Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Feliz Natal e um Próspero Ano Novo


Quadra marcada pelo espírito da solidariedade e fraternidade, desde sempre percepcionei o Natal como uma época de reflexão interior e familiar aquecida pelo crepitar da lenha na lareira.
Coincidente com um período socioeconómico incerto, esta época festiva impele-nos a (re) pensar as nossas acções e atitudes que devem assentar essencialmente na axiologia da dignidade, do amor, da autenticidade e do respeito, quantas das vezes imersas pelo lufa-lufa de um consumismo desenfreado, ou de uma vaidade egocêntrica balofa!

Gerard van Honthorst,
Adoração dos Pastores, 1622

Que esta festa de essência divina e humana nos alavanque na redefinição do nosso futuro e nos desvaneça as nuvens que subsistem no horizonte proporcionando-nos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

António Joaquim Vieira Montenegro: um benemérito emigrante “brasileiro” de torna-viagem

António Joaquim Vieira Montenegro (┼1874), natural da freguesia de Travassós foi um emigrante “brasileiro” que enriqueceu no Rio de Janeiro e deixou uma marca indelével no campo da benemerência em Fafe.

António Joaquim Vieira Montenegro
Quadro da Santa Casa da Misericórdia de Fafe,
Lar Cónego Leite de Araújo

Este benemérito fafense insere-se no fenómeno emigratório com raízes profundas na sociedade portuguesa, que no 2.º quartel do séc. XIX se caracterizou pela singular mobilidade migratória para o Brasil, consequência do baixo nível de vida no país assente numa agricultura arcaica e de subsistência, numa industrialização incipiente e um elevado índice de analfabetismo.
António Joaquim Vieira Montenegro, como menciona Miguel Monteiro em Fafe dos “Brasileiros” (1860 – 1930) – perspectiva histórica e patrimonial, Fafe, inclui-se no grupo de «“brasileiros” que foram, inicialmente, gente de um estrato social de parcos recursos, filhos de pequenos proprietários agrícolas ou de comerciantes, apoiados por parentes já instalados no Brasil».
Alguns deles, como António Joaquim de Vieira Montenegro, foram membros activos de lojas maçónicas, e participaram em associações de beneficência e clubes de leitura em cidades brasileiras.
 Nestes espaços de sociabilidade beberam os ideais do mérito, da razão e da solidariedade. “Aristocratizados” pelo dinheiro no retorno à terra de origem influíram profundas transformações socioeconómicas, políticas e filantrópicas.
 Entre 1860 e 1924 fruto desse retorno assomaram em Fafe as marcas, ainda hoje presentes dos “brasileiros”, que já em 1886 eram descritas por José Augusto Vieira na obra O Minho Pitoresco: «vae n’uma phase crescente de prosperidade a velha Fafe e que o elixir da fortuna a remoça deveras; as construções particulares ahi estão na sua abundância para o comprovar, tanto mais que em muitas se lê o sorriso da abastança alegre, que deve animar a physionomia dos seus proprietários. (...) o asylo, o município, o hospital, o passeio, a política formam (…) o caminho do progresso, em que se vae encarreirando o espírito local».
Quando foi aberto o testamento de Joaquim António Vieira Montenegro além de outras disposições, este legava: a) ao Hospital de Fafe 2.000$00o reis; b) à Câmara de Fafe 7.000$000 reis para mandar construir uma escola primária masculina; e c) 14.000$00 para a Câmara mandar construir uma casa para asilo de meninas pobres, sendo a autarquia obrigada a dar a casa pronta dois anos depois de receber o legado, sendo que se estas disposições não fossem observadas no prazo determinado, o legado reverteria a favor do Hospital de Fafe.
O Asilo de Montenegro funcionou desde 1877 até 1959, sendo admitidas no Asilo as meninas órfãs de pai e mãe «sem pessoa que as ampare», as expostas que não tivessem quem as amparasse e as filhas de pais pobres que não pudessem ser alimentadas nem educadas «em virtude de serem doentes ou de avançada edade, ou tendo ellas qualquer lesão pysica» (Arquivo Municipal de Fafe, Asylo de Montenegro). 

A rua Montenegro que recebeu o nome do “brasileiro” benemérito.
Do lado esq. o  Asilo da Infância Desvalida
(Postal antigo da vila de Fafe – 1.º quartel do séc. XX)

O antigo edifício da Infância Desvalida
albergou desde a década de 70 até à década de 90
 do séc. XX o Centro de Saúde  de Fafe

A idade de admissão das meninas no Asilo era entre os 7 e 8 anos, salvo as meninas órfãs de pai e mãe, estas eram entre os 4 e 11 anos. As asiladas podiam permanecer na instituição até completarem 16 anos, «excepto quando alguma asilada se destinga por suas qualidades moraes e especiaes, aproveitáveis dentro do asylo». (Arquivo Municipal de Fafe, Asylo de Montenegro).

Orfãos
 Thomas kennington (1885)

A instrução das asiladas assentava num ensino elementar ajustado à doutrina cristã, e procurava incutir nas meninas a humildade e obediência, visando que adquirissem prática no serviço doméstico, como abalizava o art.º 8 do regulamento do Asilo «trabalhos e prendas adequadas ao fim que teve em vista o instituidor, como são: os trabalhos de agulha, o cosinhar, o lavar e engomar, e finalmente todos os concernentes ao governo interno d’uma casa».

“LE PARIS DE GERALD BLONCOURT”

O benemérito fotógrafo Gérald Bloncourt num gesto de enorme amabilidade pouco depois de lhe ter dado conhecimento da intenção de publicar no Morgado de Fafe e na imprensa local um artigo sobre a sua experiência de vida e papel basilar na preservação da memória da emigração portuguesa, mostrou-se disponível para enviar uma tradução do texto em francês para divulgação na blogosfera.
Este gesto altruísta de enorme apreço acaba ser materializado no envio do texto em língua francesa que se encontra já disponível para consulta no blogue.
Aproveito o ensejo para agradecer encarecidamente a Gérald Bloncourt a honra de tamanha deferência, assim como para divulgar junto da comunidade emigrante portuguesa, particularmente à que se encontra radicada em Paris, que “Gérald Bloncourt âme photographe lusitanien” lança no dia 20 de Dezembro às 18h00 o livro “LE PARIS DE GERALD BLONCOURT”. O lançamento será na Mairie du 11 / 12 Place Léon Blum 75011Paris (Métro Voltaire), e contará com a presença de Patrick Bloche député-maire du 11e.



Gérald Bloncourt âme photographe lusitanien

Au retour de la Révolution des Œillets au Portugal,
avec l'œillet sur la casquette, le 22 mai 1974
photo © collection Gérald Bloncourt

       Farmer amour de l'art et redimensionnée à la photographie, la poésie et la peinture, Géradl BLONCOURT clôturant une personnalité à multiples facettes moulée dans une expérience de vie origines multiculturelles de sa sensibilité écrasante et la politique sociale.
        Originaire d'Haïti eut bientôt à l'exil en France en remettant en cause la dictature en Haïti, continue sans relâche dans la lutte pour les idéaux de liberté et le développement d'une nation constamment marquée par des périodes de grand bouleversement social, politique et économique.
        La France a mis sur votre chemin et voyage de la vie à jamais lié à sa manière d'être, qui est entrecoupé de Lusitanity dans les années 50 lorsque des milliers d'immigrants en provenance du Portugal dans un sol pauvre, analphabète et vers l'arrière est entré français, souvent le saut à la recherche d'une vie meilleure.
      Le déracinement résultant et les conditions de vie misérables qui ont marqué les premières années de l'émigration vers la France, affirmée exposés dans les bidonvilles "Bidonville" qui abritait la prise de conscience de main-d'œuvre portugaise impressionné et la sensibilité de photographe professionnel lentille tellement enracinée militant dans la presse.
      A partir des années 50 et 60, BLONCOURT commencé représentant la vie des citoyens sans cesse à la périphérie de Paris, formant un contexte historique et sociologique de pénétration où humainement saisir le chemin de la vie héroïque de milliers de lusitanien inventé par l'incertitude et de nostalgie.
     Les vagues d'émigrants portugais constante dans les années 70, contraint par la misère patrie augmenté avec la guerre coloniale, finirait propulser BLONCOURT désireux de voir le lieu de naissance de l'éminent navigateur Vasco da Gama, afin de comprendre "in loco" pourquoi tant d'enfants Les Argonautes du vieux marins entreprendre un maintien des débouchés pour l'Europe centrale. A cette époque, il a visité le Portugal de Salazar Grey a décidé de la trilogie «Dieu, Patrie et de la famille», avec accompagnement de métro et quelques immigrants portugais en France pour sauter le rail
       Gérald Bloncourt finirait par rentrer au Portugal au milieu du siècle. Siècle, une période de contrastes en profondeur avec l'expérience et la réalité vécue personnellement dans les dernières années de l'Estado Novo. Mais son enthousiasme pour le développement de la démocratie et la liberté de la nation lusitanienne, ainsi que le respect de l'immense épopée de l'émigration portugaise est restée inchangée, comme en témoigne en 2009, suite à l'exposition "For a Better Life" un an avant était présent au Musée Berardo, don de près de la moitié d'une centaine de photos sur la vie des immigrants portugais en France à la ville de Fafe
       Ce geste extraordinaire de l'altruisme considérablement enrichi la collection du Musée de l'Emigration et des Collectivités, un projet conçu par le regretté maître Miguel Monteiro et adopté par la ville de Fafe qui cherchent à donner une continuité à la dignité humaine par BLONCOURT représenté par la préservation et la reconnaissance du rôle central les hommes et les femmes qui contribuent de manière significative au développement du pays à l'étranger.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Paradigma remuneratório dos agentes da “res publica”


É incompreensível que em Portugal qualquer cidadão que exerça a sua actividade na vida pública possa auferir mais que o chefe de Estado. Enquanto garante da independência nacional e do funcionamento das instituições democráticas, e na senda da ética republicana portadora dos ideias da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, o presidente da República tem que ser ipso facto o limite do paradigma remuneratório dos agentes da “res publica”.
            Este princípio tem que ser assumido pela classe politica portuguesa, porque é condição “sine qua non” para a ascensão e regeneração de elites políticas imbuídas de uma ética de responsabilidade, e geradoras de decisões políticas e económicas de futuro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Classe política portuguesa

A Liberdade Guiando o Povo (1830)
Eugène Delacroix
Museu do Louvre-Paris

A classe política portuguesa tem que assentar o seu discurso e acção política numa estratégia de futuro e numa ética de responsabilidade.
            A actividade política tem que ser essencialmente uma missão de serviço público, uma vocação desprendida de contacto constante e próximo das pessoas e da realidade. A prossecução da actividade partidária, enquanto promotora do exercício da democracia e da cidadania exige(-nos) disponibilidade, abnegação e desprendimento.
A linha da frente do combate cívico e político tem que ser ocupada por quem está para servir, para dignificar, para acrescentar e marcar a diferença: o exercício político tem que assentar neste húmus ético. Os arautos da vida pública têm que ser os primeiros a darem o exemplo, a assumirem uma atitude de inconformismo e de equidade perante o curso dos acontecimentos da sociedade.