Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

domingo, 20 de setembro de 2020

Gérald Bloncourt homenageado no INstantes

O início do presente mês de setembro assinalou o arranque da 7.ª edição do INstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes, uma singular mostra de fotografia que tem a capacidade de congregar fotógrafos de diversas origens, e que se tem assumido ano após ano como uma das mais relevantes iniciativas culturais realizadas em Portugal.


O historiador Daniel Bastos (dir.), acompanhado do fotógrafo Pereira Lopes, fundador e diretor do INstantes, no decurso da conferência de homenagem a Gérald Bloncourt

Enriquecendo-se com diversas propostas dentro do mundo da fotografia artística, conceptual e de autor, o INstantes promove este ano, até 30 de setembro, 25 exposições divididas entre 5 polos, nomeadamente, Avintes, Castelo de Paiva, Lourosa, Grijó e Vilar de Andorinho. Localidades onde estão expostos trabalhos de fotógrafos naturais de Portugal, Espanha, Itália, Holanda, Finlândia, Brasil, Colômbia, Cabo Verde, Moçambique e Japão.

No decurso da programação do festival, o trabalho e percurso de vida do fotógrafo Gérald Bloncourt, conhecido fotógrafo da emigração portuguesa, foi no passado dia 19 de setembro, numa altura em que se cumpre dois anos sobre o seu falecimento, homenageado através de uma conferência proferida pelo historiador Daniel Bastos.

Responsável pela conceção e realização dos livros “O Olhar de Compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores” e “Dias de Liberdade em Portugal”, que eternizam, respetivamente, o valioso espólio fotográfico de Bloncourt sobre e a emigração portuguesa nos anos 60 e o nascimento da democracia portuguesa, Daniel Bastos, cujo percurso tem sido alicerçado no seio das Comunidades Portuguesas, evocou o fotógrafo franco-haitiano como uma “figura inspiradora, que salvou do esquecimento os protagonistas anónimos da história portuguesa, que lutaram aquém e além-fonteiras pela liberdade e direito a uma vida melhor. Um homem que amou e honrou os portugueses, e a quem prestamos, a nossa sentida homenagem”.

 

domingo, 13 de setembro de 2020

Produção literária nas comunidades portuguesas em tempos de pandemia

 

Nestes tempos difíceis que atravessamos, devido aos efeitos da pandemia de coronavírus, que gerou num curto espaço de tempo uma crise socioeconómica mundial sem precedentes, uma das áreas mais afetadas pelo contexto de isolamento social e quebra de rendimentos tem sido o sector cultural.

Diariamente são conhecidas verdadeiras batalhas de sobrevivência que muitos artistas enfrentam no seu quotidiano, agravadas pelo cancelamento de iniciativas que sustentavam músicos, atores, humoristas, técnicos e demais agentes culturais que se encontram submersos em dificuldades e incertezas.

A crise que afeta severamente o sector cultural estende-se igualmente ao mundo dos livros e autores, onde as quedas expressivas nos números de vendas de livros, o encerramento de livrarias e editoras, e os poucos hábitos de leitura são uma realidade infelizmente cada vez mais presente na sociedade portuguesa.

Perante este quadro cultural sombrio, os dados recentes da 90.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, que decorreu entre os dias 27 de agosto e 13 de setembro, e que apontam para terem sido igualadas, ou até superadas, as vendas do ano passado, constituem-se como sinais de esperança para um sector que vive verdeiros momentos de sufoco.

Alento que surge também na diáspora, onde a capacidade de arrojo e resiliência de autores e editoras têm sido também capazes de manter ativa a produção literária em tempos de pandemia, e assim aprofundarem o conhecimento sobre as comunidades portuguesas.

Os recentes lançamentos e apresentações de obras literárias no seio das comunidades portuguesas, como foi o caso, por exemplo, da apresentação no passado dia 13 de setembro, na Casa do Alentejo em Toronto, do livro “Avós: Raízes e Nós”, organizado pelas ativistas culturais, Aida Baptista, Ilda Januário e Manuela Marujo, e que reúne textos de cerca de sessenta autores, reforçam estes sinais de esperança.

Ainda no Canadá, onde vive e trabalha uma das maiores comunidades portuguesas na América do Norte, foi recentemente lançada em Montreal, a “Antologia Literária Satúrnia – Autores Luso-Canadianos”, organizada pelo escritor Manuel Carvalho, e que reporta mais de uma centena de autores luso-canadianos que, ao longo dos anos, difundiram as suas emoções e memórias por jornais, revistas e livros.

Em meados deste ano, a Oxalá Editora, uma editora na Alemanha, vocacionada para a publicação da obra de autores da diáspora, através do contributo das escritoras, Irene Marques, Paula de Lemos, Luísa Costa Hölzl, Luísa Semedo, Gabriela Ruivo Trindade, Maria João Dodman, São Gonçalves, Luz Marina Kratt, Helena Araújo e Altina Ribeiro, editou o livro “Correr Mundo – Dez mulheres, dez histórias de emigração”.

Na mesma altura, marcada já pelos impactos da Covid-19, Isabel Mateus, escritora radicada no Reino Unido, lançou a obra “Anna, A Brasileirinha de São Paulo” que mergulha na epopeia da emigração portuguesa para o Brasil. E Victor Alves Gomes e Joana Inês Moreira, a viverem em Bruxelas, na Bélgica, projetaram o livro “Um emigrante eurocrata”.

Estes exemplos, e muitos outros que foram apresentados ou se encontram no prelo, como a vindoura obra coletiva “Alma Latina”, coordenada por José Maria Ramada, e que reúne contributos literários luso-suíços, revelam a capacidade de arrojo e resiliência de autores e editoras da diáspora, e constituem inspiradores sinais de esperança no presente e futuro da produção literária no seio das comunidades portuguesas.  

sábado, 5 de setembro de 2020

A viagem da esperança. A imigração portuguesa para Barquisimeto (1948-1958)

 

No decurso dos últimos anos o acervo bibliográfico sobre o fenómeno migratório nacional tem sido profusamente enriquecido com o lançamento de um conjunto diversificado de estudos que ampliam o conhecimento sobre a história da emigração portuguesa.

Neste conjunto diversificado de trabalhos, destaca-se recentemente a investigação levada a cabo pelo historiador e professor universitário venezuelano, Froilán Ramos Rodriguez, sobre a emigração portuguesa, grande parte dela madeirense, para a cidade de Barquisimeto na Venezuela, e que está na base do livro Travesía de la esperanza. La inmigración portuguesa en Barquisimeto (1948-1958)”.

Atualmente docente na Universidade Católica da Santíssima Conceição (UCSC), no Chile, Froilán Ramos Rodriguez, tendo como estudo de caso Barquisimeto, capital e cidade mais populosa do estado de Lara, onde existem dois relevantes clubes portugueses com raízes madeirenses, mormente o Centro Luso Larense e o Centro Atlântico da Madeira, revisita a história dos emigrantes portugueses na Venezuela.

Uma história analisada a partir da segunda metade do séc. XX, período em que os emigrantes portugueses na Venezuela, maioritariamente oriundos da Madeira, passaram a dedicar-se ao comércio de produtos alimentares, como padarias, pequenas mercearias, lugares de venda de sandes e sumos, e inclusivamente à pequena e média indústria, especialmente no setor das manufaturas. Contexto que firmou a comunidade portuguesa, que hoje será composta por aproximadamente meio milhão de luso-venezuelanos, num pilar estruturante do desenvolvimento urbano, económico e sociocultural da sociedade venezuelana.

Numa época em que a Venezuela vive uma situação complexa do ponto de vista económico, politico e social, que se agravou ainda mais devido à pandemia de coronavírus, a “viagem da esperança” de Froilán Ramos Rodriguez ao reconstruir a memória do passado da comunidade portuguesa na pátria de Simón Bolívar, representa também um sinal de coragem no presente e de esperança no futuro de uma comunidade, que nas palavras do investigador “se ha identificado por su laboriosidad, (…) su trabajo constante en su establecimiento, su silencio y reserva, su devoción por la Virgen de Fátima y su gusto por el fútbol”.