Surgida há mais de meio ano no maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, a pandemia de
coronavírus disseminou-se a um ritmo vertiginoso à escala global, provocando
nas sociedades efeitos devastadores no campo socioeconómico, espelhados em
milhares de vítimas e de casos de infeção no mundo, assim como
generalizadas medidas de isolamento social que paralisam a economia e empurram
as nações para uma recessão sem precedentes.
Espalhadas pelos quatro cantos do
mundo, as comunidades portuguesas, centelhas incessantes de amor pátrio,
não estão imunes a estes efeitos
que têm alterado radicalmente o nosso quotidiano. Para além da perda de rendimentos e ameaça de insegurança económica, são conhecidos
infelizmente vários casos de infeção e de mortes entre emigrantes lusos, e é
também conhecido o cancelamento ou adiamento de inúmeros
eventos e iniciativas que integram os planos anuais de muitas
associações.
Nestes
tempos difíceis que atravessamos, o meio associativo das comunidades portuguesas, um dos mais
importantes, se não mesmo o mais importante vínculo de pertença e dinamização
cultural dos emigrantes lusos nos países de acolhimento, encontra-se submerso
em dificuldades e incertezas.
Dificuldades
e incertezas resultantes do cenário pandémico, que entrava a realização de
eventos e iniciativas, como foi o caso paradigmático do Dia de Portugal, qual
barómetro anual da dinâmica e vitalidade do meio associativo na diáspora, que
este ano se cingiu a comemorações simbólicas. Celebrações minimalistas que
substituíram a realização de tradicionais iniciativas, que em muitos casos garantem
a obtenção de receitas que permitem custear o normal funcionamento das associações,
como seja o pagamento da água, luz, rendas dos espaços ou a sua manutenção.
Nesse
sentido, o risco de fecho definitivo de diversas associações no seio das
comunidades portuguesas, nunca foi tão real, e é ainda agravado pela
problemática do envelhecimento dos seus quadros dirigentes, da maioria dos seus
associados e da escassa participação dos lusodescendentes.
Este
perigo acrescido de encerramento, deve portanto impelir as forças vivas do movimento
associativo da diáspora a colocar definitivamente
em cima da mesa, não só, quando a vida voltar a normalizar, a diversificação de
atividades capazes de conciliarem a cultura tradicional enraizada nas coletividades
com
novas dimensões socioculturais, como o cinema, a
literatura ou a moda, de modo a atrair as jovens gerações de lusodescendentes.
Como também a adoção de um novo modelo de atuação e organização das
associações, que necessariamente terá que passar por um paradigma de partilha
de uma “casa comum”, capaz de reunir num só espaço com dignidade e dimensão a
valiosa argamassa identitária das comunidades portuguesas.
Creio ser este o caminho que terá
que ser trilhado pelo dinâmico e relevante meio associativo da comunidade
portuguesa em
Toronto, capital da província do Ontário e maior
cidade do Canadá, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e
lusodescendentes presentes nesta nação da América do Norte.
Uma
comunidade que se destaca hoje pela sua perfeita integração, inegável
empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico, que para salvaguardar
o passado, e projetar o presente e futuro das suas associações, ou seja, da sua
identidade cultural portuguesa, deve a médio prazo procurar adotar um modelo de “Casa de Portugal”, de portas sempre abertas às várias
nacionalidades, através de parcerias com agremiações, escolas e universidades
onde se ensina a língua portuguesa.
Uma “Casa de Portugal”, com uma agenda capaz
de congregar as diversas sinergias do movimento associativo, de diluir as
diferenças e egos, e potenciar o coletivo, a união, os parcos recursos humanos
e financeiros, em prol da cultura portuguesa.
Uma
“Casa de Portugal“, como por exemplo a Maison du Portugal
– André de Gouveia, em Paris, capital francesa onde se
encontra a maior comunidade portuguesa no estrangeiro, onde
se organizem vários eventos culturais do movimento associativo. Desde as festas e festivais de folclore, à programação
de artes plásticas, cinema, dança, literatura, teatro, ciclos de conferências
ou divulgação de trabalhos dos investigadores que cada vez mais proliferam na
lusodescendência.
Uma
união pelo presente e futuro da cultura portuguesa em Toronto, capaz de
inspirar muitas outras comunidades lusas, e simultaneamente capaz de despertar
junto das autoridades nacionais a necessidade de reforço dos apoios para a área
cultural e movimento associativo das comunidades portuguesas, as mais genuínas
embaixadoras da pátria de Camões. Uma pátria que se espraia em várias
comunidades e descendentes espalhados pelos quatro cantos do mundo,
indubitáveis portugais onde remanesce
a cultura e língua portuguesa, elos comuns da identidade lusófona.