Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 26 de março de 2023

Aida Baptista: um trajeto de vida unido à emigração portuguesa

 

No decurso das últimas décadas o estudo sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto diversificado de atividades e trabalhos que têm dado um importante contributo para o conhecimento da emigração portuguesa.

Neste entrecho, destaca-se indubitavelmente o percurso devotado e laborioso da professora Aida Baptista, cuja experiência de vida como emigrante, de Leitora de Português em Angola, Finlândia e Canadá, assim como de colaboradora da imprensa da diáspora e autora de bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, a catapultam para uma das cientistas sociais hodiernas que mais tem contribuído para o conhecimento da emigração portuguesa.

Licenciada em História, Mestre em Literatura e Cultura Portuguesa, Pós-graduada em Estudos Europeus, Aida Batista tem repartido a sua vida entre África, Europa e América. De Angola, onde viveu desde um ano de idade até 1975, ano em que foi colocada como professora no Sardoal, desempenhou depois o cargo de Leitora de Língua e Cultura Portuguesas no Estrangeiro, ao serviço do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICALP) e do Instituto Camões (IC).

Esteve colocada na Finlândia, onde foi Leitora de Português durante oito anos, no Canadá onde lecionou durante cinco anos, regressou de novo a Angola onde dirigiu o Centro de Língua Portuguesa em Benguela, após o que regressou ao Sardoal, distrito de Santarém, onde reside atualmente.

No âmbito do seu percurso humanista e multifacetado, a sardoalense tem empreendido uma notável dinâmica na organização de iniciativas ligadas às temáticas da e/imigração, como assevera, por exemplo, o seu contributo na realização do 1.º Congresso “A Vez e a Voz da Mulher Imigrante Portuguesa”, que decorreu alvorecer do séc. XXI no Departamento de Espanhol e Portuguesa da Universidade de Toronto.

Colaboradora da imprensa de língua portuguesa no mundo, como é o caso do Milénio Stadium, um jornal de referência da comunidade luso-canadiana, onde regularmente versa temáticas da e/imigração, Aida Batista é igualmente autora de relevantes obras ligadas ao fenómeno da emigração portuguesa.

Entre elas, salienta-se a biografia de Franco Alvarez, uma das figuras mais conhecidas da numerosa comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá. E o livro Menina e Moça me Levaram, que assenta num conjunto de histórias, contadas na primeira pessoa, de mulheres das mais diversas origens, profissões e faixas etárias, que, levadas por escolhas alheias (salvo raras exceções), passaram por processos migratórios em diferentes contextos geográficos.

O percurso devotado e laborioso da professora Aida Baptista, relembra-nos a constatação de Sigmund Freud, uma das mais importantes personalidades do séc. XX: “não posso imaginar que uma vida sem trabalho seja capaz de trazer qualquer espécie de conforto. A imaginação criadora e o trabalho para mim andam de mãos dadas”.

 

domingo, 19 de março de 2023

Daniel Bastos apresenta livro sobre comunidades portuguesas na Califórnia

 

Entre 31 de março e 3 de abril, o escritor e historiador português Daniel Bastos apresenta na Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos da América (EUA), a segunda edição do seu último livro Comunidades, Emigração e Lusofonia”.


 

A segunda edição da obra, agora revista e aumentada, que reúne as crónicas que o historiador tem escrito nos últimos anos na imprensa de língua portuguesa no mundo, será dada a conhecer em importantes centros da emigração portuguesa na Califórnia.

 

A primeira apresentação do livro ocorre no dia 31 de março (sexta-feira), às 19h00, no Portuguese Athletic Club (PAC), em San José; e no dia 2 de abril (domingo), às 13h00, será recebida na Casa dos Açores de Hilmar, no Vale de San Joaquin. O périplo de apresentações culmina no dia 3 de abril (segunda-feira), às 17h00, no Consulado Geral de Portugal em São Francisco, uma das mais cosmopolitas cidades dos Estado Unidos. 

 

As apresentações do livro, prefaciado pelo advogado e comentador Luís Marques Mendes, decorrem no âmbito de um convite endereçado ao historiador português por forças vivas das comunidades luso-americanas da Califórnia. Mormente, do comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica; do comendador Batista Vieira, uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana; do comendador Manuel Bettencourt, um dos mais destacados dirigentes associativos da comunidade portuguesa na Costa Oeste; e do Museu Histórico de São José, um espaço museológico que homenageia e perpétua a herança cultural lusa na Califórnia.

 

Refira-se que nesta última obra, o escritor revela o empreendedorismo, as contrariedades, a resiliência e a solidariedade das comunidades portuguesas, a riqueza do seu movimento associativo, e as enormes potencialidades culturais, económicas e políticas que as mesmas representam. Como é caso da Califórnia, onde residem mais de 300 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, que trabalham por conta de outrem, na indústria. Embora, sejam muitos, os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais, nas atividades políticas e em associações socioculturais, meios de comunicação social, clubes desportivos, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, casas regionais, sociedades de beneficência e religiosas.

 

Professor e autor de vários livros que retratam a história da emigração portuguesaDaniel Bastos é atualmente consultor do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, e da rede museológica virtual das comunidades portuguesas, instituída pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.

 

 

domingo, 12 de março de 2023

Fundação Carlos Vieira: uma instituição ao serviço da comunidade luso-americana na Califórnia

 

Entre as características mais distintas da diáspora, a enorme capacidade empreendedora e o seu forte espírito de solidariedade, são seguramente das que mais sobressaem no código genético das comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo.

Ao longo das décadas têm sido inúmeras as campanhas solidárias, as iniciativas de apoio e os gestos de altruísmo protagonizados, a título individual ou coletivo, pelos portugueses ou lusodescendentes no estrangeiro em prol de causas, valores e pessoas, muitas delas concidadãos que por vicissitudes da vida encontram na generosidade de muitos compatriotas uma bússola e um porto de abrigo.

Um desses exemplos paradigmáticos de espírito solidário é o que no decurso dos últimos anos tem sido protagonizado pela “Carlos Vieira Foundation”. Uma instituição oficialmente fundada em 2010 pelo empresário luso-americano e automobilista Carlos Vieira, sediada em Livingston, cidade localizada no estado americano da Califórnia, no Condado de Merced, cuja missão e visão assentam em três áreas essenciais de atuação: autismo, abuso de drogas e estigma de saúde mental.

Ao longo das últimas décadas, a Fundação Carlos Vieira, na esteira dos valores coligidos no seio do patriarca da família, o comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica e uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, apoia famílias em mais de duas dezenas de municípios no Vale Central da Califórnia, através por exemplo, de subsídios, assistência financeira ou apoio de necessidades médicas.

Um outro relevante eixo de ação da Fundação Carlos Vieira está ligado à preservação da cultura e tradições da comunidade lusa na Califórnia, a mais numerosa das comunidades portuguesas nos EUA e uma das maiores comunidades portuguesas no estrangeiro. Como comprova a criação, em 2019, do Festival Português do Vale de São Joaquim, que decorreu esse ano em Turlock, cidade localizada na Califórnia, no condado de Stanislaus, e que juntou mais de 15 mil pessoas em torno da herança lusa, mormente a gastronomia, arte, comédia e música tradicional.

Este que é já seguramente um dos maiores, se não o maior, evento luso-americano da Califórnia, cujos lucros obtidos revertem para a iniciativa “Race for Autism”, uma campanha permanente da Fundação Carlos Vieira que atribui bolsas anuais a cerca de 100 famílias com filhos autistas, realiza este ano, após os interregnos da pandemia de COVID-19, a 22 de abril, o quarto festival anual de San Joaquin Valley Portuguese.

Apresentado pela Portuguese Fraternal Society of America (PFSA), instituição beneficente de referência luso-americana, no Stanislaus County Fairgrounds, em Turlock, o festival computa um programa onde será possível assistir a um desfile luso, apresentações folclóricas e filarmónicas, tourada sem sangue portuguesa, degustação de vinhos e queijos, exposições culturais, gastronomia e artesanato.

Neste sentido, a Fundação Carlos Vieira, atualmente presidida pela terceira geração da família Vieira, designadamente Elaina Vieira, constituindo-se como uma instituição incontornável ao serviço da comunidade luso-americana, contribui decisivamente para o conhecimento do passado, a compreensão do presente e o papel futuro da comunidade portuguesa na Califórnia.

domingo, 5 de março de 2023

Stephen Maciel: um exemplo do potencial empreendedor dos lusodescendentes

 

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. A grande maioria da população luso-americana trabalha por conta de outrem, na indústria, mas são já muitos os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades politicas.

No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, onde proliferam centenas de associações recreativas e culturais, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais e sociedades de beneficência e religiosas, destacam-se percursos de vida de vários compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”).

Entre as várias trajetórias de portugueses e lusodescendentes que se distinguem pelo papel empreendedor e inovador no contexto da sociedade norte-americana, e que constituem simultaneamente um ativo estratégico na promoção internacional e de investimento económico em Portugal, destaca-se o percurso inspirador de  Stephen Maciel.

Nascido na Califórnia, para onde haviam emigrado os pais, naturais da ilha do Pico, a segunda maior ilha do Arquipélago dos Açores, no início dos anos 70,o lusodescendente regressou à terra natal dos progenitores aos cinco anos e ali se manteve até aos 25, período em que regressou à América para se aventurar no mercado do trabalho.

O esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, levaram o lusodescendente de origem açoriana, que chegou a trabalhar no estado no oeste dos EUA, numa peixaria e a ser condutor de autocarros escolares, a apostar numa formação superior que lhe abriu portas para se tornar proprietário de um notário, fazendo a ligação entre as instituições bancárias e os clientes na compra e venda de propriedades.

Uma das marcas mais vincadas do percurso socioprofissional do cofundador da Pico Investments LLC, sediada em Hollister, cidade localizada no estado da Califórnia, no condado de San Benito, é indubitavelmente o seu reiterado orgulho nas raízes portuguesas, em particular, açorianas.

De facto, o orgulho nas raízes açorianas impeliu nos últimos anos o lusodescendente a investir um milhão de euros num estabelecimento de restauração na ilha do Pico, aproveitando o restaurante então aberto pelos pais quando há cerca de 50 anos regressaram à terra natal. A construção recente, inspirada no ambiente e na natureza do local, junto ao mar, como é o caso da antiga atividade baleeira que mobilizou no passado, nas Lajes do Pico, grande parte da população, evidenciam o Tacão - Restaurante & Bar como um exemplo paradigmático das potencialidades dos emigrantes ou descendentes de emigrantes açorianos, que através de uma forte ligação ao território investem no desenvolvimento arquipelágico.

Numa época em que os decisores políticos e os agentes económicos nacionais têm um cada vez maior impulso para a aceleração do investimento da diáspora no país e da internacionalização através da diáspora, o apego às raízes de Stephen Maciel e o seu espírito arrojado luso-americano, robustecem o incomensurável potencial dos empreendedores da diáspora portuguesa.