a grande memória dos séculos... se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem”, podemos crer que a memória e a história do CCP e da emigração portuguesa ficam assim prodigamente enriquecidas e salvaguardas.

domingo, 5 de novembro de 2023

Historiador Daniel Bastos participa em colóquio sobre os 70 anos da comunidade portuguesa em Montreal (Canadá)

Nos dias 18 e 19 de novembro, o escritor e historiador fafense Daniel Bastos, autor de vários livros que retratam a história da emigração portuguesa, participa em Montreal, a maior cidade da província de Quebeque, no Canadá, onde vivem mais de 75 mil portugueses e lusodescendentes, no colóquio “70 Anos da Comunidade”. No decurso da iniciativa, promovida pela LusoPresse e LusaQTV, dois relevantes órgãos de informação da comunidade portuguesa em Montreal, e que decorrerá na Casa dos Açores do Quebeque, Daniel Bastos apresentará uma comunicação intitulada “O Empreendedorismo e Solidariedade das Comunidades Portuguesas”. Procurando assim, no espírito do colóquio refletir sobre o passado, presente e futuro das comunidades luso-canadianas, que se destacam atualmente na América do Norte pela sua dinâmica associativa, económica e sociopolítica, e cujas raízes remontam a um grupo pioneiro de emigrantes portugueses que desembarcaram a 13 de maio de 1953, em Halifax, na Nova Escócia. Refira-se que no ano passado, no âmbito dos Prémios Corte-Real 2022, criados em 2016 pelo jornal LusoPresse de forma premiar o mérito comunitário de elementos distintivos de entre toda a comunidade portuguesa do Quebeque, o historiador natural de Fafe foi distinguido com o Prémio Corte-Real Reconhecimento. Historiador, escritor e professor, Daniel Bastos, colaborador do BOMDIA, é atualmente consultor do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, e da rede museológica virtual das comunidades portuguesas, instituída pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, que pretende criar uma plataforma entre diversos núcleos museológicos, arquivos e coleções respeitantes à história e à memória, à vida e às perspetivas de futuro dos portugueses que vivem e trabalham fora do seu país.

Os 50 anos do programa de estudos portugueses na Universidade de São José na Califórnia

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. A grande maioria da população luso-americana trabalha por conta de outrem, na indústria, mas são já muitos os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades políticas. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, proliferam centenas de associações recreativas e culturais, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais, e sociedades de beneficência e religiosas. Este espírito genuíno de portugalidade encontra-se paradigmaticamente plasmado na comunidade portuguesa de São José, onde se econtra a maior concentração urbana portuguesa na Califórnia. Ainda no ano transato, aquando da visita do mais alto magistrado da Nação às comunidades luso-americanas da Califórnia, cujo programa computou a ida à missa na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, em São José, Marcelo Rebelo de Sousa constatou in loco a dinâmica notável deste importante centro da emigração portuguesa na Califórnia. Na saída da missa, o Presidente da República, perante os jornalistas, mostrou-se então impressionado e emocionado com “este encontro de portugueses, em língua portuguesa, com os cânticos portugueses, pessoas de todas as gerações, num número tão elevado”, com esta “comunidade tão forte” em São José. Na linha de pensamento do Chefe de Estado, uma das características mais salientes da comunidade luso-americana em São José, é indubitavelmente os esforços que a mesma, ao longo dos anos, tem levado a cabo na promoção do ensino do português. Uma mais-valia incalculável para a manutenção da vitalidade e dos vínculos da comunidade à pátria de origem, assim como para a magistratura de influência de Portugal na principal potência mundial. Esforços na promoção do ensino do português, que ganham ainda maior relevância num período de nítido envelhecimento da comunidade portuguesa em São José, na esteira das demais comunidades luso-americanas, dada a acentuada redução do fluxo emigratório para os Estados Unidos. Esforços que se encontram vertidos ao longo das últimas décadas no programa de estudos portugueses na Universidade de São José (SJSU), uma das mais antigas e relevantes instituições públicas de ensino superior da costa oeste da América, que no ocaso do mês passado celebrou 50 anos de existência. A efeméride, que congregou várias forças vivas da comunidade luso-americana de São José, constituiu um momento propício para projetar o passado, o presente e o futuro deste programa estruturante na promoção do ensino do português no meio académico californiano. Desde logo, proporcionou reviver a ação fundadora de três importantes líderes comunitários, os dentistas Décio Oliveira e Manuel Bettencourt, e o advogado Joe Mattos, que conseguiram firmar o programa junto da SJSU, com a condição sine qua non da comunidade portuguesa financiar as despesas inerentes ao mesmo e assegurar o número suficiente de alunos ao seu profícuo funcionamento. Simultaneamente, o quinquagésimo aniversário do programa de estudos portugueses na Universidade de São José na Califórnia, possibilitou enaltecer o trabalho fundamental dos docentes da língua portuguesa na instituição. Mormente, o labor pioneiro da Irmã Maria Amélia, dos professores Heraldo da Silva e Virgínia da Luz Tarver, e mais recentemente, da professora Deolinda Adão e do hodierno diretor do programa, professor Duarte Pinheiro, responsável por um projeto que conta atualmente com cerca de meia centena de discentes.
O comendador Manuel Bettencourt, no decurso dos 50 anos do programa de estudos portugueses na Universidade de São José na Califórnia, doou meio milhão de dólares para a prossecução deste relevante projeto linguístico e cultural da comunidade luso-americana Honrando o passado, mas norteado no presente e na construção do futuro, o comendador Manuel Bettencourt, figura basilar das comemorações da efeméride. E uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa na Califórnia, conhecido profissional de medicina dentária, natural da ilha Graciosa, arquipélago dos Açores, que emigrou para a América no final dos anos 60 em demanda de melhores condições de vida, e cuja graduação foi obtida na SJSU, anunciou a doação de meio milhão de dólares para a prossecução do programa de estudos portugueses na Universidade de São José na Califórnia. No passado, como no presente, mas sobretudo já com os olhos colocados no futuro, o destacado líder comunitário e dentista atualmente reformado, que sempre trabalhou de perto com os seus compatriotas, e demonstrou ao longo da sua vida uma faceta de apoio aos mais necessitados, continua assim a contribuir decisivamente para a manutenção do programa de estudos portugueses. E quiçá a inspirar outros luso-americanos a investir generosamente no ensino da língua portuguesa na Universidade de São José, um caminho fundamental para a união, coesão e porvir da comunidade portuguesa na Califórnia. Recorde-se que no alvorecer do séc. XXI, a Universidade de São José na Califórnia, instituição que conta no presente com mais de 30 mil alunos matriculados em mais de 100 programas de bacharelato e mestrado, e se distingue por possuir a população estudantil etnicamente mais diversa nos Estados Unidos, firmou uma parceria com a Universidade dos Açores, estabelecimento público de ensino superior de referência no território arquipelágico de origem da maioria dos membros da comunidade portuguesa em São José. Nesse sentido, o exemplo de vida e o recente gesto de incomensurável generosidade do comendador Manuel Bettencourt, em prol da comunidade luso-americana, eleva o alto sentimento patriótico adensado no pensamento de uma das figuras centrais da língua portuguesa, Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa”.

domingo, 29 de outubro de 2023

Joel Filipe: um sindicalista e benemérito da comunidade portuguesa em Toronto

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível associativo, cultural, económico e político. Nos vários exemplos de portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Joel Filipe, um dos mais conhecidos dirigentes sindicais da comunidade portuguesa em Toronto. Natural de Atouguia da Baleia, freguesia do município de Peniche, Joel Filipe emigrou para o Canadá ainda adolescente na companhia da figura paterna, na esteira de milhares de compatriotas, em demanda de melhores condições de vida no decurso da vigência do regime salazarista em Portugal. A chegada a Toronto, capital da província de Ontário, assinalou o início de um percurso de vida indelevelmente ligado ao setor da construção civil. Primeiro como trabalhador da construção, experiência profissional marcante que em 2006 o catapultou para a direção do CCWU (Canadian Construction Workers Union), e em 2010 o impeliu a assumir a presidência desta relevante estrutura sindical de trabalhadores da construção no território canadiano. Uma estrutura sindical, que em 2012 passou a integrar a Liuna Local 183, o mais forte sindicato da construção civil da América do Norte, atualmente presidido por outro incontornável dirigente sindical com raízes portugueses, Jack Oliveira. Um dos aspetos mais salientes do percurso de vida do emigrante e dirigente sindical natural de Atouguia da Baleia, encontra-se nos seus vínculos ao movimento associativo português em Toronto. Como corrobora o papel importante que teve na fundação em 1981 do Peniche Community Club of Toronto, uma agremiação que tendo mantido desde a sua origem uma forte ligação à prática do futebol, tem nos últimos anos desempenhado uma significativa componente social e recreativa, em particular, junto dos emigrantes seniores naturais do litoral da região oeste. O papel marcante que Joel Filipe teve na criação nos anos 80 do Peniche Community Club of Toronto, esteve na base das homenagens que o mesmo foi alvo, quer no 35.º aniversário da associação luso-canadiana, assim como do “Merit Award”, que recebeu em 2019 na Gala da ACAPO-Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas de Ontário. A sua estreita ligação ao torrão natal, levou inclusive a que em 2020 fosse distinguido pela Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia pelo “seu envolvimento pessoal nas questões sociais e culturais da Freguesia, e também pelo seu amor à sua terra natal”. O reiterado orgulho que nutre pelas suas raízes, e que o levam todos os anos ao torrão natal, assim como o constante apoio que confere a várias instituições de solidariedade social da sua freguesia e município, concorreram para que a edilidade penichense lhe tenha já atribuído a medalha de mérito municipal. Um galardão, atribuído a indivíduos ou entidades que pelos seus feitos ou ações no âmbito da assistência, da solidariedade social ou do altruísmo, contribuam para a promoção social da comunidade penichense. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o exemplo de vida do dirigente associativo, sindicalista e benemérito social Joel Filipe, inspira-nos a máxima de uma das personagens mais significativas do século XX, Winston Churchill: “Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos”.

sábado, 21 de outubro de 2023

In memoriam Comendador António Fernandes Barros

No passado dia 19 de outubro, assinalou-se o 98.º aniversário natalício do saudoso Comendador António Fernandes Barros (1925-2015), uma das figuras mais reconhecidas do associativismo de matriz minhota na comunidade portuguesa em São Paulo. Natural da freguesia de Antime, município de Fafe, na região do Baixo Minho, onde concluiu a instrução primária, e trabalhou durante a adolescência na Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, antiga fábrica têxtil que chegou a ser uma das maiores do Norte com mais de 2000 operários, António Fernandes Barros emigrou para o Brasil em 1957. Tendo-se estabelecido em São Paulo, a maior cidade do Brasil, onde iniciou um percurso empresarial de sucesso na área das transações comerciais, foi, no entanto, no campo associativo, cultural e na promoção da língua portuguesa, sempre em interligação com o seu torrão natal, que o emigrante fafense se tornou uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa na capital paulista. No seu profícuo currículo associativo e cultural luso-brasileiro, destaca-se, entre outros, a ligação ao Centro de Estudos Históricos Pedro Álvares Cabral, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Pesquisas Hospitalares, ao Centro de Estudos Fernando Pessoa, à Casa de Portugal de São Paulo, à Associação Portuguesa de Desportos e ao Elos Clube de São Paulo. A sua impagável experiência associativa e cultural luso-brasileira, em consonância com um profundo apego à terra que o viu nascer, foi de enorme importância para a fundação nos anos 90, da Casa da Cultura Portuguesa de Porto Seguro, que contou então com apoio do Município de Fafe. Edificada no objetivo principal de proporcionar um espaço privilegiado para pesquisas, projetos culturais e de aprofundamento das relações entre Portugal e o Brasil, a Casa da Cultura Portuguesa de Porto Seguro é constituída por um anfiteatro, biblioteca, museu e o Panteão de Cabral, o primeiro navegador a chegar a terras brasileiras, mormente a Porto Seguro em 22 de abril de 1500. O seu comprometimento e a constante dinamização das relações culturais luso-brasileiras estão na base, nesse período, da atribuição pelo então Presidente da República, Mário Soares, da Ordem de Mérito no Grau de Comendador, destinada a galardoar atos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade. Assim como do título de Cidadão Honorário de Porto Seguro – Estado da Baía, e da Medalha de Prata de Mérito Concelhio da Câmara Municipal de Fafe. De facto, uma das suas características marcantes era a forte ligação que mantinha com as suas raízes, expressa em várias viagens à Sala de Visitas do Minho, e que concorreram para que tenha oferecido uma bola autografada de Pelé, um dos maiores jogadores da história do futebol, ao Operário Futebol Clube (OFC) de Antime, coletividade da qual foi sócio fundador, juntamente com camisolas do Santos Clube Futebol, um dos maiores clubes de futebol do Brasil. Bem como, tenha doado ainda em vida, o distintivo da Ordem de Mérito ao Museu das Migrações e das Comunidades. Um espaço museológico, sediado em Fafe, cuja missão assenta no estudo, preservação e comunicação das expressões materiais e simbólicas da emigração portuguesa, detendo-se particularmente na emigração para o Brasil do século XIX e primeiras décadas do XX, e na emigração para os países europeus da segunda metade do século XX. Uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa em São Paulo, o percurso de vida e o inestimável contributo do saudoso Comendador António Fernandes Barros para o aprofundamento das relações culturais Brasil – Portugal, rememora a ligação umbilical entre os dois povos irmãos, singularmente anotada por Eça de Queirós: “O Brasileiro é o Português – dilatado pelo calor”.

sábado, 14 de outubro de 2023

A (re)valorização da emigração na literatura portuguesa

Nos últimos anos o panorama literário sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto expressivo de obras de autores nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro, que através do mundo dos livros têm dado um importante contributo para o conhecimento de múltiplas dimensões da realidade emigratória portuguesa. Um dos exemplos mais recentes, que asseveram a importância destas obras no campo da mundividência da emigração nacional, encontra-se vertida na coletânea de contos da autoria de 30 autores da diáspora, Contos daqui e d’além. O livro dado agora à estampa, é um novo contributo da Oxalá Editora, uma editora na Alemanha, vocacionada para a publicação da obra de autores da diáspora, dirigida pelo jornalista, autor e editor Mário GM dos Santos. Coordenada pela escritora São Gonçalves, atualmente a residir no Luxemburgo, e com prefácio do antigo Ministro da Cultura e conhecido poeta Luís Filipe Castro Mendes, que hodiernamente preside ao conselho de consultores da rede museológica digital dedicada à emigração portuguesa, a obra conta com a colaboração de 30 autores que residem em diversos países. Mormente, Alexandre Matoso (Luxemburgo), Amilton Conte (Luxemburgo), António Magalhães (Inglaterra), António Topa (França), Bernard P. Trigo (Alemanha), Carla Magalhães (Alemanha), Cristina Marques dos Reis (Alemanha), Dévora Cortinhal (Luxemburgo), Duarte Faro (Luxemburgo), Fátima Ferreira (França), Gabriela Ruivo (Inglaterra), Helena Zefanias (Espanha), Jorge Antunes (Luxemburgo), Lese Costa Pinto (Canadá), Luís Galveias (Luxemburgo), Luísa Coelho (Alemanha), Luísa Semedo (França), Luz Marina Kratt (Alemanha), Margarida Nogueira (Inglaterra), Margarida Nörenberg (Alemanha), Maria Auta (Alemanha), Maria Letras (Inglaterra), Marília Andrea (Alemanha), Mikael Oliveira (França), Paula de Lemos (Alemanha), Paula Sá Carvalho (Luxemburgo), Sandra Amado (Luxemburgo), Sarah Virgi (Holanda), Sofia Gomes (Alemanha) e Sónia Micaelo (Bélgica). Como salienta Luís Filipe Castro Mendes no prefácio da obra: “Os contos incluídos neste livro apresentam uma grande variedade de temas, de pontos de vista, de imaginários e até de qualidade literária. (…) Os seus autores vivem e convivem com diferentes situações de pertença dividida (entre a sua pátria e o seu país de acolhimento), que geram igualmente respostas diversas e diferenciadas”. Neste sentido, a trintena de contos assinados pelos autores, muitos deles já com obra publicada em Portugal, outros dão agora pela primeira vez passos no campo da ficção, não deixam de representar um relevante contributo para o conhecimento do fenómeno da emigração portuguesa. Um fenómeno complexo, que nas palavras abalizadas do saudoso pensador Eduardo Loureço, nos “põe em causa, a diversos níveis, de maneira indirecta, a imagem de nós mesmos, mas por isso deve ser apreendida na sua verdade, de maneira adulta e não servir de pretexto como serve a muita gente, a fantasmas colectivos, uns positivos outros negativos, que têm pouco a ver com ela”. Tanto que, como assegura o poeta e dirigente do conselho de consultores da rede museológica digital dedicada à emigração portuguesa no prefácio da obra, esta “coleção de textos literários da nossa diáspora (…) reflete pontos de vista bem atuais e sem preconceitos sobre o mundo e a vida destes nossos compatriotas”.

sábado, 7 de outubro de 2023

A filantropia da diáspora em prol dos Bombeiros

Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações. Exemplos de altruísmo e de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta crónica de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações. Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos das crises económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações. Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado na filantropia do emigrante luso-americano José Luís Vale, natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém. Conhecido por cultivar a simplicidade, discrição e humildade, assim como os valores da família, a firmeza da amizade e o apego às raízes, o empresário na área da construção civil no estado norte-americano de Nova Jérsia tem nas últimas décadas dinamizado um conjunto significativo de iniciativas de apoios aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma entidade de utilidade pública e carácter humanitário que remonta aos primórdios da Primeira República. A singular benemerência do empresário luso-americano, ele que foi também bombeiro em Ourém antes de se ter fixado em Newark, a cidade mais populosa do estado de Nova Jérsia, tem possibilitado encontrar formas e meios para apetrechar os Bombeiros Voluntários do concelho do Médio Tejo.
O emigrante José Luís Vale, no quartel dos Bombeiros Voluntários de Ourém que ao longo dos últimos anos tem sido apetrechado pelo benemérito luso-americano Entre as várias iniciativas, destaca-se por exemplo, a que dinamizou em 2016 no PISC, clube português da cidade de Elizabeth, que juntou centenas de conterrâneos e compatriotas, e que permitiu angariar 50 mil dólares que reverteram para os Bombeiros Voluntários de Ourém. O emigrante José Luís Vale, no quartel dos Bombeiros Voluntários de Ourém que ao longo dos últimos anos tem sido apetrechado pelo benemérito luso-americano A sua constante e desprendida generosidade com os Bombeiros de Ourém, contribuiu para que no âmbito do 106.º aniversário da corporação humanitária, a chegada de um novo Veículo Florestal de Combate e Incêndios (VFCI-10) fosse apadrinhado pelo casal José Luís Vale e Edite, tendo o mesmo sido benzido com o nome de “Golden Eagle – Comunidade Luso-Americana”. O espírito perseverante e solidário de José Luís Vale, tem impelido amiúde a corporação oureense a homenageá-lo e a enaltecer diversas vezes o a sua filantropia. Assim como, a Liga dos Bombeiros Portugueses, que lhe atribuiu em 2019, a Medalha de Serviços Distintos – Grau Ouro. Uma condecoração justa e merecida, que se destina a galardoar elementos dos Corpos de Bombeiros, dirigentes dos órgãos sociais das entidades detentoras de Corpos de Bombeiros e das Federações Regionais ou Distritais de Bombeiros e Liga dos Bombeiros Portugueses. Bem como indivíduos e entidades da sociedade civil, pela prática de Serviços Distintos que contribuíram com notável evidência para o engrandecimento e prestígio das instituições de Proteção e Socorro. A insigne filantropia do emigrante luso-americano José Luís Vale em prol dos Bombeiros, na esteira de outros notáveis exemplos que foram ou estão a ser dinamizados no seio da diáspora, evidenciam o cunho solidário de vários compatriotas espalhados pelo mundo e alentam a máxima da poeta e escritora Iara Schmegel: “Bombeiros, aqueles que acendem a chama da esperança”.

sábado, 30 de setembro de 2023

Magellan Community Centre: o futuro da(s) comunidade(s)

Dentro dos desafios e problemáticas que as sociedades ocidentais enfrentam na atualidade, o envelhecimento populacional assume uma cada vez maior premência, dadas as suas implicações coletivas e multidimensionais, como é o caso, do mercado laboral, da proteção social, das estruturas familiares e dos laços intergeracionais. Como apontam as Nações Unidas, o número de pessoas, com 60 anos ou mais, deve duplicar até 2050 e mais do que triplicar até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050 e 3,1 mil milhões em 2100. Se o envelhecimento populacional é um fenómeno impactante, na Europa assume maiores proporções, até porque, hoje em dia, o velho continente tem a maior percentagem da população com 60 anos ou mais (25%). No quadro do inverno demográfico mundial e europeu, a sociedade portuguesa é uma das mais afetadas, apontando mesmo o Instituto Nacional de Estatística (INE) que quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos dentro de meio século. Este cenário de envelhecimento da população que reside no território nacional, também é visível no seio das comunidades lusas, em particular, nos países com maior e mais antiga tradição de emigração portuguesa. Segundo o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes aumentou, por exemplo, no Canadá “11 pontos percentuais, passando de 17% para 28%, entre 2001 e 2011, e nos EUA aumentou sete pontos percentuais, de 16% para 23%. O crescimento elevado da percentagem dos seniores é ainda observável entre os emigrantes portugueses em França, o destino europeu mais antigo do fluxo migratório nacional. Essa percentagem duplicou, passando de 8% para 16% entre 2002 e 2011”. É neste contexto de populações nacionais emigradas cada mais envelhecidas, que ganha especial relevância o projeto que está a ser dinamizado na comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Designadamente, a construção a breve prazo de um centro, o Magellan Community Centre, orçado em vários milhões de dólares, capaz de acolher mais de 200 seniores, especialmente direcionado para a comunidade lusa. Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, em homenagem ao navegador português, que através da colaboração do poder político e da solidariedade da comunidade luso-canadiana, está a contruir um lar culturalmente específico que irá dispor de profissionais de saúde que falem português. E dinamizará atividades cultural e espiritualmente em ambiente cultural sensível, e promoverá programas sociais e recreativos em português e alimentação que incluirá pratos tradicionais. Numa época de galopante envelhecimento da população, a construção de uma “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana, demonstra desde logo que o espírito de solidariedade e entreajuda ainda é uma das principais marcas da diáspora, em particular, da comunidade portuguesa em Toronto. Tendo sido lançada a primeira pedra da obra emblemática, no passado dia 16 de setembro, uma cerimónia simbólica que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito de uma visita oficial do Chefe de Estado às comunidades portuguesas no Canadá, coincidente com as celebrações dos 70 anos da chegada dos primeiros emigrantes lusos ao segundo maior país em extensão territorial. A angariação de fundos no seio da comunidade luso-canadiana para que este “barco chegue a bom porto", é uma das missões insistentes dos diretores da Magellen Community Charities, que com mais ou menos dificuldades, têm conseguido chegar ao âmago dos empresários, dirigentes associativos e milhares de emigrantes portugueses em Toronto. A presença simbólica e marcante do mais alto magistrado da Nação na cerimónia de lançamento da primeira pedra da obra, não deixa de ser o reconhecimento da mais-valia indubitável do empreendimento para o futuro da comunidade. Assim como um compromisso de apoio do estado português a um projeto representativo, e seguramente inspirador no caminho que deve ser prosseguido por outras comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Como salientou o comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, e presidente da Direção do Magellan Community Centre, a participação do Presidente da República no lançamento da primeira pedra da obra, permitiu ao mais alto representante da pátria de origem ficar “com uma perceção daquilo que é a comunidade portuguesa neste país que nos acolhe desde há 70 anos. No fim de contas, talvez com esta visita o Presidente Marcelo e toda a comitiva ajudem a mostrar ao resto do mundo onde há portugueses, quem somos nós aqui no Canadá”.

domingo, 24 de setembro de 2023

John Guedes: um emigrante benemérito que não esquece as suas raízes

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada nos EUA e ascenderam na escala social graças ao trabalho, ao mérito e ao empenho, destaca-se o exemplo inspirador de empreendedorismo e benemérito de John Guedes. Natural de Vilas Boas, uma freguesia do concelho de Chaves, João Guedes emigrou para a América no alvorecer da década de 1960, numa época em que o fardo da pobreza, da interioridade e a estreiteza de horizontes na região trasmontana durante o Estado Novo compeliu uma forte vaga migratória para o centro da Europa e para a América. Empresário de sucesso há meio século em Bridgeport, a cidade mais populosa do estado americano do Connecticut, onde gere uma firma de arquitetura especializada em projetos de construção de escritórios comerciais, multiresidenciais e médicos, o arquiteto luso-americano natural da freguesia flaviense de Vilas Boas, tem mantido um constate apego à região trasmontana. Ao longo dos últimos anos, o espírito generoso de John Guedes tem dado um contributo fundamental para a prossecução da missão humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vidago. Em 2007 doou um monitor de sinais vitais, no ano seguinte ofereceu uma Ambulância de Socorro devidamente equipada, no valor de 60.000.00 euros; em 2017 concedeu à corporação um donativo para equipar todo o Corpo de Bombeiros com farda número 2 e ainda no alvorecer deste ano possibilitou a aquisição de uma viatura de comando e duas destinadas a transporte de doentes não urgentes. Em reconhecimento do valioso apoio emigrante benemérito luso-americano, a corporação transmontana e a Liga dos Bombeiros Portugueses distinguiram em maio, no Dia do Bombeiro e no decurso da sessão solene de apresentação do Livro “55 Anos dos Bombeiros de Vidago”, John Guedes com o Crachá de Ouro. Uma das mais importantes distinções honoríficas instituídas pela Liga dos Bombeiros Portugueses, que tem por finalidade galardoar a prática de atos e/ou serviços relevantes de inquestionável contributo para a dignificação da Causa dos Bombeiros. Ao longo dos últimos anos, o espírito generoso de John Guedes tem-se estendido também ao Patronato de São José, em Vilar de Nantes, uma instituição flaviense de solidariedade que acolhe crianças do sexo feminino. E recentemente, em agosto, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a visita do Papa Francisco a Portugal, um acontecimento religioso e cultural que reuniu centenas de milhares de jovens de todo o mundo, durante cerca de uma semana, o emigrante benemérito luso-americano custeou toda a logística inerente à participação de mais de três dezenas de jovens transmontanos. Naturais das povoações Vidago, Boticas, Vilela do Tâmega, Loivos, Vilarinho das Paranheiras e Adães, os jovens transmontanos obtiveram assim uma experiência marcante que lhes possibilitou conhecer outros jovens de diferentes continentes, garças ao espírito generoso e solidário do ilustre compatrício. Uma das figuras mais gradas da comunidade luso-americana, o exemplo de vida de John Guedes, emigrante benemérito que não esquece as suas raízes, rememora a máxima do ensaísta e poeta de origem libanesa Khalil Gibran: “A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu”.

domingo, 17 de setembro de 2023

Deolinda Adão: uma fautora da cultura e língua portuguesa na Califórnia

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo. Nos vários exemplos de fautores da cultura e língua de Camões na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos, o percurso altruísta e consagrado da professora Deolinda Adão, na Califórnia. Dotada de uma forte personalidade e de uma grande sensibilidade, Deolinda Adão chegou, na companhia dos pais, ao estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos da América, no princípio da década de 1970. Estabelecida inicialmente em Albany, uma cidade localizada no estado americano da Califórnia, no condado de Alameda, perante um contexto sociocultural diametralmente oposto ao da pátria de origem, porquanto no decurso da ditadura portuguesa a mulher era educada para ser essencialmente uma mãe extremosa, uma esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar, submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido. Deolinda Adão, concluiu no território norte-americano, durante a adolescência, os estudos liceais, tendo mais tarde concluído a licenciatura, mestrado e doutoramento em Literaturas e Culturas Luso-Afro-Brasileiras pela Universidade de Berkeley, uma das mais importantes e prestigiadas universidades do mundo, onde até aos dias de hoje tem construído uma sustentada carreira académica. Professora e Diretora Executiva do Programa de Estudos Portugueses na Universidade da Califórnia, em Berkeley. A sua especialização em mulheres, género e sexualidade, na esteira da sua dissertação “A study of the construction of feminine identity in Portuguese literature”, tem-na impulsionado a publicar regularmente livros e artigos sobre o género feminino. A sua abordagem e dedicação académica tem sido de enorme relevância para a língua e cultura lusa, com especial destaque no contexto da emigração portuguesa na Califórnia. Um dos lados, como refere Irene Vaquinhas, uma das mais conceituadas investigadoras no domínio da História das mulheres e do género, “menos conhecido e estudado do fenómeno migratório”. Eleita, em 2018, Presidente da Luso-American Education Foundation, organização da qual já era membro desde os anos 90, e que tem como missão promover a cultura e língua portuguesa na Califórnia, Deolinda Adão integra desde 2013 o Conselho da Diáspora Portuguesa. Uma associação sem fins lucrativos, constituída em 2012, com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa, e cujo propósito demanda estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e luso-descendentes (residentes fora do país há mais de três anos), para que estes através do seu mérito e influência contribuam para a afirmação universal dos valores e cultura portuguesa, bem como para a elevação e reforço permanente da reputação do país. Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade académica luso-americana, a eminente académica foi recentemente uma das dez personalidades distinguidas com a Medalha de Mérito Científico 2023. Uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que periodicamente galardoa individualidades nacionais ou estrangeiras que, pelas elevadas qualidades profissionais e de cumprimento do dever, e que se tenham distinguido por valioso e excecional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal. Sem nunca esquecer as suas raízes, e nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o exemplo de vida e a profícua carreira académica de Deolinda Adão, relembra-nos o pensamento do insigne pedagogo português Agostinho da Silva: “O professor deve sempre aparecer ao seu discípulo como uma pessoa de cultura perfeita; por cultura perfeita entenderemos tudo o que pode contribuir para lhe dar uma base moral inabalável, sem subserviências nem compromissos”.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

História das emigrações italiana e portuguesa no Luxemburgo

No conjunto dos vários projetos que têm sido dinamizados no campo da emigração portuguesa destaca-se atualmente o projeto “Moving Lusitalia”, implementado no bairro Italie, na cidade de Dudelange, no Luxemburgo, e cujo principal objetivo passa por evidenciar a história das emigrações italiana e portuguesa, olhando também para os novos fluxos migratórios. Criado no âmbito da Capital Europeia da Cultura Esch-sur-Alzette 2022, e coordenado pela portuguesa Heidi Martins, investigadora no Centro de Documentação sobre Migrações Humanas (CDMH), e pela italiana Chiara Ligi, artista e produtora criativa focada em património cultural imaterial e questões sociais. As cientistas sociais têm demandado ao longo dos últimos anos reavivar histórias de vida de emigrantes italianos e portugueses ligados à siderurgia e ao trabalho mineiro no Luxemburgo. No caso específico da emigração portuguesa para o Luxemburgo, o projeto tem o condão de realçar o peso estruturante e histórico da comunidade lusa no Luxemburgo, a maior comunidade no Grão-Ducado, representando cerca de 20% da população total deste país situado na Europa Ocidental, limitado pela Bélgica, França e Alemanha. Um fluxo emigratório que começou no fim da década de 1950, época em que se iniciou o fenómeno maciço da emigração portuguesa da segunda metade do séc. XX para os países industrializados da Europa Ocidental, especialmente para França. Um fenómeno marcante na sociedade portuguesa, sobretudo nos anos 60 e 70 durante a ditadura salazarista, quando mais de um milhão de portugueses partiram a “salto” motivados pela procura de melhores condições de vida ou em fuga à Guerra Colonial. Nas décadas de 1960-70, a emigração portuguesa teve um forte impulso assistindo-se à chegada ao Grão-Ducado de milhares de portugueses, homens para trabalhos nas obras, e as mulheres para as limpezas, essencialmente concentrados na cidade do Luxemburgo e no Sul, embora se encontrem dispersos portugueses por todo o território. Mantendo-se como um dos principais destinos da emigração portuguesa, atualmente a dinâmica da emigração lusa para o Grão-Ducado, na linha de outros destinos migratórios, está mais qualificada. Jovens quadros técnicos e científicos portugueses optam cada vez mais por fazer carreira no estrangeiro, como é o caso do Luxemburgo, devido a melhores oportunidades, progressão de carreira e salários, razões que explicam que desde o início do séc. XXI a percentagem dos diplomados do ensino superior na população portuguesa emigrada nos países da OCDE tenha crescido de forma exponencial.

domingo, 10 de setembro de 2023

Festival de Setembro evidenciou odisseia da emigração em Ourém

Entre os dias 8 e 10 de setembro, a Vila Medieval de Ourém voltou a ser palco do Festival de Setembro, um festival multidisciplinar e multicultural que este ano teve como tema “Nós, Migrantes”.
O historiador Daniel Bastos (dir.), acompanhado da vereadora Isabel Costa e do emigrante benemérito luso-americano José Luís Vale, apresentou no decurso do Festival de Setembro, o seu último livro “Comunidades, Emigração e Lusofonia”, e evocou a memória de Gérald Bloncourt, fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa O Festival de Setembro, parte da base identitária de Ourém, cidade e sede de concelho do distrito de Santarém, no centro do país, acolheu em ambiente de fruição cultural durante três dias, iniciativas de cultura, conhecimento e diálogo em torno da diversidade cultural, inspiradas nas trajetórias da emigração oureense para França, Reino Unido, Brasil, Angola, Moçambique, a par de todos os outros destinos do mundo. Entre seminários, conferências, exposições, concertos, teatro, visitas ao património cultural, literatura, cinema, instalações artísticas, artesanato e gastronomia inspirada em países de destino da emigração oureense, o Festival de Setembro, promovido pelo município do Médio Tejo e dinamizado no Castelo e Paço dos Condes de Ourém, evidenciou as migrações como um tema marcante na história portuguesa, declinando-o no passado, presente e futuro.

domingo, 3 de setembro de 2023

John Medeiros: a arte luso-americana da joalharia

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades excecionais de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso de sucesso de John Medeiros, uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana no campo da joalharia. Natural de Lomba do Carro, concelho da Povoação, ilha de São Miguel, João Medeiros emigrou em 1969, com seis anos de idade na companhia dos pais e quatro irmãos, para Providence, capital e cidade mais populosa do estado norte-americano de Rhode Island, onde existe uma grande comunidade de portugueses vindos em grande parte do arquipélago dos Açores, na demanda de melhores condições de vida. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, impeliram desde cedo o jovem povoacense a trabalhar em vários ofícios no território norte americano, sendo que no decurso da década de 1970 entrou pela primeira vez no mundo das joias, como supervisor e responsável por cerca de meia centena de funcionários numa fábrica da especialidade. A paixão pela arte da joalharia, a capacidade de trabalho singular, e a experiência acumulada e reconhecida na área, capacitaram o emigrante açoriano a criar a sua própria empresa de joias amalgamada na inesgotável inspiração de John Medeiros. Através da valorização da joalharia portuguesa, a que não são alheias as constantes e referências e motivos artísticos alusivos aos Açores, de mãos dadas com um design contemporâneo, John Medeiros ao percecionar cada joia como uma peça de arte, única e irrepetível, além de ter elaborado trabalhos para marcas reconhecidas como a Gucci, afamada casa de moda de luxo italiana, desde o ocaso do séc. XX que apenas labora para sua própria coleção de joias, a “John Medeiros Jewelry Collection”, produzida desde a conceção até à conclusão em Providence, Rhode Island. Com cerca de meia centena de colaboradores, e mercados diversificados dentro e fora dos Estados Unidos, o emigrante açoriano continua até aos dias de hoje a reinterpretar a arte milenar da joalharia, desenvolvendo num trabalho de pesquisa e criação, peças que aliam tradição e modernidade. O seu trabalho articulado e minucioso, respeitando a técnica tradicional e um processo criativo de design de excelência que não olvida as raízes, catapulta-o atualmente uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana no campo da joalharia. A trajetória de John Medeiros marcada pelo mérito e pela inovação, concorreram para que há poucos anos fosse distinguido como sendo um dos dez “Portugueses de Valor de 2021,” no âmbito da iniciativa, que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República, anualmente dinamizada pela revista da diáspora Lusopress, um relevante meio de comunicação social da comunidade portuguesa em França. Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade portuguesa em Rhode Island, onde residem mais de 90 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, o percurso de vida inspirador e persistente John Medeiros, profundamente comprometido com a família e o torrão arquipelágico, relembra-nos a máxima da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir: “É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”.

domingo, 27 de agosto de 2023

Eduardo Eusébio: um paladino da língua portuguesa na Califórnia

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo. Nos vários exemplos de dirigentes associativos e fautores da cultura lusa na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos, o percurso notável de Eduardo Eusébio em prol da língua portuguesa na Califórnia. Natural de Fonte do Mouro, em São Brás de Alportel, vila portuguesa no distrito de Faro, onde nasceu em 1944 e frequentou o ensino elementar, a dedicação nos estudos que prossegui em Olhão. E o desejo de conhecer novos lugares e descobrir outras culturas, impeliram no final do ano de 1963 o jovem algarvio a aceitar uma proposta para estudar inglês na Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos da América (EUA). A chegada ao estado mais populoso dos Estados Unidos marcou o início de uma trajetória fulgurante no campo académico, sempre com o foco direcionado para a educação e promoção da língua portuguesa na Califórnia. Docente de português em várias universidades comunitárias, assim como de francês e espanhol no ensino secundário, tendo mesmo ocupado diversos cargos administrativos como diretor, reitor e superintendente de instituições de ensino secundário e universitário, o são-brasense foi, no ocaso dos anos 60, convidado para ser professor assistente na Universidade da Califórnia em Davis. A solidez e diversidade da fulgurante carreira académica de Eduardo Eusébio, não impediram o mesmo de colaborar com a Universidade dos Açores na preparação de professores de português. E levaram-no inclusive, na década de 1990, a ser professor do consagrado ator norte-americano John Travolta, durante a rodagem do filme “Phenomenon” (Fenómeno), que tinha algumas falas na língua de Camões, e cuja personagem portuguesa feminina, por sua sugestão, se chamava Micaela, o nome da sua conterrânea, grande suporte e companheira de vida que tinha emigrado muito jovem para a América. O profundo comprometimento do professor universitário com a comunidade portuguesa na Califórnia, encontra-se plasmado nos alicerces e estruturação ao longo de quatro décadas da Conferência Anual da Luso-American Education Foundation (LAEF), uma organização, fundada em 1963, cuja missão visa a preservação, promoção e divulgação da língua e cultura portuguesa na Califórnia. Constantemente ligado às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e colaborador assíduo em inúmeros estudos e publicações de artigos na área cultural e do movimento associativo, o percurso notável de Eduardo Eusébio em prol da língua portuguesa na Califórnia, foi distinguido no alvorecer dos anos 90, pelo antigo Presidente da República, Mário Soares, que o agraciou com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Uma ordem honorífica portuguesa, que visa distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro, por serviços na expansão da cultura portuguesa, da sua História e dos seus valores. Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade portuguesa na Califórnia, onde residem mais de 300 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, o esforço e dedicação desprendida do comendador Eduardo Eusébio, paladino da língua portuguesa que nunca olvida as suas raízes, lembra-nos a máxima do filósofo e grande idealista alemão Johann Fichte: “A língua de um povo é a sua alma”.

domingo, 20 de agosto de 2023

Monumentos ao Emigrante na Diáspora

A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de reconhecer e homenagear o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem. Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, em Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante «marca na atualidade a paisagem portuguesa», sendo em grande medida o reflexo da «alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras». Menos conhecidos do público em geral, mas não menos repletos de simbolismo e sentimento pátrio, são também vários os exemplos de monumentos aos emigrantes portugueses erigidos ao longo dos anos no seio da Diáspora, perpetuando simultaneamente, o inestimável papel que os mesmos dinamizam nas pátrias de acolhimento, e acalentando a sua filiação à pátria de Camões. Por exemplo, em França, foi inaugurado em 2008, um monumento de homenagem à comunidade portuguesa, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. A obra do escultor português, Rui Chafes, intitulada “Venho de ti/Je viens de toi”, encontra-se instalada no Parc Départemental du Plateau, em Champigny, um antigo enorme bairro de lata que, em plena epopeia da emigração lusa para França nos anos 60, albergou mais de uma dezena de milhares de portugueses. Na América do Norte, onde residem das mais numerosas e dinâmicas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, encontram-se alguns dos mais emblemáticos monumentos que assinalam a herança portuguesa. É o caso do Canadá, cuja comunidade lusa se destaca pela atividade associativa, económica e sociopolítica, e cujas raízes da comunidade portuguesa remontam a 13 de maio de 1953, época do desembarque em Halifax, província de Nova Escócia, dos primeiros emigrantes portugueses. No entrecho deste legado histórico, foi inaugurado em 1978, no âmbito dos 25 anos da presença portuguesa no Canadá, o “Monumentos dos Pioneiros” no High Park. Um monumento de granito e mármore que ocupa desde então um papel basilar nas festividades do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, sempre celebradas fervorosamente pela comunidade luso-canadiana em Toronto, metrópole onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá. Ainda este ano, no âmbito do 70.º aniversário da emigração portuguesa para o Canadá, foi inaugurada na Camões Square em Toronto, espaço simbólico que albergava já monumentos como a Fonte dos Pioneiros Portugueses, um Mural de Azulejos e o Portuguese Canadian Walk of Fame, uma escultura imponente encomendada pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, designada “Anjo da Guarda”. Esculpida em mármore de Estremoz pelo escultor português, Paulo Neves, é composta por sete peças, cada uma delas representativa de uma década de emigração. Mais a sul, no Brasil, onde continua a residir a maior comunidade lusa da América Latina, encontram-se dois exemplos significativos da eternização do fluxo migratório e da importância da presença portuguesa no vasto país sul-americano. Mormente, em Porto Alegre, município e capital do estado mais meridional do Brasil, o Rio Grande do Sul, onde foi inaugurado em 26 de março de 1974, aniversário da cidade, o “Monumento dos Açorianos”, em homenagem à chegada no séc. XVIII dos primeiros sessenta casais açorianos que povoaram a cidade. O monumento majestoso de linhas futuristas, localizado no Largo dos Açorianos, e assinado pelo escultor Carlos Tenius, recentemente restaurado e revitalizado, tem inscrito uma frase lapidar: "Jamais sonhariam aqueles casais açorianos, que da semente que lançavam ao solo nasceria o esplendor desta cidade”. Também no Brasil, mas em agosto de 1996, foi inaugurado em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, o “Monumento ao Povoamento Açoriano”. Construído na cabeceira continental da ponte Pedro Ivo Campos, que liga a Ilha de Santa Catarina ao continente, e assinado pelo artista plástico Guido Heuer, a iniciativa do monumento foi promovida pela Universidade Federal de Santa Catarina (NEA), a Prefeitura Municipal de Florianópolis e o Governo Regional do Açores, constituindo uma singulçar homenagem aos açorianos espalhado pelo sul do Brasil. Estes monumentos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados nas pátrias de acolhimento dos portugueses espalhados pelo mundo, são uma indubitável mais-valia na perpetuação da memória da emigração lusa. Como salientam as investigadoras Eloisa Ramos e Luciana de Oliveira, no artigo Sobre história, memória e patrimônio no Sul do Brasil - monumentos aos açorianos em Porto Alegre e Florianópolis, erigir «monumentos, neste contexto, é comemorar e é, também, prestar homenagem, já que um monumento, como nos diz o Dicionário da língua portuguesa é, em primeiro lugar, “[...] uma obra de arte levantada em honra de alguém, ou para comemorar algum acontecimento notável”».

sábado, 12 de agosto de 2023

José Saldanha: lutador pela liberdade, emigrante e empreendedor

 

Entre 1933 e 1974 vigorou em Portugal um regime autoritário e conservador, designado de Estado Novo, sustentado na força repressiva da polícia política (PIDE), nas amarras da censura e na ausência de liberdade. Um regime idealizado pelo seu principal mentor, Oliveira Salazar, ditador de um país eminentemente rural, pobre, atrasado e analfabeto.

Apesar da repressão e violência foram vários os que se opuseram às ideias do Estado Novo, e instaram na luta política de oposição ao regime em defesa dos ideais da liberdade e da democracia. Entre esses vários lutadores pela liberdade e democracia, muitos deles protagonistas anónimos da história portuguesa, destaca-se o percurso inspirador e singular de José Saldanha, um emigrante empreendedor de sucesso no Brasil.

José Saldanha

Natural de Fafe, concelho localizado na região do Baixo Minho, José Saldanha nasceu em 1929, no ocaso da Primeira República, no seio de uma família comprometida com os ideais democráticos republicanos. Filho do comerciante e político António Saldanha (1904-1978), afamado oposicionista estadonovista no distrito de Braga, inúmeras vezes preso pela PIDE e proprietário do Café Avenida, em Fafe, base dos resistentes antifascistas na Sala de Visitas do Minho, e em várias ocasiões, antecâmara da viagem “a salto” para quem procurava melhores condições de vida, José Saldanha cedo seguiu as pisadas do pai na luta pelos ideais da liberdade e democracia.

Com um percurso educativo que computou a frequência do vetusto Colégio Araújo Lima, na cidade do Porto, José Saldanha foi um elemento ativo do Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD Juvenil) na região nortenha. Na esteira da figura paterna, foi um entusiasta da candidatura oposicionista do general Norton de Matos à Presidência da República em 1949, assim como da candidatura oposicionista de Humberto Delgado, o “General Sem Medo”, em 1958, que acabaria assassinado em 1965 por agentes da PIDE, após ter sido atraído para uma cilada em Badajoz (Espanha).

Em 1961, após no final da década antecedente ter acumulado experiência profissional na área petrolífera em Angola, antiga colónia portuguesa em África, José Saldanha alertado pela ameaça de prisão da PIDE, com o auxílio do pai atravessa clandestinamente o rio Minho, para a Galiza, adquirindo em Vigo o bilhete da passagem de barco para o Brasil.

No vasto país sul-americano, onde continua a residir a maior comunidade lusa da América Latina, o oposicionista e emigrante por motivos políticos conheceu em 1962, no Rio de Janeiro, a brasileira Nilza Saldanha, grande suporte e companheira de vida. Encetando uma carreira fulgurante e bem-sucedida no ramo comercial e empresarial, através da representação de firmas de tecidos que eram exportados para Angola, assim como de representante da Philips e Volkswagen Brasil, orientado a exportação de material elétrico e automóveis para territórios africanos de expressão portuguesa. O emigrante fafense, manteve-se concomitantemente um oposicionista estadonovista ativo no Movimento Nacional Independente (MNI), uma organização criada por Humberto Delgado que visava manter unidas as forças da oposição no combate à ditadura após as fraudulentas eleições de 1958 que elegeram como Presidente da República, Américo Tomás, e impeliram em 1959, Humberto Delgado para o exílio no Brasil.

Nas memórias vivas de José Saldanha, ainda hoje o mesmo revive diversos episódios da sua ligação, enquanto 2.º Secretário do MNI, na luta contra o Estado Novo a partir do Brasil.  Mormente, o facto de ter custeado as despesas das cerimónias fúnebres no Brasil de Arajaryr Campos, cidadã brasileira e Secretária do General Humberto Delgado, assassinada conjuntamente com o herói da liberdade português pela PIDE em 1965. Ou, ter sido, com o seu passaporte que Hermínio da Palma Inácio (1922–2009), conhecido revolucionário que participou em diversas ações subversivas, partiu do Brasil em direção a Portugal, concretizando em 17 de maio de 1967, o histórico assalto da dependência do banco de Portugal da Figueira da Foz, procurando assim financiar as operações antifascistas no exterior.

Neste sentido, o percurso inspirador e singular do nonagenário lutador pela liberdade, emigrante e empreendedor de sucesso no Brasil, profundamente dedicado e estimado pela extensa prole, e que periodicamente regressa ao seu torrão natal para passar as férias e matar saudades, inspira-nos a máxima do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre: Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana, os deuses deixam de poder seja o que for contra esse homem”.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

João Pires: um exemplo de empreendedorismo e humildade na comunidade portuguesa da Califórnia

 

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”).

Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador João Pires, dirigente associativo, criador de gado e produtor de leite no Vale de São Joaquim, um dos centros da emigração portuguesa na Califórnia.

Natural da Ladeira Grande, freguesia da Ribeirinha, Ilha Terceira, emigrou dos Açores na década de 1970, época em que casou com o grande suporte e companheira de vida Cecília Correia, para o sul da Califórnia na esteira transatlântica de milhares de compatriotas em busca de uma vida melhor.

Desde sempre ligado à indústria do leite, e detentor de uma personalidade abnegada, modesta e resiliente, e profundamente comprometida com a família e o trabalho, estabeleceu-se nos anos 80 em Hilmar. E na década seguinte, em Gustine, lançando assim as bases para a criação de uma das maiores e mais modernas leitarias da Califórnia, hoje com mais de dez mil cabeças de gado, contexto que contribui decisivamente para que seja unanimemente reconhecido como um dos mais destacados produtores leiteiros no Condado de Merced.

A trajetória singular de João Pires, que constantemente faz das fraquezas forças, e encontra nas adversidades oportunidades, lemas de vida essenciais para singrar ao longo dos anos num sector que não é imune a crises e dificuldades, foram enaltecidas no ano passado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. No âmbito de uma visita de cinco dias aos principais centros da emigração portuguesa na Califórnia, o chefe de Estado atribuiu, no salão português de Gustine, ao emigrante açoriano a comenda da Ordem do Mérito, destinada a galardoar atos ou serviços meritórios no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade.

No decurso da cerimónia, o mais alto magistrado da Nação, explicou a atribuição do galardão com termos devidamente elucidativos: «havia muitas pessoas que mereciam ser condecoradas», nesta região, mas "quis encontrar alguém que é muito humilde, fala pouco, faz muito mas fala pouco, está sempre presente. Ele é um grande empresário, produtor aqui, mas sobretudo tem ajudado muito, muito as associações aqui».

De facto, o sucesso que o emigrante terceirense alcançou ao longo dos últimos anos no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de um apoio constante à comunidade luso-americana. Por exemplo, o comendador João Pires é um dos grandes beneméritos das Festas do Espírito Santo na Califórnia, sendo desde os anos 90, tesoureiro da Festa do Espírito Santo de Gustine.

Esta ligação marcante à Festa do Espírito Santo, uma das características indeléveis da cultura açoriana, concorrem para que o mesmo não olvide as suas raízes e seja igualmente um conhecido benemérito e padroeiro na sua terra natal. Ainda em 2017, no seguimento das comemorações do Divino Espírito Santo na Ladeira Grande, o casal Cecília e João Pires ofereceu à freguesia três touradas à corda.

Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade luso-americana da Califórnia, o exemplo de empreendedorismo e humildade do comendador João Pires, inspira-nos a máxima do escritor indiano Rabindranath Tagore: “Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza”.

 

 

terça-feira, 25 de julho de 2023

Mapril Batista: um emigrante empreendedor de referência na comunidade portuguesa em França

 

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.

Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador Mapril Batista.

Natural do Bombarral, distrito de Leiria, Mapril Batista partiu para França em 1963, com seis anos de idade, na companhia da mãe e do irmão mais velho, ao encontro da figura paterna que emigrara a “salto” em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde, na esteira da larga maioria da população que durante a ditadura portuguesa vivia na pobreza.

Revelando desde muito cedo um espírito empreendedor, assim como uma personalidade abnegada e profundamente comprometida com o trabalho, o jovem bombarralense iniciou na década de 70 um trajeto socioprofissional que o catapultou para um dos empresários de referência da comunidade portuguesa em França.

Em 1976, após ter andado na escola até aos 16 anos, e tendo trabalhado numa companhia a montar telefones e noutra firma como chefe de equipa de pedreiros, Mapril Batista entrou numa empresa como motorista de ambulâncias. Nesse mesmo ano, casou com Maria de Lurdes Carruço, grande suporte e companheira de vida, e rapidamente redimensionou o modo de funcionamento da empresa, experiência que o impulsionou no final dessa década a lançar-se por conta própria nos serviços de transporte de doentes.

A sua notável capacidade empreendedora contribuiu para que nos anos 90 chegasse a ter 17 firmas, três centenas de funcionários e mais de 300 ambulâncias a circular nas estradas gaulesas, consolidando-se nesse período como um profissional de referência nos transportes sanitários em França.

Empresário multifacetado, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, premissas que estão na base do prémio COTEC Portugal, que recebeu em 2013 das mãos do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Assim como, das insígnias da Ordem de Mérito, grau de Comendador, que lhe foram atribuídas pelas autoridades portuguesas em 2018, Mapril Batista fundou no alvorecer do séc. XXI a “Les Dauphins”.

 Uma empresa de fabrico e venda de ambulâncias adaptadas, que transaciona atualmente mais de mil veículos por ano e colocou já nas estradas gaulesas mais de 10 mil viaturas, com a particularidade, das viaturas serem todas fabricadas em Portugal. Contexto que concorre indelevelmente para que Mapril Batista seja conhecido como o “rei das ambulâncias”.

O sucesso que o emigrante bombarralense alcançou ao longo das últimas décadas, tem sido acompanhado de um apoio constante à comunidade luso-francesa. Destacando-se, entre outros, o seu relevante trabalho em campanhas solidárias dinamizadas no Lions Club de Montfermeil Coubron, e na Academia do Bacalhau de Paris. O seu papel cívico e político enquanto vereador e conselheiro na Câmara Municipal de Pomponne, comuna francesa localizada na região administrativa da Île-de-France, no departamento Sena e Marne. E a liderança, nos anos mais recentes, do Lusitanos de Saint-Maur, uma equipa de futebol dos arredores de Paris, representativa da comunidade portuguesa em França.

Entre os aspetos mais proeminentes do comendador Mapril Batista, um homem sempre ligado à família, sobressai ainda na sua dimensão benemérita, o profundo apego às suas raízes. Ainda no ocaso do ano de 2021, a delegação da Lourinhã da Cruz Vermelha Portuguesa foi contemplada, pelo empresário da “Les Dauphins”, com um VDTD - Veículo Destinado ao Transporte de Doentes não-urgentes. Não por acaso, Mapril Batista foi já distinguido pelos Municípios da Lourinhã e da Figueira da Foz, com as respetivas Medalhas da Cidade, como forma de reconhecimento pelo altruísmo e constante generosidade em prol destas populações.

Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, o exemplo de vida do emigrante empreendedor e benemérito Mapril Batista, inspira-nos a máxima do filósofo Albert Schweitzer: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros – é a única”.