Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 27 de janeiro de 2018

O pelouro da diáspora nas autarquias



Um dos principais pilares da democracia portuguesa, e um dos elementos mais representativos das conquistas de abril, a autonomia do Poder Local tem sido fundamental ao longo dos últimos quarenta anos no incremento do desenvolvimento sustentado do território nacional e na promoção da qualidade de vida das populações. 

Foi só a partir da afirmação do poder local democrático que nas diversas localidades disseminadas pelo território nacional se rasgaram caminhos, pavimentaram-se quilómetros de vias, quebrou-se o isolamento de populações, eletrificaram-se aldeias, distribui-se a água, implantou-se o saneamento, edificaram-se pontes, construíram-se escolas, colocaram-se a funcionar bibliotecas, museus, pavilhões, piscinas, multiusos, centros de dia, multiplicaram-se associações, enfim sobreveio um pulsar vigoroso da sociedade portuguesa. 

Assente na proximidade aos cidadãos, e na resolução dos problemas do seu bem-estar e qualidade de vida, as autarquias locais têm, em geral, ao longo da sua existência democrática reconhecido o papel da emigração no desenvolvimento das suas localidades. Vários municípios portugueses têm dinamizado projetos que promovem a criação de redes com a diáspora e prestam apoio e acompanham o regresso dos emigrantes. 

É o caso dos muitos protocolos de geminação estabelecidos entre municípios portugueses e várias cidades espalhadas pelo mundo onde existem marcas fortes da emigração portuguesa, ou dos Gabinetes de Apoio ao Emigrante (GAE), criados em 2002, e que funcionam atualmente em mais de uma centena de municípios como estruturas de apoio aos emigrantes residentes ou não em Portugal.

No entanto, raros são os municípios portugueses onde os presidentes da câmara tenham criado pelouros específicos dedicados às relações com a diáspora, de modo a procurar estreitar ainda mais os laços entre as comunidades das terras de origem e de acolhimento. Uma dessas salvas raras exceções, encontra-se no Município de Arcos de Valdevez, uma vila raiana portuguesa no distrito de Viana do Castelo, cujo presidente assumiu recentemente o pelouro da Diáspora como um elemento fulcral na promoção da cultura, no reforço da identidade local e um meio excelente de divulgação do concelho e das suas potencialidades.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Os investimentos dos empresários da diáspora em Portugal



No final do ano passado foi veiculada publicamente informação que revela que o volume de investimentos lançados, nos últimos dois anos, em Portugal, por empresários portugueses e lusodescendentes residentes em diferentes países, ronda os 100 milhões de euros.

Segundo dados da Secretaria de Estado das Comunidades, os projetos em que os empresários da diáspora mais têm investido são sobretudo na área do turismo, e concentram-se no Porto, Lisboa, Leiria, Viana do Castelo, Aveiro, Guarda e Setúbal.

Num período em que as projeções para a economia portuguesa apontam a continuação de uma trajetória de recuperação e crescimento, em linha com o projetado para o conjunto da área do euro, o investimento realizado no território nacional por empresários portugueses e lusodescendentes residentes em diferentes países, constitui assim um importante contributo para a riqueza nacional, e simultaneamente uma promissora oportunidade de negócio.   

O impulso da diáspora na economia portuguesa tem robustecido essencialmente um dos principais motores das exportações nacionais e do crescimento do país, o turismo, contribuindo decisivamente para que Portugal continue um destino turístico de eleição.

Os efeitos destes investimentos têm igualmente um enorme impacto no desenvolvimento socioeconómico das regiões de origem dos empresários da diáspora, que por apego à sua terra canalizam muito dos seus capitais para os lugares que os viram nascer.

Os exemplos deste tipo de investimento bairrista com grande potencial de retorno por parte de empresários da diáspora abundam pelo território nacional. Ainda, por exemplo, no decurso do ano transato foi inaugurado mais um hotel do grupo Pestana na Madeira, designadamente o Santa Cruz Village Hotel, o primeiro investimento de um grupo de emigrantes na Venezuela que têm impulsionado o renascimento da hotelaria na Pérola do Atlântico.

O empreendedorismo da diáspora constitui deste modo não só um valioso ativo no desenvolvimento e coesão territorial nacional, mas também um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do nosso país, que tem nas suas comunidades espalhadas pelo mundo agentes dinâmicos da portugalidade.   

domingo, 14 de janeiro de 2018

Empreender 2020 - regresso de uma Geração Preparada



A Fundação AEP, uma entidade nacional de utilidade pública que compõe o chamado Grupo AEP - Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, tem vindo desde há dois anos, a desenvolver um projeto estruturante para o país, designado por “Empreender 2020 – O Regresso de uma Geração Preparada”.

Este projeto, que tem como principal objetivo estimular o espírito empreendedor no seio da diáspora portuguesa, com o foco dirigido aos jovens qualificados que nos últimos anos têm deixado o país em busca de um futuro melhor, procura deste modo identificar e fomentar condições para que alguns desses jovens possam regressar a Portugal com o intuito de desenvolverem dinâmicas, incitativas e projetos empreendedores. 

Percecionado como um projeto estratégico para o país, que tem emigrados milhares de jovens qualificados, motivados essencialmente por razões profissionais e razões económicas, ainda no decurso do ano passado o governo português robusteceu a iniciativa através do apoio da rede diplomática e cooperação financeira para o retorno destes jovens portugueses. 

O interesse e utilidade estratégica do regresso desta geração, comummente designada como a “geração portuguesa mais bem preparada de sempre”, estão na base da realização no presente mês, de uma Conferência Internacional, intitulada “Portugal e os Jovens Qualificados da Diáspora”, promovida pela Fundação AEP, no âmbito do Empreender 2020, e que pretende ser um espaço de reflexão e debate sobre o potencial dos jovens qualificados que emigraram nos últimos anos.

O volume de iniciativas, e a rede de parcerias e protocolos que têm sido estabelecidos ao longo dos últimos anos em torno do fenómeno da emigração de jovens qualificados são reveladores do impacto deste êxodo no presente e no futuro de Portugal.

De facto, enquanto os agentes políticos, sociais e económicos não criarem as condições necessárias para fixar no território nacional o imenso capital humano e o produtivo manancial de conhecimento que constituem as jovens gerações portuguesas, operando assim uma indispensável transição de paradigma socioeconómico de emigração para imigração, Portugal perdurará um país adiado, sem jovens e sem futuro. 

domingo, 7 de janeiro de 2018

O trabalho em rede do futuro Museu Nacional da Emigração



No âmbito do projeto do futuro Museu Nacional da Emigração, criação aprovada, como recomendação, pela Assembleia da República, a 27 de outubro do ano transato, foi anunciado então pelo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, a intenção do Governo vir a estabelecer que os vários museus municipais ligados ao fenómeno da emigração possam constituir-se como polos do vindouro espaço museológico. 

Trata-se de uma estratégia cultural em rede importante, porquanto pelo país encontram-se disseminados vários núcleos museológicos locais e regionais, que ao longo dos anos se têm dedicado à preservação e conhecimento do processo de emigração, um fenómeno estruturante na sociedade portuguesa e com marcas em todos os continentes. Encontram-se neste caso, por exemplo, o Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, o Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço, e o Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande, que têm prestado um serviço público de grande relevância na promoção do conhecimento das migrações na diáspora portuguesa.

No entanto, além desta perspetiva desconcentrada e polinuclear proposta pelo Governo, na esteira do projeto de resolução do PS para a criação do museu, sustentado no trabalho do deputado eleito pelo círculo da Europa, Paulo Pisco, e da inclusão no mesmo de um centro de documentação, proposto pelo PSD, é igualmente fundamental que o futuro Museu Nacional da Emigração se articule simultaneamente com outros espaços museológicos espalhados pelas comunidades portuguesas, assim como as inúmeras estruturas associativas portuguesas no estrangeiro.

O prosseguimento de uma estratégia de articulação e cooperação transnacional do futuro Museu Nacional da Emigração, por exemplo, com a Galeria dos Pioneiros Portugueses, um espaço museológico em Toronto, que se dedica à perpetuação da memória e das histórias dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá, será indubitavelmente uma mais-valia para a comunidade luso-canadiana, assim como para a missão vindoura do Museu Nacional da Emigração. No mesmo sentido, a articulação e cooperação transnacional do futuro Museu Nacional da Emigração com o associativismo luso no estrangeiro é essencial, pois é no seio destes movimentos que residem os vínculos de pertença cultural e se encontram os sinais de integração nos países de acolhimento.