A
presença da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas
na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no
território gaulês, rondando um milhão de pessoas, está historicamente ligada ao
processo de reconstrução francês após o fim da segunda
Guerra Mundial. Reconstrução, que em parte, foi suportada por um enorme
contingente de mão-de-obra portuguesa que motivada pela procura de melhores
condições de vida, e nas décadas de 1960-70 pela fuga à Guerra Colonial e à repressão política do Estado Novo,
encontrou nos setores da construção civil e de obras públicas da região
de Paris o seu principal sustento.
Mas
originariamente, a emigração portuguesa para França está ligada à participação
do Corpo Expedicionário Português (CEP) na frente europeia da Grande Guerra
(1914-1918), acontecimento bélico que levou para França em 1917 cerca de 55 mil
portugueses para lutar nas trincheiras dos aliados britânicos contra o inimigo
alemão, e do qual milhares de soldados não regressaram, optando por se tornarem
emigrantes em terras gaulesas.
Ainda
hoje, existem descendentes destes soldados e emigrantes lusos que preservam a
sua memória e zelam o cemitério militar português de Richebourg, no norte de
França, um cemitério militar exclusivamente português, que reúne um total de
1831 militares mortos na frente europeia. É o caso da nonagenária Felicia
Assunção Pailleux, filha do soldado e depois emigrante João Assunção, um
minhoto de Ponte da Barca, que fez parte da 2ª Divisão do CEP e que como outros
compatriotas que optaram no final do conflito bélico por não regressar a
Portugal, onde grassava uma profunda crise política, económica e
social, fixou-se na zona onde combateu, no Norte-Pas de Calais, uma zona
de minas de carvão que absorveu muita mão-de-obra.
Ao
longo das últimas quatro décadas, Felicia Paileux tem sido a
porta-estandarte da bandeira de Portugal nas cerimónias evocativas da Grande Guerra no cemitério de
Richebourg e no monumento aos soldados lusos em La Couture, no Norte-Pas de
Calais, honrando a memória do seu pai, soldado e emigrante português falecido
em 1975, que muito antes da emigração maciça dos anos
60 escolheu como muitos outros antigos companheiros de
armas a França para viver, trabalhar e constituir família.
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