Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

O potencial empreendedor da diáspora: o exemplo dos irmãos Calçada

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Entre as várias trajetórias de portugueses que se distinguem pelo seu papel empreendedor e inovador, e constituem um relevante fator de desenvolvimento do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso dos irmãos Calçada, laboriosos artesãos da relojoaria suíça. Naturais do concelho de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, a odisseia migratória dos irmãos Calçada foi encetada por Paulo, três anos mais velho do que Pedro, que no início da adolescência, em 1985, emigrou para a Suíça, onde já estavam radicados os pais. Um dos principais destinos da emigração portuguesa intraeuropeia, como comprovam os mais de 200 mil lusos que vivem e trabalham no território helvético, essencialmente na hotelaria, restauração, construção civil, indústria manufaturada, serviços de limpeza e agricultura, o emigrante feirense, foi trabalhar para Neuchâtel, capital do cantão suíço homónimo, nas vindimas e pouco tempo depois na construção civil. As condições árduas, e a ambição de melhores condições de vida e oportunidades profissionais, impulsionaram o jovem emigrante no final da década de 1980 a ingressar numa empresa de polimento de peças para relógios, onde em 1992, era já chefe de fábrica. No mesmo período, Pedro Calçada acabaria por seguir as mesmas pisadas do irmão mais velho, rumando na adolescência para a Confederação Suíça, primeiramente para trabalhar nas limpezas, e pouco tempo depois na empresa da área da relojoaria em que o irmão já laborava. As capacidades de trabalho infatigáveis, coligidas no berço familiar, impulsionaram os irmãos Calçada, no alvorecer do séc. XXI, a fundar a sua própria fábrica em Le Locle, uma comuna industrial, situada no cantão de Neuchâtel, perto da fronteira francesa, que alberga afamadas marcas de relógios, como a Mont Blanc, Tissot ou Tag Heuer. E que entre outras marcas helvéticas de renome, contribuem amplamente para que a Suíça seja mundialmente conhecida pela relojoaria de precisão e luxo. Desde então, a fábrica Calçada, em Le Locle, assente num compromisso de máxima qualidade, precisão e dedicação, é um caso de sucesso e geradora de emprego. Na unidade fabril, onde trabalham vários emigrantes portugueses, são polidos diversos componentes metálicos dos relógios, como fechos, braceletes ou caixas dos relógios, assim como acabamentos específicos, como relevos e gravações, para marcas essencialmente helvéticas e do segmento de luxo. Da fábrica Calçada, em Le Locle, saem diariamente à volta de mil caixas polidas, sendo que desde a década de 2010, foi aberta uma filial portuguesa no torrão natal. Nomeadamente em Louredo, povoação de Santa Maria da Feira, onde o investimento em máquinas automatizadas permitiu alavancar um maior volume de produção. Entre a Suíça e Portugal, Pedro e Paulo Calçada, que em 2010 recebeu o Prémio Empreendedorismo Inovador da Diáspora Portuguesa, gerem atualmente duas unidades empresarias com mais de duas centenas de trabalhadores, contribuindo simultaneamente, para o progresso da confederação helvética, uma nação de riqueza e liderança na relojoaria, com o setor a representar um papel crucial na sua economia. Assim como, para o desenvolvimento do território nacional, mormente o concelho de Santa Maria da Feira, detentor de um tecido empresarial diversificado, dinâmico, e com uma importante capacidade de inovação e vocação exportadora. Numa época em que os empreendedores portugueses da diáspora, são reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção e desenvolvimento do país, as trajetórias marcadas pelo arrojo, inovação, mérito e apego às raízes dos irmãos Calçada, corroboram a máxima de Luc de Clapiers, marquês de Vauvenargues: “Uma viva inteligência de nada serve se não estiver ao serviço de um carácter justo; um relógio não é perfeito quando trabalha rápido, mas sim quando trabalha certo”.

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