Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A valorização do fenómeno da emigração em Melgaço



Ao longo dos últimos anos, a vila raiana de Melgaço, sede do concelho mais a norte de Portugal, situada no distrito de Viana do Castelo, tem sabido preservar e valorizar o fenómeno da emigração, cujas marcas estão muito presentes na realidade e identidade desta região fortemente influenciada pela proximidade de Espanha e pelo rio Minho. 

Um dos aspetos singulares da preservação e valorização do fenómeno da emigração portuguesa em Melgaço é a sua ligação estratégica ao desenvolvimento da economia e do turismo no território mais setentrional do país. O fenómeno emigratório, a par da gastronomia, das paisagens e das tradições, tem contribuído decisivamente para o crescimento sustentado do concelho.

Desde logo, através do Espaço Memória e Fronteira, um núcleo museológico inserido no antigo edifício do matadouro municipal, remodelado e ampliado em 2007, que no cumprimento da sua missão preserva a história recente do concelho, relacionada com o contrabando e a emigração. Um espaço museológico, onde funciona o Gabinete de Apoio ao Emigrante, que conduz o visitante pelos diversos momentos relacionados com a emigração, como as causas, a preparação da viagem e a viagem, a chegada e vivência no país de acolhimento, sem esquecer os reflexos da emigração no território.

A valorização da temática migratória está igualmente presente nestes últimos anos no município através da realização do Filmes do Homem - Festival Internacional de Documentário de Melgaço. A iniciativa, que este ano se realiza entre 1 e 6 de agosto, organizada pela Câmara Municipal de Melgaço e pela Associação Ao Norte, tem como principal objetivo promover e divulgar o cinema etnográfico e social, refletir com os filmes sobre a identidade, memória e fronteira, e contribuir para um arquivo audiovisual sobre a região.

Um dos eixos principais do festival é a programação a partir de uma mostra competitiva de documentários candidatos ao prémio Jean Loup Passek. Historiador, crítico e cinéfilo francês, Jean Loup Passek (1936-2016), filmou nos anos 70 em Paris um documentário sobre a emigração portuguesa onde conheceu vários habitantes de Melgaço, começando aí uma relação que culminou em 2005 na criação do Museu de Cinema de Melgaço, e que tem por base o espólio colecionado ao longo da vida pelo antigo responsável do departamento cinematográfico do Centro Georges Pompidou.

domingo, 26 de novembro de 2017

José Vieira, o cineasta da emigração portuguesa



A 11.ª edição do Lisbon & Sintra film Festival, um Festival Internacional de Cinema que se realizou entre 17 e 26 de novembro, e que se afirma como um dos maiores eventos culturais em Portugal, incluiu este ano na sua programação uma retrospetiva do realizador José Vieira, aclamado cineasta da emigração portuguesa. 

Natural de Oliveira de Frades, uma vila da Beira Alta situada no distrito de Viseu, José Vieira partiu para França em 1965, com sete anos de idade. A sua experiência pessoal como emigrante e as muitas histórias compartilhadas com outros emigrantes em terras gaulesas, inspiraram assertivamente o percurso profissional do realizador que vive e trabalha entre Portugal e França.

Licenciado em Sociologia, José Vieira fez do documentário “uma forma de militância”, porquanto se apercebeu de que a maioria das pessoas “não conheciam a história da emigração portuguesa”, como afirmou no ano passado em entrevista à agência Lusa.

Desde a década de 1980, o cineasta lusodescendente realizou uma trintena de documentários, nomeadamente para a France 2, France 3, La Cinquième e Arte, onde tem abordado sobretudo a problemática da emigração portuguesa para França. Em particular a viagem “a salto”, ou seja, o trajeto clandestino para deixar Portugal rumo a França nos anos 60 e 70, e as condições de vida miseráveis de muitos compatriotas que nessa época habitaram nos "bidonvilles (bairros de lata) em Paris.

Na retrospetiva que lhe foi dedicada no LEFFEST2017, festival que procura reunir o que de melhor se faz no mundo da 7ª arte, estiveram em destaque oito películas suas realizadas entre 2002 e 2016. Como por exemplo, “A fotografia rasgada” (2002), onde José Vieira retrata o código da fotografia rasgada do “passador”, que guardava metade da fotografia de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante que, uma vez chegado ao destino, a remetia à família, em sinal de que chegara bem e que poderia ser concluído o pagamento pela sua “passagem”.

Os documentários “O país aonde nunca se regressa” (2005), “Le bateau en carton” (2010) e “A ilha dos ausentes” (2016), que de certo modo descrevem a sua própria experiência de emigrante, estiveram igualmente em foco no festival, e são parte integrante do valioso trabalho cinematográfico de José Vieira sobre os protagonistas anónimos da história portuguesa que lutaram além-fronteiras por uma vida melhor.

domingo, 19 de novembro de 2017

Emigração, Economia e Participação Política em Portugal



A semana passada ficou marcada pela informação divulgada pelo Eurostat, o Gabinete de Estatísticas da União Europeia, que sustenta que Portugal, com um total de 3343 milhões de euros, tem o maior saldo entre os Estados-membros da UE no que diz respeito às verbas provenientes de pessoas residentes fora do país.

Em 2016, segundo a organização estatística, num total de 24.064 milhões de euros de fluxos de emigrantes na União Europeia, o nosso país detinha a maior fatia (3343 milhões), seguindo-se a Polónia (3014 milhões), o Reino Unido (2454 milhões) e a Roménia (2449 milhões).

Os dados divulgados pela autoridade estatística da União Europeia, revelam assim a influência estruturante do fenómeno migratório em Portugal, um país de emigrantes, que tem nos concidadãos residentes em França (9986 milhões), Reino Unido (7086 milhões), Espanha (6765 milhões) e Alemanha (4214 milhões de euros), os principais destinos e valores do envio das remessas de emigrantes.

Embora sintomática de debilidades estruturais do país, como sejam a escassez de oportunidades, os salários baixos ou a falta de qualidade de vida, a emigração continua a desempenhar um papel fundamental no plano económico nacional.

Nesse sentido, e tendo em linha de conta os dados mais recentes divulgados pelo Eurostat sobre o peso das remessas dos emigrantes da diáspora para Portugal, que nem sequer os vários casos de emigrantes lesados pelas práticas fraudulentas de antigos bancos nacionais parecem colocar em causa, torna-se inadiável o incremento da participação das comunidades portuguesas na vida política do país.

Existindo em Portugal um largo consenso nacional sobre a importância e o papel de dimensão internacional dos cerca de cinco milhões de portugueses espalhados pelo Mundo, ativos incontornáveis da dimensão global da pátria de Camões, urge um debate no seio das esferas politicas sobre a alteração do número de deputados eleitos pelos círculos da emigração. Os atuais quatros mandatos dos dois círculos da emigração, o círculo da Europa e o círculo de Fora da Europa, estão notoriamente desajustados ao peso económico, cultural e politico dos emigrantes, cuja maior envolvência nos destinos do país é fundamental para o desenvolvimento da sociedade portuguesa.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Universidade de Santiago de Compostela debateu emigração galaico-portuguesa



Na passada quarta-feira (15 de novembro), o eixo temático “Galegos e portugueses além da sua terra” foi o tema central do II Seminário da Cátedra das Migrações organizadas Cátedra UNESCO da Universidade de Santiago de Compostela, uma das mais antigas instituições de ensino superior da Península Ibérica e do mundo.

Da esq. para a dir.: a socióloga Iria Vásquez Silva, o historiador Daniel Bastos, o investigador Camilo Fernández Cortizo, e o professor Domingo González Lopo



A iniciativa, que decorreu na Faculdade de Geografia e História, e envolveu alunos e docentes da instituição académica da Galiza, contou entre os oradores convidados, com a socióloga das migrações galega, Iria Vásquez Silva que abordou “A raia: trânsitos migratórios na fronteira galaico-portuguesa”, o investigador galego Camilo Fernández Cortizo que destacou “A emigração galega no Norte de Portugal (1720-1850) ”, o professor universitário galego Domingo González Lopo que analisou “Os Galegos nos livros de viagem dos séculos XVIII e XIX”, e o historiador português Daniel Bastos que falou sobre “Gérald Bloncourt o fotógrafo da emigração portuguesa”.

O encontro multidisciplinar que cruzou na academia galega vários olhares sobre a temática da emigração, fenómeno que tem um peso estruturante na sociedade luso-espanhola, procurou essencialmente aprofundar e valorizar o papel do fenómeno migratório no desenvolvimento das comunidades galaico-portuguesas, com especial incidência nos espaços transfronteiriços.