Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Natal é época de solidariedade nas comunidades portuguesas

O Natal é a festa por excelência da família, da paz, do amor, da alegria, da solidariedade e da esperança num futuro melhor, que todos desejamos que a breve trecho passe pelo desfecho da Guerra na Ucrânia, pelo fim do conflito Israel-Hamas, assim como pelo incremento do crescimento da economia mundial e a sequente diminuição da inflação global. É neste contexto socioeconómico desafiante, que o espírito solidário cintilante no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo ganha especial relevância. Nos tempos intrincados que vivemos, a diáspora lusa tem demonstrado um enorme espírito de solidariedade, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido ao Natal, apoiando quer os nossos compatriotas no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional. Um dos exemplos mais paradigmáticos de solidariedade dinamizada no seio das comunidades portuguesas é o que está a ocorrer na América do Norte, mais concretamente em Toronto, onde vive a maioria dos mais de meio milhão de compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Mormente, a construção do Magellan Community Centre, isto é, a edificação a breve prazo da “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana. Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, presidida pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, que através da colaboração do poder político e da solidariedade luso-canadiana, está a edificar um lar culturalmente específico e inclusivo para a comunidade. Nesta esteira altruísta, mas na comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, rondando um milhão de pessoas, a Santa Casa da Misericórdia de Paris, instituição de referência na dinamização da solidariedade no seio da diáspora na capital francesa, lançou no decurso do mês de dezembro uma Campanha de Natal para recolher produtos alimentares e de higiene. Assente no lema “Fraternidade: Combater a indiferença”, a iniciativa solidária na linha dos anos anteriores, permitirá apoiar famílias portugueses carenciadas, na região parisiense, com cabazes de Natal. Outro exemplo paradigmático de espírito solidário da diáspora na quadra natalícia, acontece há vários anos na comunidade portuguesa do Reino Unido, a segunda maior da Europa, formada por cerca de 400 mil pessoas. Desde 2013, ano em que foi criada em Londres, a associação Abraço Solidário, que a coletividade benemérita liderada pela madeirense Zita da Silva, se tem empenhado no apoio a causas sociais, quer junto da comunidade portuguesa no Reino Unido, como também em Portugal. No início deste mês, no âmbito do tradicional jantar de Natal solidário, no centro de Londres, a emigrante madeirense e dirigente associativa do Abraço Solidário, destacou que as verbas solidárias arrecadas pela coletividade serão encaminhadas para oito instituições e também uma família madeirense que foi severamente afetada pelos incêndios que ocorreram em outubro passado na pérola do Atlântico. Estes exemplos inspiradores de solidariedade, e muitos outros que estão atualmente a serem dinamizados no seio da diáspora, robustecem que mesmo em tempos desafiantes e intrincados, o Natal é época de solidariedade nas comunidades portuguesas. Que a solidariedade que emana das comunidades portugueses nos irmane a todos a tornar o mundo um lugar melhor, e nos inspire uma Feliz Quadra Natalícia e um Próspero Ano Novo. Como encorajava Madre Teresa de Calcutá, exemplo cimeiro de esperança e perseverança: “É Natal sempre que deixes Deus amar os outros através de ti…sim, é Natal sempre que sorrires ao teu irmão e lhe ofereceres a mão”.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Jack Oliveira: empreendedor e benemérito da comunidade portuguesa em Toronto

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador Jack Oliveira, o mais conhecido e emblemático dirigente sindical da comunidade portuguesa em Toronto. Natural da Murtosa, vila do distrito de Aveiro, Jack Oliveira emigrou para o Canadá em 1972, com 12 anos de idade, ao encontro dos pais e do irmão, que tinham encetado no ocaso dos anos 60 uma trajetória migratória transatlântica em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde, na esteira de milhares de compatriotas que procuravam também que os seus descendentes não passassem pelo tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. A chegada a Toronto, a maior cidade do Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, forjaram uma ética de carácter e de trabalho que impeliram ainda na adolescência o jovem murtosense a trabalhar numa fábrica de ferro, e pouco tempo depois a abrir uma empresa de transportes por conta própria. A experiência profissional acumulada durante a adolescência que não permitiu a prossecução dos estudos, funcionou como antecâmara para o dealbar de uma carreira profissional fulgurante na área da construção. Primeiro como trabalhador da Armbro Construction onde consolidou as suas competências e conhecimentos, contexto que o levou na década de 80 a registar-se como membro da Liuna Local 183, e no termo dos anos 90 a ser contratado como Organizador da Local 183, e ainda nessa época, a ser designado Representante de Negócios para o Setor de Construção Pesada. O relevante trabalho e ação desenvolvido por Jack Oliveira na Liuna Local 183, o mais forte sindicato da construção civil da América do Norte, impulsionaram a sua eleição em 2007 como Membro do Executivo da Local 183, e desde 2011, até aos dias de hoje, a liderança da estrutura no cargo de Business Manager. Uma liderança carismática, sucessivamente renovada através de uma dedicação inexcedível e do apoio dos cerca de 70 mil membros da estrutura sindical, milhares deles de origem portuguesa, a quem é reconhecido publicamente que a Liuna Local 183 tem proporcionado melhores condições de trabalho, em segurança e com boas condições remuneratórias. O cunho diligente de Jack Oliveira ao longo dos últimos anos no movimento sindical e no mundo do trabalho, na defesa dos direitos dos trabalhadores portugueses no Canadá, concorreram decisivamente para que em 2017 o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com o cunho da UGT, agraciasse o emigrante murtosense com a Comenda da Ordem de Mérito Empresarial. Uma ordem honorifica portuguesa justamente merecida, destinada a distinguir quem haja prestado, como empresário ou trabalhador, serviços relevantes no fomento ou na valorização de um setor económico. Têm sido várias as distinções que o empreendedor luso-canadiano tem alcançado ao longo do seu profícuo percurso socioprofissional e sindical. Entre elas, destacam-se também, por exemplo, em 2016 a homenagem pública na Gala Community Spirit Award promovida pelo Centro Cultural Português de Mississauga (PCCM), uma representativa agremiação lusa na província do Ontário. E a mais recente, no dia 13 de maio de 2023, no âmbito das celebrações oficiais dos 70 anos de emigração portuguesa para o Canadá, através do reconhecimento público do Portuguese Canadian Walk of Fame. Nas diversas distinções obtidas, destacam-se nos seus fundamentos os predicados da liderança de Jack Oliveira à frente dos destinos da Liuna Local 183, mormente o importante trabalho que a estrutura sindical tem realizado no apoio a organizações de cariz social ou de promoção da diversidade multicultural. Como é o caso, da ajuda essencial que a Liuna Local 183 tem dedicado à construção do Magellan Community Centre, ou seja, à construção a breve prazo da “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana. Um projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses em Toronto, dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães), presidida pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto. No hercúleo esforço que a Magellen Community Charities tem desenvolvido em prol da angariação de fundos no seio da comunidade luso-canadiana, o apoio e altruísmo da Liuna Local 183 têm sido fundamentais. Ainda no limiar do presente mês, a Magellan Community Foundation recebeu mais uma doação da Liuna Local 183, no valor de 250 mil dólares. Uma entrega que cumpre o plano estabelecido pela estrutura sindical liderada por Jack Oliveira, e que representa o segundo cheque de quatro do mesmo valor, atingindo um total de 1 milhão de dólares em quatro anos. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o exemplo de vida do empreendedor, sindicalista e comendador benemérito Jack Oliveira, incita-nos o repto humanista e marcante de Nelson Mandela: “Um dos desafios do nosso tempo, sem ser beato ou moralista, é reinstalar na consciência do nosso povo esse sentido de solidariedade humana, de estarmos no mundo uns para os outros, e por causa e por meio dos outros”.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Maria Manuela Aguiar: uma vida dedicada à emigração

No conjunto de personalidades que ao longo dos últimos anos têm contribuído decisivamente para a valorização e dignificação da emigração portuguesa, destaca-se, sobremaneira, o papel ativo de Maria Manuela Aguiar, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e deputada pela Emigração. Natural de Gondomar, onde nasceu em 1942, Maria Manuela Aguiar é licenciada em Direito, área em que deu os primeiros passos da sua vida profissional através do desempenho da docência na faculdade da Universidade Católica de Lisboa, na Universidade de Coimbra, e inclusive, como Secretária de Estado do Trabalho no governo de Mota Pinto. Entre 1980 e 1987, tornou-se a primeira mulher a assumir o cargo de Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, sendo que o seu percurso sociopolítico computou ainda a eleição como deputada pelos círculos da Europa (1985), Porto (1987), Aveiro (1991) e pelo círculo Fora da Europa, em 1995, 1999 e 2002. Enquanto decisora política, ou desde o início dos anos 90, como fundadora da Associação Mulher Migrante (AMM), instituição onde tem desempenhado um relevante ativismo cultural em prol do combate às desigualdades e à discriminação contra as mulheres, especialmente as migrantes, Maria Manuela Aguiar é unanimemente reconhecida como uma incansável defensora dos direitos dos portugueses no mundo. Autora de uma profícua bibliografia sobre matérias relacionadas com a emigração lusa, recentemente publicou o livro O Conselho das Comunidades Portuguesas - Espaço de Utopia e Experimentação. Uma obra dedicada à génese do órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro, no qual a pioneira dos direitos dos emigrantes portugueses, teve um papel estruturante. Uma obra reflexiva, assente na noção do dever de memória, porquanto contribui amplamente para um conhecimento mais aprofundado sobre a criação, as etapas, os momentos e os contributos de um órgão que nas palavras abalizadas da autora tem como «vocação originária: ser uma "assembleia" verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas». Um livro que é igualmente um testemunho de compromisso incondicional com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da pátria de Camões, e concomitantemente de respeito pelo passado, de crença no presente e de esperança no futuro das comunidades portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras. Quando ainda há poucos dias cerca de 1,5 milhões de compatriotas residentes no estrangeiro escolheram os 90 membros do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). O livro recentemente publicado por Maria Manuela Aguiar, na esteira do seu percurso de vida, assume-se, não só como um instrumento incontornável para a compreensão do CCP, mas também como um valioso contributo para o estudo e entendimento da emigração portuguesa. Comungando do pensamento do escritor argentino Jorge Luís Borges, “o livro é a grande memória dos séculos... se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem”, podemos crer que a memória e a história do CCP e da emigração portuguesa ficam assim prodigamente enriquecidas e salvaguardas.