Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 29 de junho de 2024

Artur Brás: um emigrante empreendedor de referência na comunidade portuguesa em França

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Artur Brás. Natural da freguesia de Rossas, situada no concelho minhoto de Vieira do Minho, onde nasceu no seio de uma família de lavradores em 1948. Artur Brás, que teve oportunidade de estudar em Braga, até à adolescência, completando o 5.º ano na Escola Industrial Carlos Amarante, partiu para França em 1965, demandando assim, na esteira de milhares de jovens portugueses, no decurso da ditadura salazarista, escapar ao tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. Com um passaporte de estudante e dominando um pouco a língua francesa, o emigrante vieirense não percorreu, ao contrário de inúmeros patrícios, os trilhos da emigração “a salto”. No entanto, a entrada legal em terras gaulesas ficou marcada inicialmente pelo acolhimento de um amigo, durante três dias no “bidonville” de Saint-Denis. Um enorme bairro de lata, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, que na década de 60 albergou milhares de portugueses, tornando-se um dos principais centros de distribuição de trabalhadores de nacionalidade lusa em França. Revelando desde muito cedo uma personalidade abnegada e profundamente comprometida com o trabalho, valores coligidos no seio familiar minhoto, o jovem vieirense, que começou a trabalhar numa empresa francesa, como ajudante na construção, rapidamente galgou os degraus do sucesso, tornando-se diretor da mesma, aos 26 anos de idade, na região de Seine-et-Marne. Um ano depois, as saudades do torrão natal conduziram Artur Brás a Vieira do Minho, realizando vários investimentos patrimoniais e começando a sua empresa de construção civil. Porém, um acidente de trabalho numa obra fê-lo regressar novamente a França, onde criou em 1977, uma empresa especializada na construção de vivendas de luxo, e conheceu em Paris, a também vieirense Maximina da Silva, grande suporte e companheira de vida com quem casou nessa década. A empresa “Arthur Brás Construções”, tornou-se a partir de então na região de Chantilly, a norte de Paris, onde Artur Brás empreendeu, investiu e lançou as bases do futuro da sua família, uma referência de elevada qualidade na construção e um nome carregado de seriedade e respeito. Lançando-se igualmente no setor da promoção imobiliária, o emigrante e empreendedor ainda tentou aos quarenta anos o regresso à terra mãe, mas abandonado lestamente o propósito, consolidou o “Grupo Arthur Brás” através dos alicerces de mais de uma dezena de empresas, dedicadas ao património, construção e promoção imobiliária. A implantação no sector de construção e promoção imobiliária, e a notável capacidade empreendedora marcada pelo mérito de Artur Brás, alavancaram em 2018, no dia do seu 70.º aniversário, a inauguração da joia do grupo, o Hyatt Regency Chantilly, um hotel de quatro estrelas. O sucesso que o emigrante vieirense alcançou ao longo das últimas décadas, tem sido acompanhado de várias ações de apoio à comunidade luso-francesa, por exemplo, na área do futebol, ou de benemerência, em prol de crianças carenciadas. Entre as dimensões mais salientes de Artur Brás, um homem profundamente ligado à família, destaca-se o apego às suas raízes. Em 2021, no âmbito do 507.º aniversário de elevação a concelho de Vieira do Minho, a edilidade minhota homenageou o ilustre filho da terra no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa. O exemplo de vida do emigrante empreendedor e benemérito Artur Brás, distinguido em 2021 como um dos dez “Portugueses de Valor de 2021,” no âmbito da iniciativa, que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República, anualmente dinamizada pela revista da diáspora Lusopress, inspira-nos a máxima de Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.

sábado, 22 de junho de 2024

O dever de memória na imigração em Portugal

Um dos principais dilemas que a sociedade portuguesa enfrenta no futuro próximo é indubitavelmente o acentuado envelhecimento. O nosso cenário coletivo é impactante: Portugal é dos países mais envelhecidos do mundo. Dados recentes do Eurostat, ou seja, do Gabinete de Estatísticas da União Europeia, asseveram esta realidade inquietante: Portugal é, entre os 27 da União Europeia, o país que está a envelhecer mais depressa. O Inverno demográfico que afeta a sociedade portuguesa, e para o qual tem contribuído o impacto da emigração, conjugado com o aumento da esperança média de vida e a diminuição da natalidade, é de tal ordem, que a Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que Portugal seja em 2030 o terceiro país mais velho do mundo. O envelhecimento, o empobrecimento e o esvaziamento são desafios (des)estruturantes e prementes que têm sido atenuados nos últimos anos pelos imigrantes que têm afluído a Portugal para viver e trabalhar. Tradicionalmente país de emigração, a Pátria de Camões tem assistido nas últimas décadas, a um incremento de fluxos regulares de imigrantes provenientes do Brasil, da Europa Central e de Leste, da África Lusófona e da Ásia, que têm contribuído de forma positiva para a realidade sociodemográfica nacional. Como sustentam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a população em Portugal tem aumentado nos últimos anos devido à imigração. Atente-se que no final de 2022 residiam no território nacional 10.467.366 pessoas, mais 46.249 do que no ano anterior, resultado de um saldo migratório de 86 889 pessoas, que compensou o saldo natural negativo. Nas principais nacionalidades estrangeiras residentes no país destaca-se a comunidade brasileira, composta por mais de 200 mil pessoas, números que a elevam a maior comunidade imigrante em Portugal. No seu conjunto, os efeitos da dinâmica imigratória no território nacional, manifesta no número de trabalhadores brasileiros, indianos, nepaleses, cabo-verdianos ou bengalis, como sustenta Ana Sofia Santos Quintino, na tese Efeitos demográficos e económicos das migrações em Portugal: o caso da Segurança Social, são “positivos, contribuindo para atenuar os efeitos do envelhecimento e do declínio populacional. Em relação à evolução futura do subsistema de pensões de velhice conclui-se que os saldos financeiros em percentagem do Valor Acrescentado Bruto da economia são menos negativos quando se considera o contributo das migrações do que na ausência da dinâmica migratória”. Tendo em conta o impacto positivo do fluxo imigratório na demografia e na economia portuguesa, é nitidamente um contrassenso a ampliação do discurso xenófobo em Portugal. E que ainda recentemente, se materializou num ataque racista no Porto, mormente em agressões a dois imigrantes marroquinos, no início de maio, na zona da Batalha. A retórica anti-imigrantes alinhado pelo diapasão da extrema-direita na Europa, cada vez mais constante no debate político nacional, tem sido um dos principais veículos de ampliação do discurso racista e xenófobo. Uma retórica que em vários casos procura estabelecer uma relação entre o aumento da imigração e da insegurança em Portugal, mas que não cola com a realidade. O último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), relativo a 2022, aponta que a grande maioria (84,7%) da população prisional no país tem nacionalidade portuguesa, enquanto o valor relativo dos reclusos estrangeiros diminuiu 3,8% na última década. A evidência da realidade é que Portugal necessita da imigração, do papel estrutural dos imigrantes. Na esteira da ativista e feminista Clara Não, grande “parte dos imigrantes em Portugal trabalha na restauração, na construção, limpeza doméstica, atendimento ao cliente, ou em serviços de entregas e reparações. Esta realidade é ainda mais gritante na nossa capital, Lisboa. Se não houvesse imigrantes em Portugal, queria ver como é que a economia era sustentada”. Isto não invalida, que os responsáveis políticos devam prosseguir uma política que fixe em Portugal as novas gerações e simultaneamente regulem, dignifiquem e promovam a imigração mediante bases de integração, responsabilidade e solidariedade. Ao contrário dos crescentes discursos e política anti-imigração que campeiam em várias nações, cujos pilares, ironicamente construídos ao longo da sua história pela dinâmica da imigração são agora arremetidos pela tentação cada vez maior de construção de barreiras fronteiriças e ideológicas, a experiência migratória em geral, e a portuguesa, em particular, evidenciam as profícuas oportunidades de desenvolvimento, que a mesma representa para os países de origem e de acolhimento. E no caso de Portugal, temos ainda um claro dever de memória perante aqueles que procuram o nosso país para encetar um novo projeto de vida. Comungando da visão expressa em 2021 pelo mais alto magistrado da Nação, no âmbito das comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas: “Nunca nos esqueçamos disto: Somos uma Pátria de emigrantes e, por isso, estranho será que, além de não fazemos mais pelos nossos emigrantes, não queiramos para os emigrantes dos outros o que queremos para os nossos. (…) Não nos esqueçamos de agradecer aos irmãos de nacionalidade que por esse mundo fora criam portugais e aos irmãos de humanidade que criam Portugal".

segunda-feira, 17 de junho de 2024

José Luís Vale: um exemplo do potencial dos empreendedores da diáspora

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. A grande maioria da população luso-americana trabalha por conta de outrem, na indústria, mas são já muitos os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades políticas. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, onde proliferam centenas de associações recreativas e culturais, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais e sociedades de beneficência e religiosas, destacam-se percursos de vida de vários compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que se distinguem pelo papel empreendedor e inovador no contexto da sociedade norte-americana, e que constituem simultaneamente um ativo estratégico na promoção internacional e de investimento económico em Portugal, destaca-se o percurso inspirador de José Luís Vale, um reconhecido empresário na área da construção civil em Nova Jérsia. Natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém, José Luís Vale emigrou para os Estados Unidos na década de 1980, na esteira de milhares de compatriotas à procura de melhores condições de vida. A chegada ao território americano, onde, entretanto casou e constituiu família, vincou um percurso de vida forjado no trabalho, esforço e resiliência, premissas que impeliram o antigo serralheiro oureense a fundar a Metro Welding Service INC, uma empresa sediada em Nova Jérsia, que fornece soluções de soldagem de alta qualidade a clientes residenciais e comerciais. Conhecido por cultivar a simplicidade e humildade, assim como os valores da família e a firmeza da amizade, o empresário no ramo da soldagem na construção civil nos EUA, mantém uma estreita ligação ao torrão natal. Manifesta, por exemplo, ao longo dos últimos anos, na dinamização de várias iniciativas de apoio aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma centenária corporação do Médio Tejo, da qual José Luís Vale é um dos seus principais beneméritos. A ligação ao torrão natal ficou recentemente ainda mais estreitada através da inauguração, no passado domingo (16 de junho), do “Miradouro do Vale Apartamentos”, uma nova unidade hoteleira em Fátima, que reforça a capacidade hoteleira instalada no local de peregrinação mais visitado em Portugal. Localizado no centro de Fátima, nas imediações do Santuário de Fátima, o empreendimento hoteleiro, constituído por 18 apartamentos autossuficientes na modalidade de T1 (Quarto + WC + Cozinha/Sala de Estar), assente na qualidade e bom gosto dos detalhes e acomodações, representa um investimento de mais de 2 milhões de euros. Assim como, um exemplo paradigmático do potencial dos empreendedores da diáspora, que através de uma forte ligação aos seus territórios de origem, investem no desenvolvimento de Portugal. O espírito arrojado luso-americano e o profundo apego às raízes de José Luís Vale, materializado agora, nas palavras do mesmo no decurso da inauguração da unidade hoteleira, num “sonho realizado”, robustece a visão ainda e sempre atual de Eça de Queiróz: a “Emigração como Força Civilizadora”.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Duarte Fernandes: empreendedor e benemérito da comunidade portuguesa na ilha britânica de Jersey

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Duarte Fernandes, conhecido empresário da comunidade portuguesa na ilha de Jersey. Um território britânico, localizado entre a costa da França setentrional e na costa sul da Inglaterra, que conjuntamente com Guernsey, forma as Ilhas do Canal. E onde, segundo dados estatísticos, vivem e trabalham cerca de 9 mil cidadãos portugueses, maioritariamente madeirenses, 8% do total da população da ilha de Jersey, mas cuja presença efetiva poderá rondar mesmo o dobro da população de origem lusa. Natural do Faial, freguesia do município de Santana, localizada no nordeste da ilha da Madeira, Duarte Fernandes emigrou em 1995, com 20 anos de idade, para Jersey em demanda de melhores condições de vida, na esteira de muitos conterrâneos afetados pela falta de oportunidades profissionais na pérola do Atlântico nos anos 90. A chegada a Jersey, a maior das Ilhas do Canal, num período de incremento da emigração lusa para o território britânico, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, Duarte Fernandes é o mais velho e o primeiro de seis irmãos a emigrar, forjaram uma ética de carácter e de trabalho que impeliram desde cedo o jovem emigrante madeirense a trabalhar como porteiro da noite num estabelecimento hoteleiro, e simultaneamente a estudar e a aperfeiçoar a língua inglesa. A precariedade laboral no ramo hoteleiro, levaria um ano depois o emigrante madeirense a trabalhar numa empresa de limpezas. Uma experiência profissional que funcionou como antecâmara para o dealbar de uma carreira profissional fulgurante nesta área, porquanto em 1996 criou a Sonnic Cleaning, uma empresa que assente num crescimento com qualidade, chegou em 2003 à ilha de Guernsey, e é hoje a maior empresa de prestação de serviços em limpezas e manutenção em Jersey, empregando cerca de 200 funcionários, entre os quais 150 portugueses, na sua maioria madeirenses. O relevante trabalho e ação empreendedora de Duarte Fernandes, que nunca olvida as raízes e apoio aos seus patrícios, concorreram para que no ano passado, o então Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, no decurso de uma visita oficial às ilhas de Jersey e Guernsey, tenha agraciado o emigrante e empresário “em reconhecimento do carácter empreendedor que o notabilizou entre a comunidade portuguesa residente em Jersey". Nesse mesmo ano, a Associação Comercial e Industrial do Funchal – Câmara de Comércio e Indústria da Madeira (ACIF-CCIM), no âmbito do Dia do Empresário, distinguiu também o empresário da diáspora com o “Prémio Carreira”. Sendo que já no início de 2024, a Câmara de Santana, entregou ao ilustre filho da terra um voto de louvor, aprovado pela Assembleia Municipal de Santana, no qual expressa toda a gratidão e orgulho no empresário, natural da freguesia do Faial. O voto de louvor foi entregue pouco tempo depois da eleição do emigrante e empresário madeirense como conselheiro para as Comunidades Portugueses no Reino Unido, na primeira vez que Jersey elegeu um conselheiro. Contexto que levou a edilidade santanense a destacar que como “conselheiro terá agora a oportunidade de ser uma voz mais próxima das instituições que tutelam os interesses dos nossos emigrantes”. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em Jersey, o exemplo de vida do empreendedor e benemérito Duarte Fernandes, cuja empresa de referência na prestação de serviços de limpeza, manutenção e gestão de condomínios já se estabeleceu na Pérola do Atlântico, patrocinando inclusive a equipa sénior de futebol masculino do clube madeirense Santacruzense, lembra-nos a visão do reputado empresário norte-americano Michael Dell: “Os empreendedores reais têm o que eu chamo de três Ps (e, acreditem-me, nenhum deles significa permissão). Os empreendedores reais têm uma paixão por aquilo que estão a fazer, um problema que precisa de ser resolvido, e um propósito que os impulsiona para a frente”.

domingo, 9 de junho de 2024

Porto foi palco de apresentação do livro “Memórias da Ditadura"

No passado sábado (8 de junho), foi apresentado no Porto o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na livraria Unicepe.
Mesa da sessão de apresentação do livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” (Da esq. para dir.: o investigador José Pacheco Pereira, ladeado do antigo oposicionista Fernando Mariano Cardeira, e do historiador Daniel Bastos) A sessão de apresentação, que encheu este espaço cultural de referência na cidade invicta, esteve a cargo do historiador e investigador José Pacheco Pereira, fundador da associação cultural Ephemera, que assina o prefácio do livro. Enaltecendo o percurso de vida de Fernando Mariano Cardeira na defesa dos ideais da liberdade e da democracia, assim como o da livraria Unicepe, um espaço cultural nascido nos anos 60 que se assumiu como um importante centro de resistência à ditadura. José Pacheco Pereira assegurou que “tudo o que constituía contexto dos anos finais da ditadura está presente neste livro, o país pobre, miserável e injusto onde, desde a mortalidade infantil à nascença, ao analfabetismo, aos bairros da lata, à insegurança de viver em sítios errados quando havia um desastre como as cheias de 1967, que matou “naturalmente” os mais pobres e deixou incólumes os mais ricos, mesmo quando viviam em locais onde choveu mais, o movimento estudantil que tinha tirado as universidades ao controlo de regime, o movimento operário reprimido nos seus mínimos direitos, a condição das mulheres vítimas de todas as violências que a censura proibia de contar, já para não falar da repressão, das prisões, da tortura, e, por fim, da guerra colonial”. Refira-se que nesta nova obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70. Mormente, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. Refira-se que em plena celebração de meio século de liberdade em Portugal, e das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a obra lançada no decurso do mês de abril foi já apresentada em várias capitais de distrito do país, assim como junto da comunidade portuguesa em Toronto, estando agendadas ao longo do ano novas apresentações noutros espaços do território nacional e no seio da Diáspora.

domingo, 2 de junho de 2024

Memórias da ditadura revisitadas na comunidade portuguesa em Toronto

No passado sábado (1 de junho), foi apresentado em Toronto o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na Peach Gallery, um dos espaços culturais de referência da comunidade luso-canadiana.
O historiador Daniel Bastos (dir.), acompanhado do comendador Manuel DaCosta, no decurso da apresentação do livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”, na Peach Gallery em Toronto A sessão de apresentação, que encheu a Peach Gallery de emigrantes, lusodescendentes, líderes comunitários e dirigentes associativos luso-canadianos, esteve a cargo do comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, que enalteceu o trabalho de Daniel Bastos em prol promoção e divulgação das comunidades portuguesas. Segundo o mesmo, a apresentação do livro no ano em que se assinala meio século da Revolução de Abril e no início das comemorações da Semana de Portugal em Toronto, constitui um justo reconhecimento do papel da comunidade luso-canadiana ao longo dos anos no engrandecimento dos valores da liberdade e da portugalidade. Refira-se que a totalidade das receitas da venda dos livros que esgotaram rapidamente, reverteram a favor da Magellan Community Foundation, uma instituição responsável pela construção em Toronto, do primeiro lar de cuidados a longo termo para idosos de expressão portuguesa.
A sessão cultural encheu a Peach Gallery de emigrantes, lusodescendentes, líderes comunitários e dirigentes associativos luso-canadianos Após a apresentação da obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira e prefácio do investigador José Pacheco Pereira, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, e onde é revelado o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70. A iniciativa cultural computou a estreia do documentário “África, como eu a vi”, uma produção da MDC Media Group, realizada por Paulo Fajardo, que através da recolha de testemunhos de antigos combatentes da Guerra Colonial, homenageia aqueles que lutaram pela inclusão de Portugal num mundo de consciência democrática.