Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Solidariedade e empreendedorismo: as marcas do percurso de Casimiro Gaspar na Flórida

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças à capacidade de trabalho e de mérito, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Casimiro Gaspar, conhecido empresário benemérito da comunidade portuguesa na Flórida. Natural de Moçambique, antiga colónia portuguesa em África, e com raízes covilhanenses pelo lado paterno e transmontanas por via materna, Casimiro Gaspar, emigrou para os Estados Unidos em 1978, no rescaldo da independência da nação localizada no sudeste do continente africano, e depois de uma curta estadia em Linda-a-Velha, na demanda de melhores condições de vida. Após vários anos em Nova Jérsia, estado situado no nordeste dos EUA, e de uma inicial experiência profissional por conta própria no ramo da limpeza. O emigrante português com raízes africanas, estabeleceu-se na Flórida, estado localizado no extremo sudeste da América, onde fundou em 1994, a Trailco Group, uma firma de assistência e reparação a atrelados, contentores e chassis. Uma empresa que no decurso das últimas décadas tem crescido de forma sustentada, assente nos valores da preocupação social, comprometimento familiar e relacionamento com a comunidade, contexto que a catapultou para uma firma de referência na sua área de atividade, espelhada na presença em cinco estados norte-americanos. Mormente, na Flórida, onde se encontra sediada na cidade de Ocala, mas também em Nova Jérsia, Geórgia, Califórnia e Texas. O esforço hercúleo e a dedicação incansável de Casimiro Gaspar, conhecido por cultivar a simplicidade, os valores familiares e a constância da amizade, robusteceram um empresário de sucesso que nunca descurou a responsabilidade social. Radicado há mais de quarenta anos nos EUA, o sucesso que o empresário alcançou no mundo dos negócios, tem sido constantemente acompanhado de uma importante dimensão benemérita em prol da comunidade e das suas raízes. O espírito altruísta de Casimiro Gaspar, encontra-se paradigmaticamente vertido nas várias jornadas solidárias de mota que tem realizado ao longo dos últimos anos por vários estados norte-americanos, procurando deste modo sensibilizar a angariar fundos para causas sociais. Designadamente, para a Casa do Gaiato de Maputo, uma notável estrutura social sediada em Moçambique, torrão natal do emigrante português, que tem como missão apoiar jovens em risco procurando proporcionar o seu desenvolvimento, a aquisição de aptidões pessoais e profissionais visando a sua plena autonomização enquanto futuros adultos. O carinho e generosidade de Casimiro Gaspar para com a Casa do Gaiato de Maputo, tem possibilitado o envio regular de donativos de milhares de dólares, que se têm revelado importantes para prover à continuidade e sustentabilidade desta meritória instituição a favor das crianças e jovens moçambicanos. Ainda no ano transato, no âmbito da quadra natalícia, o empresário benemérito reuniu dezenas de amigos num almoço solidário no Portuguese American Cultural Center of Palm Coast (PACC), que na esteira de iniciativas realizadas em anos anteriores, permitiu o envio de cerca de 10 mil dólares para a Casa do Gaiato de Maputo. O afeto e altruísmo do conhecido empresário benemérito da comunidade portuguesa na Flórida para com a Casa do Gaiato de Maputo, levou-o inclusivamente, em 2018, meio século depois de ter saído de Moçambique, a visitar a Obra da Rua instituída pelo Padre Américo Monteiro de Aguiar, que ficou conhecido por Padre Américo. Uma jornada humanista e emotiva, de regresso, meio século depois, à terra de origem. Uma viagem de afirmação identitária, feita na companhia da filha Ashley Gaspar, e que permitiu a Casimiro Gaspar constatar “in loco” o relevante apoio que tem proporcionado ao acolhimento, educação e integração na sociedade de crianças e jovens moçambicanos. Uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa na Flórida, o exemplo de vida inspirador de Casimiro Gaspar, recorda-nos a máxima do filósofo alemão Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Kenny Alameda: um empresário lusodescendente de sucesso na Califórnia

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses e lusodescendentes que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso de sucesso do lusodescendente Kenny Alameda, fundador da Clipper Oil, uma empresa, sediada em San Diego, na costa da Califórnia, de referência no abastecimento de combustível a navios que operam no oceano Pacífico. Nascido em San Diego, no alvorecer da década de 1950, Kenny Alameda é filho de emigrantes portugueses que se fixaram no decurso da primeira metade do séc. XX no sul do estado da Califórnia. O pai, natural de Fornos de Algodres, distrito da Guarda, na esteira de milhares de compatriotas passou parte significativa da sua vida na pesca do atum, atividade da qual os portugueses foram pioneiros na cidade de San Diego, sendo que a mãe era natural de São Miguel, a maior ilha do arquipélago dos Açores. Dotado de grande capacidade de trabalho e visão empreendedora, Kenny Alameda, que estudou na Universidade de San Diego e formou-se em Marketing, teve o rasgo de nos anos 80 com o declínio da indústria do atum fundar a Clipper Oil, uma empresa vocacionada para atender às necessidades dos clientes marítimos no Pacífico Ocidental, à medida que os navios mudavam as suas operações de San Diego. Ao longo das últimas décadas, a Clipper Oil passou de um pequeno distribuidor marítimo em San Diego para um fornecedor mundial de referência de combustíveis e transportes marítimos, com um volume de negócios anual da ordem dos 200 milhões de dólares. E cujo raio de ação se estende, por exemplo, pela Samoa Americana, as Ilhas Marshall, os Estados Federados da Micronésia, Vancouver, no Canadá, o Panamá ou o Equador. A veia empreendedora pulsante de Kenny Alameda, que tem atualmente os filhos a assumirem a responsabilidade de expandir os negócios da empresa a novos mercados, encontra-se ainda vincada no setor imobiliário. Ramo em que o lusodescendente também apostou decisivamente desde os anos 80, como cofundador da Clipper Capital Group, uma estrutura imobiliária especializada na aquisição e operação de ativos multifamiliares existentes no sudoeste americano e no noroeste do pacífico. Uma das figuras mais gradas da comunidade de lusodescendentes na Califórnia, Kenny Alameda, que em 2012 foi nomeado pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como comissário para o Conselho das Pescas do Pacífico Ocidental e Central na questão da gestão das espécies altamente migratórias, inspira-nos a máxima do célebre romancista inglês Charles Dickens: “O homem nunca sabe do que é capaz, até que o tenta”.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

José Correia: um self-made man luso-canadiano

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso de sucesso do comendador José Correia, dono da maior companhia de limpeza e manutenção do Canadá. Natural de Albufeira, na zona costeira da região do Algarve, José Correia emigrou para o Canadá em 1967, com 15 anos de idade, ao encontro da figura paterna, que tinha encetado um ano antes uma trajetória migratória transatlântica em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde, na esteira de milhares de compatriotas que procuravam também que os seus descendentes não passassem pelo tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. A chegada ao Canadá, numa fase de crescimento da emigração lusa para o território da América do Norte, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, empenho e resiliência, valores coligidos no seio familiar, impeliram desde cedo o jovem albufeirense a trabalhar em “part-time” no ramo da limpeza e manutenção, área que absorvia muita mão-de-obra portuguesa e que estava a ter procura em Manitoba, província localizada no centro longitudinal do Canadá. Concomitantemente, José Correia almejou melhorar o inglês, estudando à noite, e desenvolver melhores conhecimentos e práticas em soldagem, eletricidade e desenho, mundividência que o incitou a fundar com um sócio canadiano, em 1967, a Bee-Clean, uma empresa que rapidamente se transformou num grupo de referência nos setores de limpeza e manutenção no território canadiano. Assente desde a sua génese na mão-de-obra portuguesa, a Bee-Clean expandiu-se no decurso das décadas seguintes para o oeste do Canadá, mormente Saskatchewan e Alberta. Sendo que atualmente, o grupo Bee-Clean que tem cerca de 15 mil funcionários, emprega ainda mais de 4 mil portugueses, numa época em que a emigração lusa para a América do Norte tem vindo a diminuir, e possui representações nas várias províncias canadianas, além de marcar ainda presença em Portugal, nos Açores, na China, em Xangai, e nos Estados Unidos, no Iowa. Contexto, que converteu a Bee-Clean Building Maintenance na maior companhia de limpeza e manutenção do Canadá, operando, por exemplo, em edifícios privados e governamentais, aeroportos, hospitais, bases militares e esquadras da polícia. E que concorreu diretamente, para que o emigrante algarvio tenha sido reconhecido em 1998 com o Prémio Empreendedor do Ano pela consultora Ernst & Young; em 2015 distinguido pelo Portuguese Canadian Walk of Fame; e no ano transato considerado Empreendedor do Ano pela Building Owners and Managers Association (BOMA) of Canada, na região das Pradarias. A condecoração mais recente, foi atribuída no alvorecer deste ano ao empresário luso-canadiano pelas mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que agraciou José Correia com a Comenda da Ordem de Camões, pela sua atividade empresarial e filantrópica para com a comunidade portuguesa no Canadá, nação onde reside e trabalha há meio século. Uma ordem honorifica portuguesa justamente merecida, destinada distinguir quem tiver prestado serviços relevantes à língua portuguesa, á sua projeção no mundo e á intensificação das relações culturais entre os povos, e as comunidades que se exprimem em português e serviços relevantes para a conservação dos laços das comunidades lusas com Portugal. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa no Canadá, onde vivem e trabalham hodiernamente mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes, o exemplo de vida e de sucesso do comendador José Correia, relembra-nos a visão lapidar de Eça de Queirós, que encarava a emigração como uma força civilizadora.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O altruísmo dos emigrantes em prol dos Bombeiros

Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações. Exemplos de serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta crónica de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações. Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações. Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado no altruísmo do emigrante luso-americano Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast. Natural do concelho de Ovar, distrito de Aveiro, António Amaral emigrou para a América nos anos 60, com tenra idade, na companhia da mãe e dos quatro irmãos, ao encontro da figura paterna que emigrara três anos antes em demanda de melhores condições de vida para uma família humilde. A chegada à América do Norte, mais concretamente a Nova Jérsia, para onde o pai emigrara nesse período, e onde o jovem ovarense haveria de conhecer a esposa Maria, também emigrante, natural de Viseu, e com quem se casou aos 18 amos, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. Dotado de rasgo e visão, António Amaral, mais conhecido como Tony, abriu na década de 1980 em Palm Coast, cidade localizada no estado da Flórida, uma construtora, e começou a dedicar-se à compra e venda de terrenos. O sentido de esforço, trabalho e dedicação, permitiram ao fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, construir nas últimas décadas um império empresarial com bases sólidas nas áreas da construção civil e imobiliário, que foi capaz de obter dividendos do crescimento populacional da Flórida, um dos maiores entre os estados americanos. Radicado há mais de cinquenta anos nos EUA, o sucesso que o empresário alcançou ao longo dos últimos anos no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma singular dimensão benemérita em prol da comunidade luso-americana. Como sustenta a missão singular da Fundação Amaral, constituída pelo emigrante ovarense em 2006, e que há cerca de duas décadas entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida. O profundo sentimento bairrista e de apego às raízes pátrias, têm impelido invariavelmente o benemérito luso-americano a apoiar iniciativas em prol de causas nacionais e locais. A mais recente, ocorreu no passado dia 27 de janeiro, através da dinamização de um jantar de beneficência para as obras do quartel dos Bombeiros Voluntários de Ovar. O evento solidário, organizado por Tony Amaral, família e amigos, que decorreu nas instalações do Portuguese American Cultural Center of Palm Coast (PACC), almejou através da mobilização de forças vivas da comunidade portuguesa radicada na Flórida, angariar mais de 25 mil dólares. Uma importante receita, que em conjunto, com a verba recolhida nesse dia num evento com o mesmo fim realizado nas instalações da Associação Cultural e Desportiva do Torrão do Lameiro, em Ovar, permitirá alavancar o financiamento das obras do quartel da centenária e humanitária instituição ovarense. O insigne e constante altruísmo do emigrante luso-americano Tony Amaral em prol da sua comunidade de origem, desígnio cívico que impeliu em 2021 o Município de Ovar a distinguir o seu filho ilustre com a Medalha Municipal de Prata. E, em particular, o seu altruísmo em prol dos Bombeiros Voluntários de Ovar, recorda-nos a máxima do presidente norte-americano Theodore Roosevelt: “Faça o que puder, com o que tem, onde estiver”.