Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 30 de março de 2025

Isidro Flores: um emigrante empreendedor de referência na comunidade portuguesa em Vancouver

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, económico, político e social. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e singular de Isidro Flores, um dos mais destacados empreendedores da comunidade portuguesa em Vancouver, situada na Colúmbia Britânica, a terceira maior província do Canadá, onde vivem cerca de 40 mil portugueses e lusodescendentes. Natural da Vila de São Sebastião, situada no concelho açoriano de Angra do Heroísmo, no sueste da ilha Terceira, Isidro Flores emigrou para o Canadá no ocaso dos anos 70, na esteira de milhares de compatriotas, que se estabeleceram no segundo maior país do mundo em extensão territorial, em demanda de melhores condições de vida. A chegada ao território canadiano com 24 anos, marcou o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a abnegação, valores coligidos no seio familiar, forjaram uma têmpera de trabalho assente no mercado laboral da construção civil. A experiência profissional impactante, impeliu o emigrante terceirense a criar a Concord Concrete Pumps, uma empresa que se destaca no continente americano pela produção de camiões equipados com bombas de betão. Sediada em Port Coquitlam, a 30 quilómetros de Vancouver, a Concord Concrete Pumps, cujas bombas de betão são construídas e produzidas numa fábrica que possui na Coreia do Sul, e que se encontra ainda presente na Austrália, atuando assim em mercados que vão desde a América do Norte, México, Brasil, Jordânia ou Oceânia, introduziu em 2006 a maior bomba de lança de betão montada em camião do mundo, tendo sido inclusive distinguida com o prémio Construction Equipment Top 100. Avaliada em dezenas de milhões de dólares, a Concord Concrete Pumps, que reflete o carisma, a visão empresarial e o espírito fundador de Isidro Flores, tem desde a sua génese implementado uma cultura de melhoria contínua na gestão de todos os processos e atividades da empresa, por meio dos mais elevados padrões de qualidade e inovação. O esforço hercúleo e a dedicação incansável de Isidro Flores, robusteceram um empresário de sucesso que nunca descurou a responsabilidade social. Radicado há mais de quarenta anos no Canadá, o sucesso que o emigrante açoriano alcançou no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma relevante dimensão benemérita. É o caso, por exemplo, do auxílio solidário que presta a várias crianças carenciadas de países como o Brasil, Índia, Camboja e Indonésia, apoiando-as com subsídios ao longo dos anos. Uma dinâmica solidária que não olvida o torrão natal, ainda no ano passado, o emigrante empreendedor concedeu um generoso apoio à Junta de Freguesia da Vila de São Sebastião, que permitiu a recuperação do portão principal do Cemitério do Bom Fim. Uma ação solidária que além de ajudar a terra-mãe, constituiu uma homenagem ao seu avô, Francisco Isidoro Flores, cujo nome consta num dos painéis de azulejos, exteriores ao cemitério, como tendo sido um dos operários locais que trabalharam na obra do Cemitério do Bom Fim. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em Vancouver, na costa oeste do Canadá, o percurso singular do empresário filantropo Isidro Flores recorda-nos a máxima de Eça de Queiróz, um dos mais importantes escritores portugueses de todos os tempos: “Na vida o êxito pertence àqueles que têm energia, disciplina, sangue-frio e bondade”.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Livraria UNICEPE, no Porto, promove conferência e reapresentação do livro “Gérald Bloncourt - Dias de Liberdade em Portugal”

No dia 11 de abril (sexta-feira), no âmbito dos eventos das comemorações dos 50 anos da democracia, que continuam este ano tendo como destaque os temas da participação e da democratização, terá lugar na cidade do Porto a conferência "Gérald Bloncourt – Dias de Liberdade em Portugal". A conferência, promovida pela livraria Unicepe, um espaço cultural de referência na cidade invicta, realiza-se às 18h00, e será proferida pelo historiador da diáspora Daniel Bastos, autor de obras de referência sobre o trabalho fotográfico de Bloncourt ligados à emigração e à génese da democracia portuguesa.
Centrada na abordagem do singular trabalho fotográfico de Gérald Bloncourt, que foi um espectador da explosão de liberdade que tomou conta do país após a Revolução de 25 de Abril de 1974, a iniciativa, aberta à comunidade, e que constitui uma homenagem a uma personalidade ímpar que durante mais de duas décadas escreveu com luz a vida dos portugueses, inclui ainda a reapresentação do livro “Gérald Bloncourt - Dias de Liberdade em Portugal”. Uma obra bilingue (português e inglês), concebida e realizada por Daniel Bastos em 2019, que contou com prefácio de Vasco Lourenço, um dos mais conhecidos "capitães de Abril", e tradução de Paulo Teixeira, onde é retratada através do espólio de Gérald Bloncourt, factos históricos que medeiam a Revolução dos Cravos e a celebração do Dia do Trabalhador. Designadamente, a chegada do histórico líder comunista Álvaro Cunhal ao Aeroporto de Lisboa, a emoção do reencontro de presos políticos e exilados com as suas famílias, o caráter pacífico e libertador da Revolução de Abril, e as celebrações efusivas do 1.º de Maio de 1974, a maior manifestação popular da história portuguesa. Segundo Vasco Lourenço, este livro realizado com o apoio da Associação 25 de Abril, uma das instituições de referência do Portugal democrático, e ilustrado pela lente humanista de Bloncourt, constitui uma viagem ao “tempo dos sonhos cheios de esperança, da afirmação da cidadania, da construção de uma sociedade mais livre e mais justa, do fim e do regresso de uma guerra sem sentido com a ajuda ao nascimento de novos países independentes, onde a língua portuguesa continuou a ser o principal factor congregador”.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Fundação Nova Era Jean Pina reuniu com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas

A Fundação Nova Era Jean Pina, constituída em 2019, por um dos mais dinâmicos e beneméritos empresários portugueses em França, João Pina, administrador do Grupo Pina Jean, instituição que assume como principal missão a promoção de uma cultura e rede de solidariedade na Diáspora, reuniu na passada terça-feira (25 de março) com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário.
A reunião, que decorreu na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, no Palácio das Necessidades, em Lisboa, teve como objetivo explanar junto do governante os projetos solidários que a Fundação Nova Era Jean Pina tem dinamizado ao longo dos últimos anos em prol das pessoas mais desfavorecidas ou vulneráveis, como idosos, crianças e desempregados. Assim como, as atividades que a instituição está a realizar atualmente, como seja, o projeto “Sonhos sem Idade” que vai levar, no final deste mês, idosos portugueses a viajar de avião pela primeira vez à capital francesa, e no final do ano, ao Luxemburgo. No decurso da reunião, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, demostrou profundo apreço e reconhecimento pelas atividades empreendidas pela Fundação Nova Era Jean Pina junto da comunidade luso-francesa e no território nacional. Incentivado o empresário benemérito, a prosseguir a dinâmica solidária que a instituição presta a cerca de 15 mil pessoas ao ano, através do envio de 280 a 380 paletes, 350 mil quilos por ano, tal como, a organização de ceias de Natal, e a entrega de milhar e meio de cabazes nessa quadra festiva.

sábado, 22 de março de 2025

Paulo Pereira: a importância do investimento da diáspora em Portugal

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Paulo Pereira. Natural de Felgueiras, concelho situado a norte da região do Vale do Sousa, partiu em tenra idade, no ocaso dos anos 60, com a família para França, que na esteira de milhares de compatriotas demandaram na pátria gaulesa melhores condições de vida. O trabalho, esforço e resiliência, valores coligidos no seio familiar, transformaram o empreendedor luso-francês com formação em Direito e cujo percurso socioprofissional inicial computou experiências laborais em seguros, e no ramo agroalimentar, num dos mais proeminentes empresários da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa. Para tal, muito contribuiu o facto, de há mais duas décadas ter fundado, em Orleães, a Agribéria, umas das maiores empresas de distribuição alimentar em França. E ser ainda, proprietário da cadeia de supermercados Panier du Monde, que se encontra presente em várias cidades gaulesas. Contexto empreendedor, que acentuou a aposta de Paulo Pereira no chamado “mercado da saudade”, alargando as ofertas dos produtos lusos ao mercado francês, desde logo, ao nível da distribuição de vinhos portugueses. A paixão pelo vinho português, o mérito e a visão estratégica, impulsionaram Paulo Pereira, em conjunto com a sócia Maria do Céu Gonçalves, que também em tenra idade rumou com os pais, naturais de Vila Real, em direção ao território francês, a adquirir em 2012, a histórica Quinta da Pacheca, no Douro. O investimento inicial de quase três milhões de euros dos empreendedores da diáspora na Quinta da Pacheca, ao impulsionar a modernização do negócio vinícola e a alicerçar um complexo enoturístico de referência no Douro. Realça, paradigmaticamente, a importância da diáspora no desenvolvimento e projeção de Portugal no mundo. Desde então, os investimentos de Paulo Pereira e do casal Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes no setor do vinho em Portugal não se ficaram apenas pelo Douro. Expandiu-se para outras regiões vitivinícolas, criando uma rede de propriedades, que aliando a produção de vinhos de qualidade à hospitalidade de excelência, formaram no final de 2020, o Grupo Terras & Terroir, na sequência da compra do projeto Caminhos Cruzados, em Nelas. Rebatizado no alvorecer deste ano Pacheca Group, numa mudança estratégica que visa fortalecer a associação do grupo à sua marca mais icónica, o projeto dos emigrantes portugueses, engloba já, além da Quinta da Pacheca, no Douro, e a Caminhos Cruzados, no Dão. Conjuntamente, com a Quinta do Ortigão, na Bairrada, produtora de espumantes de excelência; a Quinta Valle de Passos, em Trás-os-Montes, com o Olive Nature Hotel & Spa; a Quinta de São José do Barrilário, no Douro, com vinhos e um hotel de cinco estrelas; as Vila Marim Country Houses e o Hotel da Folgosa, no Douro; a Ribafreixo Wines e a Herdade da Rocha, no Alentejo; e o POT, no Porto. Os investimentos de Paulo Pereira, em Portugal, preparam-se a breve trecho para alargarem-se, inclusivamente, ao setor da aviação. Através do consórcio Newtour/MS Aviation, que propôs a entrada de Carlos Tavares, antigo CEO da gigante de automóveis Stellantis, que chegou a França ainda adolescente para estudar, e do empresário ligado à Quinta da Pacheca, para robustecer a proposta de privatização da Azores Airlines. Uma companhia subsidiária do Grupo SATA, licenciada para operar voos no exterior dos Açores ligando o arquipélago à Europa e América do Norte. Um dos mais relevantes investidores da diáspora em Portugal, a trajetória de vida de Paulo Pereira, que tem contribuído decisivamente para a afirmação internacional do país, para o desenvolvimento do tecido económico nacional, assim como para a promoção e valorização dos territórios, escora a asserção de Fernando Pessoa: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”.

domingo, 16 de março de 2025

John Guedes: um emigrante de sucesso nos Estados Unidos da América

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de John Guedes, reputado empreendedor e benemérito da comunidade luso-americana. Natural de Vilas Boas, uma freguesia do concelho de Chaves, João Guedes emigrou para a América no alvorecer da década de 1960, com 10 anos de idade. Numa época em que o fardo da pobreza, da interioridade e a estreiteza de horizontes na região trasmontana durante o Estado Novo compeliu uma forte vaga migratória para o centro da Europa e para a América. Detentor de um percurso educacional que computou nos anos 70 a formação académica em arquitetura no Norwalk State College, na cidade de Norwalk, no Connecticut, o terceiro menor estado norte-americano em extensão territorial, onde a presença portuguesa é muito relevante, o emigrante trasmontano, conhecido nos Estados Unidos como John Guedes, fundou no ocaso dessa década a Primrose Companies. Uma empresa de arquitetura e construção, sediada em Bridgeport, a cidade mais populosa do Connecticut, com cerca de meia centena de trabalhadores e especializada em projetos de construção de escritórios comerciais, multiresidenciais e médicos no Connecticut e em Nova Iorque. Com mais de mais de 40 anos de experiência e sucesso no setor da construção e design, entre os muitos projetos que contam como o cunho do arquiteto luso-americano, encontram-se, por exemplo, “The Birmingham Apartments”, em Shelton; o “Federal Arms Apartments”, em Bridgeport; a “Twin Brooks Village Homes”, em Trumbull; a “Post Road Professional Center”, em Westport; ou o “Easton Community Center”, em Easton. Presentemente, John Guedes é o responsável pelo projeto que prevê a construção de um edifício residencial de cinco andares, com 100 apartamentos, no espaço da antiga Escola St. Emery de Fairfield, um dos oito condados que formam o estado americano do Connecticut. O empreendimento, designado de “Kings Highway Commons”, e estimado em dezenas de milhões de dólares, assevera mais um marco no percurso pessoal e na obra do arquiteto luso-americano, que se tem destacado por uma notável capacidade de trabalho e infindável talento criativo. O sucesso que o emigrante flaviense tem alcançado ao longo dos últimos anos, tem sido acompanhado igualmente de um apoio constante à região trasmontana, torrão a quem devota um extraordinário sentimento benemérito. Na sua aldeia natal, onde regressa amiúde, entre outros exemplos filantropos, pagou o terreno onde está o campo de futebol, financiou a abertura de um caminho e a construção de um parque de lazer, patrocinou jornadas culturais e doou cem mil euros para a construção da sede da associação cultural local. O espírito generoso de John Guedes estende-se também, por exemplo, , ao Patronato de São José, em Vilar de Nantes, uma instituição flaviense de solidariedade que acolhe crianças do sexo feminino. E à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vidago, a quem já apoiou com a compra de um monitor de sinais vitais para equipar uma ambulância, assim como de uma ambulância de emergência e de uma ambulância de transporte múltiplo (ABTM). Contexto que levou a corporação, que desenvolve a sua atividade em várias freguesias, a sul do concelho de Chaves, distrito de Vila Real, a atribuir ao arquiteto luso-americano na primeira década do séc. XXI a medalha de prata da Associação Humanitária. E inclusive, a descerrar em 2022, um busto em sua homenagem no quartel dos “Soldados da Paz”. Ilustre filho da terra transmontana, o exemplo de vida do arquiteto luso-americano John Guedes, inspira-nos a máxima do ensaísta Khalil Gibran: “A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu”.

sábado, 15 de março de 2025

Daniel Bastos apresenta “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” em Bruxelas

No dia 5 de abril (sábado), é apresentado em Bruxelas o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, é apresentada às 15h00 na livraria La Petite Portugaise, um ponto de encontro incontornável na promoção da língua e cultura portuguesas em Bruxelas.
A apresentação do livro, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, e prefácio do historiador José Pacheco Pereira, fundador do Ephemera, maior arquivo privado em Portugal, estará a cargo de Maria José Gama, Presidente da Associação José Afonso, Núcleo de Bruxelas. Nesta obra, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, que continuam este ano tendo como destaque os temas da participação e da democratização, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nas décadas de 1960-70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. Refira-se que esta obra, que se encontra no final da sua primeira edição, foi já lançada noutras latitudes da diáspora portuguesa, designadamente em Espanha (Vigo), Canadá (Toronto) e em França (Paris). Assim como em várias cidades no território nacional (Lisboa, Porto, Braga, Felgueiras, Fafe, Óbidos e Torres Novas). Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora. Depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, Fernando Mariano Cardeira regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Museu da Família Teixeira: uma homenagem à emigração madeirense para a Venezuela

A emigração é uma realidade intrínseca à identidade madeirense, marcando desde o povoamento do arquipélago até à atualidade, as suas dimensões sociais, culturais, económicas e políticas. A imensa diáspora da “pérola do Atlântico”, estimada em cerca de 1,5 milhões de madeirenses e descendentes, transportam consigo tradições e memórias pelos quatro cantos do mundo. É essa realidade migratória, na expressão de Vitorino Magalhães Godinho, “uma constante estrutural história portuguesa”, que se encontra a génese do projeto da “História Global da Diáspora Madeirense”, e a futura criação do Museu da Emigração Madeirense. Um vindouro espaço museológico, que pretende homenagear o legado e a memória dos que da Madeira partiram, ao longo dos séculos, para destinos como a África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Curaçau, Estados Unidos da América, França, Havai, Inglaterra ou Venezuela. É nesta última nação da América Latina, que se encontra radicada a maior comunidade emigrante madeirense, computada em cerca de 300 mil emigrantes e descendentes, num total de meio milhão de luso-venezuelanos. Uma comunidade, maioritariamente formada por naturais da “pérola do Atlântico”, que apesar de viver nos últimos anos imersa numa grave crise económica, política e social, persiste desde a segunda metade do séc. XX, como um pilar estruturante do desenvolvimento urbano, económico e sociocultural da Venezuela. O relevante legado histórico da diáspora madeirense para a pátria de Simón Bolívar, está desde o início da segunda década do séc. XXI plasmado na missão e visão do Museu da Família Teixeira, situado na Fajã da Murta, freguesia do Faial, no concelho de Santana. Um espaço museológico concebido pelo empreendedor e benemérito Aneclet Teixeira de Freitas, emigrante de sucesso na capital venezuelana, onde desde os anos 80 alavancou as cadeias de lojas “Rey David”. E que, tem como principal desígnio homenagear e perpetuar a memória dos seus progenitores, Albino Teixeira e Conceição Caires, naturais de Fajã da Murta, que tal como milhares de conterrâneos, encetaram nos anos 50, uma trajetória migratória familiar para a pátria de Simón Bolívar. Detentor de vários investimentos na América Latina, assim como no torrão natal, onde tem investido em hotéis e imobiliário, contexto que confluiu para que em 2021, no âmbito das comemorações do Dia da Região e das Comunidades Madeirenses, tenha sido agraciado pelo Governo Regional com a Insígnia Autonómica de Bons Serviços. O empresário luso-venezuelano erigiu em Fajã da Murta um espaço museológico que alberga as memórias, objetos, cartas e fotografias da família. Um espaço museológico, aberto ao público e com entrada gratuita, aformoseado por um jardim com vinte palmeiras trazidas do Egipto, uma capela, um coreto e uma adega, que ao preservar a história de vida da Família Teixeira, dinamiza e perpetua a memória histórica do fenómeno da emigração madeirense para a Venezuela. Como assegura a socióloga das migrações, Maria Beatriz Rocha-Trindade, no artigo Museus de Migrações – Porquê e para quem?, o Museu da Família Teixeira “constitui um espaço museológico revelador de muitos factos que se encontram intimamente ligados à vida pessoal de um migrante, que partiu para a Venezuela pelo chamamento do seu pai e que a partir daí construiu habilmente e de forma particularmente inteligente o sucesso obtido”. Nesse sentido, o futuro Museu da Emigração Madeirense, não pode deixar de criar sinergias com o Museu da Família Teixeira, instituído pelo empreendedor e benemérito Aneclet Teixeira, cujo notável percurso de vida, lembra-nos a máxima do escritor francês Joseph Joubert: “A memória é o espelho onde observamos os ausentes”.