Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A problemática da emigração qualificada


Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), o ano de 2017 assinalou em Portugal uma diminuição do fluxo emigratório, expressa na saída de 31 mil e 753 portugueses que escolheram o estrangeiro para alcançar uma vida melhor, menos 17% do que no ano transato, período em que saíram 38 mil e 272.

Paralelamente, as estatísticas oficiais apontam que no mesmo ano registou-se um aumento do fluxo imigratório, contabilizado na entrada de 36 mil e 639 cidadãos estrangeiros que adotaram o território nacional como uma nova etapa das suas vidas, mais 18% do que no ano anterior, época em que entraram 43 mil e 353.    

A informação veiculada pelo INE revela deste modo que ao longo dos últimos anos, após recuperação de uma das mais graves crises do país e consequente incremento do desempenho socioeconómico, foi possível no ano de 2017 obter um saldo migratório positivo, invertendo a trajetória de declínio verificada desde o início da década de 2010.

Numa fase da vida coletiva nacional em que se auguram colossais desafios demográficos, ainda no mês passado o Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), através do documento Ageing Europe 2019, indica que dentro de três décadas cerca de metade da população portuguesa terá 55 anos ou mais, a manutenção deste saldo migratório positivo constitui uma condição “sine qua non” para a sustentabilidade do país.

No entanto, os dados recentes do INE revelam que manutenção deste salto migratório positivo está longe de ser um dado adquirido, porque além do mesmo ter que ser complementado com o crescimento da taxa de natalidade, que continua a ser das mais baixas da União Europeia, a emigração qualificada continua a engrossar o fluxo migratório nacional. 

Nesse sentido, enquanto o país continuar envolto num inverno demográfico, e a assistir à “fuga de cérebros”, ou seja, à saída de emigrantes altamente qualificados, nas palavras abalizadas do Professor catedrático da Universidade de Coimbra, Rui Machado Gomes, “um dos fenómenos mais controversos da sociedade portuguesa contemporânea”, e não sendo o mesmo compensado pela entrada de pessoas com qualificações equivalentes, a competitividade, o progresso, a sustentabilidade e o futuro de Portugal continuarão perturbantes.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Memórias da Emigração e das Comunidades


No âmbito das comemorações do 25.º aniversário da Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas (DGACCP), estrutura central do Ministério dos Negócios Estrangeiros aprovada pelo Decreto-Lei  n.º 48/94, de 24 de Fevereiro, que coordena e executa as ações relativas à política de apoio às Comunidades Portuguesas, o governo português lançou no início do ano a iniciativa “Memórias da Emigração e das Comunidades Portuguesas”.
 
A ação, dinamizada pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - NOVA FCSH, tem como principal objetivo identificar, mapear, registar e patrimonializar os testemunhos de vida, as memórias e objetos de todos aqueles que participaram e participam da diáspora portuguesa, constituindo um espaço de encontro e de reflexão acerca do importante papel das comunidades portuguesas no mundo.
A iniciativa de enorme alcance e relevância, dado que simultaneamente procura dignificar e reconhecer a herança e as potencialidades das comunidades portuguesas, é aberta à participação de todos que se revejam nestes compromissos, e que queiram contribuir com as suas histórias e recordações para uma melhor compreensão da memória e a identidade de Portugal no Mundo.

Uma das iniciativas mais notórias ligadas a este projeto colaborativo decorreu na semana passada, entre os dias 13 e 15, no decurso do 1º Encontro “Memória para todos: História, Património e Comunidades”, no Teatro Aberto, em Lisboa.

Organizado pelo Centro República e o Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, o 1.º Encontro “Memória para todos: História, Património e Comunidades”, reuniu diferentes agentes, projetos e atividades empenhados na identificação, organização, curadoria, investigação e divulgação da memória e arquivos de e para comunidades.

Entre as várias participações, destacou-se a do Professor Emérito de Sociologia da Universidade de Essex, Paul Thompson, um dos pioneiros da História Oral, que na obra “A Voz do Passado”, sustenta, inclusive ao nível das comunidades migrantes, que “a história oral devolve a história às pessoas, nas suas próprias palavras. E ao dar-lhes um passado, ajuda-as também a caminhar para um futuro construído por elas mesmas”.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Mar de Sonhos – a emigração nos vapores transatlânticos


O Centro Português de Fotografia (CPF), instituição pública que assegura a conservação, valorização e proteção legal do património fotográfico nacional, no âmbito das suas dinâmicas dispõe de uma exposição itinerante que retrata a época em que a ligação entre o continente europeu e americano era feito por navio.

A exposição intitulada “Mar de Sonhos – a emigração nos vapores transatlânticos”, assenta em 22 fotografias, datadas do início do século XX, de autoria de Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931), um importante e apaixonado fotógrafo amador, que se tornou também o grande pioneiro do cinema português.

As imagens a preto e branco de Aurélio da Paz dos Reis têm o condão de retratar o ciclo transoceânico da emigração portuguesa na transição para o século XX. Um período histórico nacional, em que a permanência de uma prática agrícola tradicional, uma incipiente industrialização e uma profunda assimetria entre o mundo rural e urbano, o interior e o litoral, levaram a que entre 1855 e 1914, mais de um milhão de portugueses, pressionados pela carestia de vida e baixos salários agrícolas, encetassem uma trajetória transoceânica em direção ao Brasil, aos EUA, à Argentina e à Venezuela.

Procedente do mundo rural e eminentemente masculino, este fluxo migratório, particularmente atraído pelo crescimento económico brasileiro, foi incisivo no Entre Douro e Minho, e sobretudo possível à revolução que se deu na navegação através da transição dos veleiros para os barcos a vapor.

O crescimento da emigração de portugueses para o Brasil esteve na origem, em 1852, da fundação da “Companhia de Navegação a Vapor Luso-Brasileira”, que teve ao seu serviço dois vapores, o “Donna Maria Segunda” e o “Dom Pedro Segundo”, ambos com capacidade para mais de 400 passageiros. Às vantagens da maior capacidade de transporte de passageiros, os barcos a vapor da “Companhia de Navegação a Vapor Luso-Brasileira”, e mais tarde da “Mala Real Inglesa”, que passou a garantir as ligações entre Portugal e o Brasil, aliavam ainda maior comodidade, segurança e rapidez, encurtando o tempo desta viagem transoceânica para menos de um mês. 

Os barcos a vapor mantiveram-se até ao alvejar da segunda metade do séc. XX, época em que chegaram a Portugal os navios equipados com propulsão a diesel e se iniciou o ciclo da emigração intra-europeia, o grande meio de transporte dos emigrantes lusos. 

sábado, 9 de novembro de 2019

Neste Natal ofereça livros aos outros e a si também!


Neste Natal ofereça os melhores presentes:

·         “Gérald Bloncourt – Dias de Liberdade em Portugal” – um dos mais recentes livros sobre o nascimento da democracia portuguesa;


·         “Gérald Bloncourt – O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores” – um livro incontornável sobre a emigração portuguesa nos anos 60;


·         “Terras de Monte Longo” – um livro singular sobre o interior Norte de Portugal nos anos 70;


·         “Terra” – um livro poético inspirado a história, cultura, raízes e emigração portuguesa;


P:S- Pode adquirir os livros nas livrarias de referência, ou receba comodamente por correio postal em casa, com a devida dedicatória, bastando que nos forneça o nome da pessoa a quem se destina o presente e a forma de pagamento.  

Votos sinceros de uma Feliz Quadra Natalícia

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O fenómeno da emigração na música portuguesa


A emigração, parte integrante da história e cultura nacional, tem sido ao longo dos anos uma profícua fonte de inspiração para inúmeros cantores, letristas, compositores e artistas, que nos mais diversos estilos musicais têm evocado as agruras da partida e da saudade de quem demanda no estrangeiro melhores condições de vida.

Os mais antigos recordar-se-ão seguramente da voz suave e triste de Adriano Correia de Oliveira que interpretou o “Cantar de Emigração”, com letra de Rosalia de Castro e música de José Niza. Uma das mais emblemáticas trovas do cantor de intervenção, o “Cantar de Emigração” constitui um retrato fidedigno da emigração portuguesa “a salto” para França nos anos 60, um período marcado pela saída maciça de jovens, sobretudo do Norte de Portugal, impelidos pela miséria rural, a ausência de liberdade e a fuga ao cumprimento do serviço militar, antecâmara da incorporação na Guerra Colonial.

Esta experiência marcante de fuga à pobreza de centenas de milhares de portugueses, que na sua maioria encontraram nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris, cidade que muitos conheceram como expressa António Barreto “antes de ir a Lisboa ou de ver o mar”, seria celebrizada nos anos 80 com o tema “Um Português (Mala de Cartão) ” de Linda de Suza, uma das mais afamadas cantoras lusas, emigrante em França. Ainda em terras gaulesas, os anos 90 assistiram ao sucesso entre a comunidade portuguesa de Graciano Saga, um cantor popular que ficou conhecido com músicas sobre a Diáspora, de que se destaca o tema "Vem devagar emigrante" e "Amiga Emigrante".

A influência do fenómeno da emigração na expressão musical portuguesa não se cinge ao passado mais recente ou às canções de intervenção e música popular. A multiplicidade de projetos musicais onde está retratada na atualidade a temática da emigração vai desde o Fado e a Pop, singularmente representada em 2013 no dueto de Pedro Abrunhosa com o fadista Camané, que no tema “Para os braços da minha mãe” abordam a nova vaga de emigração; até ao Rap, discurso rítmico com rimas e poesias que o rapper brigantino Jorge Rodrigues e a cantora Vanessa Martins usaram em 2016 na música “Filha de emigrantes”, uma composição que retrata a vida hodierna dos emigrantes e a saudade que sentem da família e do país de origem.