Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Fundações e filantropia nas comunidades portuguesas

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é seguramente a sua dimensão solidária, uma genuína marca genética da diáspora lusa, constantemente expressa em gestos, campanhas e iniciativas fautoras de valores humanistas e altruístas. Dentro da centelha filantropa que brilha incessantemente no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas, destaca-se ao longo das últimas décadas, a criação e dinamização de fundações assentes nos princípios da filantropia, instituídas por iniciativa de emigrantes de sucesso com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de justiça, e de solidariedade nas pátrias de acolhimento e de origem. Uma das latitudes paradigmáticas da diáspora onde avultam os exemplos de fundações, instituídas por emigrantes portugueses, que desempenham um papel fundamental no cenário filantrópico, é indubitavelmente os Estados Unidos da América (EUA). A cultura filantropa, profundamente enraizada na nação mais influente do mundo, onde o impacto social do investimento benemérito feito por empresas e entidades é reconhecido na sociedade, tem ao longo das últimas décadas inspirado vários emigrantes luso-americanos a instituir fundações sem fins lucrativos, dedicadas à beneficência, à cultura, ao ensino e a outros fins de interesse público. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destaca-se por exemplo, desde a primeira década do séc. XXI, o papel incontornável da Fundação António Amaral, em Palm Coast, cidade localizada no estado da Flórida, na promoção da cultura e língua portuguesa. Instituída em 2006, pelo empresário no sector da construção e imobiliário Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, e radicado há mais de meio século na América, a Fundação António Amaral tem como missão principal a atribuição de bolsas de estudo a jovens de origem portuguesa na Flórida. No decurso das últimas décadas, a Fundação António Amaral, através do espírito empreendedor e ação solidária do emigrante natural de Ovar, entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida, tendo até ao momento, distribuído 250 bolsas, num montante de quase meio milhão de dólares. Uma missão e valores que perpassam outras áreas em prol da comunidade luso-americana, porquanto a Fundação António Amaral tem apoiado ao longo dos anos, com milhares de dólares, diversas instituições na Flórida e em Portugal, assim como agregados carenciados que têm tido na generosidade da família Amaral uma bússola e um porto de abrigo. Um outro exemplo paradigmático, encontra-se plasmado na magnanimidade do emigrante luso-americano Manuel Carvalho, natural do concelho de Anadia. Em 2017, o conhecido empresário na área da restauração em Mineola, no estado de Nova Iorque, em conjunto com a sua esposa Jackie, criou a Fundação Família Carvalho. A notável filantropia do empresário luso-americano tem possibilitado, através da Fundação Família Carvalho, encontrar formas e meios para apetrechar ao longo dos anos, entre outros, os Bombeiros Voluntários de Anadia. Ainda no verão passado, a Fundação Família Carvalho, deu um importante contributo na promoção e preservação da língua, costumes e tradições portuguesas em Long Island, entregando dois donativos no montante total de 16 mil dólares, à Escola Portuguesa Júlio Dinis e ao Rancho Folclórico “Sonhos e Juventude de Portugal”. Na Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos EUA, onde residem mais de 300 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, este espírito filantropo encontra-se vertido na “Carlos Vieira Foundation”. Uma instituição oficialmente fundada em 2010 pelo empresário luso-americano e automobilista Carlos Vieira, sediada em Livingston, no condado de Merced, cuja missão e visão assentam em três áreas essenciais de atuação: autismo, abuso de drogas e estigma de saúde mental. Ao longo dos últimos anos, a Fundação Carlos Vieira, na esteira dos valores coligidos no seio do patriarca da família, o comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica e uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, apoia famílias em mais de duas dezenas de municípios no Vale Central da Califórnia, através por exemplo, de subsídios, assistência financeira ou apoio de necessidades médicas. Um outro relevante eixo de ação da Fundação Carlos Vieira está ligado à preservação da cultura e tradições da comunidade lusa na Califórnia, como evidencia a criação, em 2019, do Festival Português do Vale de São Joaquim, e que desde então, tem unido anualmente milhares de luso-americanos em torno da herança portuguesa, mormente a gastronomia, arte, comédia e música tradicional. Fora da geografia da diáspora lusa norte-americana, é possível também encontrar organizações filantrópicas criadas por emigrantes empreendedores de sucesso. Como por exemplo, em França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. Desde 2019, ano em que o empresário português João Pina, radicado na região de Paris e presentemente administrador do Grupo Pina Jean, que se tem destacado em atividades em áreas como a construção civil, limpeza e reciclagem de resíduos, constituiu a Fundação Nova Era Jean Pina. Tem sido dinamizado um intenso conjunto de atividades e projetos de solidariedade luso-franceses para com pessoas desfavorecidas e vulneráveis, como idosos, crianças institucionalizadas e desempregados. A benemerência do emigrante natural do concelho da Guarda, expressa através da ação perseverante da Fundação Nova Era Jean Pina, tem carrilado inúmeros géneros alimentares, brinquedos e roupa, entre outros bens, para agregados familiares e instituições no território nacional. Como seja o caso da região da Guarda, onde têm sido várias as ceias de Natal organizadas pela Fundação Nova Era Jean Pina, para as quais convida crianças institucionalizadas e idosos isolados. Ou, mesmo noutras latitudes da diáspora portuguesa, como em 2021, quando através da assinatura de um protocolo de colaboração entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Fundação Nova Era Jean Pina e a Federação Iberoamericana de Luso Descendentes, foram oferecidos 200 cabazes de Natal a agregados familiares, carenciados, de nacionalidade portuguesa ou luso descendentes, residentes na Venezuela. A missão, visão e valores destas fundações filantrópicas, e outras que se encontram ou possam vir a ser instituídas no seio da diáspora, são uma indubitável mais-valia no apoio às comunidades lusas no estrangeiro, na preservação e dinamização da cultura, das tradições e língua portuguesa no mundo. Inspirando-nos a máxima do poeta e filósofo Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos”.

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