Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Relembrar Auschwitz
Relembrar Auschwitz
Vagueiam nus
em Auschwitz,
perdidos no silêncio infame,
os corpos dos nossos irmãos
aguardando disformes
o prenúncio da morte.
Arrastam-se lentamente
presos num corpo despojado
de dignidade que já foi seu.
Imploram aos carcereiros
obreiros da iniquidade,
alivio para a dor lancinante
que dilacera as entranhas
da humanidade.
Erguem-se em Auschwitz
as vozes dos inocentes
que padeceram a crueldade
hedionda do Holocausto.
Repousam em Auschwitz
as cinzas da história
que nunca devíamos
ter deixado acontecer!
Daniel Bastos, “Relembrar Auschwitz” in Terra.
“Relembrar Auschwitz” - Desenho do artista plástico Orlando Pompeu, in Terra.
sábado, 25 de janeiro de 2025
Manuel Soares: empreendedorismo e inovação na diáspora portuguesa
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Manuel Soares.
Natural de Sever do Vouga, no distrito de Aveiro, onde nasceu em 1964, Manuel Soares partiu, no alvorecer da maioridade, para França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeira estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. Encetando um percurso socioprofissional, inicialmente com o seu pai numa empresa, que forjou uma personalidade abnegada, e profundamente comprometida com o trabalho e a família.
Dotado de um singular espírito empreendedor e capacidade inovadora, o emigrante severense criou no ocaso dos anos 80 a sua primeira empresa na área dos mosaicos, e nos anos 90, na “Cidade Luz”, fundou aquela que é atualmente a referência do seu grupo empresarial, a Real Marbre, uma empresa de revestimentos em mármore e pedra, com sede na rua de Saint Florentin, perto da Concorde.
A qual é, até aos dias de hoje, uma parceira privilegiada das maiores empresas de “design” de interiores, responsável pela decoração de lojas de conceituadas marcas de moda internacionais, como a Louis Vuitton, Prada, Dior, Yves Saint Laurent, Gucci e Celine, entre outras. Assim como, de hotéis de cinco estrelas, como por exemplo, o Hôtel Lutetia ou o Hotel Crillon, em Paris, e habitações de luxo, em parceria com arquitetos e “designers” de interiores.
Entre as características mais distintivas do empresário de sucesso radicado em Paris, detentor de um grupo empresarial que fatura anualmente entre vinte e cinco a trinta milhões de euros, destaca-se ainda a profunda ligação e sentimento pátrio, que conjuga com a constante promoção de uma cultura de inovação. Como corrobora o conceito desenvolvido a partir de 2015, em que as pedras de mármores são estruturadas em forma de “favo de abelha”, e cuja produção, passou a ser processada em Viana do Castelo, na capital do Alto Minho, que recebeu deste modo um investimento que gerou cerca de duas dezenas de postos de trabalho e um importante impulso económico.
Um estímulo na coesão territorial, que a Real Marbre ampliou nos últimos anos na região, com o investimento de cerca de quatro milhões de euros, numa nova fábrica na Zona Industrial do Neiva, e que alavancou a criação de uma trintena de novos postos de trabalho.
É a partir do “coração do Minho”, que a empresa pertencente ao Grupo Manuel Soares (Real Marbre, Ventestival, Stone Dark e Mineral System), recebe mármores de todo o mundo, que são ali trabalhados e exportados para várias latitudes geográficas. Como França, Dubai, Japão ou Estados Unidos, onde decoram lojas de marcas de luxo, mormente, a Louis Vuitton, Prada, Dior, Yves Saint Laurent, Gucci ou Celine.
O sucesso que o empresário emigrante alcançou ao longo das últimas décadas no mundo dos negócios, tem sido acompanhado igualmente de uma estreita ligação e apoio à comunidade luso-francesa. Como espelha, a sua dimensão de dirigente associativo da Academia do Bacalhau de Paris, uma coletividade, a cujos destinos, presidiu de 2019 a 2022, e que nos últimos anos tem fomentado uma intensa atividade na promoção da solidariedade e portugalidade na capital francesa. É o caso, por exemplo, da campanha de solidariedade anualmente realizada na quadra natalícia, através da recolha de roupa, calçado, artigos para o lar e brinquedos, que são distribuídos por agregados familiares carenciados, e associações em França e Portugal.
Uma das figuras mais conhecidas da comunidade luso-francesa, o percurso de vida de Manuel Soares, empresário da diáspora e genuíno embaixador de Portugal no mundo, robustecem as palavras do Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, no ocaso do ano transato, aquando do encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa: “A Diáspora Portuguesa é inseparável da nossa história e do nosso soft power. Nós somos portugueses, somos universais e por isso a Diáspora é um fator estratégico essencial para o país pelo impacto artístico, cultural, científico e tecnológico que promove”.
sábado, 18 de janeiro de 2025
Fundações e filantropia nas comunidades portuguesas
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é seguramente a sua dimensão solidária, uma genuína marca genética da diáspora lusa, constantemente expressa em gestos, campanhas e iniciativas fautoras de valores humanistas e altruístas.
Dentro da centelha filantropa que brilha incessantemente no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas, destaca-se ao longo das últimas décadas, a criação e dinamização de fundações assentes nos princípios da filantropia, instituídas por iniciativa de emigrantes de sucesso com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de justiça, e de solidariedade nas pátrias de acolhimento e de origem.
Uma das latitudes paradigmáticas da diáspora onde avultam os exemplos de fundações, instituídas por emigrantes portugueses, que desempenham um papel fundamental no cenário filantrópico, é indubitavelmente os Estados Unidos da América (EUA).
A cultura filantropa, profundamente enraizada na nação mais influente do mundo, onde o impacto social do investimento benemérito feito por empresas e entidades é reconhecido na sociedade, tem ao longo das últimas décadas inspirado vários emigrantes luso-americanos a instituir fundações sem fins lucrativos, dedicadas à beneficência, à cultura, ao ensino e a outros fins de interesse público.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destaca-se por exemplo, desde a primeira década do séc. XXI, o papel incontornável da Fundação António Amaral, em Palm Coast, cidade localizada no estado da Flórida, na promoção da cultura e língua portuguesa.
Instituída em 2006, pelo empresário no sector da construção e imobiliário Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, e radicado há mais de meio século na América, a Fundação António Amaral tem como missão principal a atribuição de bolsas de estudo a jovens de origem portuguesa na Flórida. No decurso das últimas décadas, a Fundação António Amaral, através do espírito empreendedor e ação solidária do emigrante natural de Ovar, entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida, tendo até ao momento, distribuído 250 bolsas, num montante de quase meio milhão de dólares.
Uma missão e valores que perpassam outras áreas em prol da comunidade luso-americana, porquanto a Fundação António Amaral tem apoiado ao longo dos anos, com milhares de dólares, diversas instituições na Flórida e em Portugal, assim como agregados carenciados que têm tido na generosidade da família Amaral uma bússola e um porto de abrigo.
Um outro exemplo paradigmático, encontra-se plasmado na magnanimidade do emigrante luso-americano Manuel Carvalho, natural do concelho de Anadia. Em 2017, o conhecido empresário na área da restauração em Mineola, no estado de Nova Iorque, em conjunto com a sua esposa Jackie, criou a Fundação Família Carvalho. A notável filantropia do empresário luso-americano tem possibilitado, através da Fundação Família Carvalho, encontrar formas e meios para apetrechar ao longo dos anos, entre outros, os Bombeiros Voluntários de Anadia.
Ainda no verão passado, a Fundação Família Carvalho, deu um importante contributo na promoção e preservação da língua, costumes e tradições portuguesas em Long Island, entregando dois donativos no montante total de 16 mil dólares, à Escola Portuguesa Júlio Dinis e ao Rancho Folclórico “Sonhos e Juventude de Portugal”.
Na Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos EUA, onde residem mais de 300 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, este espírito filantropo encontra-se vertido na “Carlos Vieira Foundation”. Uma instituição oficialmente fundada em 2010 pelo empresário luso-americano e automobilista Carlos Vieira, sediada em Livingston, no condado de Merced, cuja missão e visão assentam em três áreas essenciais de atuação: autismo, abuso de drogas e estigma de saúde mental.
Ao longo dos últimos anos, a Fundação Carlos Vieira, na esteira dos valores coligidos no seio do patriarca da família, o comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica e uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, apoia famílias em mais de duas dezenas de municípios no Vale Central da Califórnia, através por exemplo, de subsídios, assistência financeira ou apoio de necessidades médicas. Um outro relevante eixo de ação da Fundação Carlos Vieira está ligado à preservação da cultura e tradições da comunidade lusa na Califórnia, como evidencia a criação, em 2019, do Festival Português do Vale de São Joaquim, e que desde então, tem unido anualmente milhares de luso-americanos em torno da herança portuguesa, mormente a gastronomia, arte, comédia e música tradicional.
Fora da geografia da diáspora lusa norte-americana, é possível também encontrar organizações filantrópicas criadas por emigrantes empreendedores de sucesso. Como por exemplo, em França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas.
Desde 2019, ano em que o empresário português João Pina, radicado na região de Paris e presentemente administrador do Grupo Pina Jean, que se tem destacado em atividades em áreas como a construção civil, limpeza e reciclagem de resíduos, constituiu a Fundação Nova Era Jean Pina. Tem sido dinamizado um intenso conjunto de atividades e projetos de solidariedade luso-franceses para com pessoas desfavorecidas e vulneráveis, como idosos, crianças institucionalizadas e desempregados.
A benemerência do emigrante natural do concelho da Guarda, expressa através da ação perseverante da Fundação Nova Era Jean Pina, tem carrilado inúmeros géneros alimentares, brinquedos e roupa, entre outros bens, para agregados familiares e instituições no território nacional. Como seja o caso da região da Guarda, onde têm sido várias as ceias de Natal organizadas pela Fundação Nova Era Jean Pina, para as quais convida crianças institucionalizadas e idosos isolados. Ou, mesmo noutras latitudes da diáspora portuguesa, como em 2021, quando através da assinatura de um protocolo de colaboração entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Fundação Nova Era Jean Pina e a Federação Iberoamericana de Luso Descendentes, foram oferecidos 200 cabazes de Natal a agregados familiares, carenciados, de nacionalidade portuguesa ou luso descendentes, residentes na Venezuela.
A missão, visão e valores destas fundações filantrópicas, e outras que se encontram ou possam vir a ser instituídas no seio da diáspora, são uma indubitável mais-valia no apoio às comunidades lusas no estrangeiro, na preservação e dinamização da cultura, das tradições e língua portuguesa no mundo. Inspirando-nos a máxima do poeta e filósofo Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos”.
domingo, 12 de janeiro de 2025
Manuel Jacinto Clementino: empresário e benemérito da comunidade luso-canadiana
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Manuel Jacinto Clementino, um dos mais ativos e beneméritos empresários da comunidade luso-canadiana.
Natural da Lomba da Maia, freguesia do município da Ribeira Grande, na ilha açoriana de São Miguel, Manuel Jacinto Clementino emigrou para o Canadá em 1969, com 19 anos de idade, na companhia dos pais e irmãos, na esteira de milhares de compatriotas que nesse período marcado pela ditadura estadonovista, demandavam no segundo maior país do mundo em extensão territorial, melhores condições de vida.
A chegada a Ontário, a província central e mais populosa do Canadá, alavancou o percurso de vida de um verdadeiro “self-made man, que começou a trabalhar em várias indústrias e concomitantemente estudava à noite a língua inglesa. Depois de trabalhar na Hallmark Housekeeping Services, tornou-se sócio e, mais tarde, comprou a totalidade da empresa que hoje emprega mais de cinco mil pessoas em três províncias (Ontário, Alberta e Columbia Britânica).
Atualmente a viver em Brampton, na região metropolitana de Toronto, o emigrante micaelense, que tem procurado passar mais tempo com a família, continua ligado à empresa que através dos valores diários do trabalho, esforço e dedicação, catapultou para uma das companhias de referência no setor de limpezas no Canadá.
O sucesso que Manuel Jacinto Clementino alcançou ao longo das últimas décadas no mundo dos negócios, tem sido constantemente acompanhado de um notável espírito solidário em prol da comunidade luso-canadiana.
Entre os vários e distintos marcos paradigmáticos de filantropia do reconhecido Presidente e CEO da Hallmark Housekeeping Services, destaca-se, entre outros, o programa anual de bolsas de 25 mil dólares que são distribuídas a dez dos seus funcionários ou respetivos filhos, que necessitam de assistência financeira para alcançar o ensino superior. E, o papel ativo, que teve na génese da SCRF (Supporting Cancer Research Foundation), em 2011, cuja investigação na área do cancro, tem sido alvo de diversos apoios de Manuel Jacinto Clementino.
Assim como também, por exemplo, a doação de meio milhão de dólares que entregou, em 2021, ao Magellan Community Centre. Uma organização sem fins lucrativos, que assente essencialmente na solidariedade luso-canadiana, está a edificar um lar culturalmente específico e inclusivo para a comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de meio milhão de compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Fundamentando o emigrante e empresário de origens açorianas, o relevante apoio de forma singular: “Sozinhos, podemos fazer tão pouco, mas juntos podemos fazer tanto. É com grande honra que me junto a outros para dar á nossa comunidade”.
O apoio a projetos de cariz sociocultural e solidário luso-canadianos, contribuíram decisivamente para que o empresário benemérito tivesse, em 2003, recebido a Medalha do Jubileu da Rainha Isabel II, atribuída no Canadá a quem fez uma contribuição significativa em prol dos seus concidadãos, da comunidade ou nação, ao longo do último meio século. E, em 2016, passa-se a figurar no Portuguese Canadian Walk of Fame, que anualmente laureia portugueses que se têm destacado no território canadiano.
A dimensão generosa de Manny Clementino, como é conhecido no Canadá, que nunca olvida as suas raízes, estende-se igualmente ao torrão natal onde tem sido alvo de várias distinções. Em 2017, a Câmara Municipal da Ribeira Grande, no âmbito da homenagem que prestou a emigrantes que se têm destacado na diáspora, atribuiu a Medalha Municipal de Mérito ao ilustre filho da terra, no decurso da sessão solene comemorativa do 36.º aniversário da elevação da Ribeira Grande a cidade, no Teatro Ribeiragrandense.
A iniciativa, que procurou simultaneamente promover e divulgar a Ribeira Grande, as suas gentes e culturas no continente americano, não deixou de destacar a importância de Manuel Jacinto Clementino no apoio a vários conterrâneos em Brampton. Metrópole que computa a presença de uma numerosa comunidade portuguesa, particularmente micaelense, e que tem impulsionado a edilidade açoriana a procurar estabelecer uma geminação com a cidade conhecida como a “mais portuguesa do Canadá”.
Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-canadiana, o exemplo de vida do empresário e filantropo Manuel Jacinto Clementino, distinguido em 2021 na XVI Gala Audiência, com o Troféu Portugalidade 2020, inspira-nos a máxima do ensaísta e filósofo Khalil Gibran: “A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu”.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
João Inácio de Sousa: um memorável filantropo de origem açoriana na Califórnia
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados em Massachusetts, Rhode Island, Nova Jérsia e Califórnia. É neste último estado, que vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país, constituída por mais de 300 mil pessoas, e cuja presença histórica no oeste dos EUA remonta à centúria oitocentista, aquando da corrida ao ouro, da dinamização da pesca da baleia e do atum, e mais tarde das atividades ligadas à agropecuária.
É neste ciclo emigratório oitocentista, que se enquadra o percurso de vida do insigne filantropo luso-americano de origem açoriana, João Inácio de Sousa (1849-1925), cujo monumento em sua homenagem, testemunho de gratidão da Santa Casa da Misericórdia de Velas, pontifica desde a primeira metade do séc. XX, na praça principal desta vila situada na ilha de São Jorge.
Natural da freguesia de Santo Amaro, município de Velas, John Enas como era conhecido nos Estados Unidos, almejou fortuna na área agrícola, petrolífera e bancária em Bakersfield, no condado de Kern. Foi nesta cidade do interior da Califórnia, onde veio a falecer e se encontra sepultado, que legou grande parte da sua fortuna à Santa Casa da Misericórdia de Velas e ao Asilo de Mendicidade de São Jorge, hoje denominado Casa de Repouso João Inácio de Sousa.
Segundo o obituário do jornal centenário The Bakersfield Californian, cujas datas de nascimento e falecimento do benemérito luso-americano de origem açoriana diferem das que se encontram na Estátua de João Inácio de Sousa, em Velas (o diário californiano, aponta que o mesmo nasceu em 1852, e que faleceu em 1924, com 71 anos de idade). John Enas chegou aos Estados Unidos em 1861, mormente ao condado de Stanislaus, onde trabalhou na tosquia de ovelhas.
Em 1873, estabeleceu-se em Delano, no condado de Kern, onde adquiriu rebanhos e dedicou-se à criação de ovelhas. Já em 1881, fixou-se em Bakersfield, onde comprou grandes propriedades agrícolas, várias delas terras petrolíferas no campo do rio Kern, onde chegaram a ser explorados mais de uma dezena de poços de petróleo.
No início do séc. XX, o luso-americano associou-se à atividade bancária, tendo sido eleito vice-presidente e diretor do Banco Luso-Americano de São Francisco; administrador do Bank of Bakersfield; e ocupou um cargo no conselho de administração da empresa Security Trust até ao momento da sua morte.
Na esteira das informações constantes do obituário do jornal centenário The Bakersfield Californian, o proeminente banqueiro, militante do Partido Republicano e proprietário de Bakersfield de origem açoriana, deixou ao conselho de administração do fundo do Abrigo para Crianças do condado de Kern, 2.500 dólares. Ao bispo da diocese de Los Angeles e Monterey, o membro do capítulo de Bakersfield dos Cavaleiros de Colombo, a maior organização de católicos do mundo, testou 10 mil dólares.
Na linha do diário californiano, para o seu torrão natal, foi legado ao Hospital da Misericórdia das Velas, 100 mil dólares. E ao Asilo de Mendicidade de São Jorge, hoje denominado Casa de Repouso João Inácio de Sousa, mais de 100 mil dólares. O mesmo meio de comunicação, apontava ainda que a maior parte do património do capitalista luso-americano, avaliado em cerca de 700 mil dólares, seria para a sua única irmã, Ana Josefa, natural de Santo Amaro, na ilha açoriana de São Jorge. E que o mesmo nomeara como seu executor testamentário, JA Silveira, presidente do Banco Luso-Americano e da empresa Security Trust.
Uma das figuras luso-americanas mais proeminentes do primeiro quartel do séc. XX, o exemplo e percurso de vida de João Inácio de Sousa, é indubitavelmente uma centelha inspiradora do passado, presente e futuro das comunidades luso-americanas da Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos.
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