Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Uma vida luso-francesa

 

Os últimos anos têm sido pródigos na conceção e realização de obras de autoras nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro dedicadas às mundividências femininas no contexto migratório, umas das dimensões da emigração portuguesa que por via destes contributos literários começa a ser mais conhecida e estudada.

Um desses contributos literários, intitulado Uma vida luso-francesa, deu à estampa no final do ano passado e tem o cunho de Margarida Poças Serrano, educadora especial que trabalhou em França com refugiados e jovens com deficiência.

Natural de Reguengo do Fetal, Batalha, Margarida Poças Serrano emigrou para França, nomeadamente para Saint-Maur des Fossés, uma comuna a sudeste de Paris, em 1966, ainda criança, na companhia da mãe e de outras duas irmãs, ao encontro do pai e da irmã mais velha que tinham partido para o território gaulês três anos antes.

Formada em educação especial, uma educação organizada para atender específica e exclusivamente alunos com determinadas necessidades especiais, já depois de casada e do nascimento dos três filhos, a autora batalhense assina nesta obra, que tem a chancela da Chiado Books, um romance social inspirado livre­mente na trajetória de filha de emigrantes que partiram nos anos 60 em demanda de melhores condições de vida, na esteira da larga maioria da população que durante a ditadura portuguesa vivia na pobreza.

O livro aborda também, e sobretudo, a luta de uma menina para escapar ao destino que o seu pai lhe tinha traçado, mormente de mulher submissa ao chefe de família, e aos homens em geral. Rompendo assim com o ideal feminino preconizado na ditadura de Salazar, que advogava que a mulher existia para ser mãe, esposa e dona-de-casa, e desde cedo era educada para ser submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido.

A obra é igualmente é um testemunho pessoal da importância dos livros enquanto instrumento insubstituíveis para a formação, como foi o caso paradigmático de Margarida Poças Serrano, cuja trajetória e trabalho literário relembra a máxima de Gabriel García Márquez: “A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda”.

Sem comentários: