Uma
das marcas mais características das comunidades portuguesas é a sua dimensão
empreendedora e benemérita, como corroboram os percursos de diversos
compatriotas que dinamizam atividades de relevo a nível económico, político, cultural e
social.
Nos
vários exemplos de patrícios que compõem e engrandecem
a diáspora lusa, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia na promoção do país,
destaca-se a trajetória do Comendador Carlos de Lemos, antigo Cônsul Honorário de Portugal em Melbourne, na Austrália, e
um dos mais devotados paladinos da cultura e história portuguesa no
continente-ilha.
Natural
de Melgaço, vila raiana no distrito de Viana do Castelo, onde nasceu em 1926,
Carlos Pereira de Lemos iniciou a sua vida
profissional como topógrafo em Portugal, trabalhando
depois em Moçambique, África do Sul, Timor e na Austrália. No périplo que encetou
pelo mundo, o alto-minhoto que começou a trabalhar com apenas 12 anos de idade numa
loja em Melgaço, e já adolescente num café em Monção,
conheceu personalidades marcantes como Nelson Mandela,
Samora Machel, Rui Cinatti ou José Ramos-Horta.
Detentor de uma formação eclética, Carlos de Lemos foi
estudante na África do Sul – Rhodes University e University of South Africa,
onde se licenciou em Ciências Políticas e Sociologia. E pós-graduou-se em
Pedagogia na Universidade de Melbourne, tendo sido professor de Sociologia e
Ciências Políticas no Royal Melbourne Institute of Technology, e de línguas na
Universidade de Monash, assim como representante do Banco Borges em Melbourne.
A
chegada ao território australiano na década de 80, onde viria a estabelecer-se,
marcou o princípio de uma profunda ligação à comunidade luso-australiana,
atualmente constituída por cerca de 50 mil portugueses, essencialmente
disseminados por metrópoles como Perth, Melbourne ou Sydney.
Paralelamente
à sua atividade profissional, Carlos de Lemos tornou-se um importante dirigente
associativo luso-australiano, através da criação de uma escola de português e
de um programa de rádio. Em 1988, foi nomeado Cônsul Honorário de Portugal em
Melbourne, incumbência que exerceu durante três décadas com intenso trabalho,
num verdadeiro espirito de missão em prol da comunidade luso-australiana.
Nesse
âmbito, foi o grande impulsionador do Festival Português de Warrnambool, uma
cidade na costa sudoeste de Vitória, onde pelo seu incansável labor foi
inaugurado em 2001 um padrão de homenagem aos navegadores portugueses, tendo
inclusive sido dado a uma das ruas de Warrnambool o seu nome, “De Lemos Court”.
Ainda, no alvorecer deste mês, o dinâmico nonagenário luso-australiano proferiu
no Museu Marítimo de Warrnambool uma palestra onde abordou a tese da descoberta
portuguesa da Austrália, que escora que terá sido o navegador Cristóvão
Mendonça, por volta de 1522, o primeiro português a avistar as costas
australianas, quando navegava na zona por ordem de D. Manuel I, dois
séculos e meio antes do capitão inglês James Cook.
O notável percurso de vida de Carlos de Lemos, patenteado no seu
livro História de Uma Vida, publicado
em 2016 e prefaciado pela antiga secretária de Estado da Emigração,
Manuela Aguiar, foi distinguido em 2002 com a Ordem
de Mérito, no grau de Comendador, pelo então Presidente da
República Jorge Sampaio. Mais recentemente Carlos de Lemos foi condecorado pelo Estado de
Timor-Leste e pelo governo australiano com a Ordem da Austrália,
assim como pelo Município de
Melgaço com a atribuição da medalha de Cidadão de Mérito.
Uma das figuras mais conhecidas da comunidade luso-australiana, o exemplo
de vida do Comendador Carlos de Lemos, devotado paladino da cultura e
história portuguesa no continente-ilha, relembra-nos a
interpelação de Nelson Mandela: “Será que alguém pensa genuinamente
que se não conseguiu algo foi por não ter tido o talento, a força, a
resistência e a determinação nesse sentido?”.