Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Portugal, o segundo país da Europa com mais emigrantes



As notícias vinculadas recentemente pela generalidade da imprensa escrita são reveladoras da dimensão (des)estruturante do fenómeno migratório na sociedade portuguesa.

Sustentados no último relatório do Observatório da Emigração, uma estrutura técnica e de investigação independente criada com base num protocolo assinado, em 2008, entre o Instituto Universitário de Lisboa e a Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, os cabeçalhos dos órgãos de informação são expressivos e reveladores: “Portugal é o segundo país da Europa com mais emigrantes”.

Os dados atualizados do Observatório da Emigração indicam que durante o ano de 2015, o número de saídas de Portugal para o estrangeiro manteve-se inalterado, ou seja, mais de 100 mil compatriotas procuraram sobretudo em países como o Reino Unido, a França, a Suíça, a Alemanha e Angola, melhores condições de vida e de trabalho que a pátria de Camões teima ciclicamente em não conseguir proporcionar a parte significativa dos seus filhos.

Entre os países mais procurados pelos emigrantes portugueses encontram-se ainda Espanha, Bélgica, Moçambique, Luxemburgo, Holanda, Brasil, Dinamarca, Estados Unidos, Canadá, Áustria, Noruega, Itália, Suécia, Irlanda e Macau.

A nível europeu, acima de Portugal na triste sina de "país de emigração" só se encontra a república de Malta, cuja população estimada não ultrapassa meio milhão de habitantes e que tem 24,7% dos seus naturais emigrados. No caso português, segundo dados da Organização das Nações Unidas em 2015 viviam no estrangeiro 2,3 milhões de lusitanos, isto é, 22% da população.

Enquanto da parte de todos os agentes e responsáveis políticos portugueses não se concertar uma estratégia, uma visão de futuro para o país, os dados da emigração permanecerão inquietadores e denunciadores da desertificação, empobrecimento, e envelhecimento de Portugal.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Gérald Bloncourt o fotógrafo da emigração portuguesa



O conhecido fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt (n.1926) é na atualidade uma das personalidades mais importantes da história e memória do fenómeno migratório português.

Radicado em Paris há mais de meio século, o antigo fotojornalista e colaborador de jornais de referência no campo social e sindical, teve o condão de retratar a chegada das primeiras levas massivas de emigrantes portugueses para França nas décadas de 1950 e 1960. A lente humanista do fotógrafo com dotes poéticos captou com particular singularidade as duras condições de vida dos nossos compatriotas nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, como os de Saint-Denis ou Champigny, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de construção civil.

Menos conhecidas, mas nãos menos importantes, são as imagens que Gérald Bloncourt captou durante a sua primeira viagem a Portugal nos anos 60, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves. Assim como as da viagem a “salto” que fez com emigrantes além Pirenéus, e as das comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, que permanece ainda hoje como a maior manifestação popular da história portuguesa.

O trabalho fotográfico de Bloncourt sobre a emigração lusitana constituiu um valioso repositório do último meio século português, que resgata das penumbras do esquecimento os protagonistas anónimos da história portuguesa que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à liberdade. 

O inestimável serviço que Bloncourt prestou aos portugueses, e que o imortaliza como o fotógrafo da emigração portuguesa, está na base da justíssima condecoração de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, que o Presidente da República Portuguesa lhe atribuiu nas comemorações oficiais do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, em Paris.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

O papel da imprensa lusófona no seio das comunidades portuguesas



As últimas décadas têm sido marcadas, no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, pela consolidação e surgimento de um conjunto variado de órgãos de informação lusófonos. 

Nos formatos de jornal, revista, rádio, televisão ou mais recentemente portal de informação, o aparecimento ou reafirmação destes projetos de comunicação social são simultaneamente um sinal evidente do dinamismo das comunidades portuguesas, assim como do papel fundamental que os órgãos de informação desempenham na sociedade contemporânea ao nível dos modos de vida, dos valores, das opiniões e da visão do mundo que partilhamos.

Não deixa igualmente, no caso da imprensa de língua portuguesa no mundo, de ser um evidente reflexo dos elevados números da emigração lusitana, que fruto da falta de oportunidades de emprego leva a que ciclicamente milhares encontrem fora de Portugal a oportunidade que o país lhes negou.

É neste cenário de geografia global que a imprensa lusófona num mundo em crescente mobilidade desempenha um papel insubstituível e incontornável na promoção da língua, da cultura e da economia nacional no estrangeiro, assim como do pulsar da vida das sociedades em que está inserida.

Com incontáveis dificuldades, várias vezes sem o devido reconhecimento do poder político das pátrias de origem ou de acolhimento, e na maior parte dos casos sobrevivendo graças ao espírito de carolice dos seus diretores, colaboradores, leitores e empresários mecenas, com mais ou menos dificuldades expostas pelas crises económicas, a tudo isto a imprensa lusófona vai resistindo e renovando-se dando um exemplo, genuíno de altruísmo e serviço em prol de uma informação de proximidade que constrói pontes entre povos, dilui a saudade e a distância, fortalece a identidade cultural e projeta Portugal no Mundo.