Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas: a alma centenária da comunidade luso-americana em São José
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos nacionais, destaca-se atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados em Massachusetts, Rhode Island, Nova Jérsia e Califórnia. É neste último estado, que vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país, constituída por mais de 300 mil pessoas, e cuja presença histórica no oeste dos EUA remonta à centúria oitocentista, aquando da corrida ao ouro, da dinamização da pesca da baleia e do atum, e mais tarde das atividades ligadas à agropecuária.
A secular presença portuguesa na Califórnia, que se manifesta hoje na existência de diversas associações, clubes e fundações luso-americanas, encontra-se espargida na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, em São José, que constituiu um genuíno pilar de fé, de assistência espiritual e pastoral na maior concentração urbana portuguesa na Califórnia.
A génese da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas remonta à década de 1910, mais concretamente ao ocaso do ano de 1913, época em que foi adquirido o terreno para contruir o templo e foi apresentada uma petição ao arcebispo Patrick William Riordan, de São Francisco, visando instituir a Paróquia Nacional Portuguesa de Five Wounds.
A construção iniciada em 1914 contou com o apoio fundamental e fervoroso de monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, um insigne açoriano nascido na segunda metade do séc. XIX, em Cedros, Ilha do Faial. Ordenado no término da centúria oitocentista, tornou-se vigário na freguesia de São Mateus, Ilha Terceira, tornando-se mais tarde vigário paroquial da Matriz de Santa Cruz, na Ilha das Flores.
Em 1912 emigrou para os Estados Unidos da América onde recebeu o título de Monsenhor, um título honorífico concedido pelo papa a certos eclesiásticos por serviços prestados à Igreja. Designado primeiramente para a região agrícola do Vale de São Joaquim, um dos centros da emigração portuguesa na Califórnia, monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, chegou a São José em 1914, tornando-se o grande obreiro e impulsionador da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas.
O seu papel basilar, escorado na generosidade constante da comunidade portuguesa, entre 1910-20 calcula-se que tenham entrado no território americano cerca de 150 mil açorianos, ficou plasmado na negociação que encetou em 1916 com o governo português para a compra da madeira do então desmantelado Pavilhão de Portugal da Exposição Panamá – Pacífico, em São Francisco, erigido no ano anterior no âmbito da Exposição Universal que decorreu nos EUA.
Inaugurada solenemente, a 13 de julho de 1919, pelo arcebispo Edward Joseph Hanna, de São Francisco, a centenária Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, encerra historicamente a particularidade de ter sido inspirada na traça arquitetónica da Igreja de Santa Cruz, uma das mais expressivas manifestações do período barroco na cidade de Braga, no norte de Portugal.
Adornada nas décadas de 1930-40, fase marcada pelo falecimento do monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, com mais de três de dezenas de sublimes vitrais, e em constante dinâmica espiritual e pastoral enriquecida pela Irmandade do Espírito Santo. Assim como pela Escola Primária Five Wounds construída e inaugurada em 1960, época em que a emigração portuguesa para a América voltou a aumentar no decurso da erupção do Vulcão dos Capelinhos.
Assumindo-se desde o passado à atualidade como a alma da comunidade luso-americana em São José, a Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, na esteira da magnífica obra monográfica assinada por Miguel Valle Ávila no âmbito das celebrações do centenário do templo, “Um Vestíbulo para o Céu”, tem almejado alcançar ao longo das décadas padres de língua portuguesa na liderança da paróquia. Como é o caso hodierno do padre António Silveira, e apoios beneméritos de figuras gradas da comunidade, vivificando-se como casa e escola de comunhão dos fiéis luso-americanos.
Numa época de grandes desafios para as comunidades portuguesas nos Estados Unidos, motivada pela conjugação do envelhecimento com a entrada de cada vez menos emigrantes lusos no território. A centenária Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, que assinalou no passado dia 2 de novembro o 110.º aniversário da fundação da paróquia, exprime simultaneamente, a ação pioneira da Igreja Católica no apoio aos emigrantes, e o pilar que a fé e a prática religiosa representam para uma parte significativa dos luso-americanos.
Como aclarava, em 2022, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da visita às comunidades luso-americanas da Califórnia, que computou a ida à missa na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, no âmbito do programa privado do mais alto magistrado da Nação, embora Portugal esteja fisicamente distante de São José, na Califórnia, “tem um território espiritual que cobre todo o mundo. Onde esteja um português, está Portugal, e por isso o nosso território espiritual é muitíssimo maior, é muitíssimo mais vasto do que o território físico, formado pelas ilhas dos Açores, pelas ilhas da Madeira e pelo continente português”.
Nesse sentido, o recente 110.º aniversário da fundação da paróquia da Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas, orgulhosamente celebrado pelos luso-americanos em São José, através da dinâmica da celebração religiosa, mas também de um jantar-convívio na Irmandade do Espírito Santo (I.E.S.) Portuguese Hall of San Jose, que congregou as forças vivas da comunidade e contou com a presença do Presidente da Câmara de São José, Matt Mahan, e do Cônsul-Geral de Portugal em São Francisco, Filipe Ramalheira. Revivifica a máxima do filósofo Kierkegaard, considerado o fundador do existencialismo: “A vida somente pode ser compreendida olhando-se para trás, mas somente pode ser vivida olhando-se para frente”.
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Gérald Bloncourt: o fotógrafo da emigração portuguesa homenageado no Porto
No próximo dia 9 de novembro (sábado), terá lugar na cidade do Porto a conferência "Gérald Bloncourt: o fotógrafo da emigração portuguesa", em homenagem ao “franco-atirador" dos bidonvilles e da emigração portuguesa “a salto” nos anos 60 e 70.
A conferência de homenagem, seis anos após a morte de uma personalidade ímpar que durante mais de duas décadas escreveu com luz a vida dos portugueses em França e em Portugal, realiza-se às 15h30, na livraria Unicepe, um espaço cultural de referência na cidade invicta. E será proferida pelo historiador da diáspora Daniel Bastos, autor de obras de referência sobre o trabalho fotográfico de Bloncourt ligados à emigração e à génese da democracia portuguesa.
O fotógrafo Gérald Bloncourt (1926-2018), acompanhado do historiador da diáspora Daniel Bastos, em 2015, no âmbito do lançamento em Paris do livro “O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores”
Centrada na abordagem do trabalho e percurso de vida do fotógrafo que imortalizou a epopeia da emigração portuguesa, a sessão de homenagem, aberta à comunidade, inclui ainda a reapresentação do livro “O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores”.
Uma obra concebida e realizada por Daniel Bastos em 2015, que contou com prefácio de Eduardo Lourenço e tradução de Paulo Teixeira, onde é retratado através do espólio de Gérald Bloncourt, a vida dos emigrantes portugueses nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, que já integraram várias exposições em Portugal e França, e que fazem parte do arquivo da Cité nationale de l’histoire de l’immigration em Paris, e do Museu das Migrações e das Comunidades, em Fafe. Assim como, a primeira viagem a Portugal na década de 1960, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves; a viagem a “salto” que fez com emigrantes portugueses além Pirenéus; e as comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, que permanecem como a maior manifestação popular da história portuguesa.
domingo, 27 de outubro de 2024
Comendador Manuel Eduardo Vieira: uma visão empreendedora e humanista luso-americana
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”).
Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho e mérito e resiliência, destaca-se o percurso inspirador do comendador Manuel Eduardo Vieira. Natural da Silveira, povoado da ilha do Pico, arquipélago dos Açores, Manuel Eduardo Vieira antes de se fixar na América, emigrou em 1962, no início do deflagrar da Guerra do Ultramar, para o Rio de Janeiro. A estadia no Brasil, que durou cerca de uma década, serviu de trampolim para um percurso de self-made man que encetou no começo dos anos 70 no estado norte-americano da Califórnia.
Com uma trajetória de notável mérito e trabalho hercúleo, tornou-se, a partir do Vale de São Joaquim, através da sua empresa A.V. Thomas Produce no maior produtor de batata-doce biológica do mundo. Contexto que, levou inclusive, na década de 90 a cadeia de supermercados Safeway a oferecer a Manuel Eduardo Vieira uma placa de matrícula personalizada com as palavras King Yam “Rei da Batata-Doce”.
O empreendedor luso-americano, que tem mantido um constate apego ao seu torrão natal através de um extraordinário sentimento filantropo, plasmado na decisão, em 2017, da Câmara Municipal das Lajes do Pico em homenageá-lo com uma estátua na praceta do Centro Social da Silveira, tem sido uma figura muito requisitada pelos órgãos de informação nacionais para abordar as cada vez mais próximas eleições americanas de 5 de novembro.
Uma das figuras mais gradas da imensa comunidade portuguesa na Califórnia, latitude da diáspora onde se encontra radicado há meio século, quer na entrevista concedida à CNN Portugal, no início de setembro, como na mais recente facultada à Agência Lusa, o conhecido emigrante açoriano tem sido um genuíno arauto do papel relevante no passado, presente e futuro da comunidade lusa nos EUA.
Comendador Manuel Eduardo Vieira
Num período desafiante e complexo, em que é notória a polarização do eleitorado norte-americano, revelador da profunda divisão que perpassa a sociedade da principal potência mundial. E cujos resultados terão enormes reflexos políticos, económicos e sociais na América, e no mundo globalizado, a voz civilizada, serena e portadora de esperança do comendador Manuel Eduardo Vieira tem sido um lenitivo perante as incertezas no horizonte.
Um dos aspetos mais relevantes das suas intervenções públicas, são indubitavelmente as melhores condições que defende para os imigrantes, assim como a ideia de legalização dos ilegais que já estão na América, trabalham, pagam impostos e têm famílias. Com cerca de 1.500 pessoas a trabalharem na sua fábrica, maioritariamente imigrantes, a visão pragmática e humanista do emigrante picoense, testemunha o papel crucial dos imigrantes na força laboral nos EUA.
Ao contrário dos crescentes discursos anti-imigração que campeiam em várias nações, como é o caso dos Estados Unidos, cujos pilares, ironicamente construídos ao longo da sua história pela dinâmica da imigração são agora arremetidos por tentações cada vez maiores de construção de barreiras fronteiriças e ideológicas. O entendimento do empresário benemérito sobre o impacto positivo do fluxo migratório na demografia e na economia norte-americana, assente em bases de integração, responsabilidade e solidariedade, realenta a expressão queirosiana “força civilizadora”.
Um dos mais destacados empresários da diáspora, as recentes intervenções públicas do comendador Manuel Eduardo Vieira em órgãos de informação de referência no panorama nacional, não deixam de ser igualmente um sinal de reconhecimento e valorização das várias gerações de compatriotas que, por razões muito diversas, saíram de Portugal, e têm dado um contributo fundamental no desenvolvimento das pátrias de acolhimento e de origem.
Um sinal de reconhecimento e valorização dos emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da nação, que partiram e se instalaram pelo mundo, merecedores de toda a consideração e respeito. Como é o caso paradigmático do comendador Manuel Eduardo Vieira, um paladino da portugalidade na Costa Oeste dos Estados Unidos da América.
domingo, 20 de outubro de 2024
O apego às raízes e a solidariedade dos emigrantes em prol dos Bombeiros: o exemplo dos “Amigos do Vale USA”
Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações.
Ainda em meados do mês passado, numa fase crítica em que Portugal enfrentou dezenas de incêndios, em particular no Norte e Centro do país, ficou patente a coragem e a importância dos Bombeiros. Sendo que inclusive quatro “soldados da paz” tombaram em serviço da defesa e proteção das populações, o saudoso herói João Manuel dos Santos Silva, de 60 anos, durante o combate às chamas na freguesia de Pinheiro da Bemposta, no concelho de Oliveira de Azeméis, vítima de um problema cardíaco. E os saudosos e valentes Paulo Jorge Santos, Susana Cristina Carvalho e Sónia Cláudia Melo, quando o carro em que seguiam estes bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, foi apanhado pelas chamas no combate ao incêndio que lavrou no concelho de Tábua.
Exemplos de genuíno serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações.
Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações.
Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado na dinâmica solidária da Associação Amigos do Vale USA, um grupo de emigrantes oriundos da freguesia do Vale, em Arcos de Valdevez, um concelho do Alto Minho fortemente marcado pelo fenómeno migratório como revelam as suas numerosas comunidades estabelecidas na França, Andorra, Venezuela, Canadá e Estados Unidos da América (EUA).
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, a Associação Amigos do Vale USA, assente no reiterado orgulho que os seus associados nutrem pelas suas raízes, tem ao longo dos últimos anos vindo a assumir-se como uma genuína “família” da diáspora arcuense nos Estados Unidos.
Com uma profunda dimensão de solidariedade e humanitarismo, os membros da associação luso-americana, naturais da vila raiana encravada no Vale do Vez, organizaram no início deste ano uma recolha de fundos a favor da Associação Humanitária dos Bombeiros da sua terra-mãe. Uma centenária corporação, fundada no ocaso do séc. XIX, que se constitui como uma peça estruturante no serviço prestado à população do concelho de Arcos de Valdevez, um dos quatro municípios que integram o Vale do Lima.
A angariação solidária decorreu em Newark, a cidade mais populosa do estado de Nova Jérsia, nos Estados Unidos, onde reside uma das maiores e mais conhecidas comunidades portuguesas nos EUA. Mais de quatro centenas de emigrantes e luso-americanos, muitos deles com raízes arcuenses, marcaram presença num almoço solidário, no salão nobre do centenário Sport Club Português (SCP), uma vitrina da portugalidade na América, que contou com a presença de uma delegação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez.
Além do almoço solidário que angariou 70 mil dólares, verba que permitiu à corporação humanitária arcuense adquirir uma ambulância de socorro pré-hospitalar, completamente nova, os representantes dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez estiveram através do vereador lusodescendente Michael Silva, numa cerimónia de homenagem na Câmara Municipal de Newark.
Nesta cerimónia de homenagem, que incluiu ainda uma visita às instalações dos Bombeiros de Newark nº 14, estiveram igualmente presentes Fernando Grilo e Joe Barros, presidente e vice-presidente da União de Clubes Luso-Americanos de New Jersey, Jack Costa, presidente da Assembleia Geral do Sport Club Português e dos Amigos do Vale USA, António Cardoso, diretor do Rancho Folclórico ‘Sonhos de Portugal’, de Kearny, e Emanuel Barros, presidente da Casa dos Arcos.
A ambulância de socorro pré-hospitalar ofertada pela comunidade emigrante dos EUA à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, foi oficialmente entregue e benzida no passado mês de agosto, o mês eleito por muitos emigrantes para regressarem às suas terras, e contou com a presença de membros da Associação Amigos do Vale USA, que tinham já no passado recente auxiliado nas obras da igreja local.
Como enalteceu no decurso da cerimónia oficial de entrega e bênção da viatura, no quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, o representante da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Cruz, são as comunidades “que acabam por minimizar os danos de subfinanciamento das corporações de bombeiros, quer ao nível autárquico, quer a nível nacional. São os cidadãos, uns mais perto, outros mais longe, que se lançam na ajuda dos bombeiros”.
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
Empreendedorismo e solidariedade na comunidade portuguesa em França: os exemplos de Fernando da Costa e Mário Martins
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destacam-se os percursos inspiradores e de sucesso de Fernando da Costa e Mário Martins.
Natural de Espite, concelho de Ourém, muitas vezes apelidado de berço dos “franceses”, tal é o impacto do fenómeno emigratório neste território do centro do país, Fernando da Costa é um reconhecido empresário no seio da comunidade luso-francesa. Fundador nos anos 90 da empresa Eurelec, uma empresa de referência na inovação e comercialização de material elétrico, com sede em Villiers-sur-Marne, o empreendedor luso-francês que chegou a França com quatro anos de idade, tem uma rede de comercialização de material elétrico em várias cidades gaulesas. Há cinco anos abriu a sua primeira loja em Leiria, sendo que, entretanto, tem delineado planos para se expandir noutras regiões portuguesas.
Já o conhecido empresário Mário Martins, natural de Santa Comba, povoação de Vila Nova de Foz Côa, na sub-região do Douro, igualmente enleada pelo fenómeno emigratório, que partiu com 10 anos de idade rumo a Paris em 1974, criou nos anos 80 a MRTI. Uma empresa de transportes nacionais e internacionais de referência no território francês e português, sediada em Les Pavillons-sous-Bois, que num mundo marcado pela globalização, em que os transportes de mercadorias desempenham um papel estruturante, possui uma frota de mais de três centenas de camiões com uma forte presença em Paris, Lyon, Bordéus e Porto.
O sucesso que ambos os emigrantes têm alcançado ao longo das últimas décadas, tem sido acompanhado de várias ações de solidariedade para com as suas terras de origem, assim como para com a comunidade portuguesa em França.
De facto, amigos de longa data, Fernando da Costa e Mário Martins compartilham um notável espírito solidário, como evidencia, por exemplo, entre várias outras iniciativas, os “batismos de voo” que ao longo das últimas décadas têm proporcionado sorrisos contagiantes a crianças com necessidades especiais. A iniciativa solidária, organizada por Fernando da Costa, que também é piloto e membro do Rotary Club de Crécy-en-Brie, Mário Martins e o também conhecido empresário luso-francês Mapril Batista, esteios da associação “Sonho de Menino”, têm promovido ao longo dos anos inúmeros “batismos de voo” a crianças francesas e portuguesas com necessidades especiais.
O raio de ação solidária da associação “Sonho de Menino”, estendeu-se inclusive, em 2020, à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Boticas. Uma corporação transmontana que graças ao apoio financeiro e filantropo dos empresários portugueses em França, Fernando da Costa, Mário Martins, Mapril Baptista e Pedro Lopes, recebeu nesse ano uma ambulância de Transporte de Doentes não Urgentes.
Não é, pois, de admirar que no início do presente mês de outubro, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tenha distinguindo, no Palácio de Belém, os dois ilustres compatriotas residentes em França, Fernando da Costa e Mário Martins, com a imposição das insígnias de Comendador da Ordem do Mérito. Uma ordem honorífica portuguesa, justamente merecida, que visa distinguir actos ou serviços meritórios que revelem abnegação em favor da coletividade, praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas. Uma condecoração, que no caso dos emigrantes beneméritos luso-franceses Fernando da Costa e Mário Martins, homenageia os seus respetivos percursos profissionais, e simultaneamente a solidariedade que têm devotado às pátrias de origem e de acolhimento.
Duas das figuras mais gradas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, os exemplos de vida dos emigrantes empreendedores e filantropos Fernando da Costa e Mário Martins, inspiram-nos a máxima do filósofo humanista Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos”.
domingo, 13 de outubro de 2024
Memórias da ditadura revisitadas no FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos
No passado domingo (13 de outubro), foi apresentado no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, o livro Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência.
A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na Livraria de Santiago, um dos espaços mais emblemáticos da vila de Óbidos.
A sessão de apresentação, repleta de público, encontros e emoções, integrou a programação oficial da 9.ª edição do FOLIO, um evento que tem atualmente uma das principais programações literárias da Europa e dos países de língua portuguesa. E que este ano decorre de 10 a 20 de outubro, sob o mote da “Inquietação”, assinalando a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril e dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, através da dinamização de quase 600 iniciativas, entre mesas de autor, conversas, lançamentos de livros, apresentações, tertúlias, debates, sessões, masterclasses, exposições e seminários, sempre com o livro como âncora e fio condutor.
Refira-se que nesta nova obra, uma edição bilingue (português e inglês), realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, com tradução de Paulo Teixeira e prefácio de José Pacheco Pereira, o historiador da diáspora Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nas décadas de 1960-70.
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
As ondas de solidariedade dos emigrantes em prol dos Bombeiros
Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações.
O almoço-convívio dinamizado pelos empresários luso-americanos José Luís Vale e David Oliveira, no dia 14 de julho, congregou vários emigrantes oureenses e compatriotas nos Estados Unidos, que doaram 15 mil dólares aos Bombeiros Voluntários de Ourém
Ainda em meados do mês passado, numa fase crítica em que Portugal enfrentou dezenas de incêndios, em particular no Norte e Centro do país, ficou patente a coragem e a importância dos Bombeiros. Sendo que inclusive quatro “soldados da paz” tombaram em serviço da defesa e proteção das populações, o saudoso herói João Manuel dos Santos Silva, de 60 anos, durante o combate às chamas na freguesia de Pinheiro da Bemposta, no concelho de Oliveira de Azeméis, vítima de um problema cardíaco. E os saudosos e valentes Paulo Jorge Santos, Susana Cristina Carvalho e Sónia Cláudia Melo, quando o carro em que seguiam estes bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, foi apanhado pelas chamas no combate ao incêndio que lavrou no concelho da Tábua.
Exemplos de genuíno serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações.
Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações.
Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado no altruísmo do emigrante luso-americano José Luís Vale, natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém. O empresário na área da construção civil no estado norte–americano de Nova Jérsia tem nas últimas décadas dinamizado um conjunto significativo de iniciativas de apoios aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma entidade de utilidade pública e carácter humanitário que remonta aos primórdios da Primeira República.
A sua constante e desprendida generosidade com os Bombeiros de Ourém, contribuiu, por exemplo, para que em 2018, no âmbito do 106.º aniversário da corporação humanitária, fosse possível a chegada de um novo Veículo Florestal de Combate e Incêndios (VFCI-10).
Ainda recentemente, no passado mês de julho, José Luís Vale juntou num almoço-convívio na pátria de acolhimento dezenas de amigos e conterrâneos da comunidade luso-americana, angariando 15 mil dólares que foram encaminhados para os Bombeiros de Ourém procederem á aquisição de um veículo escada. O gesto generoso computou ainda no mês seguinte, a 20 de agosto a dinamização de um jantar no torrão natal, tendo então José Luís Vale, acompanhado de vários amigos, recolhido mais 3600 euros que foram entregues aos Bombeiros de Ourém.
Refira-se que nesta iniciativa, que congregou vários emigrantes oureenses no território norte-americano, destacou-se igualmente o papel ativo do empresário e dirigente associativo David Oliveira. Natural da freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias, concelho de Ourém, David Oliveira é um renomado empresário metalúrgico no Yonkers, burgo do estado de Nova Iorque, onde tem sido no decurso dos últimos anos, um dos principais dinamizadores do Centro Comunitário Português. Nunca esquecendo as suas raízes, o emigrante natural da freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias, tem ao longo dos anos contribuído também generosamente para a missão do corpo de Bombeiros de Ourém.
Neste sentido, estas ondas de solidariedade dinamizadas por José Luís Vale e David Oliveira em prol dos Bombeiros de Ourém, assim como outras iniciativas que estão ou foram dinamizadas noutras latitudes da diáspora em prol dos “soldados da paz”, dão amplo sentido à mensagem do mais alto magistrado da Nação, no âmbito do Dia Nacional do Bombeiro: «Mensageiros de esperança, os Bombeiros portugueses são o bastião que protege e socorre as nossas comunidades em situações de crise ou catástrofe e o garante de que, independentemente das circunstâncias, há sempre alguém, que com abnegação e altruísmo, se prontifica a ajudar o próximo. Que as múltiplas ações de reconhecimento público possam contribuir para o reforço das capacidades dos Bombeiros, permitindo-lhes desempenhar as suas funções com dignidade. O bem dos Bombeiros de Portugal é o bem de todos os Portugueses. Hoje e todos os dias, continuaremos a homenagear os nossos Bombeiros, verdadeiros guardiões da vida, da paz e da segurança».
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