Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
domingo, 15 de dezembro de 2024
Um Natal inspirado nas comunidades portuguesas
O Natal é a festa por excelência da família, da paz, do amor, da alegria, da solidariedade e da esperança num futuro melhor, que todos desejamos que a breve trecho passe pelo desfecho da Guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, assim como pelo dissipar das incertezas que pairam na economia mundial e o necessário incremento do crescimento global.
É neste contexto socioeconómico intrincado, que a solidariedade, a estrela que mais brilha no Natal das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, assume-se como uma verdadeira fonte de inspiração e matriz civilizacional. Nos tempos desafiantes que vivemos, a diáspora lusa mantém um incessante espírito de solidariedade, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido ao Natal, continuando a apoiar quer os nossos compatriotas no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional.
São muitos e variados os exemplos de solidariedade dinamizada nesta quadra natalícia no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas. Por exemplo, na comunidade lusa em França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. A Academia do Bacalhau de Paris (ABP), levou a cabo, uma vez mais, a iniciativa Roupa Sem Fronteiras, através de uma campanha de recolha de roupa, calçado, roupas de casa e brinquedos para lhes dar uma segunda vida, junto daqueles que mais necessitam.
Coincidente com o falecimento de António Fernandes, presidente honorário da ABP e um dos principais impulsionadores desta iniciativa solidária. A campanha contou este ano com a participação de mais de 70 voluntários, que se uniram para organizar e enviar 28 paletes de donativos, cada uma contendo 16 caixas de roupas, calçado, brinquedos e artigos para o lar, que serão distribuídos por várias associações dos concelhos minhotos de Braga, Fafe e Cabeceiras de Basto.
Outro exemplo paradigmático de espírito solidário da diáspora na quadra natalícia, acontece há vários anos na comunidade portuguesa do Reino Unido, a segunda maior da Europa, formada por cerca de 400 mil pessoas. Desde 2013, ano em que foi criada em Londres, a associação Abraço Solidário, que a coletividade benemérita liderada pela madeirense Zita da Silva, se tem empenhado no apoio a causas sociais, quer junto da comunidade portuguesa no Reino Unido, como também em Portugal. No limiar deste mês, no âmbito do tradicional jantar de Natal solidário, no centro de Londres, uma vez mais foram angariados donativos que vão apoiar instituições, famílias e jovens mais carenciados, quer no Reino Unido, como em Portugal continental e na ilha da Madeira.
No seio da numerosa comunidade lusa nos Estados Unidos da Améria (EUA), segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, têm sido constantes, entre outras, ao longo deste ano as iniciativas dinamizadas em prol dos Bombeiros Portugueses. Figuras gradas da comunidade luso-americana, como por exemplo, o dirigente associativo Jack Costa, presidente da Assembleia Geral do Sport Club Português e dos Amigos do Vale USA; os empresários beneméritos José Luís Vale e David Oliveira; e o empresário de restauração Manuel Carvalho, revelaram-se, uma vez mais, decisivos na dinamização de iniciativas que permitiram a angariação de donativos em prol, respetivamente dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, Ourém e Anadia.
A campanha mais recente da comunidade luso-americana a favor dos “soldados da paz”, foi realizada no alvorecer do presente mês, no Portuguese-American Center of Suffolk, em Farmingville. Emigrantes e dirigentes comunitários como Adelaide Catarina Ferreira, Eurico Tavares, Crystal Fernandes e Sandra Araújo, entre outros, dinamizaram a angariação de mais de 20 mil dólares em prol da aquisição de um novo veículo de combate a incêndios para os Bombeiros Voluntários de Tábua.
Ainda na América do Norte, mais concretamente em Toronto, onde vive a maioria dos mais de meio milhão de compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá, continua a bom ritmo as iniciativas solidárias em proveito da construção do Magellan Community Centre, isto é, a edificação a breve prazo da “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana.
Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, presidida pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, que através da colaboração do poder político e da solidariedade luso-canadiana, está a edificar um lar culturalmente específico e inclusivo para a comunidade.
Orçado em 120 milhões de dólares, ainda recentemente, através da união de todos os órgãos de comunicação comunitários luso-canadianos na Grande Área de Toronto, foi possível dinamizar uma profícua iniciativa de solidariedade que envolveu as forças vivas da comunidade portuguesa, como seja o caso dos comendadores Manuel DaCosta e Frank Alvarez. E assim alcançar donativos, no valor de mais de meio milhão de dólares, essenciais no apoio à construção desta vindoura casa portuguesa.
Estes exemplos inspiradores de solidariedade, e muitos outros que estão atualmente a serem dinamizados no seio da diáspora, fortalecem a ideia-chave que mesmo em tempos desafiantes, o Natal é uma época inspiradora de solidariedade nas comunidades portuguesas.
Que a solidariedade que emana das comunidades portugueses nos irmane a todos a tornar o mundo um lugar melhor, e nos inspire uma Feliz Quadra Natalícia e um Próspero Ano Novo. Como exortava Madre Teresa de Calcutá, exemplo cimeiro de esperança: “É Natal sempre que deixes Deus amar os outros através de ti…sim, é Natal sempre que sorrires ao teu irmão e lhe ofereceres a mão”.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
A solidariedade da comunidade luso-americana em prol dos Bombeiros
Um dos mais importantes pilares da proteção civil em Portugal, os Bombeiros desempenham um serviço fundamental em ações de socorro decorrentes de acidentes rodoviários, combate a incêndios, desastres naturais e industriais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes, assim como abastecimento de água às populações, socorros a náufragos, e inúmeras ações de prevenção e sensibilização junto das populações.
Ainda este ano, no mês de setembro, numa fase crítica em que Portugal enfrentou dezenas de incêndios, em particular no Norte e Centro do país, ficou patente a coragem e a importância dos Bombeiros. Sendo que inclusive quatro “soldados da paz” tombaram em serviço da defesa e proteção das populações, o herói João Manuel dos Santos Silva, de 60 anos, durante o combate às chamas na freguesia de Pinheiro da Bemposta, no concelho de Oliveira de Azeméis, vítima de um problema cardíaco. E os heróis Paulo Jorge Santos, Susana Cristina Carvalho e Sónia Cláudia Melo, quando o carro em que seguiam estes bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, foi apanhado pelas chamas no combate ao incêndio que lavrou no concelho da Tábua.
Exemplos de genuíno serviço de cidadania, às vezes sem o devido reconhecimento dos poderes políticos, as corporações de bombeiros em Portugal debatem-se constantemente com grandes dificuldades, resultantes da falta de meios financeiros, que em muitos casos entravam inclusive a prestação de serviços essenciais às populações.
Ao longo dos últimos anos, muitas destas dificuldades e entraves, agravados pelos contextos de debilidades económicas, têm sido mitigados e ultrapassados graças à generosidade das comunidades portuguesas no estrangeiro, que um pouco por todo o território nacional são um apoio vital para o funcionamento de corporações e para a prossecução de relevantes serviços prestados pelos Bombeiros às populações.
Um desses exemplos paradigmáticos mais recentes ocorreu no ocaso do passado mês de novembro, no seio da comunidade portuguesa de Farmingville, no condado de Suffolk, em Nova Iorque. Estado norte-americano onde o Censo 2020 nos EUA, indica que vivem e trabalham mais de 58 mil luso-americanos.
Mais concretamente, nas instalações do Portuguese-American Center of Suffolk, uma coletividade luso-americana de referência em Farmingville, com cerca de 700 sócios, e que conta nas suas infraestruturas com a Escola “Antero de Figueiredo”, o Rancho Folclórico “Aldeias de Portugal”, uma secção de futebol e outra de motards.
Foi nesta genuína montra de portugalidade nos Estados Unidos, que na noite de 23 de novembro (sábado), se realizou um Jantar de Angariação de Fundos em prol da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tábua, que há 89 anos apoiam a comunidade desta vila portuguesa do distrito de Coimbra.
A iniciativa, muito participada, foi dinamizada por dois filhos da terra que não olvidam as suas raízes, mormente Adelaide Catarina Ferreira e Eurico Tavares, e congregou a presença de várias forças vivas da comunidade luso-americana em Nova Iorque, como Crystal Fernandes, Presidente da New York Portuguese American Leadership Council (NYPALC), e Sandra Araújo, Presidente do Portuguese-American Center of Suffolk (PACS). A que se juntaram, elementos da direção e do comando dos Bombeiros de Tábua, assim como do Presidente da Câmara Municipal de Tábua, Ricardo Cruz.
No rescaldo do jantar-convívio, abrilhantado por dois conhecidos artistas de música popular portuguesa nos Estados Unidos, Jorge Ferreira e Arlindo Andrade, foram angariados mais de 20 mil dólares que serão aplicados na aquisição de um novo veículo de combate a incêndios para os Bombeiros Voluntários de Tábua. Um relevante apoio financeiro, provido pela comunidade portuguesa de Farmingville, que permitirá deste modo reforçar a capacidade de resposta, em situações de combate a incêndios, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tábua.
Neste sentido, as constantes iniciativas solidárias dinamizadas pelas numerosas comunidades luso-americanas, como foi o caso agora da comunidade portuguesa de Farmingville, engrandecem indelevelmente a mensagem do mais alto magistrado da Nação, proferida no âmbito do Dia Nacional do Bombeiro: «Mensageiros de esperança, os Bombeiros portugueses são o bastião que protege e socorre as nossas comunidades em situações de crise ou catástrofe e o garante de que, independentemente das circunstâncias, há sempre alguém, que com abnegação e altruísmo, se prontifica a ajudar o próximo. Que as múltiplas ações de reconhecimento público possam contribuir para o reforço das capacidades dos Bombeiros, permitindo-lhes desempenhar as suas funções com dignidade. O bem dos Bombeiros de Portugal é o bem de todos os Portugueses. Hoje e todos os dias, continuaremos a homenagear os nossos Bombeiros, verdadeiros guardiões da vida, da paz e da segurança».
domingo, 1 de dezembro de 2024
A (re)valorização da emigração na literatura portuguesa
Nos últimos anos o panorama literário sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto expressivo de obras de autores nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro, que através do mundo dos livros têm dado um importante contributo para o conhecimento de múltiplas dimensões da realidade emigratória portuguesa.
Um dos exemplos mais recentes, que asseveram a importância destas obras no campo da mundividência da emigração, mas também da criação literária, até porque como destaca a Professora Catedrática da Faculdade de Letras do Porto, Ana Paula Coutinho, no trabalho O português migrante: uma leitura da revista Peregrinação, conquanto “seja já vasta a bibliografia produzida por nacionais e estrangeiros sobre a emigração portuguesa, a sua dimensão cultural e literária tem sido utilizada, quando muito, enquanto documento de leitura sociológica ou antropológica, mas pouco explorada, desde logo em termos criativos e, consequentemente a nível da crítica literária”. Encontra-se vertida na V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora.
O livro dado agora à estampa, é um novo contributo da Oxalá Editora, uma editora na Alemanha, vocacionada para a publicação da obra de autores da diáspora, dirigida pelo jornalista, autor e editor Mário GM dos Santos. Coordenada pela escritora São Gonçalves, presentemente a residir no Luxemburgo, e com prefácio da escritora luso-canadiana Irene Marques, atualmente a residir em Toronto, e que em 2000 doi distinguida com o Prémio Literário Ferreira de Castro, a obra reúne três dezenas de poetas residentes na Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, Luxemburgo, Suíça e Estados Unidos da América.
Como salienta Irene Marques no prefácio da obra: “Nesta coletânea, e talvez, como não poderia deixar de ser, encontramos também poemas que abordam diretamente a emigração e a saudade: saímos de Portugal porque a vida assim nos pediu. Saímos para alargar horizontes (ontológicos, económicos, coisas que dentro de nós pediam e que ainda não tinham nome). Saímos para ver, constatar o que existia para além daquele nosso pequenino mundo à beira-mar plantado. Saímos e agora ponderamos como era esse mundo quando o deixámos, como será agora, como poderíamos ter sido se não tivéssemos dele saído. Sonha-se em voltar, mesmo que só através de uma viagem poética, num vai-e-vem de alma, que romantiza, que enaltece, transportando-nos a uma infância que nunca mais podemos recuperar. Porque a infância é uma outra vida que jamais poderemos reaver. A infância é a saudade”.
Neste sentido, a V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora, encorpada por uma trintena de poetas residentes nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, muitos deles já com obra publicada aquém e além-fronteiras, não deixando de contribuir para o fomento da criação literária. Representa um relevante contributo para o conhecimento do fenómeno da emigração portuguesa.
Um fenómeno complexo, que nas palavras abalizadas de Eduardo Loureço, um dos maiores pensadores da cultura portuguesa, nos “põe em causa, a diversos níveis, de maneira indirecta, a imagem de nós mesmos, mas por isso deve ser apreendida na sua verdade, de maneira adulta e não servir de pretexto como serve a muita gente, a fantasmas colectivos, uns positivos outros negativos, que têm pouco a ver com ela”.
A recente edição da V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora, e tudo aquilo que ela representa, revivifica a máxima de Emily Dickinson, uma das figuras mais importantes da poesia americana: “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”.
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