O
Centro Português de Fotografia (CPF), instituição pública que assegura a
conservação, valorização e proteção legal do património fotográfico nacional,
no âmbito das suas dinâmicas dispõe de uma exposição itinerante que retrata a
época em que a ligação entre o continente europeu e americano era feito por
navio.
A exposição intitulada “Mar de Sonhos – a emigração nos vapores transatlânticos”, assenta em 22
fotografias, datadas do início do século XX, de
autoria de Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931), um importante e apaixonado
fotógrafo amador, que se tornou também o grande pioneiro do cinema português.
As
imagens a preto e branco de Aurélio da Paz dos Reis têm o condão de retratar o
ciclo transoceânico da emigração portuguesa na transição para o século XX. Um
período histórico nacional, em que a permanência de uma prática agrícola
tradicional, uma incipiente industrialização e uma profunda assimetria entre o
mundo rural e urbano, o interior e o litoral, levaram a que entre 1855 e 1914,
mais de um milhão de portugueses, pressionados pela carestia de vida e baixos
salários agrícolas, encetassem uma trajetória transoceânica em direção ao
Brasil, aos EUA, à Argentina e à Venezuela.
Procedente
do mundo rural e eminentemente masculino, este fluxo migratório,
particularmente atraído pelo crescimento económico brasileiro, foi incisivo no
Entre Douro e Minho, e sobretudo possível à revolução que se deu na navegação
através da transição dos veleiros para os barcos a vapor.
O
crescimento da emigração de portugueses para o Brasil esteve na origem, em 1852,
da fundação da “Companhia de Navegação a Vapor Luso-Brasileira”, que teve ao
seu serviço dois vapores, o “Donna Maria Segunda” e o “Dom Pedro Segundo”,
ambos com capacidade para mais de 400 passageiros. Às vantagens da maior
capacidade de transporte de passageiros, os barcos a vapor da “Companhia de
Navegação a Vapor Luso-Brasileira”, e mais tarde da “Mala Real Inglesa”, que
passou a garantir as ligações entre Portugal e o Brasil, aliavam ainda maior
comodidade, segurança e rapidez, encurtando o tempo desta viagem transoceânica
para menos de um mês.
Os
barcos a vapor mantiveram-se até ao alvejar da segunda metade do séc. XX, época
em que chegaram a Portugal os navios equipados com propulsão a diesel e se
iniciou o ciclo da emigração intra-europeia, o grande meio de transporte dos
emigrantes lusos.
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