Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 30 de setembro de 2023

Magellan Community Centre: o futuro da(s) comunidade(s)

Dentro dos desafios e problemáticas que as sociedades ocidentais enfrentam na atualidade, o envelhecimento populacional assume uma cada vez maior premência, dadas as suas implicações coletivas e multidimensionais, como é o caso, do mercado laboral, da proteção social, das estruturas familiares e dos laços intergeracionais. Como apontam as Nações Unidas, o número de pessoas, com 60 anos ou mais, deve duplicar até 2050 e mais do que triplicar até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050 e 3,1 mil milhões em 2100. Se o envelhecimento populacional é um fenómeno impactante, na Europa assume maiores proporções, até porque, hoje em dia, o velho continente tem a maior percentagem da população com 60 anos ou mais (25%). No quadro do inverno demográfico mundial e europeu, a sociedade portuguesa é uma das mais afetadas, apontando mesmo o Instituto Nacional de Estatística (INE) que quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos dentro de meio século. Este cenário de envelhecimento da população que reside no território nacional, também é visível no seio das comunidades lusas, em particular, nos países com maior e mais antiga tradição de emigração portuguesa. Segundo o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes aumentou, por exemplo, no Canadá “11 pontos percentuais, passando de 17% para 28%, entre 2001 e 2011, e nos EUA aumentou sete pontos percentuais, de 16% para 23%. O crescimento elevado da percentagem dos seniores é ainda observável entre os emigrantes portugueses em França, o destino europeu mais antigo do fluxo migratório nacional. Essa percentagem duplicou, passando de 8% para 16% entre 2002 e 2011”. É neste contexto de populações nacionais emigradas cada mais envelhecidas, que ganha especial relevância o projeto que está a ser dinamizado na comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Designadamente, a construção a breve prazo de um centro, o Magellan Community Centre, orçado em vários milhões de dólares, capaz de acolher mais de 200 seniores, especialmente direcionado para a comunidade lusa. Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, em homenagem ao navegador português, que através da colaboração do poder político e da solidariedade da comunidade luso-canadiana, está a contruir um lar culturalmente específico que irá dispor de profissionais de saúde que falem português. E dinamizará atividades cultural e espiritualmente em ambiente cultural sensível, e promoverá programas sociais e recreativos em português e alimentação que incluirá pratos tradicionais. Numa época de galopante envelhecimento da população, a construção de uma “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana, demonstra desde logo que o espírito de solidariedade e entreajuda ainda é uma das principais marcas da diáspora, em particular, da comunidade portuguesa em Toronto. Tendo sido lançada a primeira pedra da obra emblemática, no passado dia 16 de setembro, uma cerimónia simbólica que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito de uma visita oficial do Chefe de Estado às comunidades portuguesas no Canadá, coincidente com as celebrações dos 70 anos da chegada dos primeiros emigrantes lusos ao segundo maior país em extensão territorial. A angariação de fundos no seio da comunidade luso-canadiana para que este “barco chegue a bom porto", é uma das missões insistentes dos diretores da Magellen Community Charities, que com mais ou menos dificuldades, têm conseguido chegar ao âmago dos empresários, dirigentes associativos e milhares de emigrantes portugueses em Toronto. A presença simbólica e marcante do mais alto magistrado da Nação na cerimónia de lançamento da primeira pedra da obra, não deixa de ser o reconhecimento da mais-valia indubitável do empreendimento para o futuro da comunidade. Assim como um compromisso de apoio do estado português a um projeto representativo, e seguramente inspirador no caminho que deve ser prosseguido por outras comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Como salientou o comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, e presidente da Direção do Magellan Community Centre, a participação do Presidente da República no lançamento da primeira pedra da obra, permitiu ao mais alto representante da pátria de origem ficar “com uma perceção daquilo que é a comunidade portuguesa neste país que nos acolhe desde há 70 anos. No fim de contas, talvez com esta visita o Presidente Marcelo e toda a comitiva ajudem a mostrar ao resto do mundo onde há portugueses, quem somos nós aqui no Canadá”.

domingo, 24 de setembro de 2023

John Guedes: um emigrante benemérito que não esquece as suas raízes

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada nos EUA e ascenderam na escala social graças ao trabalho, ao mérito e ao empenho, destaca-se o exemplo inspirador de empreendedorismo e benemérito de John Guedes. Natural de Vilas Boas, uma freguesia do concelho de Chaves, João Guedes emigrou para a América no alvorecer da década de 1960, numa época em que o fardo da pobreza, da interioridade e a estreiteza de horizontes na região trasmontana durante o Estado Novo compeliu uma forte vaga migratória para o centro da Europa e para a América. Empresário de sucesso há meio século em Bridgeport, a cidade mais populosa do estado americano do Connecticut, onde gere uma firma de arquitetura especializada em projetos de construção de escritórios comerciais, multiresidenciais e médicos, o arquiteto luso-americano natural da freguesia flaviense de Vilas Boas, tem mantido um constate apego à região trasmontana. Ao longo dos últimos anos, o espírito generoso de John Guedes tem dado um contributo fundamental para a prossecução da missão humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vidago. Em 2007 doou um monitor de sinais vitais, no ano seguinte ofereceu uma Ambulância de Socorro devidamente equipada, no valor de 60.000.00 euros; em 2017 concedeu à corporação um donativo para equipar todo o Corpo de Bombeiros com farda número 2 e ainda no alvorecer deste ano possibilitou a aquisição de uma viatura de comando e duas destinadas a transporte de doentes não urgentes. Em reconhecimento do valioso apoio emigrante benemérito luso-americano, a corporação transmontana e a Liga dos Bombeiros Portugueses distinguiram em maio, no Dia do Bombeiro e no decurso da sessão solene de apresentação do Livro “55 Anos dos Bombeiros de Vidago”, John Guedes com o Crachá de Ouro. Uma das mais importantes distinções honoríficas instituídas pela Liga dos Bombeiros Portugueses, que tem por finalidade galardoar a prática de atos e/ou serviços relevantes de inquestionável contributo para a dignificação da Causa dos Bombeiros. Ao longo dos últimos anos, o espírito generoso de John Guedes tem-se estendido também ao Patronato de São José, em Vilar de Nantes, uma instituição flaviense de solidariedade que acolhe crianças do sexo feminino. E recentemente, em agosto, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a visita do Papa Francisco a Portugal, um acontecimento religioso e cultural que reuniu centenas de milhares de jovens de todo o mundo, durante cerca de uma semana, o emigrante benemérito luso-americano custeou toda a logística inerente à participação de mais de três dezenas de jovens transmontanos. Naturais das povoações Vidago, Boticas, Vilela do Tâmega, Loivos, Vilarinho das Paranheiras e Adães, os jovens transmontanos obtiveram assim uma experiência marcante que lhes possibilitou conhecer outros jovens de diferentes continentes, garças ao espírito generoso e solidário do ilustre compatrício. Uma das figuras mais gradas da comunidade luso-americana, o exemplo de vida de John Guedes, emigrante benemérito que não esquece as suas raízes, rememora a máxima do ensaísta e poeta de origem libanesa Khalil Gibran: “A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu”.

domingo, 17 de setembro de 2023

Deolinda Adão: uma fautora da cultura e língua portuguesa na Califórnia

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo. Nos vários exemplos de fautores da cultura e língua de Camões na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos, o percurso altruísta e consagrado da professora Deolinda Adão, na Califórnia. Dotada de uma forte personalidade e de uma grande sensibilidade, Deolinda Adão chegou, na companhia dos pais, ao estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos da América, no princípio da década de 1970. Estabelecida inicialmente em Albany, uma cidade localizada no estado americano da Califórnia, no condado de Alameda, perante um contexto sociocultural diametralmente oposto ao da pátria de origem, porquanto no decurso da ditadura portuguesa a mulher era educada para ser essencialmente uma mãe extremosa, uma esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar, submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido. Deolinda Adão, concluiu no território norte-americano, durante a adolescência, os estudos liceais, tendo mais tarde concluído a licenciatura, mestrado e doutoramento em Literaturas e Culturas Luso-Afro-Brasileiras pela Universidade de Berkeley, uma das mais importantes e prestigiadas universidades do mundo, onde até aos dias de hoje tem construído uma sustentada carreira académica. Professora e Diretora Executiva do Programa de Estudos Portugueses na Universidade da Califórnia, em Berkeley. A sua especialização em mulheres, género e sexualidade, na esteira da sua dissertação “A study of the construction of feminine identity in Portuguese literature”, tem-na impulsionado a publicar regularmente livros e artigos sobre o género feminino. A sua abordagem e dedicação académica tem sido de enorme relevância para a língua e cultura lusa, com especial destaque no contexto da emigração portuguesa na Califórnia. Um dos lados, como refere Irene Vaquinhas, uma das mais conceituadas investigadoras no domínio da História das mulheres e do género, “menos conhecido e estudado do fenómeno migratório”. Eleita, em 2018, Presidente da Luso-American Education Foundation, organização da qual já era membro desde os anos 90, e que tem como missão promover a cultura e língua portuguesa na Califórnia, Deolinda Adão integra desde 2013 o Conselho da Diáspora Portuguesa. Uma associação sem fins lucrativos, constituída em 2012, com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa, e cujo propósito demanda estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e luso-descendentes (residentes fora do país há mais de três anos), para que estes através do seu mérito e influência contribuam para a afirmação universal dos valores e cultura portuguesa, bem como para a elevação e reforço permanente da reputação do país. Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade académica luso-americana, a eminente académica foi recentemente uma das dez personalidades distinguidas com a Medalha de Mérito Científico 2023. Uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que periodicamente galardoa individualidades nacionais ou estrangeiras que, pelas elevadas qualidades profissionais e de cumprimento do dever, e que se tenham distinguido por valioso e excecional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal. Sem nunca esquecer as suas raízes, e nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o exemplo de vida e a profícua carreira académica de Deolinda Adão, relembra-nos o pensamento do insigne pedagogo português Agostinho da Silva: “O professor deve sempre aparecer ao seu discípulo como uma pessoa de cultura perfeita; por cultura perfeita entenderemos tudo o que pode contribuir para lhe dar uma base moral inabalável, sem subserviências nem compromissos”.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

História das emigrações italiana e portuguesa no Luxemburgo

No conjunto dos vários projetos que têm sido dinamizados no campo da emigração portuguesa destaca-se atualmente o projeto “Moving Lusitalia”, implementado no bairro Italie, na cidade de Dudelange, no Luxemburgo, e cujo principal objetivo passa por evidenciar a história das emigrações italiana e portuguesa, olhando também para os novos fluxos migratórios. Criado no âmbito da Capital Europeia da Cultura Esch-sur-Alzette 2022, e coordenado pela portuguesa Heidi Martins, investigadora no Centro de Documentação sobre Migrações Humanas (CDMH), e pela italiana Chiara Ligi, artista e produtora criativa focada em património cultural imaterial e questões sociais. As cientistas sociais têm demandado ao longo dos últimos anos reavivar histórias de vida de emigrantes italianos e portugueses ligados à siderurgia e ao trabalho mineiro no Luxemburgo. No caso específico da emigração portuguesa para o Luxemburgo, o projeto tem o condão de realçar o peso estruturante e histórico da comunidade lusa no Luxemburgo, a maior comunidade no Grão-Ducado, representando cerca de 20% da população total deste país situado na Europa Ocidental, limitado pela Bélgica, França e Alemanha. Um fluxo emigratório que começou no fim da década de 1950, época em que se iniciou o fenómeno maciço da emigração portuguesa da segunda metade do séc. XX para os países industrializados da Europa Ocidental, especialmente para França. Um fenómeno marcante na sociedade portuguesa, sobretudo nos anos 60 e 70 durante a ditadura salazarista, quando mais de um milhão de portugueses partiram a “salto” motivados pela procura de melhores condições de vida ou em fuga à Guerra Colonial. Nas décadas de 1960-70, a emigração portuguesa teve um forte impulso assistindo-se à chegada ao Grão-Ducado de milhares de portugueses, homens para trabalhos nas obras, e as mulheres para as limpezas, essencialmente concentrados na cidade do Luxemburgo e no Sul, embora se encontrem dispersos portugueses por todo o território. Mantendo-se como um dos principais destinos da emigração portuguesa, atualmente a dinâmica da emigração lusa para o Grão-Ducado, na linha de outros destinos migratórios, está mais qualificada. Jovens quadros técnicos e científicos portugueses optam cada vez mais por fazer carreira no estrangeiro, como é o caso do Luxemburgo, devido a melhores oportunidades, progressão de carreira e salários, razões que explicam que desde o início do séc. XXI a percentagem dos diplomados do ensino superior na população portuguesa emigrada nos países da OCDE tenha crescido de forma exponencial.

domingo, 10 de setembro de 2023

Festival de Setembro evidenciou odisseia da emigração em Ourém

Entre os dias 8 e 10 de setembro, a Vila Medieval de Ourém voltou a ser palco do Festival de Setembro, um festival multidisciplinar e multicultural que este ano teve como tema “Nós, Migrantes”.
O historiador Daniel Bastos (dir.), acompanhado da vereadora Isabel Costa e do emigrante benemérito luso-americano José Luís Vale, apresentou no decurso do Festival de Setembro, o seu último livro “Comunidades, Emigração e Lusofonia”, e evocou a memória de Gérald Bloncourt, fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa O Festival de Setembro, parte da base identitária de Ourém, cidade e sede de concelho do distrito de Santarém, no centro do país, acolheu em ambiente de fruição cultural durante três dias, iniciativas de cultura, conhecimento e diálogo em torno da diversidade cultural, inspiradas nas trajetórias da emigração oureense para França, Reino Unido, Brasil, Angola, Moçambique, a par de todos os outros destinos do mundo. Entre seminários, conferências, exposições, concertos, teatro, visitas ao património cultural, literatura, cinema, instalações artísticas, artesanato e gastronomia inspirada em países de destino da emigração oureense, o Festival de Setembro, promovido pelo município do Médio Tejo e dinamizado no Castelo e Paço dos Condes de Ourém, evidenciou as migrações como um tema marcante na história portuguesa, declinando-o no passado, presente e futuro.

domingo, 3 de setembro de 2023

John Medeiros: a arte luso-americana da joalharia

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades excecionais de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso de sucesso de John Medeiros, uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana no campo da joalharia. Natural de Lomba do Carro, concelho da Povoação, ilha de São Miguel, João Medeiros emigrou em 1969, com seis anos de idade na companhia dos pais e quatro irmãos, para Providence, capital e cidade mais populosa do estado norte-americano de Rhode Island, onde existe uma grande comunidade de portugueses vindos em grande parte do arquipélago dos Açores, na demanda de melhores condições de vida. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, impeliram desde cedo o jovem povoacense a trabalhar em vários ofícios no território norte americano, sendo que no decurso da década de 1970 entrou pela primeira vez no mundo das joias, como supervisor e responsável por cerca de meia centena de funcionários numa fábrica da especialidade. A paixão pela arte da joalharia, a capacidade de trabalho singular, e a experiência acumulada e reconhecida na área, capacitaram o emigrante açoriano a criar a sua própria empresa de joias amalgamada na inesgotável inspiração de John Medeiros. Através da valorização da joalharia portuguesa, a que não são alheias as constantes e referências e motivos artísticos alusivos aos Açores, de mãos dadas com um design contemporâneo, John Medeiros ao percecionar cada joia como uma peça de arte, única e irrepetível, além de ter elaborado trabalhos para marcas reconhecidas como a Gucci, afamada casa de moda de luxo italiana, desde o ocaso do séc. XX que apenas labora para sua própria coleção de joias, a “John Medeiros Jewelry Collection”, produzida desde a conceção até à conclusão em Providence, Rhode Island. Com cerca de meia centena de colaboradores, e mercados diversificados dentro e fora dos Estados Unidos, o emigrante açoriano continua até aos dias de hoje a reinterpretar a arte milenar da joalharia, desenvolvendo num trabalho de pesquisa e criação, peças que aliam tradição e modernidade. O seu trabalho articulado e minucioso, respeitando a técnica tradicional e um processo criativo de design de excelência que não olvida as raízes, catapulta-o atualmente uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana no campo da joalharia. A trajetória de John Medeiros marcada pelo mérito e pela inovação, concorreram para que há poucos anos fosse distinguido como sendo um dos dez “Portugueses de Valor de 2021,” no âmbito da iniciativa, que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República, anualmente dinamizada pela revista da diáspora Lusopress, um relevante meio de comunicação social da comunidade portuguesa em França. Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade portuguesa em Rhode Island, onde residem mais de 90 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, o percurso de vida inspirador e persistente John Medeiros, profundamente comprometido com a família e o torrão arquipelágico, relembra-nos a máxima da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir: “É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”.