Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 20 de abril de 2024

A oposição à ditadura nas comunidades portuguesas da América do Norte

Em plena celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, momento cimeiro da memória coletiva e identidade nacional entreaberto pela Revolução de 25 de Abril de 1974, a efeméride constitui uma oportunidade simbólica de revisitar o país como era há 50 anos. Uma viagem pelas memórias do passado, não muito distante, do Portugal de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano. Ditadores, respetivamente, de um regime político autoritário e conservador designado de Estado Novo, instituído em 1933, cujos pilares ideológicos espargidos na trilogia Deus, Pátria e Família, assentaram na força repressiva da polícia política (PIDE), nas amarras da censura e na ausência de liberdade. Um país profundamente imobilista, de costas voltadas para a Europa, receoso dos ventos da mudança, orgulhosamente isolado, rural, pobre, atrasado, analfabeto e envolto num traumático e longo conflito militar. Mormente, a Guerra Colonial (1961-1974), contenda bélica que opôs as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, um dos principais motivos que conduziram à Revolução dos Cravos, e que ao longo de mais de uma década robusteceu as fileiras da emigração, muitas das vezes de forma clandestina. Apesar da repressão e violência foram vários os que se opuseram às ideias do Estado Novo, e instaram na luta política de oposição ao regime em defesa dos ideais da liberdade e da democracia. O movimento político de oposição à ditadura portuguesa estendeu-se também às comunidades portuguesas no estrangeiro. No contexto oposicionista à ditadura no seio da diáspora, como aponta a investigadora Susana Maria Santos Martins, na tese de doutoramento Exilados portugueses em Argel. A FPLN das origens à rutura com Humberto Delgado (1960-1965), intervieram nas décadas de 1960-70 várias associações desafetas ao regime estadonovista na América do Norte. Em Newark, Nova Jérsia, cidade que ainda hoje alberga uma das maiores comunidades portuguesas nos Estados Unidos da América (EUA), constituiu-se em 1960 o Committee Pro-Democracy in Portugal, a primeira associação de democratas lusos nos EUA. A coletividade, que teve como principal mentor Abílio de Oliveira Águas, antigo cônsul português em Providence (Rhode Island) no ocaso dos anos 20, e figura tutelar na comunidade luso-americana, congregou diversos emigrantes e exilados políticos na oposição ao regime salazarista. A associação luso-americana, que teve um papel decisivo no depoimento em 1963 de Henrique Galvão contra Portugal na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, manteve-se ativa até aos anos 70, período em que faziam parte dos seus órgãos, Eduardo Covas, António José de Almeida, António Dias, Virgílio Varela e Abílio Águas. Tendo prosseguido até então uma diligente ligação com vários grupos oposicionistas, como o grupo Portugal Democrático, no Brasil, com a Frente Portuguesa de Libertação Nacional (FPLN), na Argélia, com a Acção Democrato-Social (ADS), em Portugal, com a Associação Socialista Portuguesa (ASP), em Genebra, e mais tarde, com o Partido Socialista (PS) que apoiou após a Revolução de Abril. No Canadá, nação para onde emigraram entre 1953 e 1973 mais de 90.000 portugueses, na sua maioria originários dos Açores, uma das principais coletividades lusas oposicionistas foi criada no final dos anos 50 em Toronto. Denominada Portuguese Canadian Democratic Association (PCDA), a associação luso-canadiana, impulsionada por figuras como Fernando Círiaco da Cunha, aglutinou vários emigrantes e exilados políticos na denúncia do regime ditatorial português, através da dinamização de manifestações públicas e da publicação em 1964 do periódico A Verdade, e mais tarde, O Boletim. Ainda no Canadá, mas em Montreal, a partir dos anos 60, foi criado o Movimento Democrático Português de Montreal, ao qual estavam ligados figuras como Rui Cunha Viana, Domingos da Costa Gomes, José das Neves Rodrigues, Jaime Monteiro e Eugénio Vargas. E que teve nas páginas do boletim Movimento, o seu principal instrumento de denúncia junto da comunidade luso-canadiana da ditadura salazarista e da Guerra Colonial na maior cidade da província do Quebeque. Em Montreal, na esteira das demais comunidades portuguesas na América do Norte, as páginas da imprensa comunitária foram o instrumento privilegiado dos grupos oposicionistas de crítica à ausência de liberdade na pátria de origem e de denúncia da Guerra Colonial. Entre as décadas de 1960-70, o semanário independente em língua portuguesa, Luso-Canadiano, fundado por Henrique Tavares Bello, e que contou com a colaboração de Cunha Viana e Domingos da Costa Gomes, adotou assumidamente uma feição oposicionista ao regime instituído em Portugal. Neste mesmo período, a ação oposicionista de Henrique Tavares Bello em Montreal encontrava-se ainda, em interligação com Firmino Rita, associada à dinamização do Canada Movement for Freedom in Portugal and Colonies. No seu conjunto, as várias dinâmicas oposicionistas ao regime de Salazar e Marcelo Caetano na América do Norte, no decurso das décadas de 1960-70, tiveram um papel importante na consciencialização política das comunidades portuguesas nos Estados Unidos e no Canadá. Assim como na denúncia internacional do regime ditatorial e da Guerra Colonial, em dois dos mais importantes palcos da política e diplomacia mundial.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Memórias de um Futuro Radioso

Nas vésperas de se assinalar meio século de liberdade e democracia em Portugal, momento cimeiro da memória coletiva e identidade nacional entreaberto pela Revolução de 25 de Abril de 1974, o realizador José Vieira, reconhecido cineasta da emigração portuguesa, lançou o seu primeiro livro Souvenirs d’un Futur Radieux (“Memórias de um Futuro Radioso”). Capa do livro “Memórias de um Futuro Radioso”
Natural de Oliveira de Frades, uma vila da Beira Alta situada no distrito de Viseu, José Vieira partiu para França em 1965, com sete anos de idade. A sua experiência pessoal como emigrante e as muitas histórias compartilhadas com outros emigrantes em terras gaulesas, inspiraram assertivamente o percurso profissional do realizador que vive e trabalha entre Portugal e França. Licenciado em Sociologia, José Vieira fez do documentário “uma forma de militância”, porquanto se apercebeu de que a maioria das pessoas “não conheciam a história da emigração portuguesa”, como afirmou em 2016 no decurso de uma entrevista à agência Lusa. Desde a década de 1980, o cineasta lusodescendente realizou uma trintena de documentários, nomeadamente para a France 2, France 3, La Cinquième e Arte, onde tem abordado sobretudo a problemática da emigração portuguesa para França. Em particular a viagem “a salto”, ou seja, o trajeto clandestino para deixar Portugal rumo a França nos anos 60 e 70, e as condições de vida miseráveis de muitos compatriotas que nessa época habitaram nos "bidonvilles” (bairros de lata) em Paris. No rol das suas películas dedicadas à emigração portuguesa destacam-se, por exemplo, “A fotografia rasgada” (2002), onde José Vieira retrata o código da fotografia rasgada do “passador”, que guardava metade da fotografia de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante que, uma vez chegado ao destino, a remetia à família, em sinal de que chegara bem e que poderia ser concluído o pagamento pela sua “passagem”. Os documentários “O país aonde nunca se regressa” (2005), “Le bateau en carton” (2010) e “A ilha dos ausentes” (2016), que de certo modo descrevem a sua própria experiência de emigrante, são igualmente parte integrante do valioso trabalho cinematográfico de José Vieira sobre os protagonistas anónimos da história portuguesa que lutaram além-fronteiras por uma vida melhor. Num dos seus trabalhos cinematográficos mais recentes, o filme “Nós Viemos” (2021), José Vieira traça ainda um retrato sobre os emigrantes do passado e do presente, com o intuito segundo o mesmo de “perceber o que há em comum entre estas pessoas”. A estreia agora no campo das letras, com a chancela da editora francesa Chandeigne, prossegue a militância ativa no resgate da memória da epopeia da emigração portuguesa para França nos anos 60. Na esteira do documentário que realizou em 2015, “Souvenirs d’un futur radieux”, onde cruza as memórias dos emigrantes portugueses que viveram durante os anos 60 no bairro de lata de Massy, nos arredores de Paris, onde ele próprio viveu durante cinco anos na infância, com as vivências das vagas migratórias contemporâneas de África e do Médio Oriente, José Vieira fixa na sua estreia literária os sonhos, as humilhações, os medos e as injustiças dos portugueses que demandaram melhores condições de vida na pátria gaulesa. Prosseguindo o esforço de dar voz ao silêncio dos da emigração “a salto” para França nos anos 60, que o cineasta escritor designa como “o maior êxodo e o mais brutal que Portugal alguma vez conheceu ao longo da sua história”, o ativismo cultural de José Vieira recorda-nos a máxima de Miguel de Cervantes, “a história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”.

sábado, 13 de abril de 2024

Memórias da ditadura portuguesa revisitadas em livro

Na passada sexta-feira (12 de abril), foi apresentado em Lisboa o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na Associação 25 de Abril.
Mesa da sessão de apresentação do livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” (Da esq. para dir.: o historiador Daniel Bastos, acompanhado do fotógrafo engajado Fernando Mariano Cardeira, do militar e antigo presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques, e do tradutor Paulo Teixeira) – ©Marques Valentim A sessão de apresentação, que encheu o auditório da Associação 25 de Abril, esteve a cargo do militar, antigo exilado político e presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques, que enalteceu o percurso de vida de Fernando Mariano Cardeira na defesa dos ideais da liberdade e da democracia. Segundo o mesmo, o livro dado agora à estampa, no ano em que se assinala meio século da Revolução dos Cravos, assume-se como um importante contributo e testemunho histórico para se conhecer o país como era há 50 anos. Refira-se que nesta nova obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira e prefácio do investigador José Pacheco Pereira, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, o percurso do historiador Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio das comunidades portuguesas. Fernando Mariano Cardeira nasceu em 1943, depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio, o antigo oposicionista regressou a Portugal após a Revolução dos Cravos, presidindo à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM. Saliente-se que a edição do livro se deve em grande parte ao mecenato de empresas que partilham uma visão de responsabilidade social e um papel de apoio à cultura, sendo que ao longo do ano estão previstas várias sessões de apresentação da obra noutros espaços do território nacional e da Diáspora.
Créditos fotográficos - Marques Valentim - Fotografia

sábado, 6 de abril de 2024

Fundação António Amaral: valorização e promoção da língua portuguesa na Flórida

Entre as características mais distintas da diáspo¬ra, a enorme capacidade empreendedora e o seu forte espírito de solida¬riedade, são seguramente das que mais sobressaem no código genético das comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Ao longo das décadas têm sido inúmeras as campanhas solidárias, as iniciativas de apoio e os gestos de altruísmo protagonizados, a título individual ou coletivo, pelos por¬tugueses no estrangeiro em prol de causas, valores e pessoas, muitas delas concidadãos que por vicissitudes da vida encontram na generosidade de muitos compatriotas uma bússola e um porto de abrigo. Um desses exemplos de espírito so¬lidário é o que no decurso dos últimos anos vários empresários portugueses da diáspora têm protagonizado ao nível da atribuição de bolsas de estudo a alunos lusodescendentes. Trata-se de uma ação benemérita que tem tido um papel essencial não só na promo¬ção da cultura e língua portuguesa no mundo, como também na capacitação e valorização das comunidades portu¬guesas, e na dinamização da partici¬pação de jovens lusodescendentes no pulsar do movimento associativo. Um dos exemplos paradigmáticos da dimensão e importância do apoio dos empresários da diáspora a alunos lusodescendentes é o que tem sido dinamizado desde a primeira década do séc. XXI pela Fundação António Amaral, em Palm Coast, cidade locali¬zada no estado da Flórida, nos Estados Unidos da América. Radicado há mais de meio século na América, o empresário no sector da construção e imobiliário Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, instituiu em 2006 a Fundação António Amaral com a missão de atribuir bolsas de estudo a jovens de origem portuguesa na Flórida. Há 18 anos consecutivos que a Fundação António Amaral, através do espírito empreendedor e ação so¬lidária do emigrante natural de Ovar, entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida, tendo até ao momento, distribuído 250 bol¬sas, no montante superior a 415 mil dólares. Ainda no ocaso do mês passado, a Fundação Antó¬nio Amaral atribuiu no decurso de um encontro-convívio que juntou meio milhar de luso-americanos, e que computou, entre outros, com a presença do Presidente da Câmara de Palm Coast, David Alfin, e do xerife do condado de Flagler, Rick Staly, onze bolsas de estudo a alunos de origem portuguesa na Flórida, num total de 29 mil dólares. Uma missão e valores que perpassam outras áreas em prol da comunidade luso-americana, porquanto a Fundação Antó¬nio Amaral tem apoiado ao longo dos anos, com milhares de dólares, diversas instituições na Flórida e em Portugal, assim como agregados carenciados que têm tido na generosidade da família Amaral uma bússola e um porto de abrigo. Ainda no âmbito da iniciativa do mês transato, a Fundação António Amaral ofereceu duas bolsas de 500 dólares a dois liceus de Palm Coast, o Florida Palm Coast High School e o Matanzas High School. Este exemplo paradigmático da dimensão e importância do apoio dos empresários da diáspora a alunos lu¬sodescendentes, e outros que possam estar atualmente a ser dinamizados no seio das comunidades portugue¬sas, relembra-nos a frase lapidar do filósofo Friedrich Schiller: “A língua é o espelho de uma nação”.

sábado, 30 de março de 2024

Orlando Pompeu inaugurou exposição na Suíça

No passado dia 28 de março, o mestre-pintor Orlando Pompeu, detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, inaugurou uma nova exposição individual no território helvético. Neste regresso à Suíça, país da Europa Central onde o artista plástico nos últimos anos tem várias realizado mostras artísticas coroadas com sucesso, Orlando Pompeu inaugurou na Galeria 111, uma galeria de arte na cidade de Zurique, uma exposição intitulada “Contextos Gestuais”.
O mestre-pintor Orlando Pompeu (ao centro) ladeado de colecionadores e admiradores na Galeria 111 em Zurique Os muitos colecionadores e admiradores que marcaram presença na vernissage do conceituado mestre-pintor tiveram oportunidade de conhecer um conjunto significativo pinturas de aguarelas, reveladoras da singular criatividade e talento de um dos mais conceituados artistas plásticos portugueses da atualidade. Refira-se que esta nova exposição de Orlando Pompeu, que em 2022 foi distinguido com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras, estará patente até ao dia 9 de abril, na Galeria 111 em Zurique.

sábado, 23 de março de 2024

Livro resgata memórias da sociedade, emigração e resistência na ditadura

No próximo dia 12 de abril (sexta-feira), é apresentada em Lisboa a obra “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. O livro, concebido pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, é apresentado às 18h00 na Associação 25 de Abril.
O antigo militar e oposicionista Fernando Mariano Cardeira (ao centro), ladeado do historiador Daniel Bastos (dir.), e do tradutor Paulo Teixeira, no Centro Português de Fotografia (CPF), instituição pública a quem o fotógrafo engajado doou em 2022 o espólio que integra o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A apresentação da obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, e prefácio do historiador e investigador José Pacheco Pereira, estará a cargo do militar, antigo exilado político e presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques. Neste novo livro, realizado com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, estrutura nacional que tem como missão definir e concretizar o programa de celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, e numa época em que mais de metade da população portuguesa nasceu já depois da Revolução de Abril, a publicação desta obra constitui uma oportunidade simbólica de revisitar o país como era há 50 anos. Um dever de memória e um exercício de cidadania no fortalecimento da democracia através da importância da história para inquirir o passado, pensar o presente e projetar o futuro. Segundo José Pacheco Pereira, historiador e investigador que assina o prefácio da obra, “tudo o que constituía contexto dos anos finais da ditadura está presente neste livro, o país pobre, miserável e injusto onde, desde a mortalidade infantil à nascença, ao analfabetismo, aos bairros da lata, à insegurança de viver em sítios errados quando havia um desastre como as cheias de 1967, que matou “naturalmente” os mais pobres e deixou incólumes os mais ricos, mesmo quando viviam em locais onde choveu mais, o movimento estudantil que tinha tirado as universidades ao controlo de regime, o movimento operário reprimido nos seus mínimos direitos, a condição das mulheres vítimas de todas as violências que a censura proibia de contar, já para não falar da repressão, das prisões, da tortura, e, por fim, da guerra colonial”. Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora. Fernando Mariano Cardeira nasceu em 1943, depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, o antigo oposicionista regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM.

sexta-feira, 22 de março de 2024

POSSO: uma associação de referência ao serviço da comunidade luso-americana em São José

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos nacionais, destaca-se atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados em Massachusetts, Rhode Island, Nova Jérsia e Califórnia. É neste último estado, que vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país, constituída por mais de 300 mil pessoas, e cuja presença histórica no oeste dos EUA remonta à centúria oitocentista, aquando da corrida ao ouro, da dinamização da pesca da baleia e do atum, e mais tarde das atividades ligadas à agropecuária. A secular presença portuguesa na Califórnia, que se manifesta hoje na existência de diversas associações, clubes, estruturas religiosas, organizações e núcleos museológicos, tem ao nível do meio associativo na Portuguese Organization for Social Services and Opportunities (POSSO), uma associação de referência ao serviço da comunidade luso-americana em São José. Estabelecida em 1976, na cidade de São José, a maior concentração urbana portuguesa na Califórnia, e uma das metrópoles mais populosa deste estado americano, a Organização Portuguesa para Serviços e Oportunidades Sociais, tem como objetivo principal melhorar a qualidade de vida e as oportunidades das populações de língua portuguesa. Em funcionamento ao longo de quase meio século, esta relevante instituição de solidariedade sem fins lucrativos constitui-se como uma ponte indispensável no seio da comunidade luso-californiana em São José, desenvolvendo um conjunto relevante de atividades sociais, recreativas, culturais e educacionais. Entre essas atividades, e numa época em que se assiste a um processo de envelhecimento da comunidade portuguesa na América, e de declínio devido à redução substancial da emigração a partir de Portugal, ganham especial relevância as atividades que a POSSO realiza hodiernamente junto dos seniores luso-americanos, vários deles marcados pelo espectro da doença, solidão, ausência de retaguarda familiar e barreira linguística. Mormente, programas de acompanhamento e ao domicílio que auxiliam na prestação de serviços de agendamento, transporte, tradução, interpretação e assistência fiscal. Mas também de bem-estar, nutrição e vida ativa, que passam, por exemplo, pela distribuição de alimentos e confeção de refeições, medição da pressão arterial, exames médicos e oficinas de saúde. Como regista o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes aumentou entre 2001 e 2011, nos EUA, sete pontos percentuais, de 16% para 23%. Relevância essa que é possível graças à generosidade e voluntariado que anima o espírito da comunidade portuguesa em San José, e que permite que a missão, visão e valores da POSSO se estendam para outras comunidades que compõem o mosaico cultural californiano. Uma missão, visão e valores que não olvida a importância da solidariedade e da cultura como base e (re)transformação da comunidade luso-americana, expressa paradigmaticamente na promoção do ensino da língua portuguesa. Contexto que contribui decisivamente para que a POSSO seja um espaço privilegiado de organização de pertenças culturais, comunitárias e de participação, nos quais as pessoas não são meras destinatárias, mas atores intervenientes na defesa dos seus direitos e na promoção de condições de bem-estar social.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Em Torno da Mobilidade

No decurso das últimas décadas o estudo sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto diversificado de atividades e trabalhos que têm dado um importante contributo para o conhecimento da emigração portuguesa. Autora de uma vasta bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, onde se destacam, entre outros, os livros Sociologia das Migrações (1995), Migrações - Permanência e Diversidade (2009), A Serra e a Cidade - O Triângulo Dourado do Regionalismo (2009) ou Das Migrações às Interculturalidades (2014). E colaboradora habitual de revistas científicas internacionais neste domínio, Maria Beatriz Rocha-Trindade, nascida em Faro, e Doutorada pela Universidade de Paris V (Sorbonne) e Agregada pela Universidade Nova de Lisboa (FCSH), é uma das cientistas sociais que mais tem contribuído para o conhecimento da emigração portuguesa. Professora Catedrática Aposentada na Universidade Aberta, foi responsável pela fundação nos inícios dos anos 90, nesta instituição de ensino superior público, do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI). Um centro pioneiro na área das Migrações e Relações Interculturais, que conta atualmente com mais de meia centena de investigadores, e que tem dinamizado ao longo dos últimos anos uma intensa pesquisa interdisciplinar e formação avançada na área das migrações e das relações interculturais em contexto nacional e internacional. O pioneirismo da insigne académica e investigadora está igualmente expresso na introdução em Portugal do ensino da sociologia das migrações, primeiro na Universidade Católica, no curso de Teologia, em 1994, e dois anos depois, na Universidade Aberta, a nível de licenciatura e de mestrado. Membro de diversas organizações científicas portuguesas e estrangeiras, designadamente da Comissão Científica da Cátedra UNESCO sobre Migrações, da Universidade de Santiago de Compostela, do Museu das Migrações e das Comunidades, criado em 2001 por deliberação do Município de Fafe, e da Comissão Científica do Centro de Estudos de História do Atlântico/CEHA, a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade, coordena presentemente a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa. O percurso de vida singular e o trabalho académico laborioso da Professora Catedrática Maria Beatriz Rocha-Trindade, Titular da Ordem Nacional do Mérito, de França, com o grau de Cavaleiro, da Medalha de Mérito do Município de Fafe, da Medalha de Ouro do Município do Fundão e da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, de Portugal, estão sublimemente sintetizados nas palavras do geógrafo Jorge Malheiros: “a investigação em migrações em Portugal não seria a mesma coisa sem a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade”. Genuína fonte de inspiração, e com uma capacidade inesgotável de investigação assente num modelo de partilha de conhecimento e de trabalho em rede, a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade presenteou-nos, no início deste ano, com um novo e relevante livro, intitulado Em Torno da Mobilidade – Provérbios, expressões e frases consagradas. A sua obra mais recente, uma publicação bilingue (português e inglês), profusamente ilustrada, com chancela das edições Almaletra, desponta no âmbito de palestras apresentadas nos dezassete colóquios internacionais que tiveram lugar em Tavira sobre o tema dos Provérbios. Sendo constituída por oito capítulos: “Potencialidades simbólicas da imagem no quadro do percurso migratório”; “Nós e os outros. Preconceitos e estereótipos”; “Árvore das patacas – Origem da expressão”; “Migrações portuguesas – a utilização da simbologia tradicional na captação de poupanças”; “Os provérbios na atividade comercial”, “Sonhos de pedra e cal, espaços e tempos” e “Homenagear quem parte”. Como confluem Domingo Gonzalez Lopo, Professor da Universidade de Santigo de Compostela, e Rui Soares, Presidente da Associação Internacional de Paremiologia, prefaciadores do livro, Em Torno da Mobilidade reforça o conhecimento sobre as perspetivas que caracterizam um dos mais importantes fenómenos sociais, presente ao longo de toda a História de Portugal – as migrações. De facto, com o livro Em Torno da Mobilidade – Provérbios, expressões idiomáticas e frases consagradas, descobrimos, aprendemos, ficamos a conhecer porque utilizamos certas palavras, expressões, na linguagem corrente, mas também símbolos e uma cultura que é necessário preservar e divulgar. Expressões como “Árvore das Patacas”, que nos remete para a árvore de origem asiática que foi trazida para o ocidente, e que designa tanto na vertente popular como vertente literária o enriquecimento rápido e sem esforço. Conta-se que o imperador D. Pedro I, por brincadeira, escondia moedas (patacas) nas flores desta árvore de origem asiática no Brasil. Com o tempo as flores fechavam-se, mantendo a moeda dentro do fruto, depois o soberano pegava num desses frutos, abria-o diante de todos, dizendo que no Brasil o dinheiro nascia até em árvores. A utilização desta expressão no contexto migratório de Portugal para o Brasil, identifica simbolicamente a riqueza almejada. Ou símbolos expressivos como “as malas”, que ilustram a capa do livro, e que como refere a autora ao longo dos vários ciclos migratórios “mudaram de configuração e, embora diferentes, continuam a assegurar a ligação simbólica que sempre tiveram com a mobilidade. É o caso paradigmático da “mala de cartão”, símbolo da emigração “a salto” dos anos 60, celebremente cantada por Linda de Suza. Neste sentido, o livro Em Torno da Mobilidade é um novo e relevante contributo para o conhecimento da emigração lusa, destinando-se a educadores, professores, entidades públicas e privadas, em suma, ao público em geral que valoriza e reconhece o papel preponderante da Diáspora na projeção de Portugal no mundo.

domingo, 10 de março de 2024

José Costa: um emigrante empreendedor de referência na comunidade portuguesa em Andorra

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do empresário José Costa em Andorra. Um pequeno principado independente situado entre a França e a Espanha, nas montanhas dos Pirenéus, com 80 mil habitantes, dos quais cerca de 14% são portugueses. Com raízes no norte do país, José Costa nasceu em 1971, tendo a sua infância e adolescência sido passada entre Canidelo, freguesia do município de Vila Nova de Gaia, e em Ponte Lima, vila minhota onde a família de origens humildes, o pai era encarregado da Pedreira da Madalena, se instalou através da aquisição de uma quinta. Concluído o ensino secundário na vila minhota, José Costa vivenciou a sua primeira experiência migratória no alvorecer da maioridade, quando decidiu primeiramente ir trabalhar para Lisboa, e pouco tempo depois, ansiando por melhores condições de vida e dotado de um espírito arrojado, emigrou para a ilha francesa da Córsega, onde desempenhou funções no setor da construção. A curta, mas enriquecedora experiência profissional na Córsega, e o apego ao torrão natal trariam novamente o jovem laborioso à pátria de origem, estabelecendo-se como empresário no âmbito da construção, restauração e têxtil. No entanto, a sua notável capacidade empreendedora e constante procura por novos horizontes profissionais impulsionaram um novo trajeto migratório para Andorra, nova pátria de acolhimento a partir de 2006, e base de um percurso que transformou José Costa num emigrante empreendedor de referência na comunidade portuguesa no principado andorrenho. Esse caminho começou a ser trilhado quando nesse período criou uma companhia de subcontratação que tem trabalhado ao longo dos anos com as empresas de construção mais prestigiadas e reconhecidas do Principado de Andorra. Através de uma aposta decisiva na qualificação e especialização em construção de elevado valor acrescentado, o emigrante empresário tem estado envolvido na expansão de obras emblemáticas no território andorrenho, como é o caso paradigmático, do Centro Termolúdico Caldea, o maior centro termal do sul da Europa. Empresário multifacetado, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, José Costa lidera atualmente um grupo empresarial consolidado, Group Nova, que além da de se destacar através da Nova Construtora em acabamentos de luxo na construção, tem igualmente investimentos nos ramos do imobiliário, têxtil, moda, eventos, limpeza e estética. O sucesso que o emigrante empresário nortenho alcançou ao longo das últimas décadas, tem sido acompanhado de um apoio constante à comunidade luso-andorrenha. Destacando-se, entre outros, não só a solidariedade que presta a vários compatriotas que demandam em Andorra melhores condições de vida, como também generosos apoios concedidos a coletividades lusas, por exemplo, do Grupo de Folclore “Casa de Portugal”, sediado há trinta anos no principado, e de quem o grupo empresarial de José Costa tem sido patrocinador oficial de múltiplas iniciativas, como seja o caso, do Festival de Folclore Ibérico – Principado de Andorra. A filantropia de emigrante empreendedor, ao longo dos anos, tem sido extensível a diversas iniciativas e associações andorrenhas, como os clubes de futebol Penya d'Andorra e Esportiu Carroi, ou o clube de karaté Encamp. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em Andorra, sexta menor nação da Europa onde vivem e trabalham à volta de 10 mil emigrantes portugueses, sobretudo nas áreas da construção, hotelaria e serviços, o exemplo de vida do emigrante e benemérito José Costa, espelha o conceito de empreendedorismo delineado pelo conceituado empresário norte-americano Michael Dell: “Os empreendedores reais têm o que eu chamo de três Ps (e, acreditem-me, nenhum deles significa ‘permissão’). Os empreendedores reais têm uma ‘paixão’ por aquilo que estão a fazer, um ‘problema’ que precisa de ser resolvido, e um ‘propósito’ que os impulsiona para a frente.”

domingo, 3 de março de 2024

Orlando Pompeu volta a expor na Suíça

No decurso do mês de março, o mestre-pintor Orlando Pompeu, detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, inaugura uma nova exposição individual no território helvético. Neste regresso à Suíça, país da Europa Central onde o artista plástico nos últimos anos tem realizado mostras artísticas coroadas com sucesso e granjeado vários colecionadores e admiradores, Orlando Pompeu inaugura no dia 28 de março, na Galeria 111, uma galeria de arte na cidade de Zurique, uma exposição intitulada “Contextos Gestuais”. Trata-se de conjunto significativo pinturas de aguarelas, reveladoras da singular criatividade e talento de um dos mais conceituados artistas plásticos portugueses da atualidade. Com uma carreira de quase quarenta anos, bem como um currículo nacional e internacional ímpar, Orlando Pompeu nasceu no concelho minhoto de Fafe. Estudou desenho, pintura e escultura em Barcelona, Porto e Paris, e nos anos 90 progrediu no seu percurso artístico ao ir trabalhar para os Estados Unidos da América, onde expôs na Galeria Eight Four, em Nova Iorque, e depois, Japão, tendo exposto na TIAS – Tokio International Art Show e na Galeria Garou Monogatari em Tóquio. Em 2022 foi distinguido em Paris com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras.

sábado, 2 de março de 2024

A generosidade dos emigrantes em prol dos Bombeiros

Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações. Exemplos de serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações. Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações. Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado na generosidade do emigrante e empresário de sucesso Abílio Lourenço. Natural da freguesia da Boalhosa, concelho de Ponte de Lima, Abílio Lourenço emigrou para França no alvorecer da década de 1980, como muitos compatriotas na demanda de melhores condições de vida. Como primeiras experiências profissionais no território gaulês, o emigrante limiano almejou trabalhar na colheita de uvas, na construção civil, em serviços de limpezas e na área da pintura. Dotado de grande capacidade de trabalho e visão, Abílio Lourenço criou em 1994 a empresa MEGAL, uma firma que conta com várias dezenas de funcionários, muitos deles de origem portuguesa, e que ao longo das últimas décadas se tem assumido como uma estrutura de referência no sector de mosaicos e ladrilhos cerâmicos na região de Paris. Os rasgos empreendedores do emigrante limiano incitaram, nos tempos mais recentes, Abílio Lourenço a associar-se em França a uma empresa portuguesa que vende produtos de higiene e de limpeza. Assim, como a abrir, conjuntamente com três amigos, um restaurante que serve especialidades lusas em Ivry-sur-Seine, nos arredores de Paris, chamado “Cantinho do Lima”. Radicado há mais de quarenta anos em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas, o sucesso que o empresário alcançou ao longo dos últimos anos no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma singular dimensão benemérita em prol do seu torrão natal. O vincado sentimento bairrista e de apego às raízes, têm impelido no decurso dos últimos anos o emigrante limiano a prestar um apoio notável à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima. Uma centenária corporação que se constitui como uma peça estruturante no serviço prestado à população minhota do concelho de Ponte de Lima, a quem Abílio Lourenço já ofereceu uma ambulância, um carro de combate a fogos, desfibrilhadores e equipamentos de proteção individual para bombeiros. A insigne filantropia de Abílio Lourenço em prol dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, impeliu no ano passado, no âmbito das comemorações do 136.º aniversário da associação limiana, a direção da instituição a distinguir o emigrante empreendedor como sócio honorário cuja figura passa a estar exposta no quartel da centenária corporação. A cerimónia de homenagem foi igualmente secundada pela Liga dos Bombeiros Portugueses, ou seja, a confederação das Associações e Corpos de Bombeiros voluntários ou profissionais no território nacional. A generosidade do emigrante e empresário de sucesso Abílio Lourenço em prol da sua comunidade de origem encontra-se ainda espelhado no gesto de enorme altruísmo que teve na quadra natalícia transata para com o Hospital Conde de Bertiandos, em Ponte de Lima. Através da Liga dos Amigos do Hospital de Ponte de Lima (LAHPL), Abílio Lourenço ofereceu aos serviços hospitalares do Hospital Conde de Bertiandos, diversos equipamentos para conforto dos doentes e para apoio às intervenções dos profissionais. Uma das figuras mais gradas da numerosa comunidade portuguesa em França, a benemerência e empreendedorismo de Abílio Lourenço, desígnio cívico reconhecido no ano passado com o prémio “Honra e Mérito” na Gala dos Portugueses de Valor promovida pela revista da diáspora Lusopress, inspira-nos a máxima do médico e escritor oitocentista Júlio Dinis: “Os afetos generosos estendem a sua generosidade aos sentimentos dos outros corações”.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Solidariedade e empreendedorismo: as marcas do percurso de Casimiro Gaspar na Flórida

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças à capacidade de trabalho e de mérito, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Casimiro Gaspar, conhecido empresário benemérito da comunidade portuguesa na Flórida. Natural de Moçambique, antiga colónia portuguesa em África, e com raízes covilhanenses pelo lado paterno e transmontanas por via materna, Casimiro Gaspar, emigrou para os Estados Unidos em 1978, no rescaldo da independência da nação localizada no sudeste do continente africano, e depois de uma curta estadia em Linda-a-Velha, na demanda de melhores condições de vida. Após vários anos em Nova Jérsia, estado situado no nordeste dos EUA, e de uma inicial experiência profissional por conta própria no ramo da limpeza. O emigrante português com raízes africanas, estabeleceu-se na Flórida, estado localizado no extremo sudeste da América, onde fundou em 1994, a Trailco Group, uma firma de assistência e reparação a atrelados, contentores e chassis. Uma empresa que no decurso das últimas décadas tem crescido de forma sustentada, assente nos valores da preocupação social, comprometimento familiar e relacionamento com a comunidade, contexto que a catapultou para uma firma de referência na sua área de atividade, espelhada na presença em cinco estados norte-americanos. Mormente, na Flórida, onde se encontra sediada na cidade de Ocala, mas também em Nova Jérsia, Geórgia, Califórnia e Texas. O esforço hercúleo e a dedicação incansável de Casimiro Gaspar, conhecido por cultivar a simplicidade, os valores familiares e a constância da amizade, robusteceram um empresário de sucesso que nunca descurou a responsabilidade social. Radicado há mais de quarenta anos nos EUA, o sucesso que o empresário alcançou no mundo dos negócios, tem sido constantemente acompanhado de uma importante dimensão benemérita em prol da comunidade e das suas raízes. O espírito altruísta de Casimiro Gaspar, encontra-se paradigmaticamente vertido nas várias jornadas solidárias de mota que tem realizado ao longo dos últimos anos por vários estados norte-americanos, procurando deste modo sensibilizar a angariar fundos para causas sociais. Designadamente, para a Casa do Gaiato de Maputo, uma notável estrutura social sediada em Moçambique, torrão natal do emigrante português, que tem como missão apoiar jovens em risco procurando proporcionar o seu desenvolvimento, a aquisição de aptidões pessoais e profissionais visando a sua plena autonomização enquanto futuros adultos. O carinho e generosidade de Casimiro Gaspar para com a Casa do Gaiato de Maputo, tem possibilitado o envio regular de donativos de milhares de dólares, que se têm revelado importantes para prover à continuidade e sustentabilidade desta meritória instituição a favor das crianças e jovens moçambicanos. Ainda no ano transato, no âmbito da quadra natalícia, o empresário benemérito reuniu dezenas de amigos num almoço solidário no Portuguese American Cultural Center of Palm Coast (PACC), que na esteira de iniciativas realizadas em anos anteriores, permitiu o envio de cerca de 10 mil dólares para a Casa do Gaiato de Maputo. O afeto e altruísmo do conhecido empresário benemérito da comunidade portuguesa na Flórida para com a Casa do Gaiato de Maputo, levou-o inclusivamente, em 2018, meio século depois de ter saído de Moçambique, a visitar a Obra da Rua instituída pelo Padre Américo Monteiro de Aguiar, que ficou conhecido por Padre Américo. Uma jornada humanista e emotiva, de regresso, meio século depois, à terra de origem. Uma viagem de afirmação identitária, feita na companhia da filha Ashley Gaspar, e que permitiu a Casimiro Gaspar constatar “in loco” o relevante apoio que tem proporcionado ao acolhimento, educação e integração na sociedade de crianças e jovens moçambicanos. Uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa na Flórida, o exemplo de vida inspirador de Casimiro Gaspar, recorda-nos a máxima do filósofo alemão Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Kenny Alameda: um empresário lusodescendente de sucesso na Califórnia

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses e lusodescendentes que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso de sucesso do lusodescendente Kenny Alameda, fundador da Clipper Oil, uma empresa, sediada em San Diego, na costa da Califórnia, de referência no abastecimento de combustível a navios que operam no oceano Pacífico. Nascido em San Diego, no alvorecer da década de 1950, Kenny Alameda é filho de emigrantes portugueses que se fixaram no decurso da primeira metade do séc. XX no sul do estado da Califórnia. O pai, natural de Fornos de Algodres, distrito da Guarda, na esteira de milhares de compatriotas passou parte significativa da sua vida na pesca do atum, atividade da qual os portugueses foram pioneiros na cidade de San Diego, sendo que a mãe era natural de São Miguel, a maior ilha do arquipélago dos Açores. Dotado de grande capacidade de trabalho e visão empreendedora, Kenny Alameda, que estudou na Universidade de San Diego e formou-se em Marketing, teve o rasgo de nos anos 80 com o declínio da indústria do atum fundar a Clipper Oil, uma empresa vocacionada para atender às necessidades dos clientes marítimos no Pacífico Ocidental, à medida que os navios mudavam as suas operações de San Diego. Ao longo das últimas décadas, a Clipper Oil passou de um pequeno distribuidor marítimo em San Diego para um fornecedor mundial de referência de combustíveis e transportes marítimos, com um volume de negócios anual da ordem dos 200 milhões de dólares. E cujo raio de ação se estende, por exemplo, pela Samoa Americana, as Ilhas Marshall, os Estados Federados da Micronésia, Vancouver, no Canadá, o Panamá ou o Equador. A veia empreendedora pulsante de Kenny Alameda, que tem atualmente os filhos a assumirem a responsabilidade de expandir os negócios da empresa a novos mercados, encontra-se ainda vincada no setor imobiliário. Ramo em que o lusodescendente também apostou decisivamente desde os anos 80, como cofundador da Clipper Capital Group, uma estrutura imobiliária especializada na aquisição e operação de ativos multifamiliares existentes no sudoeste americano e no noroeste do pacífico. Uma das figuras mais gradas da comunidade de lusodescendentes na Califórnia, Kenny Alameda, que em 2012 foi nomeado pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como comissário para o Conselho das Pescas do Pacífico Ocidental e Central na questão da gestão das espécies altamente migratórias, inspira-nos a máxima do célebre romancista inglês Charles Dickens: “O homem nunca sabe do que é capaz, até que o tenta”.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

José Correia: um self-made man luso-canadiano

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso de sucesso do comendador José Correia, dono da maior companhia de limpeza e manutenção do Canadá. Natural de Albufeira, na zona costeira da região do Algarve, José Correia emigrou para o Canadá em 1967, com 15 anos de idade, ao encontro da figura paterna, que tinha encetado um ano antes uma trajetória migratória transatlântica em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde, na esteira de milhares de compatriotas que procuravam também que os seus descendentes não passassem pelo tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. A chegada ao Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, empenho e resiliência, valores coligidos no seio familiar, impeliram desde cedo o jovem albufeirense a trabalhar em “part-time” no ramo da limpeza e manutenção, área que absorvia muita mão-de-obra portuguesa e que estava a ter procura em Manitoba, província localizada no centro longitudinal do Canadá. Concomitantemente, José Correia almejou melhorar o inglês, estudando à noite, e desenvolver melhores conhecimentos e práticas em soldagem, eletricidade e desenho, mundividência que o incitou a fundar com um sócio canadiano, em 1967, a Bee-Clean, uma empresa que rapidamente se transformou num grupo de referência nos setores de limpeza e manutenção no território canadiano. Assente desde a sua génese na mão-de-obra portuguesa, a Bee-Clean expandiu-se no decurso das décadas seguintes para o oeste do Canadá, mormente Saskatchewan e Alberta. Sendo que atualmente, o grupo Bee-Clean que tem cerca de 15 mil funcionários, emprega ainda mais de 4 mil portugueses, numa época em que a emigração lusa para a América do Norte tem vindo a diminuir, e possui representações nas várias províncias canadianas, além de marcar ainda presença em Portugal, nos Açores, na China, em Xangai, e nos Estados Unidos, no Iowa. Contexto, que converteu a Bee-Clean Building Maintenance na maior companhia de limpeza e manutenção do Canadá, operando, por exemplo, em edifícios privados e governamentais, aeroportos, hospitais, bases militares e esquadras da polícia. E que concorreu diretamente, para que o emigrante algarvio tenha sido reconhecido em 1998 com o Prémio Empreendedor do Ano pela consultora Ernst & Young; em 2015 distinguido pelo Portuguese Canadian Walk of Fame; e no ano transato considerado Empreendedor do Ano pela Building Owners and Managers Association (BOMA) of Canada, na região das Pradarias. A condecoração mais recente, foi atribuída no alvorecer deste ano ao empresário luso-canadiano pelas mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que agraciou José Correia com a Comenda da Ordem de Camões, pela sua atividade empresarial e filantrópica para com a comunidade portuguesa no Canadá, nação onde reside e trabalha há meio século. Uma ordem honorifica portuguesa justamente merecida, destinada distinguir quem tiver prestado serviços relevantes à língua portuguesa, á sua projeção no mundo e á intensificação das relações culturais entre os povos, e as comunidades que se exprimem em português e serviços relevantes para a conservação dos laços das comunidades lusas com Portugal. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa no Canadá, onde vivem e trabalham hodiernamente mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes, o exemplo de vida e de sucesso do comendador José Correia, relembra-nos a visão lapidar de Eça de Queirós, que encarava a emigração como uma força civilizadora.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O altruísmo dos emigrantes em prol dos Bombeiros

Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações. Exemplos de serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta crónica de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações. Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações. Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado no altruísmo do emigrante luso-americano Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast. Natural do concelho de Ovar, distrito de Aveiro, António Amaral emigrou para a América nos anos 60, com tenra idade, na companhia da mãe e dos quatro irmãos, ao encontro da figura paterna que emigrara três anos antes em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde. A chegada à América do Norte, mais concretamente a Nova Jérsia, para onde o pai emigrara nesse período, e onde o jovem ovarense haveria de conhecer a esposa Maria, também emigrante, natural de Viseu, e com quem se casou aos 18 amos, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. Dotado de rasgo e visão, António Amaral, mais conhecido como Tony, abriu na década de 1980 em Palm Coast, cidade localizada no estado da Flórida, uma construtora, e começou a dedicar-se à compra e venda de terrenos. O sentido de esforço, trabalho e dedicação, permitiram ao fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, construir nas últimas décadas um império empresarial com bases sólidas nas áreas da construção civil e imobiliário, que foi capaz de obter dividendos do crescimento populacional da Flórida, um dos maiores entre os estados americanos. Radicado há mais de cinquenta anos nos EUA, o sucesso que o empresário alcançou ao longo dos últimos anos no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma singular dimensão benemérita em prol da comunidade luso-americana. Como sustenta a missão singular da Fundação Amaral, constituída pelo emigrante ovarense em 2006, e que há cerca de duas décadas entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida. O profundo sentimento bairrista e de apego às raízes pátrias, têm impelido invariavelmente o benemérito luso-americano a apoiar iniciativas em prol de causas nacionais e locais. A mais recente, ocorreu no passado dia 27 de janeiro, através da dinamização de um jantar de beneficência para as obras do quartel dos Bombeiros Voluntários de Ovar. O evento solidário, organizado por Tony Amaral, família e amigos, que decorreu nas instalações do Portuguese American Cultural Center of Palm Coast (PACC), almejou através da mobilização de forças vivas da comunidade portuguesa radicada na Flórida, angariar mais de 25 mil dólares. Uma importante receita, que em conjunto, com a verba recolhida nesse dia num evento com o mesmo fim realizado nas instalações da Associação Cultural e Desportiva do Torrão do Lameiro, em Ovar, permitirá alavancar o financiamento das obras do quartel da centenária e humanitária instituição ovarense. O insigne e constante altruísmo do emigrante luso-americano Tony Amaral em prol da sua comunidade de origem, desígnio cívico que impeliu em 2021 o Município de Ovar a distinguir o seu filho ilustre com a Medalha Municipal de Prata. E, em particular, o seu altruísmo em prol dos Bombeiros Voluntários de Ovar, recorda-nos a máxima do presidente norte-americano Theodore Roosevelt: “Faça o que puder, com o que tem, onde estiver”.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Jack Prazeres: um percurso de compromisso cívico na comunidade portuguesa em Toronto

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, económico, político e social. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e singular do comendador Jack Prazeres, um dos mais reconhecidos líderes comunitários e dirigentes voluntários da comunidade portuguesa em Toronto. Natural da Pinhôa, uma pequena aldeia do concelho da Lourinhã, no litoral da região Oeste, enquadrada por um ambiente rural e pitorescos moinhos de vento, Jack Prazeres emigrou para o Canadá em 1974, com 12 anos idade, ao encontro dos pais que dois anos antes, na esteira de milhares de compatriotas, se tinham estabelecido em Toronto na demanda de melhores condições de vida para uma família humilde. A chegada à maior cidade do Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a abnegação, valores coligidos no seio familiar, forjaram uma consciência cívica e uma têmpera de trabalho que impeliram ainda na adolescência o jovem lourinhanense a trabalhar na construção depois de concluir o ensino secundário. A experiência profissional acumulada, em particular na área da alvenaria, impeliu nos anos 80, em conjunto com um sócio, o emigrante lourinhanense a fundar a Astrol Masonry. Na década seguinte, quando se mudou para Mississauga, na região metropolitana de Toronto, abriu ainda a TriCan Masonry, sendo que já no decurso dos primeiros anos do séc. XXI, criou a Senso Group, uma estrutura empresarial que se destaca atualmente como fornecedora de materiais e equipamentos de construção em Toronto. Paralelamente ao sucesso que foi acumulando ao longo dos anos no mundo dos negócios, Jack Prazeres sustentado nos ideais da solidariedade, entreajuda e cidadania, estabeleceu um profundo compromisso cívico e de voluntariado com a comunidade luso-canadiana. Esse compromisso inquebrantável passou, por exemplo, pela liderança do festival Carassauga em Mississauga, conhecido como o maior festival multicultural do Canadá; ou do Centro Cultural Português de Mississauga, uma das mais representativas agremiações lusas na província do Ontário. Fortemente envolvido com várias iniciativas e organizações comunitárias luso-canadianas, desde o alvorecer do séc. XXI que o empresário de sucesso, que conjuntamente com John Peter Ferreira e Manuel DaCosta, está no núcleo fundador da Magellan Community Foundation, é o grande impulsionador e presidente da Luso-Canadian Charitable Society, um centro de apoio social sem fins lucrativos que presta assistência a portugueses e lusodescendentes portadores de deficiência. O dinamismo empresarial, o relevante trabalho sociocultural, o voluntariado e a liderança comunitária eclética de Jack Prazeres concorreram decisivamente para que em 2010 tenha sido agraciado com a Ordem do Mérito, uma ordem honorífica portuguesa, justamente merecida, que visa distinguir actos ou serviços meritórios que revelem abnegação em favor da coletividade, praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas. Entre as várias distinções luso-canadianas que o empresário e líder comunitário tem alcançado ao longo do seu percurso singular, destacam-se ainda o prémio Jubileu da Rainha, a Medalha de Boa Cidadania de Ontário, a distinção pelo Portuguese Canadian Walk of Fame, o prémio de mérito atribuído pela ACAPO, e mais recentemente, no ocaso do ano transato, o facto de ter sido o primeiro português a ser incluído no passeio da fama de Mississauga (Legends Row), ao lado de personalidades proeminentes da sociedade canadiana. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o percurso singular do empresário e líder comunitário Jack Prazeres, que nunca esquece a família e as suas raízes, tanto que em 2018 foi galardoado pela ADL - Associação de Desenvolvimento Local da Lourinhã, na categoria “Lourinhanenses no Mundo”, recorda-nos a máxima introspetiva do filósofo grego Aristóteles, um dos pensadores com maior influência na cultura ocidental: “Qual é a essência da vida? Servir os outros e fazer o bem.”

domingo, 21 de janeiro de 2024

A solidariedade dos emigrantes além-fronteiras: o exemplo inspirador do comendador Manuel Bettencourt

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão solidária, uma genuína marca genética da diáspora lusa, constantemente expressa em gestos, campanhas e iniciativas fautoras de valores humanistas e altruístas. Dentro da centelha solidária que brilha incessantemente no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas, destaca-se ao longo das últimas décadas, o exemplo inspirador do comendador Manuel Bettencourt, uma das figuras mais gradas da comunidade luso-americana. Natural de Ribeirinha, uma aldeia do concelho de Santa Cruz da Graciosa, ilha Graciosa, arquipélago dos Açores, Manuel Bettencourt emigrou para a América no final dos anos 60, na casa dos vinte anos de idade, ao encontro dos pais que tinham partido um ano antes em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde e numerosa. A chegada à Califórnia, o estado com maior número de emigrantes portugueses e lusodescendentes nos Estados Unidos, marcou o início de uma trajetória de um verdadeiro “self-made man”, cujo trabalho, esforço e resiliência, valores coligidos no seio familiar, sustentaram uma graduação em Educação Geral no San Jose City College, uma licenciatura em Biologia na San Jose State University, e uma especialidade de Estomatologia no ensino superior em Guadalajara, no México. Profissional de medicina dentária renomado, o emigrante graciosense, presentemente conselheiro da comunidade portuguesa na Califórnia e dedicado dirigente associativo luso-americano, ao longo dos trinta anos que exerceu cirurgia dentária no seu consultório em Santa Clara, atual centro de Silicon Valley, nunca recusou um paciente por falta de dinheiro. Estando já aposentado, mostra-se ainda hoje disponível para prestar cuidados dentários a inúmeras crianças de agregados carenciados, por exemplo, de imigrantes mexicanos. Sendo que, através da Santa Clara County Dental Society (SCCDS), continua a ensinar em escolas primárias, higiene oral às crianças. Desde 2008, exerce também voluntariado na clínica odontológica do CityTeam, no norte de San José, uma estrutura que fornece ajuda e apoio a homens, mulheres e crianças que lutam contra a insegurança alimentar, violência doméstica, toxicodependência ou situação de sem-abrigo. Ao longo da última década, uma vez por semana, o distinto emigrante açoriano tem prestado graciosamente na clínica odontológica CityTeam de San José, apetrechada com material e equipamentos vindos generosamente do seu antigo consultório, serviço dentário a diversos sem-abrigo e jovens toxicodependentes. Este trabalho de voluntariado, incalculável na riqueza e na coesão social, no bem fazer, na promoção da qualidade de vida dos mais desvalidos de San José, a terceira cidade mais populosa da Califórnia, acarreta inclusive que o dentista luso-americano aposentado, tenha de pagar para renovar a sua licença. Assim como custear e realizar cursos de educação continuada, cinquenta horas a cada dois anos para atualizar os novos materiais e técnicas, além de comprar e pagar um seguro de negligência todos os anos para trabalhar a título gracioso. O notável trabalho e contributo de Manuel Bettencourt - agraciado com o distintivo da Ordem do Mérito em 2002, a Ordem do Infante D. Henrique em 2011 e a Insígnia Autonómica de Reconhecimento em 2015 -, para aumentar a participação de todos na construção de uma sociedade melhor, concorreu para que no passado dia 13 de janeiro tenha sido distinguido, durante a Gala da Santa Clara County Dental Society (SCCDS), com um dos Prémios Anuais de Excelência Odontológica. Num mundo repleto de desafios e desigualdades sociais, o comendador Manuel Bettencourt, que ainda recentemente doou meio milhão de dólares para a prossecução do programa de estudos portugueses na San Jose State University, ao assumir a solidariedade como missão de vida, inspira-nos a máxima de Franz Kafka, um dos escritores mais influentes do século XX: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Comendador António Frias: um self-made man luso-americano

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador António Frias, um dos mais proeminentes empresários portugueses na América. Natural da Calheta, lugar pertencente à freguesia de Santo Espírito, concelho da Vila do Porto, na ilha açoriana de Santa Maria, António Frias emigrou em 1955, aos 16 anos de idade, com a família para Hudson, estado do Massachusetts, na região da Nova Inglaterra, onde reside uma das mais numerosas e antigas comunidades portuguesas nos Estados Unidos da América (EUA). Como acentuam as estatísticas da época, a trajetória migratória de António Frias e da família para a América, durante a década de 1950, na esteira de milhares de açorianos, constituiu a derradeira esperança na demanda de melhores condições de vida, e assim escapar a um quotidiano arquipelágico marcado pelo espectro da pobreza e da miséria. A chegada à cidade de Hudson, numa fase de incremento da emigração açoriana para os Estados Unidos, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, transformaram o jovem mariense que começou a trabalhar numa fábrica de calçado e numa padaria, num dos mais proeminentes empresários portugueses no ramo da construção civil na América. O percurso de sucesso foi alavancado dez anos depois da chegada ao território norte-americano, período em que se juntou ao irmão José Frias e ao amigo Jack Santo, e inaugurou com apenas três funcionários a S&F Concrete Contractors, que começou por construir passeios, sobrados de casas e valetas de cimento. Mais tarde, António Frias comprou a parte do amigo, tornando-se sócio maioritário da empresa, que é atualmente a maior empresa de construção civil da Nova Inglaterra e uma das maiores dos EUA, com um volume de negócios superior a 200 milhões de dólares anuais. Com mais de meio século de experiência acumulada, e uma equipa de mais de 700 funcionários, o império empresarial da S&F Concrete Contractors tem um conjunto de obras emblemáticas disseminadas pelo vasto território norte-americano. Entre elas, contam-se, por exemplo, a construção do Gillette Stadium, o estádio da equipa de futebol americano New England Patriots (NFL); o pavilhão dos Boston Celtics, uma das equipas mais populares da National Basketball Association (NBA); a Millennium Tower em Boston; o MIT Simmons Residence Hall, em Cambridge; e o Encore Boston Harbor, um resort de luxo que inclui um casino com mesas de poker e máquinas de jogos. Empresário multifacetado, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, premissas que estão na base da Ordem de Mérito Industrial de Portugal que recebeu em 1989 do antigo Presidente da República, Mário Soares. E em 2011, o Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa, iniciativa promovida pela COTEC Portugal, das mãos do Presidente da República, Cavaco Silva. No rol das condecorações de António Frias, avultam várias distinções atribuídas pela comunidade luso-americana, e autoridades estaduais e federais norte-americanas. Como seja um doutoramento honorífico da Massachusetts Maritime Academy; o Portuguese American Leadership Council of the United States (PALCUS); ou o Leadership Appreciation Award, atribuído pelo antigo governador de Massachusetts, Charlie Baker. Concomitantemente, são públicas as amizades que o emigrante português de sucesso, ao longo dos anos, tem cultivado junto de figuras influentes do cenário político norte-americano, mormente, dos antigos presidentes dos Estados Unidos, Jimmy Carter, George Bush pai e filho, e Donald Trump. O sucesso que alcançou ao longo de mais de meio século a cimentar os EUA, tem sido constantemente acompanhado de generosos apoios a iniciativas e projetos da comunidade luso-americana, assim como de um profundo sentido altruísta em prol dos trabalhadores da S&F Concrete Contractors, vários deles naturais da ilha açoriana de Santa Maria. Nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o comendador António Frias mantém uma ligação umbilical ao seu torrão arquipelágico, onde particamente todos os anos passa férias na sua casa de veraneio na Maia, na costa sudeste da Ilha de Santa Maria. Uma ligação pátria que se tem manifestado, por exemplo, ao longo dos anos, como dedicado sócio benfiquista, e amigo próximo do saudoso Eusébio, estrela maior do futebol do Velho Continente, de quem financiou uma estátua no Gillette Stadium, em Boston. Numa fase da vida em que tem procurado passar mais tempo com a família e dedicar-se a apoiar os filhos e netos na gestão dos negócios familiares, o espírito empreendedor do emigrante açoriano mantém-se ainda interligado ao universo empresarial que construiu ao longo de mais de meio século na principal potência mundial. Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o exemplo de vida do empresário e filantropo António Frias tem sido incessantemente orientado pela máxima do célebre filósofo romano Séneca: “Escolha como um guia quem você vai admirar mais ao vê-lo agir do que ao ouvi-lo falar”.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Monumentos ao Emigrante: uma homenagem à história da emigração portuguesa

A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de homenagear os portugueses que partiram em demanda de melhores condições vida pelos quatro cantos do mundo, assim como o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem. Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, em Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante “marca na atualidade a paisagem portuguesa”, sendo em grande medida o reflexo da “alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras”. De facto, são muitos e variados os exemplos de monumentos aos emigrantes que enobrecem vários espaços do território nacional, desvendando e homenageando os percursos emigratórios de inúmeros compatriotas. Assim como, o empreendedorismo e a solidariedade que os mesmos dinamizam nas pátrias de acolhimento e de origem. No Norte de Portugal, por exemplo, na cidade da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, no ocaso da década de 1990, foi inaugurado o Monumento ao Emigrante localizado no Monte de São Félix em Laúndos, dedicado aos portugueses que partiram para o Brasil em busca de uma vida melhor. O marco é simbolizado pela família Giesteira, que saiu de Laúndos nos anos 50 rumo a terras brasileiras, na esteira de milhares de compatriotas, foi financiado por Manuel Giesteira, primogénito da família Giesteira, cujo empreendedorismo e benemerência alavancou em Guarulhos, São Paulo, um instituto filantrópico. Na região do Centro, São Pedro do Sul, uma década antes, recebeu uma obra escultórica de homenagem aos emigrantes que partiram desta cidade pertencente ao distrito de Viseu em direção à África do Sul. O monumento, localizado no Jardim do Emigrante, foi inclusivamente oferecido pela comunidade portuguesa na República da África do Sul. Já no Norte Alentejano, designadamente na vila raiana de Nisa, em 2017, foi inaugurado um monumento que homenageia todos os nisenses que emigraram sobretudo para França, simbolizando a viagem “a salto”, além Pirenéus, que nos anos 60 foi trilhada por milhares de portugueses. Nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, territórios indelevelmente marcados pela emigração, são vários os monumentos que assinalam o fenómeno. Entre os mais recentes, encontram-se duas estátuas que homenageiam duas das mais proeminentes figuras da comunidade portuguesa na Califórnia, onde se encontra a maior comunidade de portugueses e descendentes luso-americanos nos Estados Unidos. Em 2017, na ilha do Pico, foi inaugurada na praceta do Centro Social da Silveira, Lajes do Pico, uma estátua em homenagem ao comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica. Natural da Silveira, onde foi o principal benemérito da obra do Salão do Centro Social, Cultural e Recreativo, o emigrante açoriano conhecido como o "rei da batata-doce", com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, tem ao longo dos anos apoiado, concomitantemente, associações luso-americanas e coletividades da ilha do Pico Em 2021, no povoado dos Rosais, freguesia do Município de Velas, na Ilha de São Jorge, foi descerrado um busto em homenagem ao comendador Batista Sequeira Vieira. Um dos mais destacados empreendedores da comunidade luso-americana, que ao longo dos anos tem devotado a várias instituições da sua terra natal, como por exemplo, a Casa de Repouso João Inácio de Sousa, um pródigo altruísmo. Comungando da análise das sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, estes monumentos atuais, constituem uma genuína homenagem à história da emigração portuguesa, porquanto “não são tributários de uma identidade pessoal, nem de uma só época, são sim, a afirmação da saudade, da dor, do esforço quase sobre-humano e também do triunfo de uma viragem do país”.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril nas comunidades portuguesas

No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, momento cimeiro da memória coletiva e identidade nacional entreaberto pela Revolução de 25 de Abril de 1974, a efeméride contribui para que 2024 seja inevitavelmente marcado pelas comemorações nacionais dos 50 anos da Revolução dos Cravos. As celebrações oficiais deste marco fundamental da história contemporânea portuguesa, impulsionaram a criação da Comissão Nacional das Comemorações 50.º aniversário do 25 de Abril, chefiada pelo Presidente da República, e que inclui titulares dos órgãos de soberania Governo, Assembleia da República e tribunais superiores. Nesse entrecho, as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que tiveram início em 2022 e se prolongarão até 2026, desenvolvem-se em torno de dois eixos estruturantes – Memória e Futuro – e constituem uma experiência comemorativa de âmbito nacional assente nos valores subjacentes ao Programa do MFA, que pôs fim à ditadura: paz, liberdade, democracia e progresso. Na linha de pensamento e ação da historiadora Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva da Estrutura de Missão do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974, a expectativa é que o ano de 2024, “seja um ano de festa, de celebração de 50 anos de democracia, e o ponto de partida para uma reflexão sobre os próximos 50 anos. Acredito que isso acontecerá, quer através das iniciativas pensadas e desenvolvidas pela Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, quer através das levadas a cabo por todas as outras entidades que, de norte a sul do país, estão entusiasticamente envolvidas na preparação das celebrações”. Nesse sentido, e dado que as comemorações do 25 de Abril são transversais e abertas a todos os contributos da sociedade civil e constará de atividades culturais variadas, as mesmas não podem deixar de incluir a geografia da diáspora portuguesa. As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril no seio das comunidades lusas são um momento propício para estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e lusodescendentes, e assim refletir e afirmar os valores universais da cultura e da democracia. Nesse sentido, e tendo em linha de conta o profícuo movimento associativo das comunidades portuguesas, é espectável e relevante a dinamização ao longo dos próximos tempos de diversas atividades culturais na diáspora alusivas aos valores da Revolução de Abril. Estas iniciativas culturais, por exemplo, mostras/ciclos de cinema e audiovisual, documentários, exposições fotográficas, organização de seminários, conferências ou apresentação de livros, envolverão assim os portugueses que vivem no estrangeiro nas celebrações do passado, mas também na necessária reflexão do presente e projeção do nosso futuro. Em plena celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril nas comunidades lusas, é acima de tudo, uma luta contra o esquecimento e o silêncio. Um compromisso inquebrantável com os valores da liberdade e da democracia, que não olvida que a democracia não é um dado adquirido. Cabe-nos afinal, lutar por mantê-la, persistindo na utopia da construção de uma sociedade mais justa, livre e fraterna.