Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 29 de outubro de 2023

Joel Filipe: um sindicalista e benemérito da comunidade portuguesa em Toronto

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível associativo, cultural, económico e político. Nos vários exemplos de portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Joel Filipe, um dos mais conhecidos dirigentes sindicais da comunidade portuguesa em Toronto. Natural de Atouguia da Baleia, freguesia do município de Peniche, Joel Filipe emigrou para o Canadá ainda adolescente na companhia da figura paterna, na esteira de milhares de compatriotas, em demanda de melhores condições de vida no decurso da vigência do regime salazarista em Portugal. A chegada a Toronto, capital da província de Ontário, assinalou o início de um percurso de vida indelevelmente ligado ao setor da construção civil. Primeiro como trabalhador da construção, experiência profissional marcante que em 2006 o catapultou para a direção do CCWU (Canadian Construction Workers Union), e em 2010 o impeliu a assumir a presidência desta relevante estrutura sindical de trabalhadores da construção no território canadiano. Uma estrutura sindical, que em 2012 passou a integrar a Liuna Local 183, o mais forte sindicato da construção civil da América do Norte, atualmente presidido por outro incontornável dirigente sindical com raízes portugueses, Jack Oliveira. Um dos aspetos mais salientes do percurso de vida do emigrante e dirigente sindical natural de Atouguia da Baleia, encontra-se nos seus vínculos ao movimento associativo português em Toronto. Como corrobora o papel importante que teve na fundação em 1981 do Peniche Community Club of Toronto, uma agremiação que tendo mantido desde a sua origem uma forte ligação à prática do futebol, tem nos últimos anos desempenhado uma significativa componente social e recreativa, em particular, junto dos emigrantes seniores naturais do litoral da região oeste. O papel marcante que Joel Filipe teve na criação nos anos 80 do Peniche Community Club of Toronto, esteve na base das homenagens que o mesmo foi alvo, quer no 35.º aniversário da associação luso-canadiana, assim como do “Merit Award”, que recebeu em 2019 na Gala da ACAPO-Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas de Ontário. A sua estreita ligação ao torrão natal, levou inclusive a que em 2020 fosse distinguido pela Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia pelo “seu envolvimento pessoal nas questões sociais e culturais da Freguesia, e também pelo seu amor à sua terra natal”. O reiterado orgulho que nutre pelas suas raízes, e que o levam todos os anos ao torrão natal, assim como o constante apoio que confere a várias instituições de solidariedade social da sua freguesia e município, concorreram para que a edilidade penichense lhe tenha já atribuído a medalha de mérito municipal. Um galardão, atribuído a indivíduos ou entidades que pelos seus feitos ou ações no âmbito da assistência, da solidariedade social ou do altruísmo, contribuam para a promoção social da comunidade penichense. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade lusa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, o exemplo de vida do dirigente associativo, sindicalista e benemérito social Joel Filipe, inspira-nos a máxima de uma das personagens mais significativas do século XX, Winston Churchill: “Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos”.

sábado, 21 de outubro de 2023

In memoriam Comendador António Fernandes Barros

No passado dia 19 de outubro, assinalou-se o 98.º aniversário natalício do saudoso Comendador António Fernandes Barros (1925-2015), uma das figuras mais reconhecidas do associativismo de matriz minhota na comunidade portuguesa em São Paulo. Natural da freguesia de Antime, município de Fafe, na região do Baixo Minho, onde concluiu a instrução primária, e trabalhou durante a adolescência na Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, antiga fábrica têxtil que chegou a ser uma das maiores do Norte com mais de 2000 operários, António Fernandes Barros emigrou para o Brasil em 1957. Tendo-se estabelecido em São Paulo, a maior cidade do Brasil, onde iniciou um percurso empresarial de sucesso na área das transações comerciais, foi, no entanto, no campo associativo, cultural e na promoção da língua portuguesa, sempre em interligação com o seu torrão natal, que o emigrante fafense se tornou uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa na capital paulista. No seu profícuo currículo associativo e cultural luso-brasileiro, destaca-se, entre outros, a ligação ao Centro de Estudos Históricos Pedro Álvares Cabral, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Pesquisas Hospitalares, ao Centro de Estudos Fernando Pessoa, à Casa de Portugal de São Paulo, à Associação Portuguesa de Desportos e ao Elos Clube de São Paulo. A sua impagável experiência associativa e cultural luso-brasileira, em consonância com um profundo apego à terra que o viu nascer, foi de enorme importância para a fundação nos anos 90, da Casa da Cultura Portuguesa de Porto Seguro, que contou então com apoio do Município de Fafe. Edificada no objetivo principal de proporcionar um espaço privilegiado para pesquisas, projetos culturais e de aprofundamento das relações entre Portugal e o Brasil, a Casa da Cultura Portuguesa de Porto Seguro é constituída por um anfiteatro, biblioteca, museu e o Panteão de Cabral, o primeiro navegador a chegar a terras brasileiras, mormente a Porto Seguro em 22 de abril de 1500. O seu comprometimento e a constante dinamização das relações culturais luso-brasileiras estão na base, nesse período, da atribuição pelo então Presidente da República, Mário Soares, da Ordem de Mérito no Grau de Comendador, destinada a galardoar atos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade. Assim como do título de Cidadão Honorário de Porto Seguro – Estado da Baía, e da Medalha de Prata de Mérito Concelhio da Câmara Municipal de Fafe. De facto, uma das suas características marcantes era a forte ligação que mantinha com as suas raízes, expressa em várias viagens à Sala de Visitas do Minho, e que concorreram para que tenha oferecido uma bola autografada de Pelé, um dos maiores jogadores da história do futebol, ao Operário Futebol Clube (OFC) de Antime, coletividade da qual foi sócio fundador, juntamente com camisolas do Santos Clube Futebol, um dos maiores clubes de futebol do Brasil. Bem como, tenha doado ainda em vida, o distintivo da Ordem de Mérito ao Museu das Migrações e das Comunidades. Um espaço museológico, sediado em Fafe, cuja missão assenta no estudo, preservação e comunicação das expressões materiais e simbólicas da emigração portuguesa, detendo-se particularmente na emigração para o Brasil do século XIX e primeiras décadas do XX, e na emigração para os países europeus da segunda metade do século XX. Uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa em São Paulo, o percurso de vida e o inestimável contributo do saudoso Comendador António Fernandes Barros para o aprofundamento das relações culturais Brasil – Portugal, rememora a ligação umbilical entre os dois povos irmãos, singularmente anotada por Eça de Queirós: “O Brasileiro é o Português – dilatado pelo calor”.

sábado, 14 de outubro de 2023

A (re)valorização da emigração na literatura portuguesa

Nos últimos anos o panorama literário sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto expressivo de obras de autores nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro, que através do mundo dos livros têm dado um importante contributo para o conhecimento de múltiplas dimensões da realidade emigratória portuguesa. Um dos exemplos mais recentes, que asseveram a importância destas obras no campo da mundividência da emigração nacional, encontra-se vertida na coletânea de contos da autoria de 30 autores da diáspora, Contos daqui e d’além. O livro dado agora à estampa, é um novo contributo da Oxalá Editora, uma editora na Alemanha, vocacionada para a publicação da obra de autores da diáspora, dirigida pelo jornalista, autor e editor Mário GM dos Santos. Coordenada pela escritora São Gonçalves, atualmente a residir no Luxemburgo, e com prefácio do antigo Ministro da Cultura e conhecido poeta Luís Filipe Castro Mendes, que hodiernamente preside ao conselho de consultores da rede museológica digital dedicada à emigração portuguesa, a obra conta com a colaboração de 30 autores que residem em diversos países. Mormente, Alexandre Matoso (Luxemburgo), Amilton Conte (Luxemburgo), António Magalhães (Inglaterra), António Topa (França), Bernard P. Trigo (Alemanha), Carla Magalhães (Alemanha), Cristina Marques dos Reis (Alemanha), Dévora Cortinhal (Luxemburgo), Duarte Faro (Luxemburgo), Fátima Ferreira (França), Gabriela Ruivo (Inglaterra), Helena Zefanias (Espanha), Jorge Antunes (Luxemburgo), Lese Costa Pinto (Canadá), Luís Galveias (Luxemburgo), Luísa Coelho (Alemanha), Luísa Semedo (França), Luz Marina Kratt (Alemanha), Margarida Nogueira (Inglaterra), Margarida Nörenberg (Alemanha), Maria Auta (Alemanha), Maria Letras (Inglaterra), Marília Andrea (Alemanha), Mikael Oliveira (França), Paula de Lemos (Alemanha), Paula Sá Carvalho (Luxemburgo), Sandra Amado (Luxemburgo), Sarah Virgi (Holanda), Sofia Gomes (Alemanha) e Sónia Micaelo (Bélgica). Como salienta Luís Filipe Castro Mendes no prefácio da obra: “Os contos incluídos neste livro apresentam uma grande variedade de temas, de pontos de vista, de imaginários e até de qualidade literária. (…) Os seus autores vivem e convivem com diferentes situações de pertença dividida (entre a sua pátria e o seu país de acolhimento), que geram igualmente respostas diversas e diferenciadas”. Neste sentido, a trintena de contos assinados pelos autores, muitos deles já com obra publicada em Portugal, outros dão agora pela primeira vez passos no campo da ficção, não deixam de representar um relevante contributo para o conhecimento do fenómeno da emigração portuguesa. Um fenómeno complexo, que nas palavras abalizadas do saudoso pensador Eduardo Loureço, nos “põe em causa, a diversos níveis, de maneira indirecta, a imagem de nós mesmos, mas por isso deve ser apreendida na sua verdade, de maneira adulta e não servir de pretexto como serve a muita gente, a fantasmas colectivos, uns positivos outros negativos, que têm pouco a ver com ela”. Tanto que, como assegura o poeta e dirigente do conselho de consultores da rede museológica digital dedicada à emigração portuguesa no prefácio da obra, esta “coleção de textos literários da nossa diáspora (…) reflete pontos de vista bem atuais e sem preconceitos sobre o mundo e a vida destes nossos compatriotas”.

sábado, 7 de outubro de 2023

A filantropia da diáspora em prol dos Bombeiros

Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações. Exemplos de altruísmo e de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta crónica de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações. Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos das crises económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade de vários emigrantes portugueses, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos bombeiros às populações. Um desses exemplos paradigmáticos encontra-se plasmado na filantropia do emigrante luso-americano José Luís Vale, natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém. Conhecido por cultivar a simplicidade, discrição e humildade, assim como os valores da família, a firmeza da amizade e o apego às raízes, o empresário na área da construção civil no estado norte-americano de Nova Jérsia tem nas últimas décadas dinamizado um conjunto significativo de iniciativas de apoios aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma entidade de utilidade pública e carácter humanitário que remonta aos primórdios da Primeira República. A singular benemerência do empresário luso-americano, ele que foi também bombeiro em Ourém antes de se ter fixado em Newark, a cidade mais populosa do estado de Nova Jérsia, tem possibilitado encontrar formas e meios para apetrechar os Bombeiros Voluntários do concelho do Médio Tejo.
O emigrante José Luís Vale, no quartel dos Bombeiros Voluntários de Ourém que ao longo dos últimos anos tem sido apetrechado pelo benemérito luso-americano Entre as várias iniciativas, destaca-se por exemplo, a que dinamizou em 2016 no PISC, clube português da cidade de Elizabeth, que juntou centenas de conterrâneos e compatriotas, e que permitiu angariar 50 mil dólares que reverteram para os Bombeiros Voluntários de Ourém. O emigrante José Luís Vale, no quartel dos Bombeiros Voluntários de Ourém que ao longo dos últimos anos tem sido apetrechado pelo benemérito luso-americano A sua constante e desprendida generosidade com os Bombeiros de Ourém, contribuiu para que no âmbito do 106.º aniversário da corporação humanitária, a chegada de um novo Veículo Florestal de Combate e Incêndios (VFCI-10) fosse apadrinhado pelo casal José Luís Vale e Edite, tendo o mesmo sido benzido com o nome de “Golden Eagle – Comunidade Luso-Americana”. O espírito perseverante e solidário de José Luís Vale, tem impelido amiúde a corporação oureense a homenageá-lo e a enaltecer diversas vezes o a sua filantropia. Assim como, a Liga dos Bombeiros Portugueses, que lhe atribuiu em 2019, a Medalha de Serviços Distintos – Grau Ouro. Uma condecoração justa e merecida, que se destina a galardoar elementos dos Corpos de Bombeiros, dirigentes dos órgãos sociais das entidades detentoras de Corpos de Bombeiros e das Federações Regionais ou Distritais de Bombeiros e Liga dos Bombeiros Portugueses. Bem como indivíduos e entidades da sociedade civil, pela prática de Serviços Distintos que contribuíram com notável evidência para o engrandecimento e prestígio das instituições de Proteção e Socorro. A insigne filantropia do emigrante luso-americano José Luís Vale em prol dos Bombeiros, na esteira de outros notáveis exemplos que foram ou estão a ser dinamizados no seio da diáspora, evidenciam o cunho solidário de vários compatriotas espalhados pelo mundo e alentam a máxima da poeta e escritora Iara Schmegel: “Bombeiros, aqueles que acendem a chama da esperança”.