Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 28 de janeiro de 2023

José Luís Vale: um emigrante na América que não esquece as suas raízes

 

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”).

Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças à capacidade de trabalho e de mérito, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de José Luís Vale, um reconhecido empresário na área da construção civil em Nova Jérsia.

Natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém, José Luís Vale emigrou para os Estados Unidos na década de 1980, na esteira de milhares de compatriotas à procura de melhores condições de vida.

A chegada ao território americano, onde entretanto casou e constituiu família, vincou um percurso de vida forjado no trabalho, esforço e resiliência, premissas que transformaram o antigo serralheiro oureense num relevante empresário no ramo da construção civil nos EUA.

Conhecido por cultivar a simplicidade, discrição e humildade, assim como os valores da família e a firmeza da amizade, José Luís Vale sobressai indelevelmente por manter uma estreita ligação ao torrão natal, como corrobora o seu investimento hoteleiro em Fátima.

Mas o profundo apego às suas raízes, tem-se manifestado paradigmaticamente ao longo dos últimos anos, na dinamização de várias iniciativas de apoios aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma entidade de utilidade pública e carácter humanitário que remonta aos primórdios da Primeira República.

O extraordinário sentimento benemérito do empresário luso-americano, ele que foi também bombeiro em Ourém antes de se ter fixado em Newark, a cidade mais populosa do estado de Nova Jérsia, tem possibilitado encontrar formas e meios para apetrechar os Bombeiros Voluntários deste concelho do Médio Tejo.

Entre várias iniciativas, destaca-se por exemplo, a que dinamizou em 2016 no PISC, clube português da cidade de Elizabeth, Nova Jérsia, que juntou centenas de conterrâneos e compatriotas, e que permitiu angariar 50 mil dólares que reverteram para os Bombeiros Voluntários de Ourém.

A sua constante e desprendida generosidade com os Bombeiros de Ourém, contribuiu para que no âmbito do 106.º aniversário da corporação humanitária, a chegada de um novo Veículo Florestal de Combate e Incêndios (VFCI-10) fosse apadrinhado pelo casal José Luís Vale e Edite, tendo o mesmo sido benzido com o nome de “Golden Eagle – Comunidade Luso-Americana”.

Contexto que tem levado igualmente a associação oureense a homenageá-lo e a enaltecer diversas vezes o seu espírito filantropo em prol da corporação. Assim como, a Liga dos Bombeiros Portugueses, que se constitui como a confederação das Associações e Corpos de Bombeiros voluntários ou profissionais no território nacional, e que lhe atribuiu em 2019, a Medalha de Serviços Distintos – Grau Ouro.

Uma condecoração justa e merecida, que destina-se a galardoar elementos dos Corpos de Bombeiros, dirigentes dos órgãos sociais das entidades detentoras de Corpos de Bombeiros e das Federações Regionais ou Distritais de Bombeiros e Liga dos Bombeiros Portugueses. Bem como indivíduos e entidades da sociedade civil, pela prática de Serviços Distintos que contribuíram com notável evidência para o engrandecimento e prestígio das instituições de Proteção e Socorro.

Sem nunca esquecer as suas raízes, e nunca abdicando da humildade e seriedade, o exemplo de vida do emigrante e empresário benemérito José Luís Vale, inspira-nos a máxima do escritor francês Honoré de Balzac, considerado o fundador do Realismo na literatura moderna: “Seja no que for, só se recebe na medida do que se dá.”

 

sábado, 21 de janeiro de 2023

A (re)valorização da música portuguesa no seio da lusodescendência

 

No decurso dos últimos anos tem-se assistido, um pouco por toda a dispersa geografia das comunidades portuguesas, a um conjunto relevante de iniciativas, que nas suas mais variadas manifestações artísticas têm contribuído para uma redescoberta das raízes culturais no seio da lusodescendência.

Muitas destas iniciativas têm sido inclusivamente dinamizadas no estrangeiro por diversos lusodescendentes, que ao manterem acesa a herança cultural portuguesa dos seus pais e avós, contribuem decisivamente para a projeção internacional do país.

Um desses exemplos paradigmáticos mais recentes é o que está a ser dinamizado por um coletivo de músicos e artistas lusodescendentes, franceses e portugueses que se dedicam a revisitar o folclore português numa expressão nova. Cognominado “Criatura”, o grupo marcou presença no ano transato em vários palcos de festivais, e tem como um dos seus últimos temas uma música cinematográfica “Labuta”, um rearranjo de uma antiga canção popular com laivos intervencionistas.

A versão gravada, que contou com a participação do Coro dos Anjos, foi apresentada ao vivo na Lavaria do Cabeço do Pião, nas antigas Minas da Panasqueira, um conjunto de explorações mineiras com mais de um século de história localizadas na Beira Interior e que marcaram indelevelmente a história, a memória e a identidade das populações da Covilhã e do Fundão.

Os trabalhos do coletivo musical, robustecido pela presença de vários lusodescendentes radicados em França, o país do mundo onde vive e trabalha a maior comunidade portuguesa no estrangeiro, podem ser visualizados no canal de música no YouTube “Soundscape”. Um projeto vídeo-musical fundado pelo produtor e realizador francês Yoann Le Gruiec, que tem vindo a filmar artistas contemporâneos nacionais, em diferentes cidades lusas, de forma a dar a conhecer a nível mundial a música que se faz em Portugal, mas sem divulgação no estrangeiro.

O canal de Youtube “Soundscape”, criado em 2021, contou com o apoio do Instituto Francês, no âmbito da Temporada Cruzada França-Portugal, tendo recebido depois o apoio do Turismo de Portugal, dada a sua relevância na promoção e divulgação de artistas contemporâneos lusos, dos mais diferentes estilos, associando-os a diferentes cidades nacionais, como é o caso do coletivo “Criatura”.

Esta dinâmica hodierna de (re)valorização da música portuguesa no seio da lusodescendência, revivesce a constatação da investigadora Mireille Heleno Torrado,  que na dissertação Os descendentes de emigrantes portugueses em França: o reencontro com as suas raízes, assevera: “o reencontro dos luso-descendentes com as suas raízes portuguesas é feito de muitas expetativas e muitos sonhos mas que, ao longo do tempo, se vão apercebendo de que, apesar de terem uma dupla pertença, existe um longo trabalho de inserção na sociedade portuguesa que deve ser empreendido por todos”.

 

domingo, 15 de janeiro de 2023

Paul Pereira: um dedicado “mayor” luso-americano em Nova Iorque

 

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”).

Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças à capacidade de trabalho e de mérito, destaca-se o percurso inspirador e dedicado de Paul Pereira, professor de História e atual “mayor”, presidente do município de Mineola, no estado de Nova Iorque.

Natural da localidade de Veiros, concelho de Estarreja, Paulo Pereira emigrou no final da década de 1970 para a América, com 6 anos de idade, na companhia dos pais e irmãos, na esteira de milhares de patriotas em demanda de melhores condições de vida.

O sentido de esforço, trabalho e dedicação, valores coligidos no seio familiar, impulsionaram durante a adolescência o jovem estarrejense a encetar em Mineola, no estado de Nova Iorque, uma sustentada formação académica no campo da História na Adelphi University e no Queens College. Assim como uma devotada carreira no ensino da História, mormente na Mineola High School, enobrecida com uma abnegada dedicação ao associativismo luso-americano.

 Premissas que lhe franquearam as portas do mundo da política autárquica na pátria de acolhimento, e que culminou no decurso do ano transato com a sua eleição como presidente da vila de Mineola, uma área suburbana nova-iorquina que alberga uma população de 20 mil habitantes, entre eles, cerca de 20% portugueses e lusodescendentes.

Radicado há mais de quarenta anos nos EUA, o percurso profissional, cívico e político do primeiro luso-americano “mayor” em Nova Iorque, é reconhecido pela comunidade a quem devota um profundo sentido de serviço público, por manifestar constantemente um espírito abnegado de dedicação, entreajuda e proximidade.

Casado e pai de três filhos, o sucesso que o professor, dirigente associativo e político luso-americano alcançou ao longo dos últimos anos, tem sido acompanhado de uma notória sensibilidade com a preservação do passado, os desafios do presente e a futura matriz cultural e identitária da comunidade portuguesa em Mineola. Concomitantemente, não esquece também as suas raízes, regressando amiudadamente a Veiros, para onde retornaram os pais já há vários anos, transmitindo com reiterado orgulho os costumes e tradições das gentes do torrão natal aos seus descendentes.

Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o exemplo de vida de Paul Pereira, recorda-nos a interpelação de Nelson Mandela, símbolo cimeiro dos direitos humanos no século XX: “Será que alguém pensa genuinamente que se não conseguiu algo foi por não ter tido o talento, a força, a resistência e a determinação nesse sentido?”.

 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Práticas e Políticas – Inspiradoras e Inovadoras com Imigrantes

 

No decurso dos últimos anos o acervo bibliográfico sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com o lançamento de um conjunto significativo de livros que têm ampliado o conhecimento sobre a história da emigração lusa. E da imigração em Portugal, ou não se tivesse tornado, nas últimas décadas, o nosso país num destino de eleição para milhares de estrangeiros.

Um dos exemplos mais recentes que asseveram a importância destas obras na análise e retrato de um Portugal migrante encontra-se vertido no livro “Práticas e Políticas Inspiradoras e Inovadoras com Imigrantes”. 


A obra, lançada no ocaso do ano transato no âmbito da conferência internacional “Ir Além - A inclusão de imigrantes NPT”, promovida pela Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Portalegre, é coordenada pelas investigadoras da instituição pública de Ensino Superior da sub-região do Alto Alentejo. Prefaciada pelo antigo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, o livro conta com doze capítulos assinados por vários cientistas sociais, nomeadamente: Ana Couteiro, Ana Maria Vieira, António Augusto Montenegro, Catarina Brandão, Catarina Reis Oliveira, Daniel Bastos, Elisete Diogo, F. Javier Garcia Castaño, Gloria Calabresi, Hélia Bracons, Isabel Ferreira, Joana Guimarães, José Carlos Marques, Karl Hedman, Luisa Desmet, Luiza Mira, Marina Montenegro, Mário Ribeiro, Marta Zornoza Madrid, Paula Sousa, Pedro Góis, Raquel Melo, Ricardo Vieira, Sónia P. Gonçalves e Valdemiro Duarte.

Embrenhando-se na relação entre a inclusão social de imigrantes nacionais de países terceiros (NPT) e o desenvolvimento de territórios de baixa densidade, com vista a contribuir para a prática e para a política pública. A obra, que acaba de dar à estampa com a chancela das Edições Esgotadas, nas palavras das suas organizadoras, “concorre para o objetivo central do projeto Ir Além, aprofundar o conhecimento científico e tecer recomendações, para os decisores políticos e para a prática dos profissionais, condutoras das respostas aos fluxos migratórios no respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos”.

Concomitantemente, “visa sensibilizar e promover capacidades culturais em profissionais cuja intervenção envolve cidadãos NPT no sentido da melhoria da qualidade dos serviços”, através dos olhares de vários cientistas sociais que estudam e refletem sobre o fenómeno migratório, emigração/imigração.