Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 30 de setembro de 2017

O fluxo de estudantes estrangeiros em Portugal



O número crescente de estudantes estrangeiros que estão a procurar as faculdades e escolas superiores nacionais para cumprir um período de mobilidade estudantil ou para realizar um curso completo, evidencia que está na moda vir estudar para Portugal.

Os dados da Direção-Geral das Estatísticas do Ensino Superior e Ciência sustentam essa realidade, anualmente, mais de 30 mil estudantes provenientes de mais de uma centena de países vêm estudar para Portugal. No rol destas nacionalidades destaca-se a presença significativa de alunos oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, designadamente do Brasil, Angola, Moçambique, São Tome e Príncipe e Guiné Equatorial, sendo que no território europeu, sobressai a presença de estudantes de Espanha, Itália e Polónia.

O aumento de 148% nos primeiros cinco meses deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado, de pedidos de vistos de brasileiros para estudar em Portugal, é sintomático da presença significativa dos estudantes canarinhos nas instituições de ensino superior nacionais. Inclusivamente, segundo um estudo publicado pelo jornal brasileiro “O Globo”, os vistos de residência para estudar por um período superior a um ano em Portugal aumentaram 320%. 

Esta nova e relevante forma de mobilidade, termo que cada vez mais substitui o termo migração, uma vez que a saída de um país ou região não é necessariamente definitiva, exerce uma dinâmica frutífera no progresso cultural, económico e social português. O esforço de contínua melhoria que as faculdades e escolas superiores nacionais fazem para acolher os estudantes estrangeiros, tende a gerar não só um relevante impacto financeiro nestas instituições, como dinamiza, por exemplo, o mercado imobiliário através dos gastos com alojamento.

Um relatório apresentado no início deste ano pela Uniplaces, revela já que os alunos internacionais são responsáveis por mais de dois terços das reservas realizadas nesta plataforma de arrendamento online de casas para estudantes. Se há dimensão financeira, acrescermos o impacto deste fluxo na promoção do país, na riqueza intercultural e na dinâmica socioeducativa, percebe-se que é indispensável que o Estado Português, em geral, e as Instituições de Ensino Superior, em particular, continuem a trabalhar afincadamente na atração de estudantes estrangeiros para estudar em Portugal.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A realidade da imigração no sudoeste alentejano



Tradicionalmente um país de emigrantes, Portugal tem conhecido nas últimas décadas novas realidades de fluxos regulares de imigrantes, como é o caso do sudoeste alentejano, uma região onde coabitam entre outras múltiplas nacionalidades, tailandeses, siques, nepaleses, bengalis, vietnamitas, paquistaneses, cambojanos, ucranianos, bielorussos, búlgaros, romenos e moldavos. 

Tratam-se nomeadamente de trabalhadores agrícolas, que vivem nos seus países de origem com grandes dificuldades económicas, mas que encontram nas explorações hortofrutícolas do sudoeste alentejano um meio de melhorar as suas condições de vida e das suas famílias. A presença destas comunidades, que estão a transformar a realidade sociocultural alentejana, em 2011 a Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano registava a presença de 2500 cidadãos estrangeiros nas culturas intensivas, e no concelho de Odemira os imigrantes são já 12% da população local, é fundamental para os empresários agrícolas suprirem as necessidades do mercado de trabalho da região em mão-de-obra menos qualificada.

Sendo uma mais-valia para o desenvolvimento do sudoeste alentejano e para o país, mas também reveladora de uma realidade laboral marcada em muitos casos por baixos salários, o que leva a que mesmo com taxas de desemprego elevadas as populações locais rejeitem estas oportunidades profissionais, este fluxo migratório impõe às autoridades político-administrativas e aos agentes socioeconómicos nacionais, regionais e locais uma estratégia simultaneamente capaz de analisar problemas e encontrar soluções para diversos desafios. Como sejam, as políticas e práticas de acolhimento e integração, as necessidades de alojamento, as condições de habitabilidade e de trabalho, os direitos sociais e as remunerações salariais, ou as barreiras linguísticas e culturais.

Como sustenta o Pe. António Vaz Pinto, antigo Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, “A palavra imigração, é bom lembrá-lo, não é uma palavra neutra e fria, é uma realidade que encerra pessoas, muito concretas, com as suas vidas, alegrias, esperanças e desejos. Por outro lado, é uma realidade viva, em movimento contínuo que não se deixa fixar nem parar. É um puzzle humano colorido, de inumeráveis cores, línguas, sabores, tradições, culturas, religiões. Por isso mesmo, não pede apenas uma resposta, mas respostas variadas e sucessivas, um puzzle que se vai construindo com o esforço de todos”.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Onde param os donativos dos emigrantes para as vítimas dos fogos na região Centro?



No início do mês de setembro a imprensa nacional repercutiu nas páginas de vários órgãos de informação declarações do autarca de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, a solicitar que o Ministério Público investigasse para onde foram canalizadas as verbas recolhidas por várias entidades para as vítimas do incêndio que assolou a região em junho.

A suspeita de que terá sido desviada parte das verbas recolhidas para as vítimas, suspeição igualmente partilhada pelos autarcas de Castanheira de Pera e de Figueiró de Vinhos, levou os mesmos a manifestarem inclusive receios de desvio de donativos de contas abertas no estrangeiro por parte de emigrantes. 

Esta falta de transparência, aludida pelos autarcas dos concelhos da região Centro atingidos pelos incêndios, motivou mesmo uma intervenção pública do Presidente da República, a pedir esclarecimentos sobre os donativos arrecadados para apoiar as vítimas dos incêndios.

Na esteira das palavras do mais alto magistrado da Nação é preciso explicar aos portugueses “de onde veio o dinheiro, quem é que o está a gerir, como e quanto”, incumbência que entretanto começou a ser esclarecida por várias entidades públicas e privadas envolvidas nas campanhas de solidariedade em prol das vítimas dos fogos.
 
No caso específico das inúmeras campanhas solidárias dinamizadas pelas comunidades portuguesas para com as vítimas dos incêndios, abundam felizmente vários exemplos de transparência e entreajuda. Ainda no fim-de-semana passado, o movimento “Canada For Portugal”, um movimento que reúne empresários, meios de comunicação social e associações portuguesas de Ontário no Canadá, entregou pessoalmente através do comendador Manuel da Costa, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, mais de cem mil dólares ao autarca de Pedrogão Grande.

Este envolvimento direto das comunidades portuguesas é indubitavelmente a forma mais adequada de demonstrar a entreajuda e transparência destas campanhas, acrescentando ainda a vantagem de potenciar o conhecimento sobre a realidade das pessoas para com quem os portugueses no estrangeiro expressam a sua solidariedade.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Os soldados portugueses que se tornaram emigrantes em França no final da Grande Guerra



A presença da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas, está historicamente ligada ao processo de reconstrução francês após o fim da segunda Guerra Mundial. Reconstrução, que em parte, foi suportada por um enorme contingente de mão-de-obra portuguesa que motivada pela procura de melhores condições de vida, e nas décadas de 1960-70 pela fuga à Guerra Colonial e à repressão política do Estado Novo, encontrou nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris o seu principal sustento.

Mas originariamente, a emigração portuguesa para França está ligada à participação do Corpo Expedicionário Português (CEP) na frente europeia da Grande Guerra (1914-1918), acontecimento bélico que levou para França em 1917 cerca de 55 mil portugueses para lutar nas trincheiras dos aliados britânicos contra o inimigo alemão, e do qual milhares de soldados não regressaram, optando por se tornarem emigrantes em terras gaulesas.



Ainda hoje, existem descendentes destes soldados e emigrantes lusos que preservam a sua memória e zelam o cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, um cemitério militar exclusivamente português, que reúne um total de 1831 militares mortos na frente europeia. É o caso da nonagenária Felicia Assunção Pailleux, filha do soldado e depois emigrante João Assunção, um minhoto de Ponte da Barca, que fez parte da 2ª Divisão do CEP e que como outros compatriotas que optaram no final do conflito bélico por não regressar a Portugal, onde grassava uma profunda crise política, económica e social, fixou-se na zona onde combateu, no Norte-Pas de Calais, uma zona de minas de carvão que absorveu muita mão-de-obra.

Ao longo das últimas quatro décadas, Felicia Paileux tem sido a porta-estandarte da bandeira de Portugal nas cerimónias evocativas da Grande Guerra no cemitério de Richebourg e no monumento aos soldados lusos em La Couture, no Norte-Pas de Calais, honrando a memória do seu pai, soldado e emigrante português falecido em 1975, que muito antes da emigração maciça dos anos 60 escolheu como muitos outros antigos companheiros de armas a França para viver, trabalhar e constituir família.