Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 31 de maio de 2020

10 de junho, um dia de reflexão sobre o futuro das Comunidades Portuguesas


Perante as circunstâncias atuais da pandemia Covid-19, cujos efeitos de isolamento social se fazem sentir à escala global, as comemorações que anualmente se realizam do Dia de Portugal no seio das Comunidades Portuguesas, e que constituem as mais genuínas manifestações de amor à pátria de Camões, estão a ser consequentemente canceladas.

Como no território nacional, onde o 10 de junho será assinalado com uma cerimónia simbólica, através de uma singela sessão no Mosteiro dos Jerónimos, que substitui assim os três dia de celebrações oficiais que este ano estavam previstas ocorrer no Funchal e junto das comunidades portuguesas na África do Sul, também nos núcleos da Diáspora as comemorações prosseguirão seguramente este modelo mais minimalista.

Este é portanto, o momento das comemorações simbólicas do Dia de Portugal, um momento de incontornável recurso às plataformas digitais como meio de mitigar o isolamento social. Mas é também um momento oportuno para uma ampla reflexão aquém e além-fronteiras sobre o futuro das Comunidades Portuguesas, tanto que são notórios vários casos de dificuldades no seu movimento associativo, um dos mais importantes, senão o mais importante pilar da Diáspora.  

Dificuldades resultantes das medidas de contenção da pandemia, que entravam a realização de eventos e iniciativas, como é o exemplo cimeiro do Dia de Portugal, e que são essenciais para a obtenção de receitas que permitem custear o normal funcionamento das associações, como seja o pagamento da água, luz, rendas dos espaços ou a sua manutenção.

O risco de fecho definitivo de diversas associações no seio das Comunidades Portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, nunca foi tão real, e é ainda agravado pela problemática do envelhecimento dos seus quadros dirigentes, da maioria dos seus associados e da escassa participação dos lusodescendentes.

Este perigo acrescido de encerramento, deve impelir as forças vivas do movimento associativo das Comunidades Portuguesas a colocar definitivamente em cima da mesa, não só, quando a vida voltar a normalizar, a diversificação de atividades capazes de conciliarem a cultura tradicional enraizada nas coletividades com novas dimensões socioculturais, como o cinema, a literatura ou a moda, de modo a atrair as jovens gerações de lusodescendentes. Como também a adoção de um novo modelo de atuação e organização das associações, que necessariamente terá que passar por um paradigma de partilha de uma “casa comum”, capaz de reunir num só espaço com dignidade e dimensão a valiosa argamassa identitária da Diáspora.

Um modelo de “Casa de Portugal”, de portas sempre abertas às várias nacionalidades, e em particular, naturalmente, à comunidade portuguesa, através de parcerias com agremiações, escolas e universidades onde se ensina a língua portuguesa. Uma “Casa de Portugal”, com uma agenda capaz de congregar as diversas sinergias do movimento associativo, de diluir as diferenças e egos, e potenciar o coletivo, a união, os parcos recursos humanos e financeiros, em prol da cultura portuguesa.

Uma “Casa de Portugal“, na esteira da Maison du Portugal – André de Gouveia, em Paris, capital francesa onde se encontra a maior comunidade portuguesa fora de Portugal, onde se organizem vários eventos culturais do movimento associativo. Desde as festas e festivais de folclore, à programação de artes plásticas, cinema, dança, literatura, teatro, ciclos de conferências ou divulgação de trabalhos dos investigadores que cada vez mais proliferam na lusodescendência.

sábado, 23 de maio de 2020

Livrarias embaixadoras da língua e cultura lusófona


Nos últimos anos tem-se assistido em Portugal ao encerramento de um conjunto significativo de livrarias, muitas delas antigos espaços culturais de eleição, de encontro, de convívio e de cidadania. O fecho de portas, nos últimos anos, da Aillaud & Lellos, da Book House, da Bulhosa Livreiros e da Pó dos Livros em Lisboa, ou da Leitura na cidade invicta, são apenas alguns destes tristes exemplos que têm pautado o panorama cultural nacional.

A evolução e a crise do mercado, acentuada com a atual situação de pandemia, a concorrência de grandes cadeias, a forte pressão nas rendas do mercado imobiliário, a falta de apoios ou a alteração do modo de ler, que já não se cinge exclusivamente a ler o livro em papel, são alguns dos motivos que estão na base do encerramento destes estabelecimentos culturais ameaçados de extinção.

Este fenómeno de empobrecimento da vida cultural não é um exclusivo do país, tendo-se igualmente acentuado nos últimos anos no seio das comunidades portuguesas. Longe vão os tempos em que a Livraria Lusófona, do editor João Heitor, foi durante mais de duas décadas um espaço singular na difusão da língua e cultura portuguesa a partir do Quartier Latin em Paris. Uma triste sina de desaparecimento que atingiu também nos tempos mais recentes a antiga livraria Orfeu, sediada em Bruxelas, propriedade do ativista cultural Joaquim Pinto da Silva, cujo desiderato visava promover as culturas portuguesas e galega no coração da Europa. Assim como, a Livraria Camões, em Genebra, do emigrante e livreiro natural do Porto, António Pinheiro, uma genuína embaixada literária de Portugal em terras helvéticas.
 



O historiador Daniel Bastos (centro), cujo percurso tem sido alicerçado no seio das comunidades portuguesas, acompanhado do dirigente associativo Manuel Barbosa (esq.) e do livreiro António Pinheiro (dir.), proprietário da antiga livraria Camões, espaço cultural luso-suíço onde o investigador apresentou várias obras de sua autoria
Com mais ou menos dificuldades, subsistem ainda algumas livrarias disseminadas pelas comunidades portuguesas, que como no território nacional, vão resistindo aos ventos da extinção, teimando em funcionar como polos agregadores e difusores da cultura e língua lusa. Como é o caso da Livraria - die portugiesische & brasilianische Buchhandlung em Berlim, a Luso Livro em Zurique, a Livraria Portuguesa de Macau, um espaço incontornável da portugalidade no Oriente, e a La petite portugaise, uma renovada livraria portuguesa em Bruxelas que pretende divulgar a cultura lusófona.

A prossecução cultural destes espaços no seio das comunidades portuguesas, demandam neste sentido o apoio resoluto das instâncias competentes do Estado Português ao nível da política cultural externa do país, que não podem olvidar a missão destas livrarias, verdadeiras embaixadoras da língua, cultura e expressão lusófona. Como asseverava o político e escritor Philip Stanhope, conde de Chesterfield, uma “livraria é uma preciosa catacumba onde estão embalsamados e imortalmente conservados os espíritos dos mortos que não morrem”.


sexta-feira, 15 de maio de 2020

A solidariedade das comunidades portuguesas em tempos de pandemia


O espírito de solidariedade remanesce como uma das, senão mesmo, a mais importante manifestação da identidade humana, como demonstram as notáveis ondas de entreajuda que nestes tempos de pandemia têm emergido nas comunidades portuguesas.

Se é nas alturas mais difíceis que se conhecem, por vezes, os melhores amigos, nesta fase de grandes dificuldades socioeconómicas devido à covid-19, não faltam, felizmente, exemplos de genuína solidariedade no seio das comunidades portuguesas, quer para com os nossos concidadãos no estrangeiro, assim como para com portugueses residentes no território nacional. 

Ainda na semana passada, a empresa de comunicação social MDC Media Group, presidida pelo comendador Manuel da Costa, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, que incorpora órgãos de informação como o jornal Milénio Stadium, as revistas Amar e Luso Life, e a Camões Rádio e TV, dinamizou nas suas plataformas uma emissão especial de apelo a donativos para a bebé luso-canadiana Eva Batista, que padece de atrofia muscular espinal (AME). Denominada “Songs for Eva”, a iniciativa solidária reuniu músicos da América do Norte e de Portugal, que realizaram um concerto online, procurando assim angariar junto da comunidade luso-canadiana um milhão de dólares, verba que falta à família da bebé luso-canadiana para alcançar o Zolgensma, o remédio mais caro do mundo. 

Também na América do Norte e no início deste mês, foi conhecido que o luso-americano Sérgio Granados, vereador eleito no estado americano de Nova Jérsia, tem dado um importante contributo na promoção de programas de ajuda à população luso-americana e aos trabalhadores no combate à covid-19, no condado de Union, um dos mais afetados pela pandemia nos Estados Unidos.

É através destes exemplos solidários, e de muitos outros que se estão a operar no âmago das comunidades portuguesas, como o da comunidade lusa em Macau que no mês passado arrecadou milhares de euros para comprar material médico para ajudar Portugal no combate à pandemia, ou de associações de emigrantes no Luxemburgo que lançaram uma campanha de angariação de fundos destinados a comprar material e equipamentos para hospitais nacionais, que encontramos a necessária inspiração, coragem e esperança para ultrapassar a crise e refundarmos os alicerces do humanismo.